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sexta-feira, 13 de abril de 2012

A UM PASSO DA ETERNIDADE





Para daqui a muito tempo

Que dias estes. Longos, sonolentos! E eu penso cá comigo: ainda bem. Sei que estas pessoas que estão ao meu redor são meus queridos. Não lembro bem deles, mas olho demoradamente para cada um e vejo o quanto somos importantes uns para os outros. Devo amá-los muito, pois me aperta até o último fôlego desconfiar que daqui a pouco provavelmente não os veja mais. E mais eu sinto por que este eventual afastamento deverá fazê-los sofrer, e eu não estarei por perto, como talvez tenha estado sempre, para emprestar-lhes ouvidos e ombros, e dizer-lhes: “estamos juntos”. Provavelmente chorarão desta vez sem mim.  Pior, por mim.

Tem um sono que chega sorrateiro e instintivamente me nego a dormir. Desconfio deste sono. Será o bom que me acompanha há quase um século ou será outro diferente, mais profundo que servirá de interface para outros amanhãs, misteriosos, sempre inesperados, nunca desejados; nunca por mim temidos. Nunca? Pois bem, sei que vou dormir daqui a pouco, mas antes quero remasterizar um bom punhado de anos. Nascer e ser criança de novo com direito a todos os cuidados, iguais aos que estou tendo agora; esverdear os pés de tanto correr pelos campos sem fim de Uruguaiana, tapados de rosetas, driblando as guanxumas, lá onde tudo é horizonte. Namorar, de verdade e de mentira. Dançar todos os bailes que dancei e outros que perdi por concomitância, e vagar como folha perdida pelas ruas que desenham os endereços desta longa caminhada. Este sono há de me vencer a qualquer momento, claro, mas haverá de perceber neste beiço que já nasceu duro toda a calosidade adquirida no largo dos anos. Não se iluda sono amigo, os olhos estarão fechados por conveniência. Assim é mais fácil empreender a regressão fantástica que farei cavalgando no tempo, agora justificadamente fantasiado de Peter Pan. O corpo poderá estar coisificado, mas o que eu tenho a ver com ele? Ele nunca me pertenceu. Quanto ao espírito, continuo em dúvida.

Fôlego, isto é o que me falta. Um restinho ainda os moços de branco se esforçam para ampliar. Acredito neles, mas não tenho esperanças. Sei lá, como diz um querido amigo, não lembro qual, mas que talvez reencontre em breve quando acordar naquele misterioso amanhã, “estou no lucro”.

Vida. Vivi com tamanha intensidade que me cansa só o fato de estar deitado. Gastei tanto esta carcaça emprestada pelo Criador que tenho vergonha do momento de devolvê-la (quantas penas haverei de pagar para reparar os estragos?). E usei de tal forma este coração que talvez esteja ele, hoje, a me cobrar desperdícios e outras espécies de bom e mau uso, tudo potencializado ao exagero. Mas a alma vou entregar juvenil como recebi. Continuo levando a sério brinquedos e sonhos, sendo egoísta e as vezes injusto em favor dos meus afetos, dando a estes o meu carinho sem reservas ou limites. E levarei a presunção de certeza do quanto foi bom ter sido meu amigo.

De resto estarei pronto. Terei gostado  de tudo vi; terei vivido tanto quanto quis e amado o quanto pude. Mais não amei por que, afinal, não sei se houve mais para amar, e houve os limites sociais; impedimentos físicos. Sobretudo e por fim, encontro de duas almas iguais, intransigentes na busca da paz.

O sono chega com força.  Não devia ter fechado os olhos, agora mal consigo abri-los.  Lembrei do filme A um passo da eternidade, ou será uma música?  Não importa, acho que me veio a mente apenas o título. Bem, neste caso avisem  o amigo Morfeu que sou hétero convicto, juramentado e praticante, mesmo que sejam prerrogativas inúteis daqui para frente..

Quem será esse novo amigo vestido de preto?

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