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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

ZIFIA MARIA



Lendas "sharpeanas" (2)

Maria era uma mulher de fé. Não só por suas ações como pela quantidade de guias multicoloridas que pendurava no pescoço, uma para cada entidade, e segundo ela, todas do bem. 

E a filial Porto Alegre da Sharp era cheia de criaturas sempre dispostas a fazer graça com tudo, inclusive com a boa fé dos outros. Mas uma em particular.

O fato de esta criatura ter, certo dia, quebrado uma bolinha de pingue-pongue na sala da associação de funcionários lhe sugeriu uma idéia. Imaginou de cada metade da bola um globo ocular enorme. Então, com pincéis atômicos preto e vermelho desenhou pupilas e vasos sanguíneos, testou para ver se seguravam bem franzindo o cenho, e reservou.

A cozinha da filial, reduto da Maria, era um pequeno corredor escuro, com os equipamentos necessários à limpeza e ao cafezinho, situados no final deste espaço.  

Na primeira oportunidade, quando Maria voltava do almoço e se recolhia à sua cozinha, lá estava o engraçadinho esperando por ela, na luz difusa do ambiente. Mas ele simulava um ritual de umbanda, girando, gesticulando e resmungando cantos típicos, de costas para a porta. Maria entrou, se impactou, mas imediatamente se sentiu privilegiada, afinal, estava sendo visitada por uma entidade de poder, ela tinha certeza. Em posição de respeito e ansiosa por participar perguntou: “Saravá, que tu qué de mim, meu pai?”. O “pai” atendeu: “Saravá! A zifia tem colírio?”. E virou-se para ela mostrando o rosto com os dois enormes olhos inventados. 

Maria desmaiou, houve pedido de socorro, muita preocupação, sobretudo demoradas explicações, e uma grande mijada com ameaça de demissão. E por muito tempo um comportamento quase exemplar do engraçadinho.



Maria nunca mais tratou o malandro, que era mimado por ela, da mesma forma. Não gostava mais dele, claro, mas tinha um respeito... Vá que fosse? 

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