Um
jovem amigo acaba de separar-se da família, há não muito constituída, e ainda
não conseguiu elaborar bem a nova situação. Tateia no mundo especulando novos
rumos afetivos, sujeito aos apelos e oportunidades que encontra; procura-se em
outros corpos; procura o brilho antigo, ora ofuscado, mirando pupilas de por
ai. Enfim, caiu de um barco que já zarpara à deriva, e busca um porto, ou uma tábua. Ou um colo. Ou um porto, uma tábua e um colo.
Disse-me
ele que, caso pudesse voltar atrás, faria tudo igual, ou seja, entende que pela força dos
motivos, a separação seria inevitável, mas por tudo que perdeu, caso soubesse disso, jamais teria abandonado o barco.
Tem tentando voltar atrás, a opção dela, entretanto, é outra.
Tem tentando voltar atrás, a opção dela, entretanto, é outra.
Meu
amigo jovem não compreende como pode sua ex-esposa aceitar tão facilmente a
nova situação, mesmo com um lindo fruto da relação. E até se deprime por vê-la feliz e
resolvida. Ele sabe mais por
autoconfiança que por informações do mercado que é um bom amante, e é um
cidadão nos limites da normalidade. Não haveria justificativa para que ela, que
há não muito o amava, ele tinha certeza disto, num zás, o esquecesse.
A
superação da mulher como ente não é tema novo. Mas de fato, e voltado
estritamente para as relações pessoais, quantos de nós percebemos isto? Quantos
compreendemos e aceitamos ver a ex-dona-de-casa, na cabeça do casal? E luzindo
por conta de seus talentos e força, sem um “oi” da nossa presença? Acho que os
mais veteranos compreenderam antes, e não só por estarem a mais tempo na pista.
Compreenderam na marra e, claro, por juízo, se adequaram. Talvez tenham
esquecido de repassar o novo estágio aos filhos varões, embora estes já
devessem estar acostumados a duelar com as parceiras em casa e no cotidiano.
Crescemos
nós, machistas veteranos, vendo as irmãs e primas brincando de casinha e
boneca, preparando-se para a nobre atividade doméstica. O estudo era quase facultativo
e às vezes até proibitivo. Sem ser redundante, o normal era que cursassem a
Escola Normal (o nome não deve ter sido escolhido ao acaso). Estudar era tarefa
mais para homens: “tem que ser dotor”, ouvia-mos.
Mas
em meio ao murmúrio que se formava lá nos anos 60, de repente as saias subiram
para além dos joelhos (quatro dedos! Pois sim...) e a coisa não parou mais de
mudar. As saias só voltaram ao leito antigo por circunstancialidades de modas, ou
mera opção. Isso é apenas o símbolo de uma época, mas foi assim que passamos a dividir o protagonismo, quando
muito.
As
mulheres de hoje nada tem a ver com as que conhecemos até a revolução de 60. E
se nós, veteranos do batalhão precursor da “redentora” não preparamos os nossos
filhos, a culpa é mais nossa que deles. Mais uma na conta dos nossos erros. Era
preciso repassar mais do que o orgulho de termos recriado a liberdade, e
revolucionarmos costumes.
Virou
o dia. Hoje a caça também caça. A gazela que toda manhã deveria correr mais que
o leão ou seria morta, agora tem dentes; e o leão, que toda manhã deveria
correr mais do que a gazela ou morreria de fome, hoje tem de ser mais forte,
mais esperto, saber negociar. Eis a questão final: Num relacionamento há que
saber negociar, perder para ganhar; dividir para multiplicar; diminuir para
somar. Uma contabilidade simples. Um livro razão, não por isso racional, mas também
afetivo.
Por fim, é justo e democrático que o sentimento que consagra a estima seja via de duas
mãos: o desejo de ser escolhido só é menor que a possibilidade de escolher. Esta
sim realiza.
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