Dona Erotildes andava sempre bem vestida. Mulher altiva, discreta, uns trinta e poucos anos. Não chegava a ser de uma beleza estonteante, mas tinha um corpaço e um par de coxas que tirava o fôlego. Dava para ver pelo desenho que se via naquele vestido justo de Jersey que colocava quando saia de vez em quando às tardes e deixava o homerio com os queixos perto do joelho, ao passar. Transpirava sensualidade. Mas nada haveria de ser igual ao que se imagina por detrás daqueles panos. “É pintosa, a balzaquiana”, minimizavam as tias de nariz torcido.
Solteira, vivia do seu ofício e talvez contasse com a ajuda de um parente que se dizia primo. Seu La Garça, que era bancário e a visitava duas vezes por semana, às vezes três.
Costureira de mão cheia, diziam. Fazia suas próprias roupas, sempre orientada pelas revistas de moda, ou pelas chiques que posavam em “O Cruzeiro“. Tinha várias clientes, e Julio, adolescente, com tanta espinha na cara quanto vergonha e as mãos cobertas de pelo, muito por causa dela, fazia entregas de bicicleta por meia dúzia de pilas. No entanto, o “prêmio” maior era estar por perto, quando aproveitava para frestear pelas portas entreabertas da casa, na esperança de flagrar pernas também entreabertas.
Alguns dias antes do aniversário de Julio, Dona Erotildes resolveu lhe dar um presente.
- Vem cá, vou tirar tuas medidas. Vais ganhar uma camisa e uma calça de aniversário.
Mediu o pescoço, tamanho das mangas “estás crescendo, guri, estás quase um homem”. E Julio estaqueado, afinal deveria ser quase um homem mesmo. Quase, porque entre outras coisas, além dos ralos pelos que vertiam no rosto, uns duelando por espaço entre as espinhas, e os pubianos que ainda mal se enroscavam, sexo apenas manipulado. Ainda era "autossuficiente". A ovelha do tio Bonifácio não contava.
Mediu a cintura, o comprimento da perna e altura do fundilho. E foi nesse momento que o guri extrapolou a vergonha. Mal dona Erotildes roçou a braguilha dele com o dorso da mão, o membro inocente, que até ali permanecia amordaçado, mercê de muita concentração e respiração cachorrinho, intumesceu-se, inchou, perdeu o controle, não parava de crescer e ele, atônito, sem saber o que fazer, saiu correndo porta à fora.
Julio ficou um tempo sem aparecer. Chegava do colégio e se encerrava no quarto. Até o dia do seu aniversário.
Pai e filho moravam sozinhos. A esposa e mãe falecera há alguns anos e eles não tinham ânimo para festas. As tias mandavam bolo, doces, presentinhos e tal e eles se esbaldavam por uns dias.
- Dona Erotildes deixou esse pacotinho pra ti. Deve ser um presente. Tens que ir lá agradecer.
Julio desconfiava do que era, então tomou seu banho e foi experimentar a camisa e a calça nova ganhas. Perfeito. Quase. A calça ficou um pouco apertada nos fundilhos, afinal ela tinha terminado de fazer “a olho”, já que ele “perdera a cola” enquanto ela tirava medidas, mas de resto, ótima. Então era hora de enfrentar as vergonhas. Foi agradecer o presente vestido com ele.
- Ora, ora... Apareceu o rapazinho... Deixa ver... Ficou bem, um pouco justa aqui embaixo, deve incomodar. Tira que eu arrumo.
“Puta que pariu!” – Vacilou
- Eu sei por que estás com vergonha. Achas que eu nunca vi um homem pelado antes? Vi e aposto que bem mais “documentados”.
Após algumas negaceadas Julio tirou a calça e se enrolou na cortina.
- Deixa de frescura, guri, senta ali.
“Então foda-se”, pensou. Sentou e ficou contemplando o mulherão sentado à máquina, de frente para ele, com as pernas entreabertas. E quem diz que o “bicho velho” manipulado baixava a cabeça?
