O pedágio Divino
O que adianta ter o melhor clima e ainda por cima,
natureza de incomparável beleza?
Muita formosura e pouquíssimo vintém.
Ah, mas que tem dedo do Criador, isso tem!
Nossas orações não são bastante,
nossos apelos ninguém ouve,
embora não haja santo que o povo não louve.
Fôssemos nós arrogantes zagueiros argentinos
até entenderia tão desafortunado destino.
Mas não, pobres de nós insones de esplêndido berço,
dedos rijos de rezar o terço,
humildes e genuflexos vassalos,
ninguém quer saber onde apertam os nossos calos.
O Homem não quis deixar tudo de graça,
algum sacrifício haveríamos de fazer.
Ora viver de sol, futebol, carnaval e cachaça!
O preço, porém, bem que poderia ser mais humano.
Impostos europeus com retorno haitiano,
regime democrático instalado,
mas cheio de político safado
e eu que nada afano, tampouco tenho amigo bichano,
embora não seja puritano, como a maioria fico aqui,
permanentemente entrando pelo cano.
Diariamente vamos contabilizando dissabores
à proporção que vemos nossos defensores
reforçando o próprio cofre.
Do Chui ao Oiapoque!
Pode ser que me equivoque,
afinal sou dessas tantas velhas almas desoladas
que só não está com a cabeça calva
pelos ancestrais indígenas,
mas longe de ser um alienígena.
Basta que eu abra os jornais
para lavar os olhos de roubos, desfalques, corrupção.
Todo mundo metendo a mão e ninguém mais leva medo.
Quando se trata de enfiar o dedo
qualquer um dá seu jeito e
para sacramentar o desrespeito,
aposto e não perco,
não importa o que venham a produzir de esterco,
todos haverão de ser reeleitos.
Pagamos caro por este belo país
cuja política fede de inchar o nariz.
O que seria de mim, caso fosse deputado?
Andaria envergonhando o eleitorado
sujeito a inquérito, ou seguiria a lição do velho Ramão:
perca dinheiro, mas não perca o crédito.
Lições velhas do pretérito.
Mas sem entrar no mérito,
não vejo partido que me acolha.
Sinto-me, por isso, um bolha
já que ajudei a retirar a rolha
para que tivéssemos o direito de escolha.
Deu no que deu, busquei a luz encontrei o breu.
A ocasião faz o ladrão, há muito se diz.
Creio, porém, que isso vem da raiz.
Da matriz, dos tempos juvenis,
lá de onde vem a força motriz e a diretriz
que faz com que a consciência seja o principal juiz.
Pouco importa se na origem haja o verniz
de um berço feliz ou a cicatriz da meretriz.
Ficha limpa hoje é handicap,
passou a artigo de luxo.
E chegou até nós o papelucho.
Até pouco não tínhamos nenhum gaúcho
metido em falcatrua.
Súbito, surgiram vários a tripudiar sobre nós outros otários.
É claro, aqui também se evacua,
e quando cheirou, cheirou forte
mostrando que não é só o pessoal do norte
que mexe onde não devia.
Apesar da xenofobia
que ousamos olhando acima da linha do Equador,
reconheço que somos iguais na saúde e na doença,
na alegria e na dor, na sujeira e no fedor
mostrando o quanto é pesado o pedágio cobrado pelo Criador.
Bem feito pra mim que dei um pau no Sarney
e no Renan e acabei tendo que engolir o Detran.
E ainda não chegamos ao fundo do poço.
“Fora o aipo”, como diz o grosso.
O Altíssimo teria tido um lampejo no sexto dia
(não haveria de ser um gracejo),
antes do primeiro bocejo:
“Haverá muita alegria, muita beleza nesta terra.
Clima, campos, praias, serras,
mas haverá um contrapeso para que não haja ciúmes de outros povos...”
E assim, de tempos em tempos
apoiamos velhos problemas novos,
sempre de onde deveria vir o exemplo.
