Do livro Castelo de guardanapos
A Bíblia fala em retornarmos ao pó, mas não sei
não. Segundo a classe competente, somos ao redor de oitenta por cento compostos
de água, o resto é matéria orgânica de qualidade duvidosa. Se bem que alguns
seres vivos honram por demais a categoria. Dá gosto de vê-los nas telas,
passarelas, praias, etc. Mas a menos que o Livrão esteja profetizando que
iremos, no fim dos tempos, secar o planeta com nossos vícios e maus costumes, e
nos matarmos desidratados, não vejo a menor possibilidade de voltarmos ao tal pó, se é que de lá
viemos.
Acho que a coisa está mais para o lado da que
consagrou o velho Noé. Fala-se tanto em
aquecimento do globo, derretimento das camadas polares e outros cagaços meteorológicos
(vide os tsunamis), fora os não sei quantos desastres naturais de nomes mimosos
( El niño, La niña, imaginem!), que matam e destroem todos os anos, tudo regado
a água guasqueada, que penso no nosso fim de caso com o vale de lágrimas, na
condição de afogados.
Dizem que vivemos vários ciclos desde os
primórdios, e a informação que fica é a que lá, bem no início, isto aqui era
tudo água. Tudo o que é gelado na terra vira água, e todo o vapor também. É o
ciclo. Tudo que sobe desce, tudo que
nasce morre; quem cai para a segunda divisão sobe depois às estrelas,
erguendo-se por Tóquio. O tamanho do ciclo define as grandezas, ora pois.
A metáfora religiosa fala sobre o Dilúvio e eu me
ponho cá a pensar, se não é isso mesmo
que acontecerá. A dúvida intrigante é saber quem seriam os escolhidos para
subirem à arca. Quem seria o novo Noé, por exemplo? Haveria por certo deputados
fazendo lobby, acordos de lideranças, etc. Acontece que pelo tamanho da torta a
disputa haveria de ser muito acirrada. Republicanos assexuados versus democratas
tarados; petistas e anti-petista, cada um com seu dogma de fé e uma quadrilha
de aproveitadores por trás. Muçulmanos e
judeus, católicos e protestantes, Eta,
Ira ; União contra Dom Hermeto e os dois enquadrilhados contra Club Barraca, numa
disputa a morrer. Jamais poderíamos admitir um Noé nascido em Libres (mas
atenção: o Chicão é argentino!)
Enquanto isso, a turma do oriente nem ai, largando
bombinhas nas nuvens para fazer chover mais... Chumbo. Seria difícil encontrar um
novo Noé que agradasse a todos. O Mano cansa de dizer “nem eu consegui isso”. Por
outro lado, posso imaginar, se é que continua valendo a velha sentença de que é mais fácil um camelo passar no
buraco da agulha do que um rico entrar reino dos céus, alguns figurões sendo barrados
na porta da arca pela sua condição social, todos prudentemente acompanhados de
advogados com mandado de segurança na mão.
E Paulo Salim e Zé Ribamar? Quem haveria de segurar
o Paulo Salim e Zé Ribamar? Não adianta. Eles vão, vestidos não sei de que espécies,
mas vão.
Como o Noé haverá de ser biônico, espera-se dele
que, no exercício da função, não faça conchavos, não
edite MPs, não distribua cargos de confiança, não pratique nepotismo, nem seja fisiológico,
e muito menos faça acordo com o anjo caído para livrar “o seu”. Tipo duas almas
por uma. Que faça as licitações corretamente na aquisição da matéria prima para
a construção da arca; que leve moças do sul, por que lá é
que a gente deve casar quando a chuva parar, e os rios e
os juízos voltarem ao leito normal; que
leve ovelha texel e gado de sobre-ano, e não repita a burrice histórica de juntar
serpente com maçã.
Ah! E que verifique na entrada atentamente as mãos
de quem entra. É fundamental que todos tenham todos os dedos. Não podemos
arriscar.
E desde já convido meu amigo Precioso, para manipular
a bomba e gelar a serpentina, porque ninguém é louco ou burro de ficar
quarenta dias e quarenta noites de bico seco, ou bebendo água da chuva.
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