Lá, se concluirmos que a vida não
tiver mais graça; se entendermos que a idade e suas seqüelas podem mais do que eventuais
momentos de felicidade, se permitirmos isso. Se olharmos ao redor e enxergarmos
pessoas que nos querem bem (não apenas as queridas) esforçando-se por nosso
conforto, e se esse esforço ou o conforto que produza sequer nos confortar.
Lá, se sentirmos a vida (eu chamo de vida a vontade imorredoura de viver) escorrendo preguiçosamente por entre os dedos, ainda não murchos, mas deliberadamente inertes, e essa letargia conseguir trazer um pouco de alivio ou prazer, por mórbido, significa que enfim, morremos. Apenas que por tanta preguiça esquecemo-nos de deitar, e por assim não nos decidirmos, nossos queridos ainda não choram por nós. Mas como sofrem!
Lá, se sentirmos a vida (eu chamo de vida a vontade imorredoura de viver) escorrendo preguiçosamente por entre os dedos, ainda não murchos, mas deliberadamente inertes, e essa letargia conseguir trazer um pouco de alivio ou prazer, por mórbido, significa que enfim, morremos. Apenas que por tanta preguiça esquecemo-nos de deitar, e por assim não nos decidirmos, nossos queridos ainda não choram por nós. Mas como sofrem!
Digo isso por transeunte de uma
idade crítica e por ver alguns pares entregando este tesouro assim, à toa. Porque vejo alguém desistindo, e por querido, fragilizando também seus
circundantes. Talvez haja mais alguém num cantinho da sala cuja
bronquite tenha escarrado o próprio sorriso, ou que uma recém inaugurada
artrite tenha entrevado a cintura, as juntas e o olhar, tirando de vez a
vontade de dançar ou de apenas retribuir um afetuoso abraço. Há por perto alguém cujas rugas, ainda em
formação, tenham sulcado também a esperança, e o crítico olhar do espelho a
tenha feito perder o bom costume de sonhar.
Por fim há por ai mais alguém
cuja visão tenha ficado curta e esteja impedindo de perceber que os olhos
apenas retratam, mas as imagens ainda são reveladas no laboratório fino da alma
e que a resolução depende de como essa interface, olhos/alma é trabalhada. A
nossa vida não é “a nossa vida” e sim a resultante de uma convergência de
afetos ou nem tanto, mas nunca um conjunto vazio; é, pois, dos que um dia
floresceram conosco e hoje meio murcham solidários, e daqueles que vimos sair de
nós, homens e mulheres paridos e formatados no melhor do nosso carinho, hoje
parindo novas vidas que nos estimulam a continuar vivendo com o fôlego do carinho
original. Se verdadeiramente pudermos sentir isso e acreditarmos que somos
centro não apenas de dor, mas de geração de afetos, então há vida para viver e
quem se foi, deliberadamente ou não, há de perder a melhor parte. Amanhã,
quando o sol levantar para reinar sobre o universo não pense duas vezes, apenas
siga o exemplo dele. Levante-se e reine.
E que se quebrem os espelhos que
não retribuam o seu sorriso, sem medo dos tais sete anos seguintes.
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