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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

FENOJO





















Estamos às vésperas do encerramento da Feira Nacional do Joio e do Trigo, a FENOJO, e muitos ainda não sabem o que fazer. Quem joga no time do joio? Quem joga no time do trigo? E não esperem que os últimos dias esclareçam, uma vez que as assessorias, encarregadas pelos chicletes de ouvido, não conhecem rima com joio. Mas em loiros e límpidos trigais se esbaldam, como se lidassem com as mais santas verdades.

Ao final de uma campanha política, todos nós parecemos mais cansados. Mesmo que a grande maioria dos nossos esforços seja tão somente nos fincarmos no sofá, a fim de ouvirmos o matraquear interminável de criadores de países de sonhos; Da lavanderia de roupas brancas, embebidas de chorume e múltiplos excrementos.

A FENOJO tem comercial caro, equipes caríssimas e grandes produções. Rola um volume de dinheiro quase nunca bem contado, embora use horário gratuito para divulgação. A cada debate, e não falo de debate entre moleques, sempre espero que não; falo de pessoas que atingiram o mais alto escalão das pretensões públicas; falo de homens e mulheres que irão nos representar nas Nações Unidas; que levarão o nome do Brasil a todos os rincões desse mundo de Deus, me estarreço. O nivelamento rasteiro, a falta de educação e postura, me faz lembrar brigas que fariam corar o chinaredo ribeirinho. É bate-boca de tasca, às quatro da manhã, na disputa pelo último borracho.

Fui acostumado com padrões definidos para malandros. Meu pai os classificava assim: espertos, espertinhos e espertalhões, e me mandava escolher qual deles eu pretendia ser. Ele tinha orgulho quando eu me mantinha no primeiro, mas me punia proporcionalmente quando arriscava os outros estágios. 

Por fim, ando desconfiado que democracia, cuja festa máxima é a FENOJO, é um artifício destinado a uma pequena casta formada por espertalhões, que viram na política uma forma fácil de fazer carreira, e que se especializaram em vender almas sem pecado. E nós, cidadãos comuns, não passamos de desclassificados malandros sociais, quase só quando fazemos nossa declaração de bens, ou quando estamos à frente de uma entrevista de emprego.

Em política, muito especialmente no apagar das luzes da FENOJO quadrienal, desconheço a participação de espertos. Mas o Brasil é de quem participa; o mundo é deles, e nós damos graças a Deus por ainda podermos ajudá-los.  



quinta-feira, 16 de outubro de 2014

VERSOS SATÂNICOS 106 – NÚMERO DE VEREADORES




Maior número de vereadores, câmara mais eficaz!
Como dizia Cel. Chagas e Silva: “meu nobre rapaz,
... Estão querendo te passar para traz”.

Mas e essa continha esperta quem faz?
E essa tese sem prova o que me diz?
Claro: nossos preclaros e conspícuos edis.

Querem multiplicar a força motriz,
E para isso usam os mais diversos ardis.
Uns sutis, outros pueris e entre tantos, esse infeliz,
De secar por via escusa o já sofrido erário.

Engraçado.

Sempre ouço profusões verbais em plenário,
De que o legislativo é um verdadeiro calvário;
E que uma vez eleitos, para Cristos, só falta o sudário.
(Puro exercício vocabulário para compor o cenário)

O cofre que sustenta esses beneficiários
É o nosso, portanto, aumentar o contingente ou diminuir,
Não deveria caber  a eles concluir,  consentir, aderir, ganir.
Nem por bastante haveriam de servir as opiniões a seguir:
Do papa, do  emir, do vizir ou do Jair;
O povão é quem deveria decidir.
Então iríamos ao decreto da plebe, o plebiscito;
Ali não ficaria o dito pelo não dito.
Mesmo que vá gerar conflito, que nos ganhem no grito,
(Só de lembrar eu me irrito).
Esse é sempre o mais justo veredicto.
Por esse direito não derrubamos um regime proscrito?
E que não nos embutam o Referendo.
Parece a mesma coisa, mas não é, e se há dúvida, desvendo:
Um é antes do fato, o outro depois, por isso não recomendo,
Porque em política (entendo) o que não podem, acabam fazendo.
Agora imaginem podendo! Ai não tem remendo.

Antecipo meu voto!

Que aumentem o número de edis,
Desde que não me peguem pelos quadris,
Como fizeram no Último tango em Paris.
Assim, que os atuais servidores varonis
Sejam agraciados em seu pleito estatutário,
Mas que não infeccionem o tumor orçamentário,
Na sofrida rubrica que abriga esse numerário.
Ou seja, que dividam seus próprios salários,
Com os novos e valentes correligionários.
Portanto, para o legislativo continuaria a mesma verba,
Independente do número de beneficiários.
(Mas aposto que continuaria a “lesma lerda”).  
E todos continuariam ganhando
Mandatários, partidários, funcionários...
Voluntários, sectários, mercenários...
Teúdas, manteúdas e coadjuvantes salafrários...

E quem pagaria a conta? Os mesmos otários


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

DIA DO PROFESSOR




1) As férias de julho se aproximavam e eu não me aguentava nos cascos para varzear.

