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sexta-feira, 31 de outubro de 2025

LEGO DISPERSO




Parece vaga a sonoplastia da guerra;
Distante, sem norte, aleatória, Um mundo onde a parte que cresce, E grande parte que se faz, Tem gosto e cheiro de morte.
Seres sem glória, de alma tóxica; Próximos fantasmas, Da face autofágica que padece, E se parte entre espasmos e preces, Triste, democrática e trágica. Cenário sujo de negro e cinza, E de iguais ruídos grisalhos.  Chão de plasmas intransfusos; Sangues tisnados, confusos Forjados na métrica do malho. Fator irmão, de mesmo Deus, De herança genética fragmentada
Formam polos teimosos de rancor; 
Que não são vagos nem distantes;
Que brotam entre nós a cada instante,
Mas a dor, que pulsa, mal sofremos.

Os cacos que se juntam não se ajustam, E o lego que era lógico se perdeu

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

ROMY SCHNEIDER

 


Rosemarie Magdalena Albach, nasceu na Áustria e morreu na França, aos 43 aninhos. Finou-se de dor e carência de estima. Está sepultada junto do filho David, morto aos 14 anos, com uma seta de portão espetada no peito, quando tentava pular um muro, um ano antes da morte dela.

Rosemarie, ou Romy Schneider tornou-se uma das damas do cinema dos anos 60/70, após dura batalha para descolar de si a personagem da mimosa imperatriz da trilogia Sissi. Formou com Alain Delon um dos casais ícones, nas telas e fora delas, por tudo o que representavam para a época, de glamour e beleza física.
Tinha um olhar encantador, de olhos únicos, meio mongólicos, da cor incerta do mar e de expressões variadas de acordo com o momento. Assim como o mar. Dos filmes, "O processo", do romance de Kafka, e "O assassinato de Trotsky" são ótimos e vale muito a pena serem vistos.
"A piscina", de 1969, também é bom, e tem um significa muito especial. Delon e Romy estavam divorciados havia seis anos, e ela estava casada com Harry Meyen. Algo deve ter acontecido nos bastidores durante as gravações que desagradou profundamente o marido dela. Tanto que, um tempo depois, divorciou-se. E mais adiante divorciou-se radicalmente também da vida, enforcando-se.
Consta que Romy jamais tenha elaborado o "pé" que levou de Delon. Acabou ficando mais depressiva após o suicídio do ex-marido, e desintegrou-se como gente com a trágica morte do filho adolescente. Ela já tinha retirado um rim, mas não abria mão dos coquetéis fatais de álcool e estimulantes. Matou-se assim, cedo demais e aos poucos, antes que o tempo fizesse a sua maquiagem macabra.
"A piscina" é um bom filme, e representativo pelas intercorrências que causou. E marca também a estreia de Jane Birkin. Aquela que depois foi gemer com a icônica "Je T'aime Moi Non Plus" junto a Serge Gainsbourg,

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

A CHAVE DE SARAH

Julia Armond ( Kristin Scott Thomas ) é uma jornalista americana, que vive em Paris com o marido francês e uma filha adolescente. Recebe a tarefa de seus editores de escrever uma matéria sobre a segunda guerra, enfiando o dedo na ferida da pátria, trazendo a furo o fato de que muitos franceses, em 1942, colaboraram com a ocupação nazista.
Coincidentemente, seu marido recebe como herança, um apartamento que, no período da guerra, abrigou uma história trágica. A casa pertencia à familia de Sarah, uma menina de 10 anos que vivia com os pais e um irmãozinho e que, por serem judeus, foram enviados aos campos de exterminio. Quando a polícia chegou, Sarah chaveia o menino em um armário, e não descansou enquanto não conseguiu fugir para libertá-lo. A chave se torna amuleto e grilhão.
Sarah cresceu, sendo acolhida clandestinamente por uma família francesa, mas com os demônios da infância arrastando correntes em sua consciência. Quando completa 18 anos, muda-se para a América. Deixa um bilhete carinhoso e só volta a contatar a família benfeitora quando, tempos depois, dá conta de que está bem, casada e com um filho.
Julia, que por muitos anos tentara uma nova gravidez sem sucesso, acaba engravidando e enfrenta o nariz torcido do marido, de quem se divorcia. Torna-se obsessiva pela história e sai a caça de seus personagens ainda vivos. Publica sua matéria, mas ainda há coisas para descobrir. E encontra o saldo da vida de Sarah: seu filho William (Aidan Quinn). com quem tem uma primeira conversa desastrada, uma vez que o filho desconhecia o passado da mãe. Dois anos depois, Willian, já de posse da outra parte da história da mãe, consegue reunir-se com Julia, que vai ao seu encontro levando a filhinha.
Paro por aqui porque já cortei mais da metade do que tinha escrito sobre esse filme. Fiquei muito tocado, a ponto de vê-lo duas vezes no mesmo dia. 𝐎 𝐟𝐢𝐧𝐚𝐥 é 𝐚𝐩𝐨𝐭𝐞ó𝐭𝐢𝐜𝐨. 𝐀𝐬 𝐟𝐚𝐥𝐚𝐬, 𝐨 𝐫𝐞𝐬𝐮𝐥𝐭𝐚𝐝𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐦𝐢𝐬𝐭𝐮𝐫𝐚 𝐚 𝐨𝐛𝐬𝐞𝐬𝐬ã𝐨 𝐝𝐚 𝐣𝐨𝐫𝐧𝐚𝐥𝐢𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐨 𝐚𝐦𝐨𝐫 𝐝𝐞 𝐦ã𝐞, 𝐞 𝐚 𝐢𝐦𝐚𝐠𝐞𝐦 𝐟𝐢𝐧𝐚𝐥 é 𝐝𝐞 𝐮𝐦𝐚 𝐬𝐞𝐧𝐬𝐢𝐛𝐢𝐥𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐟𝐨𝐫𝐚 𝐝𝐞 𝐩𝐚𝐝𝐫ã𝐨 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐨 𝐦𝐨𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐞𝐦 𝐪𝐮𝐞 𝐯𝐢𝐯𝐞𝐦𝐨𝐬.
Não percam!.

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

CLAIR

 A música é linda e muito especial. Carrega, no entanto, uma história triste que, de tanto ser explicada pelo autor, acabou se tornando ainda mais perturbadora.

Clair era uma menina de 3 anos, em 1972, filha de Gordon Mills, produtor de Gilbert O'Sullivan e muito amigos. Mas, amigos amigos, negócios à parte. Os parceiros acabaram brigando pelos direitos do portfólio do artista, se separaram, e os assassinos de reputação, presentes desde a primeira mordida na maçã, emplacaram em Gilbert, cujo nome é Raymund O'Sullivan (Ray), o selo de pedófilo, em função da letra da música.
Olhando por esse viés, é claro que a letra se torna perturbadora, mas quando composta "tio Ray" era um amigo muito próximo da família, e encantado com as proezas verbais da pequena Clair.
Clair, hoje uma senhora de meia idade, ao que parece, acabou tirando de letra essa canalhice, uma vez que em um show de 2010, subiu ao palco com tio Ray para cantar a sua música.
A despeito de tudo, curto muito essa música, que me traz à lembrança um barzinho de Porto Alegre chamado Tívoli, e o povo que vivia nele e dele.