Verão do amor (Summer of Love) foi um movimento pela paz iniciado na primavera de Nova Iorque, em 1967, que tomou rumo do mundo. Um fenômeno social contra a guerra do Vietnam, que arrebanhou a elite cultural. Artistas, e em especial ativistas da comunidade "Make love, not war ". Foi um evento urbano, limpinho, de banho tomado e arrumadinho, sem sexo e drogas, mas não dá para apostar. Acho que foi precursor do embarrado surubão de Woodstock que aconteceria dois anos depois, o que não invalida os motes, muito pelo contrário.
quarta-feira, 12 de novembro de 2025
SUMMER OF LOVE
Algumas canções fizeram coro às manifestações, como uma espécie de hino pop. "San Francisco (Be Sure to Wear Flowers In Your Hair)", cantada por Scott McKenzie é a principal delas. Outra que fez parte da trilha e se expandiu foi "A Whiter Shade of Pale", o primeiro single da banda inglesa Procol Harum, lançada concomitante ao movimento.
Essa música, "A Whiter...", passou a fazer parte da vida das comunidades envelhescentes do mundo. Não há quem não tenha uma história em que ela não esteja como trilha sonora. É um clássico ´pop, intimista e foi considerada por um desses institutos especializados, não sei qual, como a música mais bonita de todos os tempos. É uma questão de gosto, mas foi gravada por diversas vozes, inclusive pelo nosso Timóteo, e é das poucas que ultrapassou a marca de 10 milhões de cópias vendidas.
Guerras não faltam; nunca faltaram, e assim será Per omnia saecula saeculorum. Falta agrupamentos de pessoas, esses privilegiados pela vida e que formam nichos, com o sentimento daquela geração transformadora que foi capaz de protestar com a suavidade de "Summer of love". Hoje até shows musicais são discricionários e estimulam ódio.
TRANSFORMERS POP
Quando a Capitol Records lançou "I Want To Hold Your Hand" dos Beatles no final de 1963, depois de uma pesada campanha de marketing, a música pulou para a primeira colocação das paradas estadunidense. Então os Beatles viajaram para os Estados Unidos pela primeira vez. A histórica aparição do grupo no The Ed Sullivan Show na noite de 9 de fevereiro de 1964, alcançando então a maior audiência televisiva da história é vista por muitos como o marco zero da Invasão Britânica.
No anos sessenta e na década seguinte, familiares conservadores, na época todos eram, lutavam bravamente para impedir a avalanche juvenil que vinha implacável montanha abaixo, derrubando os tais "bons costumes". Os cabelos da gurizada cresciam transpondo os ombros; as saias do colégio subiam quatro dedos gordos acima do joelho, depois da primeira esquina, e os namoros tendiam a ser, como dizer... um pouco mais invasivos. As frágeis barreiras que haviam não mais podiam controlar os gametas, e cada um fazia a sua Woodstock com o que tinha à mão. E estas, as mãos, jamais se encontravam quando nas despedidas de portão.
Os gritos de liberdade eram acompanhados pelos tweeters das caixas de som; agudos de guitarra e coisa e tal, e as luzes antes claras ou no máximo difusas, passaram a estroboscópicas e negras.
Foi uma geração transformadora e não me permito, agora na qualidade de envelhecente, me posicionar a favor de censuras, mesmo as que possam eventualmente me causar algum desconforto. As que me tocam, direta ou indiretamente faço de conta que nem são comigo. Deixo para me aborrecer quando implantadas.
Décadas mágicas. Viver por lá foi uma festa.
ORIGINAL
sábado, 8 de novembro de 2025
ALFONSINA
Alfonsina Storni nasceu na Suíça e aos quatro anos mudou-se com os pais para a Argentina. Em 1901, ainda criança, a família fixou-se em Rosário, sempre com severas restrições financeiras. Alfonsina então se jogou no trabalho, atuando como operária, professora de costura e atriz. A poesia doía na alma poética desde sempre, mas vertia apenas como catarse.
