O sonho de qualquer escritor é adormecer e acordar com uma obra pronta na cabeça. Borboleta negra diz um pouco disso, trazendo um tema intrigante e um roteiro perfeitamente adequado. Entretanto, é um filme em que se faz necessário, depois do final, voltar e rever os primeiros momentos. Sem isso, vai restar uma dúvida enorme e insolúvel. Ou adote Allan Poe: "Não acredite em nada do que você ouve e em metade do que você vê", preste muita atenção e só sirva o vinho depois de cinco minutos.
De acordo com a segunda teoria freudiana, o ID tem um lado inconsciente, primitivo e atávico, e outro lado mais consciente adquirido pela rudeza da vivência. Nesse filme, lotado de simbolismo (a borboleta negra, segundo mitologia japonesa, tem o viés de interface com a eternidade), tudo acontece como em um sonho. Um sonho onde o ID se revolta contra um ego frustrado, bate tanto (literalmente!) que acorda o personagem central daquele estágio mórbido que muitos de nós, metidos a escriba, temos: o bloqueio criativo. Ele começa o filme admitindo, tanto que escreve, que está preso. E o sonho o liberta.
As cenas iniciais parecem desconexas. Procuram-se pessoas assassinadas que provavelmente jamais serão encontradas; um criminoso desconhecido que pode ser fulano ou beltrano; ou nenhum deles, e situações de violência bizarras e incompreensíveis, bem como acontece nos sonhos no modo pesadelo. Até que, enfim, o escritor desperta com a obra pronta.
Gostei do filme, mas assisti uma vez e meia para entender. Antonio Bandeiras é a grife, mas a aula fica por conta de Jonathan Rhys

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