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domingo, 10 de novembro de 2019

ELIZABETH ROSEMOND TAYLOR






Liz instalou-se no imaginário coletivo de homens e mulheres, cinéfilos ou não, a partir dos anos cinquenta como uma pasta 
compartilhada de lindas imagens. Houve quem dissesse que tenha escalado a grande e viscosa montanha hollywoodiana fincando estacas com seus olhos incomuns, encravados em lousa de alabastro. Cor indefinida, formato e a expressão únicas. Digo que não basta somente ter olhos lindos, há que saber olhar, e Liz sabia, nasceu sabendo. Era um rosto que foi, ao longo de décadas, modelo da mais perfeita arquitetura humana. 

Liz tinha como esporte favorito o casamento. Entre uma e várias "ficadas", casou oito vezes (bem mais do que eu), inclusive, entre um porre e outro, duas vezes com o Burton, que conhecia muito bem as preferências da musa. Ao invés de flores, costumava oferecer-lhe joias. Coisa pouca, como o diamante Krupp, de 33 quilates, ou a pérola La Pelegrina, a mesma que o Rei Felipe II, da Espanha deu a Maria Tudor, no século XV.  Mimos. 

Mas não foram somente seus atributos faciais que fizeram dela um ícone. Foi uma grande atriz consagrada por prêmios máximos da Academia. Um por “Disque Butterfield 8” (60) e outro por “Quem tem medo de Viginia Wolf” (66). E há no largo de sua carreira outros tantos desempenhos que a fizeram no mínimo candidata ao Oscar.  De minha parte, talvez induzido pela música, o que mais me marcou foi o drama Adeus às ilusões. Vi várias vezes, até me dar conta que a diferença entre ir ao Corbacho ou ficar em casa olhando um álbum de figurinhas dela, com um compacto simples rodando na eletrola, eram só as imagens. O valor da obra estava nelas. A paisagem da Califórnia, indescritível,  e os personagens, mereciam uma história de amor muito mais consistente.

O filme não decolou em função da levada monótona e penso também que pela fórmula gasta, pois a personagem Laura Reynolds (Liz) parece ser a mesma Gloria Wandrous (Liz) do Disque Butterfield 8. Talvez tenham tentado aproveitar a história que havia rendido um Oscar, de uma mulher linda e atormentada por suas convicções e paixões desencontradas em busca de amor. A arte imitando a vida. 

A música The shadow of your smile (A sombra do seu sorriso), ou para nós como no filme, Adeus às ilusões é uma poesia musicada. Para quem não conhece digo que é daquelas que nos faz respirar cachorrinho, ter contrações de cinco em cinco segundos e dilatação de quatro dedos. Inesquecível.

Liz se foi aos 79 anos, em 2011, sepultando para sempre os sonhos inocentes de algumas gerações.  Colocou névoas densas sobre Atlântico e Pacifico que carregava entre os cílios, em dias de melhor tom de azul, verde ou violeta. Com ela levou  as rugas e as deformidades naturais que eu nunca percebi.

sábado, 10 de agosto de 2019

YOM KIPUR


Há seres iluminados, e eu conheci alguns, que parece já terem nascido pais. Há outros que aprendem com o próprio exercício da paternidade; há os que nunca aprendem e ainda há os que ousam não saber do que se trata. O fator-pai não sei ao certo identificar. Sei que se sustenta em alguns pilares. Uns gostando e sendo amigos, outros rígidos e gerenciais, ou uma mistura disso tudo que, dizem, é o ideal. Mas tudo isso tem o prazo definido pelos filhos e sua tomada de rédeas dos próprio destinos. É inexorável.

Eu, bem assim como o meu pai, só aprendi a gostar, quase nada além disso. E amo à proporção do tempo e as distâncias que só fazem crescer, o que acaba resultando em dor e saudades.


Fui um fracasso como gestor do tema, e tomo sempre o dia dos pais como o meu Yom Kipur (dia do perdão). Nesse dia sempre peço perdão pelo que não fui como filho e pai, seja por obstáculos que eu mesmo criei, seja por circunstancialidades fatais na origem ou seja pela inabilidade inata de lidar com os temas. Nunca, no entanto, por desamor, o que no caso passa de atenuante a agravante, uma vez que consagra a certeza de que eu poderia ter feito melhor.


E o conformismo quando chega é sempre amargo, porque vem nos lembrar que as páginas em branco que nos deram, onde rabiscamos nossos passos não são rascunhos. Não há "control Z" e nada pode ser editado. Cada risco é parte da obra acabada.


No Dia dos Pais, em que os meus fantasmas vêm em bloco arrastar correntes na minha consciência; que lembrar do meu pai tem o mesmo valor que lembrar dos meus filhos, é dia também de agradecer ao Velho o fato de ter herdado e transferido com orgulho um sobrenome; de ter sido amado como filho, e além de amar os meus, ter descoberto, enfim, que ser pai é mais do que um ditongo.