Com 43 anos descobriu um câncer de mama. No estágio em que foi identificado e com os recursos da época, nada mais poderia ser feito. Então resolveu tomar o caminho que um ano antes, quando também diagnosticado com câncer, o escritor uruguaio Horacio Quiroga tomou: suicídio. A diferença, talvez porque Quiroga fosse um homem sorumbático e trágico com a vida, foi a forma. Ele tomou cianeto, Alfonsina caminhou vagarosamente em direção ao mar e se deixou engolir por ele. O ano era 1938, e três dias antes de se suicidar, ela envia de um hotel de Mar del Plata para um jornal, o soneto “Voy a Dormir”. E foi.Ariel Ramírez, autor da Misa criolla, compôs também o tributo musicado em homenagem a ela, cuja letra e melodia jorram de dor e devem ter ajudado a salgar a costa Argentina. Ele não conheceu Alfonsina, mas inspirou-se em sua história, que lhe fora contada pelo pai, de quem ela tinha sido aluna.
"Pela branda areia que lambe o mar
Sua pequena pegada não volta mais
Um caminho solitário de dor e silêncio chegou
Até a água profunda
Um caminho solitário de dores mudas chegou
Até a espuma"
Mercedes Sosa eternizou a canção, mas ... Nana Mouskouri, a diva que já gravou em 15 idiomas, dos quais sete fala fluentemente; que depois de Dalida é quem mais vendeu discos na França, e que junto com Michelle Pfeiffer divide o lado leste do meu coração, a internacionalizou. Quando ouço, quase me afogo.
quarta-feira, 5 de novembro de 2025
𝐇𝐎𝐌𝐎 𝐇𝐎𝐌𝐈𝐍𝐈 𝐋𝐔𝐏𝐔𝐒
Pelas paredes do velho e querido Colégio União havia quadros com provérbios em latim, fato que nos obrigava a pesquisar seus significados no Google de então, também conhecido como Delta-Larousse. Entre os provérbios, o mais intrigante deles: 𝙎𝙞 𝙫𝙞𝙨 𝙥𝙖𝙘𝙚𝙢 𝙥𝙖𝙧𝙖 𝙗𝙚𝙡𝙡𝙪𝙢 (se queres a paz, prepara-te para a guerra).
Custava um pouco a fixar em cérebros virgens tamanha ambivalência. No entanto e com o decorrer do tempo, a maturidade sendo exposta diariamente à estirpe de Caim que carregamos, passou a fazer todo o sentido. Bismark (aquele que não conseguiam afundar) também teria dito algo assim: 𝙙𝙞𝙥𝙡𝙤𝙢𝙖𝙘𝙞𝙖 𝙨𝙚𝙢 𝙖𝙧𝙢𝙖𝙨 é 𝙘𝙤𝙢𝙤 𝙢𝙪𝙨𝙞𝙘𝙖 𝙨𝙚𝙢 𝙞𝙣𝙨𝙩𝙧𝙪𝙢𝙚𝙣𝙩𝙤𝙨. Pois então.
E bem antes desses sábios falarem essas frases chocantes, Joãozinho Evangelista, lá no Novo Testamento, já avisava sobre 𝙤𝙨 𝙦𝙪𝙖𝙩𝙧𝙤 𝙢𝙖𝙩𝙪𝙣𝙜𝙤𝙨 𝙙𝙤 𝘼𝙥𝙤𝙘𝙖𝙡𝙞𝙥𝙨𝙚 que representam os nossos flagelos, normalmente puxados pelo alazão (guerra). A morbidez humana parece adorar esses bichos. Renegam a paz e conseguem transforma-la em um sentimento vazio, que não leva a nada, porque se esgota em si. Paz, enfim, vem a ser como um tempo de verbo, algo como presente do subjuntivo, longe de ser um futuro perfeito. Assim, só uma possibilidade. É uma triste ironia, mas fazemos da guerra uma necessidade em busca dela, da paz. E se realimentam nos ciclos e os ódios. O que Ghandi disse sobre a paz é revelador: 𝙣ã𝙤 𝙝á 𝙘𝙖𝙢𝙞𝙣𝙝𝙤 𝙥𝙖𝙧𝙖 𝙖 𝙥𝙖𝙯, 𝙖 𝙥𝙖𝙯 é 𝙤 𝙘𝙖𝙢𝙞𝙣𝙝𝙤. Caminho sim, só o caminho (cubierto de cardos), nunca a chegada. E só não desistimos dela porque sem ela não haveria mais guerras para buscá-la .
Ou seja, bacudo, de tempos em tempos, ou em quase todo tempo em alhures ou algures, como se dizia no castiço, é chumbo trocado para ver se, matando alguns, se sacia a sede que temos pelo sangue irmão. Matemo-nos, pois, no caminho da paz. Mas depois, de saco cheio dela, matemo-nos de novo.
Custei um pouco, mas entendi, querido Colégio União.
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