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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Giant



Do livro “Assim como era no princípio!
O Criador estava em alfa (ou haveria de ter andado fumando coisas e “viajado”) lá pelo sexto dia, momento em que sublimou a espécie. Produziu linhas e tonalidades de formas a consagrar sua mania de perfeição, e simplesmente descartou a fórmula.  Por certo que naquelas horas de fastio e soberba, consolidada a magnífica obra, garganteou seu bordão à eternidade sobre imagem e semelhança.
 Da obra minimizada restaram céu e mar, em dias de incompreensível tom de azul encravados em lousa de alabastro, a fomentar e inquietar sonhos juvenis. Serenos, sombreados de cílios foram ter comigo, certa vez, durante três horas e meia. Flutuei à deriva sobre aquelas águas translúcidas, que simploriamente os mortais chamavam de olhos violeta. A época e a idade propiciavam navegar ao limite (que limite?) da fantasia e produzir roteiros imundos no sono adolescente.
 Sonhava com ela, e eu pergunto: quem não sonhava com Elizabeth Taylor? Ok. Tem gente que sonhava com o Rock Hudson, como a própria Liz, que soube depois e para sua decepção, tratar-se de alguém da “irmandade”. Pobre Rock, que anjos varões o tenham (*)
 Giant é o titulo original do longa metragem Assim Caminha a Humanidade. Sem redundância, gigantesca produção dos anos cinquenta estrelada pelos dois bonitões acima, e a terceira e última aparição em tela do meteórico James Dean, que nem chegou a ver o filme concluído. Morreu antes. (Sobre este, teria dito o feioso Humphrey Bogart, dolorido com o sucesso post morten do colega: ‘’a melhor coisa que aconteceu a ele foi ter morrido cedo’’).
 A história gira em torno de uma família texana tradicional comandada pelo Bick (Hudson), de um humilde empregado Jett (Dean), e uma esposa Leslie (Taylor) que foi ‘’achada’’ pelo futuro marido após uma viagem de negócios. Foi comprar cavalos, imaginem. A história é fantástica, recheada de sentimentos adversos: amor, ódio, preconceitos, com fotografia, figurino e música maravilhosos, tendo recebido dez indicações ao Oscar (levou um, secundário). Jett, além de mim e todos os homens que apreciam cerveja, apaixonou-se pela Leslie, mas não levou, e por isso foi para a porrada com o marido afortunado. O Inconformado Jett, entretanto, enriqueceu quando tratou de subverter a ordem da terra, vigente até então, (terra que estranhamente herdara da invejosa irmã do Bick, morta a coices de cavalo) passando a explorar petróleo.  E em se tornando rico, houve por bem novamente tentar furar os nossos olhos, e tomar na “mão grande” a nossa mulher - minha e do Bick. De novo não levou. Ele, que já “bebia todas, com o novo fracasso foi domiciliar-se em definitivo na garrafa.
 Nesse filme o olhar da Liz estava uma estupidez. Talvez porque o início da produção tenha ocorrido pouco depois dela ter se tornado mãe pela primeira vez e a maternidade tenha conseguido dar ainda mais luminosidade à luz; o céu tenha perdido para sempre as nuvens, e Atlântico e Pacífico tenham se dessalinizado.  E que me perdoe a finada pelas modestíssimas comparações.
 Elizabeth Taylor é dona de vários suspiros que todos demos. Não era, entretanto, de namorar no banheiro, lugar cativo da senhorita Brigitte Anne-Marie Bardot, além de outras trinta e cinco menos votadas. Liz não deveria ter as pernas da Marlene Dietrich; o corpo da Sophia Loren; certamente não tinha os seios da Uschi Digard (Ah, não sabe quem é Uschi Digard. Melhor, mais me sobra); E nem era cachorra como a senhorita Margarita Carmen Cansino, que quando se apresentou a nós já fumava muito e se chamava Rita Hayworth; Não era o "mais belo animal do mundo", como disse certa vez da piriguete-retrô Ava Gardner, o poeta Jean Cocteau, aquele animal. Não. Liz era um raio de luz, sequer deveria pertencer a este mundo. E duvido que alguém, além de seus vários maridos tenha contemplado seu corpo. Não deveria ser lá essas coisas, mas isso não importa.
 Liz gostava mesmo era de casar e isso fez bastante. “A felicidade está em colecionar amores”, repetia (mas também colecionava brilhantes). Com Richard Burton, no entanto, foi reincidente específica.
 Também casei bastante, nenhuma vez com ela. Mas sabe-se lá o que haveria de ter acontecido conosco caso ela frequentasse os bailes da Reitoria.
 (*) Rock Hudson e Liz Taylor tornaram-se muito amigos, depois da descoberta por ela da homossexualidade do galã, que morreu em decorrência de complicações com a Aids, em 1985. A partir de então, a musa mostrou que não basta ser bela nem boa atriz para ser musa. Passou a auxiliar a (American Foundation for AIDS Research). Mais tarde criou a sua própria fundação para o mesmo fim, a ETAF (Elizabeth Taylor Aids Foundation), a quem  doou um anel de diamantes e esmeraldas. A joia, com uma pedra de sete quilates e 12 diamantes lapidados em formato de pera, fazia parte da coleção particular da atriz.


