Tenho cinco anos. Não existe nada
mais fofo que um pai e um filho da minha idade irem ao estádio. Está bem,
existe, mas não vem ao caso.
Meu pai gosta do Grêmio e eu também
acabei gostando. Eu gosto de ir ao estádio com ele, embora não saiba muito bem
do que se trata. Acho zoado demais aquele monte de tiozinhos brincando de
pega-pega.
Ah, mas lá tem pipoca, picolé,
refrigerante à vontade; um monte de gente gritando, coisa que meu pai não faz,
mas lá ele faz. E sabe porque tem todas essas delícias à vontade? Meu pai se
concentra no jogo, e cada vez que eu falo, ele me compra uma coisinha para que
minha boca fique ocupada. Mimoso! Ele sabe que meu silêncio não é
barato.
Às vezes tanto mimo me dá problema.
Por isso, prudentemente, a gente sempre senta perto de um banheiro. Vez por
outra, quase nem dá tempo de ir até lá. E hoje não deu. Foi tanta pipoca,
amendoim, picolé, refrigerante (o jogo deveria estar encrencado) que as
comportas se abriram, digo, a comporta.
Meu pai olhava o jogo concentrado e
eu comecei a sentir qualquer coisa. Essa qualquer coisa foi apertando, apertando...
Mas eu não queria tirar o meu pai da concentração. Apenas olhava para ele.
Então, despercebido, ele me olhou. Primeiro carinhosamente, depois ficou
sério. Nos olhamos por mais alguns segundos, ele cada vez mais sério e eu cada
vez mais vermelho, acho. Senti que ele ficou
muito apreensivo (porra! Apreensivo? E eu?). Finalmente ele me disse uma única
palavra:
- Não!
Eu não disse nada, mas arregalei os
olhos. Ele repetiu:
- Nããããão! Fazendo uma careta
estranha, meio medo, meio raiva. Tipo dia de vacina.
Ai passei a fazer olhar de cachorro (eu
sei a força que tem o meu olhar de cachorro). Então, na terceira vez que ele
disse não, imediatamente me pegou no colo, baixou o meu calção e pegou no ar
(como um gato!) o resultado de tanta comilança. Ufa, que alívio! Acho que isso é o que
querem dizer com paz interior.
A cena seguinte foi ir ao banheiro, pendurado
no braço direito do meu pai, fedendo. Na mão esquerda dele... Bem, ele não iria
deixar na arquibancada aquela nojeira toda. Por sorte (dele) eu era um homenzinho,
cocô durinho e tal. Enquanto subia os degraus, sem efeito solo, ouvi
gargalhadas da galera que estava por perto. Teria sido gol do Grêmio?
Um comentário:
Amei.Ri bastante.
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