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quinta-feira, 5 de abril de 2012

Versos Satânicos 26


  Por uma vida menos ordinária

E eu aqui querendo me aposentar. Do jeito que eu queria não vai dar, mas se eu soubesse que arrancando um dedo iria para casa mais cedo, podem ter certeza, arrancaria, mas arrancaria o fura-bolo. Seria mais convincente. Daria, entretanto, a prova cabal de que sou mais tolo. Fosse eu mais esperto pensaria em arrancar o minguinho, como fez nosso amiguinho, aquele a quem muito me refiro, que confesso, entre muitos já preferi e que hoje já não prefiro. Como disse, arrancaria um dedo, nunca os miolos nem as “vistas”, por isso sempre posso passar idéias em revista, mudar pontos-de-vista, convicções também. Dizem que só muda quem as têm.

Mas e se eu fosse deputado? Ah, trabalhar(?) para o povo   no Olimpo! Para chegar lá não precisa ser trigo limpo, nem vacilar quando for convidado a jogar no time do joio. Requer esforço e muito apoio, mídia, por certo, e uma grande cara-dura. Não precisa mais temer a linha dura. A força agora mudou de lado, quem manda é o deputado, e melhor ainda se for “daquele” lado, do lado companheiro. Não há, portanto, perigo de perda, nem de cargo nem de dinheiro. Quem governa agora se diz esquerda, pois os mandantes lutaram contra a ditadura! Ora-ora, é tudo via de duas mãos, sabe disso qualquer cristão, então vamos deixar de frescura.  A bala que vem de lá, faz o mesmo buraco que a bala que vem de cá. Seqüestros por conta de ação repressiva têm o mesmo efeito dos feitos pela “festiva”.  Mas Indenizações por luta armada, ah bom, isso só para os camaradas. Falando em camarada, alguém que esteve presidente foi tão esperto, que mesmo ante o caos eminente e a navalha ter passado tão perto, sequer arranhou a velha imagem barbuda, do cara que trabalha muito por isso não estuda. Ideológico, que dá o sangue pela causa. Lógico, com pausa, muita pausa para uma e outra cachaça, o que também acabou agradando a massa. (Pode ser que haja outro igual, mas não acho: êta povo, este nosso, para gostar de borracho!).

Se eu fosse deputado de cara já teria apoiado um reajuste no meu ordenado. Que tal cem por cento? Não chega a ser “aumeeeento” é apenas um mimo decente que vai agradar até o presidente, e é lógico que a comissão acata, e que apodreça o tal efeito cascata. Aumento, mas aumento mesmo são os seis por cento que deram aos aposentados. “Vai quebrar o Brasil!”, disse o Mantega, cujo nome renega o “i” e a mudança de tônica. Uma desfaçatez crônica que faz parte das relações cômicas não fossem elas trágicas. Pior, este ministro não precisaria de mágicas, pois não tem cabeça de ervilha, mas editou uma cartilha própria da atual bastilha e fica lá botando pilha por que nele, não aperta a virilha. Aliás, o que ele tem de melhor é a filha.

E eu querendo me aposentar! Do jeito que eu queria não vai dar.

Oh Brasil meu, de povo varonil! Tu que botaste na Câmara o Clodovil, por que não pensas em mim? Posso garantir que estou tri a fim. Caso eu venha a receber semelhante graça prometo continuar um boa praça. Repenso tudo que disse ai em cima por pura dor de cotovelo, ironizei apenas por não sê-lo.   Prometo aliviar teu pesadelo, não pintar o cabelo, ser, por fim, autêntico; um político modelo. Ah! Lutar por aumentos equânimes, nunca ser pusilânime e não sugerir que minhas colegas deputadas descansam em pé por que trabalham deitadas. Assim, meu Brasil querido, me confessando mais hodido desde que o Clodô assumiu (e na época todo mundo riu), o coitado, que agora já subiu, pouco além disso eu quero. Chega de zero a zero.

(Ah, viver a apoteose no baixo clero...)

Um comentário:

Anônimo disse...

Está aí o que chamo de TEXTO CHEIO DE GRAÇA. Com espírito, bem escrito e, como não quer nada, pondo o DEDO QUE NÃO ARRANCOU - nem deve! - nas feridas brasileiras do sem-vergonhismo instalado, aboletado e permanentemente IMPUNE! NOTA DEZ!