Devo ter aprendido isso quando percebi que aventais, meias, cuecas e camisetas são mimos que, ao serem entregues dentro de um abraço, tem um valor maior do que qualquer conta na Suíça.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

HOMENAGEM AO DÉCIMO ENCONTRO DE BASQUETEIROS - PLACA












X ENCONTRO DOS BASQUETEIROS DE URUGUAIANA

O Encontro dos Basqueteiros nasceu para ser uma espécie de paradoxo temporal. Uma viagem lúdica iniciada em 2001; uma renovação de votos de amizade, carinho e companheirismo entre pares, e de amor a Uruguaiana, a nossa terra santa que nos realimenta e energiza.

Em quase duas décadas de encontros, afora os mapas de tempo desenhados em nossas lousas físicas, nada mudamos. Que bom que nada tenha mudado! E pouco importa para onde tenhamos levado as carcaças cedidas em comodato pelo Criador, em espírito jamais saímos daqui.

Que esta homenagem, tatuada em aço na praça que nos concentra; no coração das nossas melhores e mais puras lembranças, seja a nossa profissão de fé sobre os valores humanos declarados que nos unem desde sempre e que assim permanecerão eternamente.

Basqueteiros de Uruguaiana
Maio de 2019

segunda-feira, 24 de junho de 2019

SUPEREGO





Acumular-me de atenuantes, ainda que inúteis,
Porque sou minha acusação mais dura;
Perdoar-me, ainda que não haja perdões possíveis,
Porque sou eu a minha única redenção;
Amar-me, ainda que já não dimensione mais isso,
Porque sou meu apego mais leal,
Alimentar-me de utopias, ainda que improváveis,
Porque preciso disso e ninguém sonha melhor do que eu.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

EXPIRAÇÃO




sábado, 1 de junho de 2019

O JOELHO




Texto de 2005 - do livro Castelo de Guardanapos 

O joelho, salvo duvidosas interpretações, aberrações traumáticas ou genéticas, fica no meio da perna. Via de regra passa despercebido ou quando muito habita o imaginário fantasioso de alguns. Mas não é tão somente isso. Penso no joelho como um Everest feminino. O pico onde meio século atrás as mulheres fincaram a bandeira redentora de suas conquistas.  

No comecinho dos anos 60, meu pai me falava dos vestidos de antes que, ousados, deixavam à mostra tornozelos  e canelas. Falava e deixava brilhar o melhor tom de azul que tinha nos olhos, borboleteando pensamentos nas velhas barras rendadas, saudoso. Súbito, as barras chegaram aos joelhos e no momento imediatamente posterior, ultrapassava-os, marcando limites alguns centímetros acima. A redentora Mary Quant levava a mulher a conquistar o joelho, centro da perna e início de todos os mistérios. A época se prestava a revoluções sociais e de costumes.  

A mini-saia entrou como estandarte feminino no pacotaço, que teve seu auge naquela suruba de Woodstock.  Pais politicamente corretos  e que não queriam pagar o mico de conservadores apenas culpavam as mães pelo abuso das filhas. Pais ortodoxos davam duro em nome da moral e dos bons costumes, reprimiam e castigavam. As filhas usavam saias comportadas, na altura das canelas, plissadas, godês, amplas. Até a primeira esquina. Ali o cós se enrolava com quatro dedos gordos de dobra, até atingir a altura desejada, por elas e pela galera salivante que se desdobravam em estratégias para conseguir o melhor ângulo de observação. Ia desde a fixação nas cruzadas de perna, que instigavam o instinto selvagem de cada um, reuniões em baixo das escadas e até a lenda do espelhinho despudorado se equilibrando no bico do sapato em busca de flashes. Saudades de ti, Colégio União!

Depois que a saia transpôs os joelhos, liberou geral. Romperam-se todas as fronteiras e a mulher não parou mais de conquistar, sempre em duplas, a saber: primeiro tornozelos, depois joelhos, nádegas e seios. Estes que já se espremeram em espartilhos e corpinhos, passaram por porta-seios e outras amarras agora também ameaçam (ou prometem?) liberdade total.  Será como um assalto ou sequestro. Quando menos você, pai zeloso e de férias na praia esperar a filhinha, de costas, lhe pedirá: “pai, desamarra p’ra mim” . Você passa de inocente a cúmplice. E não se iluda, a mãe já sabia. Tudo igualzinho àquele dia de quarenta anos atrás quando uma filha descobriu os joelhos.

Assim como o homem costuma, ou costumava, afirmar seu machismo erguendo obeliscos, a mulher deveria erguer monumentos ao joelho. Lá tudo começou. Mais do que uma articulação fria no inverno, que costuma atingir rins incautos na reversão da posição "conchinha", o joelho dá ginga, balanço,  é cheio de redondices e seduz pelo imaginário, portal das reentrâncias. 


É também responsável direto pela formação da vida e conseqüente preservação da espécie. No entanto, não estarão juntos nesta última tarefa. Ela, a vida, só se faz quando os dois joelhos se afastam.

sexta-feira, 31 de maio de 2019

A CRIAÇÃO





Estava tudo certo. Fora criado o reino animal, mas o Criador estava num impasse. Já tinha decidido que voariam os pássaros, nadariam os peixes e andariam outros bípedes e os quadrúpedes. Precisava então distribuir alguns atributos especiais. Tinha destinado ao homem a inteligência absoluta, mas, só descobriria depois, isso lhe traria alguns desconfortos.