Enquanto dona Erotildes trabalhava, ele ficou lá sentado no sofá com uma estaca latejante entre as pernas. Barraca armadíssima. Vez por outra ela olhava de canto de olho e dava um dissimulado sorriso.
- Pronto. Vem cá.
Vacilou um pouco, mas foi. De pau duro mesmo. “Foda-se!”
- Não vai dar para experimentar com esse negócio duro. E eu acho que te subestimei, por isso ficou apertada. Estou curiosa, posso ver? Já “usaste” o amiguinho aí alguma vez?
- Usei só em casa – O pobre guri estava vermelho de vergonha, potencializada por derrames de testosterona. Nem se mexia.
Sem cerimônia, ela baixou a cueca dele, ficou olhando, talvez surpresa, então pegou o membro com uma das mãos e começou a acariciar mansamente. Molhou as mãos com a língua e continuou a massagem.
- Fica calmo. Eu sei o que tu queres há muito e acho que é hora dar um passo adiante na tua formação.
Então aproximou os lábios do cabeçote carmim, deu algumas mordiscadas, depois lambeu e passou a usar a língua e a boca em movimentos delicados. “Como assim céu e inferno são lugares distintos?” – pensou o grumete.
- Agora vem cá. Vais ganhar outro presente.
Dona Erotildes levou Julio ao quarto onde deitaram e retirou o resto das roupas que tinha feito. Enquanto também se despia, continuava aquele trabalho maravilhoso que fazia com a boca.
Ele, no entanto, continuava estático, da mesma forma que deitara. Dona Erotildes, já satisfeita das preliminares se foi à montaria, tendo o cuidado de ajeitar o pino. Assim Julio pode ver melhor o que de fato se escondia por detrás daquele vestido justo de Jersey. Coxas, muitas coxas... Tetas fartas, mamilos enormes e o resto... Ela tinha também um leve sorriso nos lábios.
Ficou lá, como se anda a cavalo, primeiro ao passo, depois a troque curto. Com o acelerar do trote, as feições dela foram mudando, o sorriso esmaecendo, os olhos se revirando, os gemidos desafinando e trocando de tom. O suor começou a tomar conta do seu corpo até que veio o galope. No auge das cavalgadas, dona Erotildes puxou Julio ao seu encontro e esmagou seus lábios nos dele com fome. O coração dela dava saltos que pareciam esbofetear as peles justapostas. Então um frêmito final, comprimindo seu corpo... E foi se soltando aos poucos, retomando à normalidade. E ele? Bem, ele estava tão assustado, surpreso, afinal a virgindade só se perde uma vez, que apesar da excitação toda, travou. Era um obelisco intumescido plantado sobre uma laje.
Quando desmontou, dona Erotildes tratou de acalmar o guri:
- Foi apenas um bloqueio, talvez pela surpresa. Por sorte não aconteceu o contrário. Agora fica bem relaxado que vou dar um jeito nisso.
Dona Erotildes escorregou para os pés da cama e veio massageando as pernas do Julio com o seu instrumental erótico: mãos, língua e lábios... Até chegar ao obelisco, e lá repetiu aquelas maravilhas que o fizeram juntar céu e inferno. Uma massagem delicada com as mãos, contorcionismos linguais, labiais, algumas mordiscadas e engolidas. Aquilo sim era um presente de aniversário!
Na linha tênue que ele identificara entre o céu e o inferno havia um vulcão em permanente ebulição e que a qualquer momento eclodiria. Dona Erotildes sabia disso, recebia os sinais latejantes em seu instrumental erótico e tremores da estrutura, e começou a acelerar os movimentos manuais e labiais. A erupção trouxe, por fim, uma lava incandescente, densa e farta. E foi tanta, que não coube na boca de dona Erotildes, sobrava pelos cantos dos lábios. Pensou um pouco antes de quase desfalecer “Nossa... Credo!”
E assim como estava ficou. Viu dona Erotildes levantar e ir ao banho, ouviu o barulho do chuveiro, tudo muito longe, muito vago, demorado... Estava momentaneamente morto.
