Certa vez eu perguntei
a um amigo: “tu és doador de órgãos?” Não me lembro da resposta por que a
minha intenção era continuar falando, e assim fiz. Disse-lhe: “antes de partir
me deixa tuas cordas vocais”. Mas Luiz Henrique se foi e eu vou continuar saudando
os novos dias do mesmo jeito mortal e simplesinho de sempre.
E neste momento,
ao agradecer a Deus pelo milagre que se renova há tanto tempo quando dou bom
dia à vida, aproveito para também agradecer ao Velho o fato de ter colocado no
meu caminho, ainda que por pouquíssimo tempo um profissional; um amigo dos
amigos; um cidadão que carimbava seus dias de gentilezas e boas palavras.
Luiz Henrique
se foi assim, como quem tem pressa de chegar a algum lugar melhor. Mas cansado
daqui não deveria estar; tinha planos, um em especial, uma gestação demorada,
por vezes tensa, mas que prometia logo ali o seu nirvana. Sei que vivia cada
dia com esta expectativa. Sua voz estava presa, e falar, para quem vive disso é
remédio e alimento. Retroalimento.
A boca se fechou, mas voz vai continuar por ai, flutuando em várias freqüências, randômica, migrando
da memória para os ouvidos e destes para nossa saudade.
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