Faltaria bola, faltaria campo, faltaria rua... Enfim, faltaria tempo para tudo. Nada enche mais o dia de um guri de onze anos, que não ter nada para fazer.

Mas no penúltimo dia a professora me chamou: “leve esse bilhete aos seus pais”. Lá estava escrito algo como isso: “pai e mãe, precisamos melhorar a letra do Jair. Eu me proponho a ajudar durante as férias de julho, na minha casa. Assim, caso concordem, providenciem um caderno de caligrafia para amanhã”.  

Amanhã!!! Era o fim. Nada poderia ser pior.

Entretanto, acabou sendo um mês de julho muito agradável, embora trabalhoso. A professora, com a doçura que a caracterizava, não dava folga. Tratava-se de preencher um caderno, dois cadernos, três cadernos... Repetitivamente. A folga era para um café, uma “batida” de banana e algum bolinho.

Onde acabou essa história: até pouco tempo atrás eu era convidado a subscrever cartões e fazer atas em função da minha caligrafia.

2) Um dos professores de linguagem (língua portuguesa) que tive era jovem, orgulhoso; duro como tronqueira de guajuvira. Um determinado dia pediu uma “composição”. Fomos às letras.

Apresentei o meu trabalho e ele leu atentamente como sempre; releu uma, duas vezes e sentenciou mais ou menos assim: “aqui tem vocabulário, quando tiver sentido poderá ficar bom”.  Não entendi, mas isso foi o suficiente para que eu passasse dois metros e meio de tempo da minha vida buscando sentido no que escrevo.

Nunca pude ser grato o suficiente a professora Ruth Argimon pelo carinho e empenho, mas ao mestre José Edil de Lima Alves eu posso e sou a cada oportunidade que tenho.


Obrigado mestres, e em nome deles abraço a todos.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

OVOS PARA O BEM DO BRASIL!


Quando Mario Henrique Simonsen, lá em 1977, a bordo de um barril de carvalho denunciou o chuchu por formação de quadrilha, assalto a cesta básica e principal líder pró-inflação, virou piada.

Certo, na época a gente podia gritar, mas não muito; podia espernear, mas com calma. Protestar, enfim podia, desde que não cheirasse a pólvora. Lembro que um diferencial para o protesto era usar terno e gravata, e nunca fazendo bagunça na rua. Barbudo de brim Coringa e alpargatas era risco. Com bandeira, então, ia direto ao teste de amperagem testicular nos jacarezinhos do Dops.

Mas na época, quem dava mais do que chuchu na serra eram os índices inflacionários. Que segundo me prometeram em 1994 “já eram”.

Não vi ninguém do governo atual culpar o ovo pelo aumento da inflação, ao contrário, ele, o ovo, dizem, é a salvação. Ex-vilão e grande parceiro do LDL, chega agora à consagração para as fumacentas manhãs de domingo.  

Assim gauchada velha, largue mão da minga, do salsichão e outras “hachuras” assadas a meia-guampa. Picanha, então, nem pensar. Assem ovos, não os de touro, que esses se come apenas uma vez por ano. Assem ovos! Ovos para o bem do Brasil.

Essa do ovo, como há muito foi o chuchu, vai para os anais (ou no caso específico volta, posto que dos anais veio) da economia, como coadjuvante na história tragicômica da retomada da inflação, por conta das sumidades que hoje nos dirigem.


A situação, entretanto, me parece “clara”: não “gema”. Vote para mudar.

sábado, 11 de outubro de 2014

HOY SOY TU SILENCIO


Um dia fui visitá-lo. Morava sozinho. Viuvara cedo e nunca mais quis arriscar no ofício de marido. Melhor dizendo, morava quase sozinho, posto que, vez por outra, alguma amiga comparecia para “arrumar a casa” segundo ele. Nunca a mesma para não criar vínculos “trabalhistas”. E quase sozinho porque nunca abria mão de ter com ele um cachorro. O meu amor pelos bichos vem daí.

Nesse dia quente de dezembro a tarde se arrastava, e nós, como sempre, contávamos as mesmas histórias, que sempre pareciam novas. E o que um dia o deixara brabo e a mim receoso, virara piada. Coisa leve, tipo: “Pai, tu sabias que eu tinha sido expulso do colégio?”. “Não, quando foi isso, filho da puta?”. Bem leve.

De tempos em tempos ele ralhava “já pra fora, meu filho”. Eu ria. Histórias e mais histórias, risos e mais risos e ... “já pra fora, meu  filho”.

Puta que pariu! “Quiéisso pai? Já tá me mandando embora?”. Então a revelação: “Não, guri. Meu filho é o nome do cachorro”.

Ele era assim. Irônico, brincalhão, extremamente inteligente, apaixonado por futebol, esporte em que foi mestre. Dele herdei alguma coisa. Não muitas. Caso fosse agraciado com essa última virtude, por exemplo, estaria rico.


Beijo, velho, hoje seríamos quase contemporâneos. Quero dizer com isso que me fazes mais falta ainda. Feliz 95.