Quando voltou, dona Erotildes vestia um chambre vermelho que contrastava bem com seu cabelo preto ainda molhado, e a pele alva.
- Vai tomar teu banho, está ficando tarde.
Foi flutuando em uma nuvem. Abriu o chuveiro e deixou que a água fizesse o trabalho de recuperá-lo. Banho longo, reconfortante... Enrolou-se em uma toalha e foi procurar as suas roupas.
O cenário que Julio viu ao sair do banheiro era o seguinte: dona Erotildes recostada na cabeceira da cama, meio de lado, com uma cara de paz e felicidade. Chambre vermelho entreaberto, com um dos seios mamiludos e uma perna inteira de fora. Ora... Não demorou nada para que o pau da barraca se erguesse, a toalha caísse e ele se jogasse sobre a cama como burro no azevém. No entanto, antes que chegasse ao umbigo ela o impediu, colocando as pernas sobre os meus ombros.
- Calma. Está na hora de conheceres melhor a tua nova amiga. É alguém que vai te dar muito prazer durante a vida, mas um homem de verdade tem que saber retribuir. Lembra daqueles carinhos que te fiz com a boca, não é mesmo? Então faz de conta que tem um pauzinho escondido aí na periquita e deixa a tua língua procurar. Talvez custe a encontrar, mas quando chegares perto, meu corpo te dará sinais.
No roteiro original, na linha dos olhos de Julio estavam aquelas maravilhas dispostas da cintura para cima. Agora era o umbigo e foi por onde ele começou a distribuir beijinhos. Passou pelo ao baixo ventre sentindo o perfume de banho recém tomado com notas almiscaradas, e a pele com pequenos arrepios.
O clima entre ambos parecia de completa entrega e cumplicidade, e ele já estava bem à vontade. Ao alcançar a vulva, sentia-se quase um veterano, sabendo exatamente o que deveria ser feito. Quando sentiu o primeiro tremor dela constatou “é por aqui...” E por ali ficou lambiscando, ora firme, ora delicadamente e os tremores, gemidos e suores aumentando. Ela deveria estar curtindo muito aquilo porque em determinados momentos quase enfiava a cabeça dele para dentro dela. Foi em um momento extremo desses que ela o puxou para cima. Mas Julio não se jogou. Foi subindo lentamente deslizando seu corpo sobre o dela, até que o membro encontrasse sozinho a sua parceria profunda e misteriosa, e penetrasse sem atritos por entre suas paredes ensopadas.
No roteiro adaptado, chegara a vez de Julio andar a cavalo. E montou... Primeiro ao passo, depois a trotes curtos, com muitas trocas de carinhos e olhares... A seguir trotes mais duros, com os lábios se esmagando em confronto... E então uma cavalgada frenética em busca de um fim, quando as bocas foram liberadas para a emissão de sons indecifráveis, variados e desafinados, até ultrapassarem juntos apoteoticamente a linha de chegada. Que final!
Caiu um para cada lado, mas ela não o deixou morrer de novo.
- Está tarde. Coloca a tua roupa e vai. Teu pai deve estar preocupado. Outro dia a gente continua.
Julio pensou “outro dia é amanhã”, invertendo o ditado popular. Olhou o relógio da cabeceira. Dez horas da noite! “Puta merda! Fui...”
Ao chegar, Julio encontrou o pai na porta, usando a sua feição mais inquiridora.
- Onde andava o rapazinho? Mandei agradecer o presente e desapareceste?
- É. Fiquei conversando com dona Erotildes.
- Quatro horas dá uma boa conversa. Bueno... Tem janta na Frigidaire. Já comeste?
- Muito.
E se recolheu. Não era hora para conversinhas. Foi um aniversário para a posteridade, uma vez que a primeira ejaculação assistida a gente não esquece. E dona Erotildes conheceu o quanto é dura e insaciável a natureza de um adolescente.
