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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

HELIO, HEITOR E O TRACAFILHO



No sexto dia, às seis da tarde, antes do primeiro bocejo, estava o Criador sentado à beira do Ibirapuitã, num pequeno cepo, admirando sua obra.

Estava tudo perfeito, mas bastou um lapso de tempo de observação e pronto, já lhe acendeu a luz amarela. “A perfeição das curvas exatas tornará este espetáculo muito monótono”, deve ter pensado.

Não se troca o que está perfeito. Mas quem sabe um pequeno ajuste, uma troquinha imperceptível, só para temperar ânimos; um trocadilho qualquer. “É isso!”, um trocadilho. Mas não haveria de ser Ele, sério como gostaria de ser lembrado, o responsável por desviar o que estava pronto e perfeito, portanto, alguém que o fizesse. Alguém que tivesse nome e sobrenome, e de preferência que rimasse.

Assim, a beira do Ibirapuitã, depois de algumas cuias e já começando a alongar, o Criador começou a moldar com barro nobre o enviado, que se encarregaria de formar os trocadilhos, a fim de que a obra perfeita que criara não caísse na monotonia.

Esta, portanto, seria a missão de Heitor dos Santos Filho, que não nasceu com esse nome, mas assim se fez por exigência do Criador, que gostava de rima. Há, inclusive, quem pense que Rima é um negócio de fachada, e é outra exigência do Homem.

Então... Não consta que Teseu, o cara que invadiu os labirintos de Creta e acabou com o Minotauro, viesse a sofrer de labirintite. Também não me lembro de ter lido que Perseu vivesse com minhocas na cabeça, após decapitar a Medusa; nada indica que Arthur Gil possa ser um bom secretário de transportes, com a terrível missão de descongestionar as vias públicas, nem que Novalgina seja apenas remédio unicamente feminino, mas que hélio, além de raro, é um gás especial, não tenho dúvidas.

Alegrete tinha Helio Ricciardi, ou Heitor dos Santos Filho, para rimar com trocadilho. Lá tinha.

A capa bordada de estrelas que cobre o céu foi inventada bem ali, à beira do Ibirapuitã, numa sexta-feira, fim de tarde, antes do primeiro bocejo do Criador. Hélio brincou de bordar a capa, cobriu o infinito e gostou tanto que se foi viver com elas.

Adeus, meu amigo,  que a paz dos justos te receba. E siga as pegadas de luz por onde vieste.