Eleições após eleições eu contemplo veteranos e calouros vendilhões do templo.
natureza de incomparável beleza?
Muita formosura e pouquíssimo vintém.
Ah, mas que tem dedo do Criador, isso tem!
Nossas orações não são bastante,
nossos apelos ninguém ouve,
embora não haja santo que o povo não louve.
Fôssemos nós arrogantes zagueiros argentinos
até entenderia tão desafortunado destino.
Mas não, pobres de nós insones de esplêndido berço,
dedos rijos de rezar o terço,
humildes e genuflexos vassalos,
ninguém quer saber onde apertam os nossos calos.
O Homem não quis deixar tudo de graça,
algum sacrifício haveríamos de fazer.
Ora viver de sol, futebol, carnaval e cachaça!
O preço, porém, bem que poderia ser mais humano.
Impostos europeus com retorno haitiano,
regime democrático instalado,
mas cheio de político safado
e eu que nada afano, tampouco tenho amigo bichano,
embora não seja puritano, como a maioria fico aqui,
permanentemente entrando pelo cano.
Diariamente vamos contabilizando dissabores
à proporção que vemos nossos defensores
reforçando o próprio cofre.
Do Chui ao Oiapoque!
Pode ser que me equivoque,
afinal sou dessas tantas velhas almas desoladas
que só não está com a cabeça calva
pelos ancestrais indígenas,
mas longe de ser um alienígena.
Basta que eu abra os jornais
para lavar os olhos de roubos, desfalques, corrupção.
Todo mundo metendo a mão e ninguém mais leva medo.
Quando se trata de enfiar o dedo
qualquer um dá seu jeito e
para sacramentar o desrespeito,
aposto e não perco,
não importa o que venham a produzir de esterco,
todos haverão de ser reeleitos.
Pagamos caro por este belo país
cuja política fede de inchar o nariz.
O que seria de mim, caso fosse deputado?
Andaria envergonhando o eleitorado
sujeito a inquérito, ou seguiria a lição do velho Ramão:
perca dinheiro, mas não perca o crédito.
Lições velhas do pretérito.
Mas sem entrar no mérito,
não vejo partido que me acolha.
Sinto-me, por isso, um bolha
já que ajudei a retirar a rolha
para que tivéssemos o direito de escolha.
Deu no que deu, busquei a luz encontrei o breu.
A ocasião faz o ladrão, há muito se diz.
Creio, porém, que isso vem da raiz.
Da matriz, dos tempos juvenis,
lá de onde vem a força motriz e a diretriz
que faz com que a consciência seja o principal juiz.
Pouco importa se na origem haja o verniz
de um berço feliz ou a cicatriz da meretriz.
Ficha limpa hoje é handicap,
passou a artigo de luxo.
E chegou até nós o papelucho.
Até pouco não tínhamos nenhum gaúcho
metido em falcatrua.
Súbito, surgiram vários a tripudiar sobre nós outros otários.
É claro, aqui também se evacua,
e quando cheirou, cheirou forte
mostrando que não é só o pessoal do norte
que mexe onde não devia.
Apesar da xenofobia
que ousamos olhando acima da linha do Equador,
reconheço que somos iguais na saúde e na doença,
na alegria e na dor, na sujeira e no fedor
mostrando o quanto é pesado o pedágio cobrado pelo Criador.
Bem feito pra mim que dei um pau no Sarney
e no Renan e acabei tendo que engolir o Detran.
E ainda não chegamos ao fundo do poço.
“Fora o aipo”, como diz o grosso.
O Altíssimo teria tido um lampejo no sexto dia
(não haveria de ser um gracejo),
antes do primeiro bocejo:
“Haverá muita alegria, muita beleza nesta terra.
Clima, campos, praias, serras,
mas haverá um contrapeso para que não haja ciúmes de outros povos...”
E assim, de tempos em tempos
apoiamos velhos problemas novos,
sempre de onde deveria vir o exemplo.
Eleições após eleições eu contemplo veteranos e calouros vendilhões do templo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário