Powered By Blogger

sábado, 10 de outubro de 2015

UM DIA ESPECIAL

Disseste-me uma vez: “se tiver chance, não desiste, mas não dá soco em faca de ponta”. Não me lembro de que se tratava, mas independente do que fosse, continuo mantendo como verdade.  Passei um naco de tempo desistindo das coisas, mas não sem antes tentar muito para ver se davam  certo.  Portanto, essa foi uma coisa que aprendi. 

E também repetias, premonitoriamente:  “a gente é o pai, que foi como filho”. Hoje não tenho dúvidas disso.

Mas vezes também não me dizias nada, apenas sacudias a cabeça, vertical ou horizontalmente, aprovando ou reprovando alguma coisa que eu fazia. 

É, meu velho, não foi fácil lidar comigo. Eu sei disso, mas tu sabias muito mais. Sabias por que foste o precursor de uma dinastia inteira, que se caracteriza por ter o beiço mais duro que matungo de quartel. Certa vez te ouvi dizendo a um amigo: “não adianta, esse é meu filho. O beiço não nega”.  Não há orgulho nenhum nisso.  Ao contrário, acho que há muito mais coisas a lamentar, e o preço caro demais. Paciência, que se cumpra a sina.

Orgulho tenho, entretanto, por ter convivido  contigo, lamentavelmente por pouco tempo. Por poder dizer por ai, que sou filho de um cara singular, que brilhou quando quis; no que quis e que depois deixou pra lá, porque sabia como poucos o quanto o brilho é sensível, fugaz e ilusório.

Hoje seríamos quase contemporâneos, contando a idade da tua partida. Amigos, muito amigos, certamente. Não nos sentaríamos no bar, porque tu não bebias e eu não gosto de beber sozinho, mas procuraríamos uma arquibancada para travarmos severa discussão sobre futebol. E não adiantaria nada tentarmos convencer um ao outro, afinal, somos Portella, e isso basta para que não haja acordo. 

Meu querido, meu velho, meu amigo... Hoje, 96 aninhos. Soprem-se as velinhas  em algum lugar do espaço. 

Saudades, muitas saudades,  e muito mais  do que perdi  de viver contigo.





Nenhum comentário: