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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

VS 105 – A NAU DOS INCENSADOS.



A esperança me relincha na alma,
Mesmo mantendo a calma e a temperança,
É certo que não vou afrouxar a cincha,
Pois esse mundaréu de lambanças,
Me manda surfar entre o pentelho cristão,
Que gostava do Mano como irmão,
Porém tirou a mão, quando esta deveria ir ao fogo.
(“Pagar pra ver é do jogo, disse o cagão”).
E foi morar na história como chato.
Falo do velho e rançoso São Thomé,
E do outro lado, da Velhinha de Taubaté,
Seu paradoxo comportamental,
Etecetera e tal.

Fico cá, com um olho no peixe, outro no gato,
Esse é o fato, e que a vigilância nunca me deixe,
A fim de que ela, a esperança, saia barato.
Porque, senhores murmuradores,
De cujos temores eu me empresto:
Há deputados, senadores e outros incensados doutores,
Que são verdadeiras bandeiras deste novo país,
(Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, 
Que impudente na gávea tripudia? 
Silêncio.  Musa... chora, e chora tanto 
Que o pavilhão se lave no teu pranto!)

Muito obrigado, querido Castro,
Falta o mastro, se não para hasteá-los
Como estandarte do lixo que representam, empala-los.

Na ponta dessa lança,
Que a brisa cálida do Brasil beija e balança,
Tripudia, pálida a esperança, 
Como nos porões das trágicas esquadras de negreiros.
Mas seu sobrenome, esperança, atende por Calheiros. 

Que este e tantos outros alcoviteiiros,
Que indelével tisnararm a moral deste país,
Encontrem a corgem de um juiz que os enquadre,
Que não reste apoio de compadre,confrade, nem de padre, 
Porque lugar de bandido é atrás das grades.

Mas nesse jogo da mentira, onde todo honesto é burro,

 Não me achico para o "testa" flor de indigesto
Abro meus "güeimes" e meto o urro:


CONTRA A FLOR E O RESTO! 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

OPS!




Tenho cinco anos. Não existe nada mais fofo que um pai e um filho da minha idade irem ao estádio.  Está bem, existe, mas não vem ao caso.
  
Meu pai gosta do Grêmio e eu também acabei gostando. Eu gosto de ir ao estádio com ele, embora não saiba muito bem do que se trata. Acho zoado demais aquele monte de tiozinhos brincando de pega-pega.

Ah, mas lá tem pipoca, picolé, refrigerante à vontade; um monte de gente gritando, coisa que meu pai não faz, mas lá ele faz. E sabe porque tem todas essas delícias à vontade? Meu pai se concentra no jogo, e cada vez que eu falo, ele me compra uma coisinha para que minha boca fique ocupada.   Mimoso! Ele sabe que meu silêncio não é barato.

Às vezes tanto mimo me dá problema. Por isso, prudentemente, a gente sempre senta perto de um banheiro. Vez por outra, quase nem dá tempo de ir até lá.  E hoje não deu. Foi tanta pipoca, amendoim, picolé, refrigerante (o jogo deveria estar encrencado) que as comportas se abriram, digo, a comporta.

Meu pai olhava o jogo concentrado e eu comecei a sentir qualquer coisa. Essa qualquer coisa foi apertando, apertando... Mas eu não queria tirar o meu pai da concentração. Apenas olhava para ele. Então, despercebido, ele me olhou.  Primeiro carinhosamente, depois ficou sério. Nos olhamos por mais alguns segundos, ele cada vez mais sério e eu cada vez mais vermelho, acho.  Senti que ele ficou muito apreensivo (porra! Apreensivo? E eu?). Finalmente ele me disse uma única palavra:

- Não!

Eu não disse nada, mas arregalei os olhos. Ele repetiu:

- Nããããão! Fazendo uma careta estranha, meio medo, meio raiva. Tipo dia de vacina.

Ai passei a fazer olhar de cachorro (eu sei a força que tem o meu olhar de cachorro). Então, na terceira vez que ele disse não, imediatamente me pegou no colo, baixou o meu calção e pegou no ar (como um gato!) o resultado de tanta comilança. Ufa, que alívio! Acho que isso é o que querem dizer com paz interior.

A cena seguinte foi ir ao banheiro, pendurado no braço direito do meu pai, fedendo. Na mão esquerda dele... Bem, ele não iria deixar na arquibancada aquela nojeira toda. Por sorte (dele) eu era um homenzinho, cocô durinho e tal. Enquanto subia os degraus, sem efeito solo, ouvi gargalhadas da galera que estava por perto. Teria sido gol do Grêmio?  

Ah, minha cuequinha do Grêmio. Ela ficou por lá, mas não deve ter dado para aproveitar. 

sábado, 10 de outubro de 2015

UM DIA ESPECIAL

Disseste-me uma vez: “se tiver chance, não desiste, mas não dá soco em faca de ponta”. Não me lembro de que se tratava, mas independente do que fosse, continuo mantendo como verdade.  Passei um naco de tempo desistindo das coisas, mas não sem antes tentar muito para ver se davam  certo.  Portanto, essa foi uma coisa que aprendi. 

E também repetias, premonitoriamente:  “a gente é o pai, que foi como filho”. Hoje não tenho dúvidas disso.

Mas vezes também não me dizias nada, apenas sacudias a cabeça, vertical ou horizontalmente, aprovando ou reprovando alguma coisa que eu fazia. 

É, meu velho, não foi fácil lidar comigo. Eu sei disso, mas tu sabias muito mais. Sabias por que foste o precursor de uma dinastia inteira, que se caracteriza por ter o beiço mais duro que matungo de quartel. Certa vez te ouvi dizendo a um amigo: “não adianta, esse é meu filho. O beiço não nega”.  Não há orgulho nenhum nisso.  Ao contrário, acho que há muito mais coisas a lamentar, e o preço caro demais. Paciência, que se cumpra a sina.

Orgulho tenho, entretanto, por ter convivido  contigo, lamentavelmente por pouco tempo. Por poder dizer por ai, que sou filho de um cara singular, que brilhou quando quis; no que quis e que depois deixou pra lá, porque sabia como poucos o quanto o brilho é sensível, fugaz e ilusório.

Hoje seríamos quase contemporâneos, contando a idade da tua partida. Amigos, muito amigos, certamente. Não nos sentaríamos no bar, porque tu não bebias e eu não gosto de beber sozinho, mas procuraríamos uma arquibancada para travarmos severa discussão sobre futebol. E não adiantaria nada tentarmos convencer um ao outro, afinal, somos Portella, e isso basta para que não haja acordo. 

Meu querido, meu velho, meu amigo... Hoje, 96 aninhos. Soprem-se as velinhas  em algum lugar do espaço. 

Saudades, muitas saudades,  e muito mais  do que perdi  de viver contigo.