Ao herói brasileiro Demétrio Toniolo
A tarde escorregava. Lenta, saldo de ressaca, e comportada. Havia
uma viagem pela frente e estrada requer concentração e juízo.
A figura observadora de conversas era um senhor, sentado a parte,
quieto. Sentei do lado e falamos coisas à toa. Variamos pela temperatura, clima
e a indefectível violência urbana. Mortes ocorrem a toda hora, de todas as
formas e por quaisquer motivos. Nada satisfaz este bicho racional e
incompreensível que não mata apenas para comer. Daí até a guerra entre nações
nem precisou interface específico.
O pracinha Demétrio Toniolo tinha estado na Itália, em 1945,
lutando pelos aliados contra o Eixo, na tomada de Monte Castelo. E lutara
contra seus ancestrais italianos, mas isto pouco contava porque afinal, quem
vai ao fronte vai para causas bem definidas, e no mais fundo do íntimo, vai com
esperanças de poder voltar. Lá, mata ou morre. Com a cruel especificidade de
que no campo de batalha só estarão inocentes guerreiros compulsórios.
Lembrava com detalhes seus meses de privações, onde a única saída
para vencer o medo era não ter medo. Demorou uma vida inteira para limpar dos
tímpanos os zumbidos de bala, matraquear de metralhadoras, canhões e minas. Por
muito tempo viu sangue em lugar de poças d’água; ouvia gritos em vários
idiomas.
Saíram daqui meninos, e ficaram marcados para o resto da vida, física e moralmente, pelo convescote sangrento com os Quatro Cavaleiros do Apocalipse.
Entre tantos fatos impressionantes de suas lembranças, ele
recordou um colega de farda, companheiro de primeira hora, que embarcara junto
no Porto de Santos, com o qual permanecera irmanado a jornada inteira, e que
junto retornou ouvindo os vivas da vitória. Não só pela amizade formada, mas
por um detalhe peculiar: Enquanto a "cobra fumava", o amigo
resolvera registrar em um diário todo o processo que passaram. E como era
poeta, registrou em versos.
Na conjunção impensada entre a brutalidade da guerra e o lirismo,
ficou o relato de um poeta; de um momento inesquecível para o bem e para o mal
da humanidade.
É uma figura e tanto, seu Toniolo. Um veterano de guerra, que traz no espírito a paz que foi buscar. Um documento vivo da história; Um herói brasileiro, que só não é anônimo porque onde mora, a cada semana da pátria é reverenciado. Mas a república não o visita vez por outra para perguntar sobre eventuais sequelas, do tempo em que arriscou a vida para que pudéssemos continuar respirando os ares da liberdade.
É uma figura e tanto, seu Toniolo. Um veterano de guerra, que traz no espírito a paz que foi buscar. Um documento vivo da história; Um herói brasileiro, que só não é anônimo porque onde mora, a cada semana da pátria é reverenciado. Mas a república não o visita vez por outra para perguntar sobre eventuais sequelas, do tempo em que arriscou a vida para que pudéssemos continuar respirando os ares da liberdade.
(*)Dia 02 de maio, dia do Ex-combatente