Foto da agência Reuters. Soldado russo na Chechênia, em 1994.
Ando sentindo dores constrangidas;
Sociais, coletivas,
Que é o tanto que me deixo doer.
Tive dor por Beirute, Jerusalém,
Neste lado do Golfo me doeu também,
Como me doeram Coréia e Vietnam.
E, caso recue mais no tempo,
Não haverá lado que não tenha lacerados.
Dor e culpas vão ao mundo sem bandeiras.
Traduzem gemidos que se espalham pelo vento;
Transcendem as razões dos continentes
Causados pelo ódio ancestral.
Ódio por ódio, que abstrai motivos;
E entre vivas e gemidos;
Entre ação e reação, balas e ogivas,
Faz a morte dos nexos, onde todos são bandidos.
Machucam-me em nome de coisas santas.
Por tudo, por nada, apenas porque sim.
Por fim, derrotas e vitórias se confundem,
Se fundem na massa amarga do caos.
Vivas às muitas mortes de lá!
Vivas às poucas mortes de cá!
E que transborde a taça com sangue irmão!
A dor que me dói por guerras
Tem gosto amargo de fim.
Pedaços de nós irrigam os chãos,
Em meio a ferros e sentimentos contorcidos.
São gentes esquecidas de ser gente,
Que guardam e realimentam em suas essências
A peculiaridade humana de matar para viver...
...Ou de matar por matar sem saber porquê.
A serenidade da morte circunda a terra,
Embalada por atavismos ruminantes.
E na pressa mórbida de improvisar túmulos,
Morrem primeiro despercebidos inocentes;
Depois morrem inocentes escravizados;
Depois morrem inocentes de ódio inoculado;
Depois morrem inocentes... Inocentes,
Esses, que jamais quiseram medalhas.
3 comentários:
Que descrição poética dolorida meu amigo. É bem assim, o final é assim, sofrem Marias, sofrem inocentes e sofrem gente por nunca ter-se sentido gente. ISTO É O PIOR. Guerra é o fim dos tempos. WHY????
Jair, teu texto é universal e atemporal, além de muito bonito!. Parabéns!
Andamos com tantas dores amigo, belo texto
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