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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

NARCISO


Lendas "sharpeanas 5"

Tínhamos um colega que era objeto da sua própria paixão. Vivia dizendo: “Chefia, a maior frustração que eu tenho é não conseguir dormir de conchinha comigo mesmo”. Narciso era fichinha perto dele. O seu próximo era ele, a quem amava tanto ou mais do que a si mesmo. Entende? Não precisa.

Num dia qualquer foi preparada uma surpresa para ele, cuja execução carecia de uma encenação prévia.

 Era muito crédulo, principalmente nas questões que envolviam religiões afro. A partir daí, foi montada a estratégia. Primeiro foi-lhe dito que uma fulana qualquer (e ele tinha os pés de barro neste quesito) o teria colocado "na boca do sapo", e mandara fazer alguns trabalhos com o intuito de prejudicá-lo. Inicialmente ele perderia o cabelo, sua segunda paixão depois do todo, o qual lhe custava bom tempo de cuidados antes de ir à rua. E posteriormente haveria danos à saúde e, muito especialmente, à sua masculinidade.

 Mais ou menos impressionado, mais menos do que mais, se foi trabalhar, como sempre, de alma leve, não retornando à empresa no fim da tarde. Era o que o grupo de “queridos colegas” precisava para dar sequência ao plano.

Seu armário no departamento de vendas tinha na parte interna da porta uma enorme foto sua com pose que faria de Marlon Brando um amador. A foto foi retirada e copiada algumas vezes. Nas cópias feitas eram apagados os cabelos, até que chegassem a uma imagem fidedigna com o galã totalmente careca. Hoje, com os recursos disponíveis seria moleza, mas na época foi uma verdadeira engenharia. E depois foram às próximas providências.

 No dia seguinte, primeira hora da manhã  chega o colega, flutuando como sempre. O impacto foi grande. Na mesa que correspondia a sua equipe de vendas estava armado um “trabalho” contendo pipoca, cachaça, charuto, velas, no centro um papel onde estava escrito seu nome. Atônito abriu a porta do armário e... A sua foto... Estava careca! Esfregou os olhos e foi arrancar aquela imagem grotesca, quando ouviu um grito: “NÃO TOCA NISSO, PODE SER PIOR!”. Incontinente recuou, sentou-se cabisbaixo, tentando relembrar algum pedaço de vida em que pudesse ter deixado tanto rancor.  Adeus alma leve!
O colega entrou em desespero. E como a cumplicidade no departamento era grande, ninguém moveu uma palha  para consolá-lo, ao contrário, alguns ainda pisavam dizendo: “eu avisei...”

 Aos poucos, e com a pressão de algumas chefias, o mistério foi se dissipando, tendo levado alguns dias o quase “coma psicológico”. Alguém foi encarregado de lhe contar em detalhes sobre o tal trabalho, naturalmente que sem assumir culpas, nem indicar culpados.

 Como foi dito, era um sujeito de alma leve, e assim, não guardou mágoas e não quis saber de responsabilizações individuais. Preferiu culpar a todos, o que era justo. E imediatamente voltou a desfilar seu impressionante ego pelos corredores da filial.


 Dizem, porém, que se tornou mais seletivo nas suas futuras conquistas. Dizem também, que em uma oportunidade, durante um rola-rola desnudou-se um pescoço, e lá havia duas guias vermelha e preta. Visão mais do que suficiente para recompor-se e abandonar o "campo de batalha", sem mais delongas.

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