Nossa estrada eletrônica tem muitas bifurcações. O
computador tem sido o nosso amigo mais permanente, porque está sempre a
disposição e serve de interface para amplos e múltiplos
bate-papos. Para alguns, um e outro desabafo, e para outros o prazer meio mórbido de dizer a anônimos o que só deveria interessar a si mesmos.
Entretanto, e percebemos pouco isto, trazemos para cá o que
somos na forma mais pura e primitiva,
afinal, estamos sozinhos. No meio de uma multidão de pessoas que nos olha pelo
que escrevemos, mas sozinhos. Ninguém haverá de se interpor no nosso ritual
onanista. Somos o que escrevemos, mas nos vêem da forma que a nossa falta de
cuidado de dizer, ou de direcionamento, faz com que sejamos percebidos. E, claro,
incrementado pelos humores aleatórios de quem nos lê.
Tenho visto amigos
deixarem de sê-lo por terem ideologias políticas diferentes, ou por torcerem
por times rivais. Desconsideram a lei da física, onde cada ação pede uma reação
contrária, num espaço onde ela é mais cruel: onde ninguém quer que a sua reação seja apenas igual. Cada um
reage de acordo com o tamanho do seu verbo, argumento, criatividade, revolta,
deboche, educação ou falta dela.
E por vezes as amizades estão sendo relegadas a
um plano inferior quando se trata de medir a consistência de verdades. Haja elas
ou não. Não importa a educação recebida ou
o nivelamento social, o que vale é a “bateção de boca virtual”, desconsiderando
o desconforto que causam aos circundantes.
A linha de tempo é democrática. Ampla, geral e irrestrita entre
os amigos, entretanto os mais incomodados, via de regra, são os despercebidos
que se atingem por contaminações virtuais cruzadas. São catalisadores de
indiretas. “A gente xinga uma quenga e o Bataclã inteiro
se ofende!” E quando se trata de emitir juizo de valor, somos imbatíveis, vestais virtuais que somos. E chatos, muito chatos. Nem precisamos mais mandar nossos pares estudarem história ou literatura para equipararem-se a nós. Basta-nos dar a entender o quanto conhecemos do tema em pauta, e eles que se mordam.
A hora é de reflexão para quem quer refletir, e isto há de
exigir recolhimento e esforço concentrado. Como ainda não há um aplicativo
chamado “terapia”, ou #Dr. Freud” ou “#Dr.Jung”, estamos nas mãos do software que
desenvolvemos, com muito trabalho ao longo dos anos, que é
personalizado e cuja fonte está conosco. Um software muito exposto a vírus, mas
indispensável nas relações sociais: o bom senso. Sem ele os sistemas podem não
ficar amigáveis.
Ou será apenas um caso de antropologia social, sobre a qual, por ser muito jovem, os grandes mestres formadores e inspiradores de teses ainda não puderam se debruçar?
Ou será apenas um caso de antropologia social, sobre a qual, por ser muito jovem, os grandes mestres formadores e inspiradores de teses ainda não puderam se debruçar?
Por fim, temos de decidir o que queremos do Face book: lazer
ou ferramenta, lembrando que se o objetivo for ambos, há que termos cuidado
redobrado e mantermos sempre a última versão do software acima. Este software traz
um aplicativo básico que recomenda que para conteúdos fortes a forma seja suave,
já que o oposto é trágico. No entanto, penso que tarda o auto dedo na moleira: não somos a baliza; o modelo assertivo ou Delfos. Nossos amigos não precisam espelhar-se em nós para serem aceitos
Ando meio desencantado com esta rede enfeitiçada, que pra
mim que vivo longe de afetos ancestrais é uma catarse. Ando em dúvidas sobre o
que quero dela, mas já decidi o que não leio nela.
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