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sexta-feira, 11 de maio de 2012

SE TODOS FOSSEM IGUAIS A VOCÊ (Dia das Mães)





Uma moça chamada Ernestina, aos dezenove anos fazia o que hoje se reverbera como trabalho social. Não tinha grande preparo a não ser na delicada missão de ser mãe, mas o que a maturidade precoce e a escolaridade média lhe ensinaram distribuía graciosamente à vizinhança ainda menos favorecida. Assim, brincava de dar aulas alfabetizando crianças, e ensinava as meninas coisas práticas para as exigências vigentes, como costurar, cozinhar, aplicar injeções. Tarefas que a levavam a percorrer grandes distâncias vez por outra. Lembro que era muito querida e requisitada naquela periferia erma, distante do grande povo. Parte do contexto, ganhei com isso a alfabetização aos quatro anos e as honras mal percebidas de ser o filho da “santinha”. Ela morou pouco por aqui, viveu com urgência extrema, mas fez além da parte dela, um grande pedaço da minha.

Fez o que manda fazer aquele velho pescador da fábula, que ao amanhecer encontrou a orla repleta de estrelas do mar. Uma por uma ia gastando seu dia devolvendo-as à água, esquecendo de sua própria tarefa de sobrevivência. Alguém que observava teria lhe dito: “meu velho, nem que leves a vida inteira poderás devolver todas ao mar”.  Ao que ele teria respondido: “mesmo que conseguisse devolver apenas uma já teria feito a minha parte”. Piegas? Pode ser. Pessoas assim se multiplicam pouco, tornam-se fototrópicas negativas e vicejam apenas no substrato social, pela grandiosidade da sua modéstia. 

Minha mãe morreu numa idade de chorar perdas. Foi enterrada numa idade de enterrar seus mortos: vinte e oito anos. Não deve ter levado nada, pois tudo que teve e foi,  sepultou na enorme cova que deixou no peito dos que a amam, com um recado monossilábico, mas suficiente na  lápide: inesquecível. Foi um lapso de vida de desfecho incompreensível, resistente a curas. E se foi brilhar no nada, deixando um homem e meio tateando caminhos de penas, abrandadas pelas pegadas de luz que deixou cair.

Neste dia eu paro um tempo, não sei quanto. O tempo suficiente para desenhar seu jeito. Sei que existem ameixas pretas e até as vejo por ai, graúdas e lindas, mas nunca terão o brilho e a doçura que ela tinha no olhar. A grande floresta negra  que despencava em linha reta para muito além dos ombros, hoje talvez tivesse outra cor, ou outras cores, mas ai já não seria a grande floresta negra onde eu enroscava meus dedos infantis. Paro um tempo e paro no tempo. Lá longe, onde nem lembro mais, mas onde tenho certeza que vivi por que é o endereço da minha saudade.  Passados dezenas de anos, neste dia, ela bate na porta do meu coração trazendo seus biscoitos com sabor de mãe.

Feliz Dia das Mães, guria. E que estejas bem e feliz ai onde nossos queridos, contemplados por fé dizem que estás. 

Um comentário:

Gladis disse...

Parfabéns pelo escrito, Jair. LIndo...