Tempos duros estes, bacudo. Pai de
adolescentes, como fomos um dia, não as aves tagarelas de retoçar
em luz negra, um footing, um beijo
desprevenido, e porque não dizer, uma e outra coxeada
roubada em fim de noite na casa da luz vermelha. Impurezas sociais de ontem que
não entreteriam o mais pudico dos atores urbanos de doze anos de idade no dias
de hoje. Pobres de nós, bacudo!
O velho Portella, mundano
e notívago caçador não teria lá muitas coisas para informar aos netos, hoje caça,
com o direito de escolherem por quem querem ser caçados. Sei que quando eu saia
numa ”sexta-feira louca”, meu velho dormia
tranqüilo ao som de algum bolero ou tango, dial
fincado no chiado da Mayrinck Veiga ou no som local da El Mundo. Sabia que eu voltaria, dificilmente
com lua, mas para dividir o café da manhã, quem sabe o almoço. Caso não viesse
confiava que a noitada haveria de ter se
saído ainda melhor que a encomenda. Eu voltaria, todos nós voltávamos porque os
bons e maus filhos à casa tornavam, por motivos e em
tempos diferentes, mas sempre voltávamos por que era fácil voltar. No final de qualquer jornada o caminho de casa era rota
obrigatória e desimpedida, necessária, desejada, último refúgio, repouso do fulaninho de tal cansado de guerra. Sair era ótimo, mas
voltar era vital.
E hoje? E quando meus filhos saem de casa, bacudo,
para que santo acendo uma vela? Não durmo mais quando saem
a noite e rôo as unhas até o cotovelo quando saem de dia. Não há bolero que me acalme,
nem outras parafernálias eletrônicas, nem água de melissa, nem qualquer guascaço
desses químicos de tarja preta. O som que me acalma, como já
disse alguém, não lembro quem, é o barulho da chave. Esta é a cantiga de
ninar gente grande assustada. Alguém deveria compor um
chamamé de chaves abrindo portas e
promovê-la como balsâmico paterno.
A noite todos os gatos são
feras, pardos ou não, ferozes, bandidos e nenhuma bala mais é perdida, todas
encontram um alvo, desejado ou ocasional; todas as facas furam barrigas, todos
os carros avançam contra filhos em todos os sinais fechados; todos os pitibul’s
atacam crianças e todas as marquises estão à espreita de nossos despercebidos pirralhos.
Não há cidade segura, não há grades intransponíveis, não há turno de folga para
mãos assassinas. Nenhum dedo treme quando aperta um gatilho tendo um inocente como
alvo. Todo olhar maleva do mundo se volta para os filhos antes que eles cheguem
a casa e o caminho de volta me parece cada vez mais distante, mais íngreme,
mais corrida de obstáculo. Quando haverá free-way para filhos retornarem ao
lar? Quando construirão residências de segurança
máxima já que não deu certo nas cadeias? Bosta! Eu preciso dormir e não ouço
ruído de chaves, das sete que compõem meu bunker.


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