Michelle é um poema náufrago à deriva buscando um tema; é
verso abstrato em um horizonte gramatical de eventos que se consagra como ponto
de não retorno, onde adjetivos são tragados pelo buraco negro das insignificâncias. Verso de métrica embarcada que se recusa à rima. Ela é o Verbo que as Escrituras transformaram em carne e que, sintetizando física e
química em equação sistêmica, se defini por si: uma singularidade cósmica inatingível.
Não leio Michelle nos versos de Neruda. Também não a percebo
nos lascivos de Bukowski ou nos machistas de Vinicius. Talvez pudesse encontra-la
entre os ufanistas de Bilac personificando a imensidão da Pátria em um
continente de 1,70m ... loira e linda. Talvez. Por vezes tendo a vê-la na dor de Augusto dos
Anjos ou Alan Poe, porque sim, a beleza dói na razão direta de não podermos aprisioná-la, ou
que simplesmente o objeto dessa fascinação esteja em outro plano. Augusto e Poe são intensos, mas mórbidos, parecem encarar permanentemente o abismo, sublimando a relação entre o belo e o
trágico. Michelle não pode ser isso.
Quando a vejo em tela, resta-me agradecer ao Criador que me permitiu dividir com ela o mesmo sol, cumprir séculos iguais, estar presente em sua mesma linha de tempo, embora em mundos paralelos.
Ave, Michelle. Occurremus in caelo
29/04/2001
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