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terça-feira, 15 de maio de 2012

A MÃO QUE BALANÇA O BERÇO



O fato de lacrimejarmos quando ouvimos o hino não é o suficiente para que possamos nos definir como patriotas. Parece que somente aqueles povos que tiveram um dia, ou têm, suas casas e famílias mutiladas por guerras e outras hecatombes conseguem verdadeiramente experimentar este sentimento. Pena que assim seja. 

Temos um país digno de paixão. É muito fácil amar o Brasil. É multicolorido, clima tropical, gente bonita miscigenada para todos os gostos, sejam mulatófílos ou germanófilos, e outras tantas virtudes default, que um dia alguém chamou de florão da América.

Mas patriotismo é também educação e aí, com esses milhões de sub-letrados que grassam do Oiapoque para baixo pela ordem de importância; que elegem governos, mas sequer sabem os porquês, nos resta mesmo lacrimejar quando a bandeira sobe e quando o hino toca.  


Vivemos ainda em berço esplêndido e nessa condição, a mão que nos balança acha que as nossas únicas necessidades são as de sobrevivência. Andamos entregues a babás deprimidas que pensam em matar a nossa fome, mas não pensam que está mais que na hora de começarmos a andar, a crescer, a pensar num grande futuro. Babás que até desconfiam termos tudo em casa, mas como nada sabem e nada vêem não podem tirar proveito. E assim vamos nós, deixando-as que realizem suas tarefas básicas, ensinando-nos apenas a ser como elas, creditando seus equívocos à sua condição de origem. Não crescemos nada, aprendemos pouco e tudo ao nosso redor parece poder mais do que nós, mesmo que não possa. Daqui a pouco nem vamos mais entender por que disseram que um dia iluminaríamos o sol do novo mundo.

Aprendi com os sopros da juventude a odiar as ditaduras. Condição em que os comandos nos mantinham sob controle. Não nos deixavam reclamar, votar; sequer pensar em voz alta. Assim, nossa salvação somente viria pela via democrática. A ditadura que eu vivi, apesar dos olhos da espreita, pudemos fazer as revoluções sociais e de costumes que quisemos. Pudemos usar cabelos longos, pouco importando se os mais velhos considerassem inversamente ao tamanho das idéias; apertamos as calças e as meninas subiram as saias; as mulheres iniciaram a libertação dos grilhões domésticos; mudamos músicas, comportamentos, mesmo a contragosto dos pais. Poderíamos fazer de tudo desde que ordeiramente. 


Mas em nome da liberdade de podermos decidir nossos caminhos como nação, exageramos e a perdemos, e tivemos de suar sangue para recuperá-la.

Muito bem. Saímos daquela clausura e conquistamos todos os direitos reivindicados, e o que vejo: uma ditadura ainda mais forte e mais violenta; mais intransigente e o que é pior: cheia de tentáculos escondidos sob o disfarce da inclusão social. Ou não será repressão extrema o fato de vivermos enclausurados em residências de segurança máxima, ainda assim inócuas, com medo das ruas? Ou não será ditadura assistirmos impotentes sermos monitorados por Medidas Provisórias, ou firulas do politiquês equivalentes, ao bel prazer do gerente de plantão? Ou não será de exceção um governo que permite a formação de oligarquias fascistas ao seu redor? Que democracia é essa que permite a formação de milícias rurais impunes e soberanas do seu direito de apropriação do bem alheio, e cujos gerentes se dão ao desplante de se declararem despercebidos? 


E que regime é esse que nos deixa  aplastados no sofá da sala ouvindo diariamente que hoje,  mais uma vez, alguém em algum lugar sangrou os cofres públicos e deverá ser investigado? Talvez seja mesmo, talvez seja preso, talvez devolva algo do que roubou, mas certamente não dirá o quanto e mancomunado com quem. 


Ricos, sim. Somos muito ricos. Temos reservas que sustentam nosso mínimo conforto, reservas para emprestar aos vizinhos e grandes reservas para satisfazer o apetite dos nossos sócios majoritários que, vez por outra, limpam nossas gavetas sem deixar recibo. 


Um dia, tido como ato patriótico, uma parte da juventude letrada pintou a cara e fez com que se retirasse do poder um presidente alvo de suspeitas e de acompanhar-se mal. Aquela juventude amadureceu, assumiu poderes, mas parece ter perdido a capacidade de julgar e de se indignar. Deixou-se contaminar, necrosar, criar metástase daquelas feridas morais que espontaneamente antes quis ver extirpadas.

Sou contra todas as ditaduras, mas me tornei ainda mais inimigo dessas que são “escolhidas” por fantoches que se deixam induzir pela mídia conveniente, e por uma maioria que vota pelo trágico apelo da fome.

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