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sexta-feira, 2 de maio de 2014

CINCO DIAS DE MAIO


                                      Escrito dia 07/05/1994 – publicado no Jornal O Investidor 

Pego o senhor Igor Portela, meu filho, no colo, banhado, cheirando a Johnson e penso no distante dia em que me obrigarei a dizer: “vai filho, vai ser um Senna ou um Quintana na vida. Seja feliz cercando-se de carinho. Viva intensamente, como o primeiro, porém não tenha tanta pressa, e seja longevo como o segundo. Sobretudo não passe em vão”.

Impossível não falar a respeito. O marketing da morte grassou soberbo sobre por esta primeira semana de maio, amargurando o peito frágil do florão da América, fazendo com que, se eu jamais tivesse percebido, descobrisse o quanto as lágrimas são salgadas, e as amargas, ainda muito mais.

Toda a emoção que se derramou olhos à fora pelo Ayrton trouxe à luz que além da vida, a morte também pode ser invejada. Das definições tantas que ouvi sobre sua partida, guardo uma: “a dor é tamanha, porque perdemos um brasileiro que deu certo, conquistou o mundo e se chamava Silva”. Não sei quem disse isso.

E de quebra perdemos o nosso Mario Quintana, deixando Alegrete órfão de seu último expoente cultural. Dele sabemos pouco, o que é quase tudo.  Sabemos que amou Porto Alegre tanto quanto amou Greta Garbo; que foi sempre poeta, e porque poeta deve ser curtido em dores sempre se fez sozinho; que expôs a verdadeira cara da Academia Brasileira de Letras, onde foi recusado, mas se fosse aceito teria de dividir o chazinho da tarde com José “Marimbondos de Fogo” Sarney. E está claro que os dois não podem frequentar a mesma classe.

Dele sabemos que foi boêmio e por isso esperto. Tão esperto que, dando-se conta da enorme distância entre o céu e a terra, apressou-se em pegar carona com o Senna. Pista limpa, sem ondulações, curvas, ou retardatários, logo-logo estarão lá.

Acelera, Ayrton, que o Mario viaja quieto. Só fuma e dorme.

Mãe, aproveito a passagem do teu dia para subscrever um pedaço do coração. Mando no lugar de flores essas duas jóias, que são das melhores coisas que tínhamos por aqui. Espero que goste.

Recomende-os ao Velho.


5 comentários:

Olavo Eduardo de Oliveira Saldanha disse...

Excelente texto,parabéns!!!!!!!

Anônimo disse...

Garoto, pela data do que acabo de ler, faz horas que tu escreves bem! Grande abraço. E trata de reunir algumas para uma publicação que a gente possa ler no doce aconchego da caminha, quente, fofa, ao lado da amada!

Unknown disse...

Que leitura fantástica,parabéns!

Débora Mutter disse...

Maravilhoso teu texto, como sempre Jair!!

Débora Mutter disse...

Maravilhoso teu texto, como sempre Jair!!