Considerou que a fidelidade deveria ser canina e a deu ao cão, lógico, além de bom faro para que pudesse se achar em dia de mudança. Na onda da mesma fidelidade entraram os peixes que, orgulhosos, sairiam mar a fora proclamando que filhinho de peixe, peixinho é. Deu olhos de lince ao lince, sem esquecer-se de produzir especialíssimos olhos de águia para a própria. Dotou o gato de acrobacia diferenciada para que mais tarde pudesse mostrar ao mundo o que haveria de ser o pulo do gato. A porca teria o rabo bastante flexível, uma vez que alguém haveria de vir torcê-lo em caso de apuros. Já o seu marido teria duas virtudes indiscutíveis: o lombinho e o pernil. Deu à vaca muita paciência  e anticorpos, pois haveria de passar a vida inteira indo para o brejo. A propósito de bovinos e paciência, enquadrou o boi, a fim de que ostentasse sem queixas os chifres e que pudesse elaborar bem suas perdas. Ele passaria a ser o símbolo de doação e desprendimento. Nasceria como qualquer mamífero. Ainda jovem lhe arrancariam a masculinidade barbaramente, sem anestesia; passaria sua curta vida como corno manso para logo a seguir ser morto, retalhado, queimado no calor das brasas e servido como pasto. E algum sádico ainda haveria de gritar: “o meu, mal passado!”.  Pobre boi. Mas ainda assim haveria de ter bom sono, pois dormiria com qualquer conversa mole.

O Criador teve dúvidas quanto ao burro. Burro ele seria, claro, por isso viveria emburrado e empacando, no entanto seria dócil o suficiente para ser amarrado à vontade do dono e humilde para que baixasse sempre as orelhas quando outro burro falasse. Ou quando alguém, despercebido, desse com ele n’água. 

A produtividade ficaria com coelhos e galinhas. Os primeiros viveriam focados num dos mandamentos para preservar a espécie. Cresceriam e se multiplicariam rapidamente, pois, mais dia menos dia, haveria de aparecer alguém com vontade de matar dois com uma única cajadada. As galinhas, que de grão em grão encheriam o papo, deveriam ser rápidas e abundantes na postura, evitando que algum apressadinho viesse a contar com o ovo no... Em trânsito. O marido desta, polígamo assumido, além de cantor e ancestral do relógio-ponto teria grande virilidade, mas não haveria de ser lá essas coisas como amante.

Deus olhou com tristeza para o peru. Haveria de ser uma dessas criaturas que nunca participam de festas, pois enchem a cara antes e morrem na véspera. Até o sétimo dia talvez não conseguisse retira-lo da depressão.


Quando procurou a serpente o Criador não encontrou. Não estava confortável. Não achou uma boa ideia a criação daquele ser frio, rastejante e sinistro. Queria livrar-se dela. Assim, resolveu premiar aquele que a matasse desde que mostrasse o pau. Mas que não houvesse mal entendido.

Por descuido nasceram insetos. O que fazer com eles? Bem, o Criador era criativo. Grilos habitariam a cabeça do homem para fazê-lo refletir,  e pulgas, vez por outra colocar-se-iam atrás de orelhas para após as reflexões.  Estes, então, participariam de momentos chatos. Chatos? De onde vieram esses?

No fim do expediente restavam poucos atributos para serem distribuídos. A quem o Criador contemplaria com a moral e os bons costumes? O homem, pela capacidade de discernimento e para justificar a imagem e semelhança seria o mais indicado. E Deus perguntou ao homem se seria capaz de arcar com essas duas virtudes, e este vacilou. Desconversou dizendo que estava bom demais o que ganhara. Além disso, tinha um projeto futuro já desenhado: seria um ser político, onde esses dois “apêndices” seriam irrelevantes.  Dependeria sim da sua inteligência, capacidade de liderança e observação.

Para esse projeto futuro, também lhe disse o homem, que dispensaria virtudes como as do cão e iria direto ao gato testar seus pulos. De linces e águias, imaginariam como ficaria com os olhos destes; aproveitaria a paciência do boi, mas só para treinar metáforas flácidas, tendo o cuidado para não seguir o caminho da vaca. Iria, por fim, até a serpente negociar. Mas iria de pau na mão, conforme desejo do Criador e, dependendo do bônus poderia matá-la. Antes, porém comeria a maçã e a Eva.

Era o sexto dia, seis da tarde. Não dava tempo para mais nada. A criação fora encomendada para ser entregue em seis dias e, que diabos (opa!), o Arquiteto era pontual. E tinha combinado com Ele mesmo que descansaria no sétimo.


Cansado, concluiu que nem tudo é perfeito. Nem Ele.

“Noé, prepara o recall!”

terça-feira, 28 de maio de 2019

O ADEUS


sábado, 25 de maio de 2019

DANÇA

Não creditado o autor da arte por desconhecido




Passos de folhas
Na valsa do vento...
Pares não sentam

O TROCO