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

À TERRA QUE EU CHAMEI DE SANTA



Eu nasci onde o sol se põe. Na terra onde os campos não tinham fim e o horizonte era logo ali; tudo é logo ali quando se sonha. Alcançaríamos o horizonte quando quiséssemos. Quando eu cresci, lá onde nasci, havia mais pedra que asfalto, mas muito mais pasto que pedra.
Não só lá, mas o mundo impermeabilizou suas ruas de preto, e isto, na contrapartida de fazer com que cada uma vire um rio em tempos de chuvarada, deixa a vida melhor para quem não anda mais de carro de boi, carroça e cavalo. Como era, quando e onde eu nasci. Quando fui apanhado pela vida.
Onde eu nasci, o calor queimava no verão, mas e daí? Não haveria de faltar uma sanga, um olho d’água ou um rio onde pudéssemos mergulhar nossa caixa de Pandora, esta com muitas coisas mais penduradas na aba do que simples esperanças.
O inverno era frio. Mas um frio tão intenso que os cabelos do campo, que na primavera nos enchiam os pés de rosetas, envelheciam, ficavam grisalhos, duros e úmidos de geada. E quando os pais sentenciavam especulantes “se essa geada levantar com vento...”. Vermelhavam bochechas e narizes, cortavam orelhas, e ai passavam a ter mais graça as brincadeiras a beira do fogão a lenha. E como era terrível dobrar numa esquina de sentido norte-sul, ou vice-versa.
Mas porque todos em algum momento precisam apanhar a vida, fui correr atrás do nascente. Viajei um dia inteiro na contramão do sol, até que fui viver onde ele nasce. Lá terminei o longo ciclo de me fazer homem. Lá não encontrei mais campos nem pedras. Só ruas impermeabilizadas; já não havia mais carro de boi; e campos e pedras já não me faziam tanta falta.
 Cresci, multipliquei e iniciei o lerdo caminho de quem desce a lomba da plenitude. Conformei-me para o meu sempre, acordar com o sol, nos perdermos durante o dia, e no fim, ele me apanharia onde eu estivesse e me deixaria em casa. Depois seguiria adiante para dormir com aquela que apelidei de santa e no dia seguinte voltaria para me acordar. Coisa de pai. Os guris da terra onde nasci se dizem filhos do sol. Talvez seja por isso.   
Mas um pouco sempre fica no partidor. Lá, onde o sol se põe, um pouco de mim ainda assombra os campos, mesmo que haja poucos; as ruas pedregosas, mesmo que não haja tantas, e as velhas casas, arrastando correntes douradas inocentes, do bem, para trazer de lá seus cheiros. Que importância tem se no lugar dos campos e casas haja hoje prédios enormes e modernos? A terra é revirada para que se revigore e cumpra sua missão de transformar, mesmo assim não sai do lugar. Pouco importa o que fizeram sobre as nossas primeiras pegadas. Nada vai tirá-las de lá, porque elas estão tatuadas no universo em seu conjunto, e na nossa memória mais afetiva.
É bom vez por outra andar no sentido do sol. É como sair dos álbuns para as calçadas, a fim de corrigirmos as fotos. Aí sim, com certo lamento pela brutalidade cronológica do “fotoshop” natural.
Mas o “sempre”, como lugar é uma incógnita. Mais ou menos como o horizonte dos campos sem fim de onde eu nasci. Chegar lá não deve ser uma promessa, mas representar uma esperança. E assim, tendo um dia acordado com ressaca de destino contrafeito, vi o sol nascer e decidi que era hora de seguir de fato o seu rastro. Saímos separados, mas chegamos juntos onde ele se põe, e de tanta paz encontrada devo ficar com sono por aqui mesmo.  
 A saudade de vê-lo nascer cheio de nervos existe. Querer vê-lo meio sim, meio não, entre um copo e outro; entre um papo e muitos outros; entre ruídos de carros, risos e sons de cordas, e de vê-lo vermelho e com a água pela cintura no grande estuário, me enche os pés de asas.
São coisas para fazer na contramão do dia, mas só quando a inquietude passar da conta. Lembrando que saudade é um lugar incerto, onde todas as ruas se chamam Transformação

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

UMA VEZ...

acarinhe 



Olhe fundo nos olhos, como se fosse a última vez;
Abrace forte, como se fosse a última vez;
Beije; beije como nunca, como se fosse a última vez;
Peça perdão e perdoe, como se fosse a última vez;
Ria largamente, à finitude, como se fosse a última vez;
Coma, beba o mais e o melhor como se fosse a última vez.
Arrisque tudo, como se fosse a última vez,
Ponha o melhor de si em tudo, como se fosse a última vez,
E, pela última vez encare-se, não se arrependa nada.
Assim, caso não seja a última vez,
Você terá vivido ao menos uma vez, da forma que sempre quis.