Lendas "sharpeanas 5"
Tínhamos um
colega que era objeto da sua própria paixão. Vivia dizendo: “Chefia, a maior
frustração que eu tenho é não conseguir dormir de conchinha comigo mesmo”.
Narciso era fichinha perto dele. O seu próximo era ele, a quem amava tanto ou
mais do que a si mesmo. Entende? Não precisa.
Num dia qualquer
foi preparada uma surpresa para ele, cuja execução carecia de uma encenação
prévia.
Era muito
crédulo, principalmente nas questões que envolviam religiões afro. A partir daí,
foi montada a estratégia. Primeiro foi-lhe dito que uma fulana qualquer (e ele
tinha os pés de barro neste quesito) o teria colocado "na boca do sapo",
e mandara fazer alguns trabalhos com o intuito de prejudicá-lo. Inicialmente
ele perderia o cabelo, sua segunda paixão depois do todo, o qual lhe custava
bom tempo de cuidados antes de ir à rua. E posteriormente haveria danos à
saúde e, muito especialmente, à sua masculinidade.
Mais ou
menos impressionado, mais menos do que mais, se foi trabalhar, como sempre, de
alma leve, não retornando à empresa no fim da tarde. Era o que o grupo de
“queridos colegas” precisava para dar sequência ao plano.
Seu armário no
departamento de vendas tinha na parte interna da porta uma enorme foto sua com
pose que faria de Marlon Brando um amador. A foto foi retirada e copiada
algumas vezes. Nas cópias feitas eram apagados os cabelos, até que chegassem a
uma imagem fidedigna com o galã totalmente careca. Hoje, com os recursos disponíveis
seria moleza, mas na época foi uma verdadeira engenharia. E depois foram às
próximas providências.
No dia
seguinte, primeira hora da manhã chega o colega, flutuando como sempre. O
impacto foi grande. Na mesa que correspondia a sua equipe de vendas estava
armado um “trabalho” contendo pipoca, cachaça, charuto, velas, no centro
um papel onde estava escrito seu nome. Atônito abriu a porta do armário e... A
sua foto... Estava careca! Esfregou os olhos e foi arrancar aquela imagem
grotesca, quando ouviu um grito: “NÃO TOCA NISSO, PODE SER PIOR!”. Incontinente
recuou, sentou-se cabisbaixo, tentando relembrar algum pedaço de vida em que
pudesse ter deixado tanto rancor. Adeus alma leve!
O colega entrou
em desespero. E como a cumplicidade no departamento era grande, ninguém moveu
uma palha para consolá-lo, ao contrário, alguns ainda pisavam dizendo: “eu
avisei...”
Aos
poucos, e com a pressão de algumas chefias, o mistério foi se dissipando, tendo
levado alguns dias o quase “coma psicológico”. Alguém foi encarregado de
lhe contar em detalhes sobre o tal trabalho, naturalmente que sem assumir
culpas, nem indicar culpados.
Como foi
dito, era um sujeito de alma leve, e assim, não guardou mágoas e não quis saber
de responsabilizações individuais. Preferiu culpar a todos, o que era justo. E
imediatamente voltou a desfilar seu impressionante ego pelos corredores da
filial.
Dizem,
porém, que se tornou mais seletivo nas suas futuras conquistas. Dizem também,
que em uma oportunidade, durante um rola-rola desnudou-se um pescoço, e lá
havia duas guias vermelha e preta. Visão mais do que suficiente para
recompor-se e abandonar o "campo de batalha", sem mais delongas.
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