A verdade é que estranho pouco o sentimento bifurcado hoje vigente. Fui criado num ambiente de ampla dicotomia social e politica, para ficar em temas mais universalistas, e de onde se extrai o maniqueísmo em doses plurais.
Cresci lendo e ouvindo sobre os entrechoques sangrentos do
RS. Primeiro na Revolução Farroupilha e depois entre Chimangos/Pica-paus x
Maragatos, na sublimação do ódio. A cronologia de barbáries coletivas riograndenses viaja quase 100 anos, quase sem pausas para o fôlego, entre 1835, l893, 1923, e campo
à fora. Assim, não preciso ser ensinado como é viver em ambiente 50% inóspito.
Sempre vivi no Brasil, e nesse mundão continental nunca
tinha visto (e olha que já vi bastante) tanta divisão. Divisão temperada por
ódio já nem tão latente. Desconfio que a nova batalha final entre o bem e o mal se travará às
margens do lago Paranoá. Nada de Armagedon e um riozinho pobre como o Eufrates.
É briga de cachorro grande.
Estamos divididos entre “nós” e “eles”; pobres x elites;
heteros x homos; brancos x negros e o que é pior: entre iguais x iguais, como
nunca antes na história desse país. E digo isso não por achar que não tenha
havido desigualdades semelhantes ou até com mais intensidade antes. Digo isso
porque hoje elas se proliferam e se realimentam rápida e facilmente, e nos tornamos um
barril de pólvora com duzentos milhões de pessoas de fósforo na mão.
A sociedade atual não inventou o ódio, mas trabalha com uma
vontade enorme de multiplica-lo, deixando-se abduzir pela cantilena da horda de
bestas que a comanda. E a gente acaba reaprendendo, agora no lombo, a lei da física, onde a reação deve
ser maior que a ação ou levamos ferro.
Estamos embrutecidos, iludidos e desiludidos (outro grupo de
antagonismo bélico) e raivosos. Portanto, das reformas tantas impossíveis que
se promete de tempos em tempos na pátria amada salve-salve, a primeira deveria
ser a reforma moral. Mas não vejo quem faça. Não há vontades ou interesses, nem mesmo qualificação
para a tal reforma. O mal é hemorrágico e não há tampões suficientes ou adequados para estancá-lo. E cá estamos nós alimentando nossas raivas.
Aguardemos os céus. Quem sabe um Apocalipse pós moderno. E desde já me vou à fila, contrariado, para o sorteio dos cavalos que o Joãozinho Evangelista adestrou. Dos quatro, o que vier, azar o meu














