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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

TUCA




Tenho saudades do irmão emprestado; do irmão que quase tive e por não poder tê-lo mais hoje, tenho um buraco impreenchível no peito. 

Sinto falta do amigo que, sozinho era a festa, e que ao seu redor fazia luzir todas as barbaridades inocentes de uma noite barulhenta, por vezes bizarra.  As noites, sim, não tinham fim. Confundiam-se as luzes amarelas, vermelhas ou negras de dentro de qualquer boteco onde se ouvisse uma batida razoavelmente harmônica com os raios do sol, e tudo continuava no mesmo diapasão. 

Ele era incansável, com um fôlego improvável; vivia com urgência, como se tivesse medo que de hora para outra fosse chamado para uma farra no andar de cima e ainda não tivesse gastado tudo por aqui.

Tuca se foi como se estivesse fazendo um vestibular para a vida eterna. Preparou-se, esforçou-se muito e amiúde nas lições diárias de não conformidade. Desafiava até dormindo seu status físico, como se estivesse acima do bem e do mal. Abusava de tudo, mas muito e especialmente da desgastante tarefa de se fazer feliz a qualquer custo. E se fez. E fez também a nós, que a cada noitada o agradecíamos com nossos olhares cínicos de repreensão. E acho que, afora suas penas clínicas, seus últimos meses de vida foram seu paraíso. Só vi medo em seus olhos na última vez que nos olhamos, e quando ainda lúcido, percebeu que preparava longa viagem. Naquele momento sabíamos, ele e eu, que não nos veríamos de novo. Até porque somos formados da mesma cepa incrédula dos que vivem com tudo, com força e atrevimento, com arrojo, sujeitos a todos os erros e suas sequelas porque, no fim, quando nos formos, seremos nada mais do que restos da carcaça cedida pelo Criador em comodato, até o pó definitivo. 

Se morrer, morremos. E Tuca morreu, as noites ficaram menores, e ninguém depois dele contará as histórias que ele viveu, reais ou fictícias não importa, mas incomparavelmente fantásticas.

Maldito seja nosso metro de vida estabelecido lá, não sei em que momento, quando apertaram nosso “enter”.  Os que se amam deveriam partir todos juntos, como se uma dinastia afetiva inteira perdesse seu reinado, a fim de que não houvesse este residual enorme e quase infindável de sofrimento, quando da ausência de um elemento.  A rigor, ninguém sabe perder afetos, mas pessoas que vivem com o coração no cartão de visitas nunca estarão minimamente preparadas, nem na situação mais candente e finada de seu ente, para o momento de dizer “até breve”, mesmo que não acredite nisso.

Hoje, particularmente hoje, dia em que estarei contigo vivo na memória, desconfiarei de qualquer música alta que escutar. E caso beba uma cerveja o farei em dois copos. Vamos brindar a essa festa de aniversário que em algum lugar está acontecendo.

2 comentários:

Angelica disse...

Muito linda homenagem Jair...saudades sempre dessa pessoa ...amigo pra todas as horas,confidente das madrugadas,,pessoa amada e querida por todos ... saudades sempre meu amigo,meu "NOIVO"....FELIZ ANIVERSÁRIO meu querido TUCA....FÊNIX ...agora junto da tua parceira ai em cima...até um dia...

Unknown disse...

Saudades desse maluco beleza que iluminava nossas noitadas, na sua infinita briga com a vida, pela vida.