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terça-feira, 14 de abril de 2015

ODE AO SACO DE GATOS





O grande PMDB é uma enorme colcha de retalhos.
Digna de um palavrão logo no cabeçalho.
Figuras como o Barbalho e outros fora do baralho,
Recolhidos a prudente inércia.
Ou compulsória, como o Quércia,
E ainda outros que ouvimos desde o jornal da manhã,
Como por exemplo: o Renan, grande galo alagoano,
Que uma vez entrou pelo cano.
Pensou que o mundo era uma racha e foi riscar fora da caixa.
Mas cabotino, se abaixa, rebaixa, e sempre se encaixa.
Se descuidarem, ainda vai acabar vestindo a faixa.
(A propósito, onde andará a Mônica,
Aquela que trocou um pau de quando em vez,
Por uma pensãozinha de doze paus por mês?)

Quem, afinal, é o senhor dessa sigla lendária,
Que na nossa democracia precária
Ainda posa de fiel da balança?
Na impensada dança de posições contraditórias,
A cúpula peemedebista torra sua história,
No momento, pendurada no saco petista.
Quércia era nacionalista,
Foi chamado pelo PT de nazista,
E este chamou o Lula de fascista.
Como ambos tinham cacife
Seria justo que se dissesse então,
Para simplificar a controversa questão,
Que juntos reeditariam o nacional-socialismo,
Ideologia que levou a Europa ao abismo,
Na época do cabo austríaco atrevido.
Improvável, mas só duvido,
Porque um dos dois foi abduzido.

Que partido!
Partido e repartido, esse PMDB!
Melhor horário na TV e nenhuma ideologia.
Algo que mantenha entre os quadros nacionais a mínima sintonia.
A forte herança da frente ampla,
Que um dia botou banca, enfrentando a milicada,
Ao invés de ser depurada, virou desaguadouro cloacal,
Onde gente que assume honrada logo, logo perde a moral.
Não, não! Não há quem entenda,
Que alguns próceres da legenda,
Mesmo largados à míngua por discursarem em boa língua,
Permaneçam firmes, convictos, leais,
Alheios a suposta rejeição, sem tirar nem por,
Empunhando o multifacetado pavilhão furta-cor.
Resta saber a quem devem lealdade:
Se a quem conhecem as verdades,
Que num regime sério os levariam às grades,
Ou aos votantes de cruel passividade,
Que na ilusão quaternária,
Oferecem-lhes a própria glândula mamária.

Mesmo que sempre rompam os elos,
Como o Jarbas Vasconcellos,
Que acabou saindo dos chinelos,
Metendo com força o martelo nos confrades,
Pedindo um “se enquadre!” ao maior partido verde-amarelo,
Não passa nunca de um mero libelo.
Jarbas teve um gesto belo, mas nem arretou o castelo.
Pregou no nada até ficar rouco,
Enquanto a parceria mantinha ouvidos moucos.
O Simon, na época, deu maior apoio.
Este, porém, é um dos que vive no meio do joio,
Nunca, entretanto, tomou atitude.
Desde a minha juventude só me ilude.
Conhece, por velho, as nossas vicissitudes,
Mas de bom, só mostra básicas e obrigatórias virtudes.
Ah, sim, e vagos discursos gritados amiúde.
Está sempre a favor do vento, deixando passar históricos momentos, 
Não por sujo, mas pelo inabalável perfil caramujo.

Ouso dizer que não sei quem é o chefe da matilha,
Que a partir de Brasília faz sua bastilha,
Privilegiando a camarilha.
Amigos, a mulher, o filho e a filha,
Desde que continuem rezando na velha cartilha.
Uns dizem que cumpriram sua trilha,
Que encheram a vasilha e já fecharam a braguilha.
Aqui, ó! É armadilha. Dão as cartas e jogam de mão.
E não adianta gritar truco com a manilha,
Eles sempre retrucam com o espadão.  

Nem precisa dizer. Sei que é gritar em vão 
No entanto continuo botando pilha.
De resto, quem é de média leitura,
Tem de ajudar a não entregar a rapadura,
Pois vejo com amargura,
O que se faz com a população de baixa cultura.
Gente de vida dura, que não identifica a postura obscura,
Das mais variadas criaturas,
Abrigadas nas nomenclaturas 
Que concorrem às diversas legislaturas.
São santinhos de candura,
Campeões de fazer mesuras,
Que mostram a dentadura até a investidura.
Depois...  Só aparecem na moldura.

