Em principio não vou me deprimir. Não que esteja imune
a essa doença que é grave e cujos resultados são sempre imprevisíveis. Penso
que tenho boas forças para resistir, face às ricas reservas de afeto que ainda
me restam, vitaminadas pelo que recebo.
Mas nunca se sabe. É desanimador estar vivo para ver o
quanto e como evoluímos. Evoluímos sim. O rabo do cavalo também evolui.
Termos crescido em inteligências e seus recursos
acessórios, aperfeiçoamos nossos monstros latentes, mas parece que o que dá
mais prazer mesmo é a produção da morte no sentido bárbaro. Ver pessoas
explodindo, vitimas de artefatos empíricos; pessoas metralhadas nos paredões
livres das ruas, ou esmagadas sob as rodas de um prosaico veículo utilitário.
O terrorismo que assusta a Europa e o EUA, não ficará
somente por lá. É um mal que se espalha em metástase pelo mundo. Breve
estará entre nós, e aqui encontrará campo fértil para suas ações: um país à
deriva, fronteiras franqueadas, Forças Armadas deliberadamente esgualepadas, e uma carência
sem precedentes de comandantes. Virão para coadjuvar com as guerras civis
urbanas nossas de cada dia. Mas que tomem tento. No método de massacres com
caminhões, nossos números são incomparáveis.
O terror tem a sua rotina binária: matar e morrer. De
nossa parte, entretanto, o politicamente correto, baseado nos preceitos e
princípios dos direitos humanos, precisamos prendê-los, e com cuidados porque
antes da prisão tem o exame do corpo de delito; julgá-los e se condenados,
trancafiá-los. Mas há chicanas, como sursis, habeas, e se tudo der errado tem o
benefício da progressão. Como a maioria é jovem, quando voltarem às ruas terão
muita saúde e raiva para aniquilar ainda algumas centenas, antes de explodirem-se.
Por tudo isso, penso que terrorista não deveria ser
preso, mas executado no flagrante. É um ser cuja matéria é treinada para a
binária trágica citada, e sua alma já foi encaminhada ao inferno no processo de
iniciação fundamentalista. Preso, ele
não serve para nada, a não ser realimentar-se de ódio, às custas de suas
prováveis vítimas.
Por aqui estamos levando um vareio da turma do joio,
que muitas vezes pode viver ao nosso lado, que sabemos quem é, mas nem
desconfiamos de seu potencial ofensivo; que vem e vai às prisões
aperfeiçoar-se, até que esteja pronto e nas ruas ostentando a máscara do
verdugo.
Aqui não precisamos dos outros, mas eles virão.
Não podemos dar-lhes o remédio social adequado,
portanto, porque estamos subjugados pelas barreiras inocentes que nós mesmos
criamos. Contra a guerra suja, sem escrúpulos ou limites proposta por eles, a
nossa deve ser ética. Afinal, somos civilizados. Mal comparando,
continuamos acreditando que David derrubou Golias a “pombaço”.
Não vou me deprimir, acho que não, mas o que o mundo
deprime é uma verdade insofismável. Sempre fomos bárbaros, e a nossa trágica
história humana está ai para quem quiser comparar seus tempos e seus métodos de
extermínio.
Isso tudo, entretanto, o terror e as guerras, é
somente a ponta-de-lança do sistema. A origem de tudo; quem espicha o estopim;
o cérebro da catastrófica indústria de mortes não suja as mãos, não embarra os
pés e não respira pólvora. Apenas conversa, faz acordos e assina papéis.
E alguns ainda rezam e mandam matar, em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
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