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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Ora ( direis ) ouvir estrelas!





... Certo perdeste o senso! (Olavo Bilac)
                                               
Há ouvidos capazes de ouvir estrelas. Especialmente uma que cintilou um dia como Dalva; brilhou num universo de esperanças, foi portadora de sonhos e iluminou por muito as grandes maiorias então caladas. Mas dela pouco restou além da forma e a maneira de plantar verdades.

Ela nada mais tem sido que o velho e combatido populismo nas querelas de antanho, hoje grife de um homem que passou a ser desconhecido por muitos. Basta que se compare falas, fatos e fotos; se perceba seus novos discursos cuspidos e o líquido percolado que deixou escorrer atrás de si. Um homem que ainda mantém a ordenação das vontades companheiras; o poder das bolsas pobres em nichos pontuais; a batuta competente e sinistra dos bastidores onde rege a orquestra dos iludidos eleitores do assistencialismo. O dono da estrela.

Messianismo puro, antes detratado. Liderança fundamentalista que cega e ensurdece. Induz a ouvir uma única toada e ver o único corpo celeste com o qual conversa. Doce como o veneno mais traiçoeiro: Lula-lá, brilha uma estrela, Lula-lá.... Como disse o poeta, só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e entender estrelas. Ou cegar-se por elas. 

Nada parece abalar esse brilho de luz carmin, como o das velhas tascas. Não por acaso, portanto, há por trás disso uma camarilha de cafetões a copular com a nossa sorte e a manter seduzida esta legião de convictos, que sustentam seu ícone no mesmo e até o momento inabalável percentual indicativo de, no mínimo, segundo turno em qualquer eleição majoritária. O partido que engrossa a fileira dos revoltados com Guantánamo se orgulha desse aprisionamento.

E aqui jaz, amigos que eu mantive, e outros tantos que tenho, mas cujo senso comum se dispersou, o meu mais constrangido respeito. E pena.

Por ser um desportista e até algum tempo frequentador de estádios, faço parte de uma comunidade que olha as torcidas como um modelo distorcido e especial de inconsciente coletivo. E é assim que também vejo os portadores da bandeira vermelha com estrelinha no meio: não são eleitores, são torcedores. A despeito do que venha a acontecer com a sigla, dos desmandos e falcatruas que seus representantes venham praticar, lá estarão eles fiéis e apaixonados, no entanto, de janela aberta, pálidos de espanto. Tresloucados irmãos que se importam pouco com a segunda divisão da ética.

Essa parcela de povo acredita ser possível o líder de um grupo não saber o que possam ter feito seus pares. Temo que chegue o momento em que o próprio líder, com a consciência em metástase, use o palanque do horário nobre, diga que sabia de tudo e mostrando seu sorriso de retirante e gesticulando com a mão desfalcada, se confesse arrependido. Temo pelo eventual resultado das pesquisas imediatamente posteriores. Prêmio pela sinceridade.

Lula sabe. Impossível que não saiba. Até o Bobota saberia quem é quem, e quem fez o quê nos bastidores da estrela de cor carmin. Segue, entretanto, impermeável em sua balada peregrina, ora comparando-se a Jesus, ora a Abraham Lincoln. E na condição de estrela, oferece sua luz magnânima aos postes que o sucedem.


Supernova é o nome de uma estrela explodida. Mas isso pouco interessa, porque que alguns continuarão conversando com ela, ainda que se torne um buraco negro.