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sábado, 11 de outubro de 2014

HOY SOY TU SILENCIO


Um dia fui visitá-lo. Morava sozinho. Viuvara cedo e nunca mais quis arriscar no ofício de marido. Melhor dizendo, morava quase sozinho, posto que, vez por outra, alguma amiga comparecia para “arrumar a casa” segundo ele. Nunca a mesma para não criar vínculos “trabalhistas”. E quase sozinho porque nunca abria mão de ter com ele um cachorro. O meu amor pelos bichos vem daí.

Nesse dia quente de dezembro a tarde se arrastava, e nós, como sempre, contávamos as mesmas histórias, que sempre pareciam novas. E o que um dia o deixara brabo e a mim receoso, virara piada. Coisa leve, tipo: “Pai, tu sabias que eu tinha sido expulso do colégio?”. “Não, quando foi isso, filho da puta?”. Bem leve.

De tempos em tempos ele ralhava “já pra fora, meu filho”. Eu ria. Histórias e mais histórias, risos e mais risos e ... “já pra fora, meu  filho”.

Puta que pariu! “Quiéisso pai? Já tá me mandando embora?”. Então a revelação: “Não, guri. Meu filho é o nome do cachorro”.

Ele era assim. Irônico, brincalhão, extremamente inteligente, apaixonado por futebol, esporte em que foi mestre. Dele herdei alguma coisa. Não muitas. Caso fosse agraciado com essa última virtude, por exemplo, estaria rico.


Beijo, velho, hoje seríamos quase contemporâneos. Quero dizer com isso que me fazes mais falta ainda. Feliz 95.

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