Ao patrono Matheus Saldanha Filho
Explicar o sentimento de amor a terra para um gaúcho é
desnecessário. Para alguns outros é impossível. Falar; somente falar, sobre o
que ficou num lugar e num tempo para quem esteve lá, no tempo e no lugar é
levá-lo de volta, ainda que por instantes. Se este lugar for Uruguaiana e o tempo, o
nosso tempo, a época de cada um, afirmo que uma parte nós
permaneceu por lá.
Um pouco sempre fica no partidor. Um pouco de nós ainda assombra
a velha casa onde nasceu, arrastando correntes douradas inocentes, do bem, pelo
assoalho velho, e traz de lá seus cheiros. Que importância tem se no lugar da casa haja hoje um prédio
enorme e moderno? A terra é revirada para que se revigore e cumpra sua missão
de transformar, mesmo assim não sai do lugar. Essa parte importante de nós não
está nem ai com que o que fizeram sobre as nossas primeiras pegadas. Nada vai
tirá-las de lá, por que elas estão tatuadas no universo em seu conjunto, e nas profundezas da memória afetiva.
Uruguaiana é o epicentro de uma geração de apaixonados por
uma juventude, que se nega a assumir os efeitos dos seus brancos, caso haja ao
menos brancos; suas rugas e modificações de estrutura físicas. Nega sem negar-se. Voltar a Uruguaiana é ser, por um lapso
roubado de tempo, um pouco do que fomos. É como se saíssemos dos álbuns para as
calçadas, a fim de corrigirmos as fotos, ai sim com certo lamento, pela
brutalidade cronológica do foto shop natural. Afinal, não há paradoxo temporal sem dor.
A nossa "terra santa" é também célula de um grupo de amigos que adotou o basquetebol como
início, meio e fim. Por que um dia alguém iniciou lançando a primeira bola; por
que depois outro alguém entendeu que este seria um meio de retornar, e por fim, por
que neste caso todos os meios o justificam. E o fim será sempre no início para
que o ciclo jamais morra. Como o astro rei, que acaba dormindo todas as noites por lá. Não há pretensão nenhuma, portanto, dizer-nos filhos do sol.
Não tentem explicar para quem não nasceu em Uruguaiana em
meados do século passado o que significa retornar à base. Para uns é
desnecessário, para outros será incompreensível.
Quando entrar setembro e a
boa nova andar nos campos... Ou nas quadras...
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