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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

DILÚVIO



             Do livro Castelo de guardanapos

A Bíblia fala em retornarmos ao pó, mas não sei não. Segundo a classe competente, somos ao redor de oitenta por cento compostos de água, o resto é matéria orgânica de qualidade duvidosa. Se bem que alguns seres vivos honram por demais a categoria. Dá gosto de vê-los nas telas, passarelas, praias, etc. Mas a menos que o Livrão esteja profetizando que iremos, no fim dos tempos, secar o planeta com nossos vícios e maus costumes, e nos matarmos desidratados, não vejo a menor possibilidade  de voltarmos ao tal pó, se é que de lá viemos.

Acho que a coisa está mais para o lado da que consagrou o velho Noé.  Fala-se tanto em aquecimento do globo, derretimento das camadas polares e outros cagaços meteorológicos (vide os tsunamis), fora os não sei quantos desastres naturais de nomes mimosos ( El niño, La niña, imaginem!), que matam e destroem todos os anos, tudo regado a água guasqueada, que penso no nosso fim de caso com o vale de lágrimas, na condição de afogados.

Dizem que vivemos vários ciclos desde os primórdios, e a informação que fica é a que lá, bem no início, isto aqui era tudo água. Tudo o que é gelado na terra vira água, e todo o vapor também. É o ciclo.  Tudo que sobe desce, tudo que nasce morre; quem cai para a segunda divisão sobe depois às estrelas, erguendo-se por Tóquio. O tamanho do ciclo define as grandezas, ora pois.

A metáfora religiosa fala sobre o Dilúvio e eu me ponho cá a pensar,  se não é isso mesmo que acontecerá. A dúvida intrigante é saber quem seriam os escolhidos para subirem à arca. Quem seria o novo Noé, por exemplo? Haveria por certo deputados fazendo lobby, acordos de lideranças, etc. Acontece que pelo tamanho da torta a disputa haveria de ser muito acirrada. Republicanos assexuados versus democratas tarados; petistas e anti-petista, cada um com seu dogma de fé e uma quadrilha de aproveitadores por trás.  Muçulmanos e judeus, católicos e protestantes,  Eta, Ira ; União contra Dom Hermeto e os dois enquadrilhados contra Club Barraca, numa disputa a morrer. Jamais poderíamos admitir um Noé nascido em Libres (mas atenção: o Chicão é argentino!)

Enquanto isso, a turma do oriente nem ai, largando bombinhas nas nuvens para fazer chover mais... Chumbo. Seria difícil encontrar um novo Noé que agradasse a todos. O Mano cansa de dizer “nem eu consegui isso”. Por outro lado, posso imaginar, se é que continua valendo a velha sentença  de que é mais fácil um camelo passar no buraco da agulha do que um rico entrar reino dos céus, alguns figurões sendo barrados na porta da arca pela sua condição social, todos prudentemente acompanhados de advogados com mandado de segurança na mão.

E Paulo Salim e Zé Ribamar? Quem haveria de segurar o Paulo Salim e Zé Ribamar? Não adianta.  Eles vão, vestidos não sei de que espécies, mas vão.

Como o Noé haverá de ser biônico, espera-se dele que, no exercício da função, não faça conchavos, não edite MPs, não distribua cargos de confiança, não pratique nepotismo, nem seja fisiológico, e muito menos faça acordo com o anjo caído para livrar “o seu”. Tipo duas almas por uma. Que faça as licitações corretamente na aquisição da matéria prima para a construção da arca; que leve moças do sul, por que  lá  é que a gente deve casar quando a chuva parar, e os  rios  e os juízos voltarem ao leito normal;  que leve ovelha texel e gado  de sobre-ano,  e não repita a burrice histórica de juntar serpente com maçã.

Ah! E que verifique na entrada atentamente as mãos de quem entra. É fundamental que todos tenham todos os dedos. Não podemos arriscar.


E desde já convido meu amigo Precioso, para manipular a bomba e gelar a serpentina, porque ninguém é louco ou burro de ficar quarenta dias e quarenta noites de bico seco, ou bebendo água da chuva.

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