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quarta-feira, 4 de abril de 2012

PRELÚDIO PARA NINAR GENTE GRANDE



Tempos duros estes, bacudo. Pai de adolescentes, como fomos um dia, não as aves tagarelas de retoçar em luz negra, um footing, um beijo desprevenido, e porque não dizer, uma e outra coxeada roubada em fim de noite na casa da luz vermelha. Impurezas sociais de ontem que não entreteriam o mais pudico dos atores urbanos de doze anos de idade no dias de hoje. Pobres de nós, bacudo!

O velho Portella, mundano e notívago caçador não teria lá muitas coisas para informar aos netos, hoje caça, com o direito de escolherem por quem querem ser caçados. Sei que quando eu saia numa  ”sexta-feira louca”, meu velho dormia tranqüilo ao som de algum bolero ou tango, dial fincado no chiado da Mayrinck Veiga ou no som local da El Mundo. Sabia que eu voltaria, dificilmente com lua, mas para dividir o café da manhã, quem sabe o almoço. Caso não viesse confiava  que a noitada haveria de ter se saído ainda melhor que a encomenda. Eu voltaria, todos nós voltávamos porque os bons e maus filhos à casa tornavam, por motivos e em tempos diferentes, mas sempre voltávamos por que era fácil voltar. No final de qualquer jornada o caminho de casa era rota obrigatória e desimpedida, necessária, desejada, último refúgio, repouso do fulaninho de tal cansado de guerra. Sair era ótimo, mas voltar era vital.

E hoje? E quando meus filhos saem de casa, bacudo, para que santo acendo uma vela? Não durmo mais quando saem a noite e rôo as unhas até o cotovelo quando saem de dia. Não há bolero que me acalme, nem outras parafernálias eletrônicas, nem água de melissa, nem qualquer guascaço desses químicos de tarja preta. O som que me acalma, como já disse alguém, não lembro quem, é o barulho da chave. Esta é a cantiga de ninar gente grande assustada. Alguém deveria compor um chamamé de chaves abrindo portas e promovê-la como balsâmico paterno.

A noite todos os gatos são feras, pardos ou não, ferozes, bandidos e nenhuma bala mais é perdida, todas encontram um alvo, desejado ou ocasional; todas as facas furam barrigas, todos os carros avançam contra filhos em todos os sinais fechados; todos os pitibul’s atacam crianças e todas as marquises estão à espreita de nossos despercebidos pirralhos. Não há cidade segura, não há grades intransponíveis, não há turno de folga para mãos assassinas. Nenhum dedo treme quando aperta um gatilho tendo um inocente como alvo. Todo olhar maleva do mundo se volta para os filhos antes que eles cheguem a casa e o caminho de volta me parece cada vez mais distante, mais íngreme, mais corrida de obstáculo. Quando haverá free-way para filhos retornarem ao lar?   Quando construirão residências de segurança máxima já que não deu certo nas cadeias? Bosta! Eu preciso dormir e não ouço ruído de chaves, das sete que compõem meu bunker. 

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