Não custa um pequeno alerta,
Dirigido ao nosso povinho boca-aberta:
Já tivemos coronel de esquerda com pinta de feitor,
Ali, um pouco adiante da linha do Equador!
Apesar de ser na Venezuela é bom ficar de sentinela
E não abafar o grito na goela,
Pois como diria o velho Portella,
Depois de arrombada a porta, pra que serve a tramela?

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

HELIO, HEITOR E O TRACAFILHO



No sexto dia, às seis da tarde, antes do primeiro bocejo, estava o Criador sentado à beira do Ibirapuitã, num pequeno cepo, admirando sua obra.

Estava tudo perfeito, mas bastou um lapso de tempo de observação e pronto, já lhe acendeu a luz amarela. “A perfeição das curvas exatas tornará este espetáculo muito monótono”, deve ter pensado.

Não se troca o que está perfeito. Mas quem sabe um pequeno ajuste, uma troquinha imperceptível, só para temperar ânimos; um trocadilho qualquer. “É isso!”, um trocadilho. Mas não haveria de ser Ele, sério como gostaria de ser lembrado, o responsável por desviar o que estava pronto e perfeito, portanto, alguém que o fizesse. Alguém que tivesse nome e sobrenome, e de preferência que rimasse.

Assim, a beira do Ibirapuitã, depois de algumas cuias e já começando a alongar, o Criador começou a moldar com barro nobre o enviado, que se encarregaria de formar os trocadilhos, a fim de que a obra perfeita que criara não caísse na monotonia.

Esta, portanto, seria a missão de Heitor dos Santos Filho, que não nasceu com esse nome, mas assim se fez por exigência do Criador, que gostava de rima. Há, inclusive, quem pense que Rima é um negócio de fachada, e é outra exigência do Homem.

Então... Não consta que Teseu, o cara que invadiu os labirintos de Creta e acabou com o Minotauro, viesse a sofrer de labirintite. Também não me lembro de ter lido que Perseu vivesse com minhocas na cabeça, após decapitar a Medusa; nada indica que Arthur Gil possa ser um bom secretário de transportes, com a terrível missão de descongestionar as vias públicas, nem que Novalgina seja apenas remédio unicamente feminino, mas que hélio, além de raro, é um gás especial, não tenho dúvidas.

Alegrete tinha Helio Ricciardi, ou Heitor dos Santos Filho, para rimar com trocadilho. Lá tinha.

A capa bordada de estrelas que cobre o céu foi inventada bem ali, à beira do Ibirapuitã, numa sexta-feira, fim de tarde, antes do primeiro bocejo do Criador. Hélio brincou de bordar a capa, cobriu o infinito e gostou tanto que se foi viver com elas.

Adeus, meu amigo,  que a paz dos justos te receba. E siga as pegadas de luz por onde vieste. 

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A LIÇÃO DA ACEROLA



Havia um pé de limão alquebrado no nosso quintal. Por vezes produzia, por vezes não. Estava lá, porque estava. Junto dele vivia um pé de acerola, cuja produção eu jamais tinha visto. Tinha uma copa bonita e bem fechada, mas não frutificava. O pé de limão acabou pegando uma peste. Foi definhando, definhando e morreu. Deu pena cortá-lo, mas quando decidimos pelo sacrifício, seu aspecto era lastimável, digno das piores caatingas.

Tempos depois, a outra arvorezinha ficou coberta de vermelho. Vergada pelo peso das frutas, e o chão já pintado das maduras que despencavam. A acerola resolvera dar as caras e mostrar ao mundo a que veio. E frutificou uma vez, duas e vai à terceira produção por temporada. Há anos é assim. 

Pois então. Ambos, acerola e limão são frutas fantásticas. São remédios naturais e dispostas para múltiplos usos. Mas no caso desse casal, limão e acerola, especificamente, parece que houve incompatibilidade de gênios. O limão até produzia, mas não era lá essas coisas, até adoecer e morrer; a acerola jamais produzia, meio que contrariada, talvez sufocada por  vizinhança tão azeda. Ela, acerola, que também não é santa neste quesito. Quem sabe tenha sido isso: o azedume mútuo talvez tenha estragado a convivência.

Pois foi um dos cônjuges morrer para a outra mostrar todo seu viço e potencial. Agora vamos traduzir e eu não falo mais nada, porque afinal, os exemplos andam por ai às mancheias.

Mas é bom pensar a respeito. Vá que não necessite de óbito. 

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

FELIZ ANO VELHO



É comum, todos fazem, uns mais outros menos, e aqui vale para longas e derramadas reflexões, ou simplesmente um “ufa!”.

