Vivo de convicções,
certas e erradas. Talvez por isso meu metro de vida até agora, mais do que ser
apenas uma linha de tempo, reta e despercebida de si mesma, tenha sido de
sobressaltos, margeada por céus e purgatórios. São as minhas escolhas. Por mim,
nada pode ser morno; nada foi e não será sem sal e pimenta. E minhas doçuras,
ah, essas repugnam as abelhas. Tenho a presunção, uma de tantas, de não ter
vindo mais ou menos viver.
Sou um ser
atormentado pela lógica, buscada com intransigência, ainda que em causas
absurdamente mínimas. São as minhas miudezas. E tenho como antepenúltima
presunção ser, das três coisas que meu pai precisava para seu complemento, o
livro que ele plantou.
Vivo de ventos
fortes, sol escaldante e tempestades, permeadas por recuos de marés. Sei que o
saldo disto tudo são marcas, melhor, voçorocas em corpo e alma. Nunca me vejo um
pátio bucólico com folhas caídas, pequenos galhos frágeis e velhos esparramados;
ou pouco chamuscado. Por vezes racha-me o tronco, remexem minhas raízes e me
incendeio. Por outro lado, não consigo me imaginar num fim medianamente feliz. Prezo o “ser” por permanente, embora não seja;
provoco o “estar”, qualquer que seja, de prazer ou dor, para que não seja
apenas o vão momento. E descubro certo
sadomasoquismo em viver com intensidade.
Digo aos meus afetos
como sou. Alguns acreditam, outras não dão bola, e ainda outros vivem de se sobressaltarem.
Contrariam-se, depois sem saber o que fazer comigo acabam esquecendo, que é seu
modo de perdoar e me aceitarem. E há outros que, passado o momento de contrariedades,
ao serem perguntados por mim, acredito que gostariam de responder “quem?”. Isto,
no entanto, esbarra na minha penúltima presunção: Passar pela vida das pessoas
de tal forma que impeça este tipo de pergunta. E como venho de aquerenciar
afetos, e como já é tarde demais para trocar de roupa, sigo fiel e desconstrangido
com a indumentária cedida pelos anjos tortos que me anunciaram.
Por precaução sempre
revejo os picos anímicos, suas antevésperas e seus rescaldos. São os meus coquetéis;
os espumantes e chazinhos pósteros espirituais, mas são também minhas jurisprudentes
terapias. O sem graça disto é que hoje pouco me surpreendo.
Por fim, quando a luz
ficar esmaecida, bem no finzinho da tarde, por certo vou estender a rede em
estágios temporais de riso e paz, e isto, mais do que ser meu desafio, é minha última
presunção.


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