No dia 02/11 eu olhava para trás, buscando vestígios partidos. O que via, nada mais era que um vácuo carregado de nuvens de dor. Com o tempo essa nebulosidade foi esmaecendo, suavizando, e os focos de lembrança partidas adormeceram no cinza da memória. Estão lá, como fotos de cabeceira que guardam, além de imagens, carinho.
No retrovisor não havia mais nada, e por uma razão óbvia: estava tudo dentro de mim. Bastava um passeio por dentro para visitar a saudade que, também com o tempo, teve aparadas suas bordas doloridas. E de saudades, ah, disso eu entendo. Em determinado momento percebi que saudade é coisa boa e a gente não mata, apenas realimenta.
Afetos não morrem. Eles são como os livros, somente a parte que escreve se vai, a outra se eterniza na estante para ser sempre vista e cultuada. Pais, mães, irmãos e demais familiares únicos e imprescindíveis estarão sempre na primeira prateleira. E também por dentro estão outros entes queridos, também insubstituíveis, e partes das vidas que eu perdi, cuja matéria se desfez, mas a alma está lá, na mesma estante, na prateleira da linha dos olhos.
É um dia duro, de lembranças e saudades. E também de inconformidades por algum mal que se fez ou por um bem que se deixou de fazer. Se fez, desfaça, se não fez, a hora é agora. Acredite: sentir saudades, ainda que desperdiçadas, é melhor do que matar lembranças doloridas. E agradeça a Deus por ainda ter tempo de fazer isso.

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