É certo que, apesar de magro e alto, Julio era um guri. Acabara de completar 14 anos, mas uma coisa também precisava ser dita: ter feito gozar com direito a bis a mulher que era o sonho de consumo do homerio da zona, inclusive do pai dele, que mal disfarçava isso, o colocava pau a pau com eles, com vantagem a seu favor. No entanto, ninguém precisaria saber disso. Só ele e dona Eroltildes.
O improvável casal passou a ter longos finais de tarde e algumas noites de trocas galopantes. Durou mais ou menos 5 anos, até Julio sair da sua cidade e ir cumprir com o seu destino. Ir embora não foi uma decisão fácil, mas sua generosa parceira, mesmo que também a contragosto o aconselhara: “Vai. És jovem e precisas construir um futuro para ti. Quando sentires saudades daqui olha para dentro, não para trás”.
Nunca contou essa história para ninguém, exceto para seu pai, que num dado momento arrastou tanto a asa para a vizinha que até pensou em desposá-la. Então foi obrigado a abrir o jogo, implorando sigilo. O velho não pareceu chateado, só o chamou de “filho da mãe” e, ao contrário, percebeu certo alívio na cara dele, uma vez que, como nunca tinha apresentado uma namorada, chegou a desconfiar que o filho fosse fresco. Ocorre que Julio só tinha olhares e demais sentidos para dona Erotildes, suas saliências, suas redondices cheirosas de banho recém tomado com notas almiscaradas, e sua boca mágica.
Depois que Julio foi embora passou quase dez anos sem aparecer. Certo dia seu pai o chamou porque tinha alguns exames para fazer e estava precisando de ajuda. Então retomou o velho caminho que há muito não trilhava. Voltou à terra!
Nada era mais a mesma coisa. As pessoas, as lojas, as ruas e praças tudo modificado. Soube pelo pai que seu La Garça, que já tinha viuvado ainda no tempo em que ele estava por lá, resolvera assumir a dona Erotildes e que tinham até um filho.
- Um filho?
- É, mas todo mundo desconfia que não seja do La Garça, embora tenha registrado como seu e o trate com extremo carinho. O guri tem tudo do bom e do melhor. Todo mundo desconfia, menos eu. Estranhamente, ou não, o meu velho amigo parou de me cumprimentar. Nem me olha na cara. Claro... Papagaio come milho e periquito leva a fama. Por sorte se mudaram daqui. Moram na casa dele, no centro. O guri é muito parecido contigo. Mas atenção: deixa quieto. São veteranos, vivem bem e até onde eu sei é uma família feliz. Não te mete.
- Puta que pariu!
Julio estava aturdido com a notícia. Precisava ajustar o prumo. Havia combinado uma cerveja com alguns amigos remanescente no fim da tarde e se foi à praça.
Cumprimentos, abraços, gritarias adjetivadas... “fiadaputa” pra cá “fiadaputa” pra lá... Essas coisas de amigos jovens. Às garrafas tantas daquela restauração de saudades, percebeu um casal que sentara em um banco próximo. “Ora, ora, vejam só... A nova família La Garça!” E tinha um menino ao lado dela, provavelmente o filho. A primeira vista e de longe, as informações de idade correspondiam, faltava conferir de perto as feições. Como havia prometido ao pai, não haveria de causar transtornos, mas é óbvio que iria conferir. Nada o impedia que os cumprimentasse, e era até educado que o fizesse. Então pediu licença um instante ao grupo e forçou uma casualidade. Deu uma volta por traz do banco e passou na frente da família.
- Olá, mas que surpresa! D. Erotildes, seu La Garça... Quanto tempo? Prazer em vê-los. Que gurizão lindo, parabéns!
Dona Erotildes riu com satisfação, mas seu La Garça mal mexeu a cabeça em um “boa tarde” grunhido e mastigado entre mandíbulas cerradas.
- Olá, como vais, Julio? Muito tempo mesmo. Obrigada, prazer também em revê-lo. Juliano cumprimente o amigo da mamãe.