Final de ano é assim: uma catarse. Andei lendo outro dia tudo que venho escrevendo a respeito. É de chorar. Parece que os anos andam se resumindo em dores, e que dezembro, por ser dezembro, talvez, e porque resida lá no décimo segundo andar  do ano, assuste pelo olhar do terraço. Dele tenho a visão, ou revisão, dos desassossegos. Mas porque só deles?

Olhando o tempo, tem sido assim mesmo. Há em dezembro uma espécie de carimbo sinistro, forçando que eu carregue para muito além, as marcas do ano que finda. E a gente sabe que dor tem epicentro e que as felicidades costumam morrer no fim do riso.

Mas neste ano da graça de Nosso Senhor de 2014 não será assim. É decisão minha. Das perdas que houve (e como foram duras as perdas! Quantos amigos queridos se foram?), já sequei o choro. Ficará comigo o que tive antes delas, e em alguns casos o que poderei reconstruir, se for bom para todos que se reconstrua.

A conta assusta um pouco, mas é simples. Digamos que dois terços do caminho já se foram. Assim, o terço que falta será respeitado. E como a decisão é minha, serei respeitado por mim. Se não houver alegria que exacerbe, tampouco me deixarei picar por mínima tristeza, por mais justificada que seja.

Não farei mais retrospectivas. O calendário que siga seu caminho, como seguem as metas comerciais: cumprida a meta; nova meta. Prestações feitas em dezembro não caducam em janeiro; os salários continuarão sendo pagos, despensas e geladeiras com as mesmas necessidades de sempre, e quem foi campeão terá de começar novos campeonatos com zero ponto. 

O que talvez demore um pouco a passar são os 7 x 1 da Copa, mas certamente não terão a força que teve o 2 x 1, do Uruguai, há mais de 60 anos.  O que passou, agora passa mais rápido, e ninguém mais tem tempo, saco ou mesmo direito de viver de glórias ou fracassos passados.


A partir de 2014, ano que agoniza, portanto, será assim: em lugar do “ufa”, um “up!”.  E 2015 está logo ali, mordendo o freio. Então que venha e vamos ser felizes juntos! 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

DILÚVIO



             Do livro Castelo de guardanapos

A Bíblia fala em retornarmos ao pó, mas não sei não. Segundo a classe competente, somos ao redor de oitenta por cento compostos de água, o resto é matéria orgânica de qualidade duvidosa. Se bem que alguns seres vivos honram por demais a categoria. Dá gosto de vê-los nas telas, passarelas, praias, etc. Mas a menos que o Livrão esteja profetizando que iremos, no fim dos tempos, secar o planeta com nossos vícios e maus costumes, e nos matarmos desidratados, não vejo a menor possibilidade  de voltarmos ao tal pó, se é que de lá viemos.

Acho que a coisa está mais para o lado da que consagrou o velho Noé.  Fala-se tanto em aquecimento do globo, derretimento das camadas polares e outros cagaços meteorológicos (vide os tsunamis), fora os não sei quantos desastres naturais de nomes mimosos ( El niño, La niña, imaginem!), que matam e destroem todos os anos, tudo regado a água guasqueada, que penso no nosso fim de caso com o vale de lágrimas, na condição de afogados.

Dizem que vivemos vários ciclos desde os primórdios, e a informação que fica é a que lá, bem no início, isto aqui era tudo água. Tudo o que é gelado na terra vira água, e todo o vapor também. É o ciclo.  Tudo que sobe desce, tudo que nasce morre; quem cai para a segunda divisão sobe depois às estrelas, erguendo-se por Tóquio. O tamanho do ciclo define as grandezas, ora pois.

A metáfora religiosa fala sobre o Dilúvio e eu me ponho cá a pensar,  se não é isso mesmo que acontecerá. A dúvida intrigante é saber quem seriam os escolhidos para subirem à arca. Quem seria o novo Noé, por exemplo? Haveria por certo deputados fazendo lobby, acordos de lideranças, etc. Acontece que pelo tamanho da torta a disputa haveria de ser muito acirrada. Republicanos assexuados versus democratas tarados; petistas e anti-petista, cada um com seu dogma de fé e uma quadrilha de aproveitadores por trás.  Muçulmanos e judeus, católicos e protestantes,  Eta, Ira ; União contra Dom Hermeto e os dois enquadrilhados contra Club Barraca, numa disputa a morrer. Jamais poderíamos admitir um Noé nascido em Libres (mas atenção: o Chicão é argentino!)

Enquanto isso, a turma do oriente nem ai, largando bombinhas nas nuvens para fazer chover mais... Chumbo. Seria difícil encontrar um novo Noé que agradasse a todos. O Mano cansa de dizer “nem eu consegui isso”. Por outro lado, posso imaginar, se é que continua valendo a velha sentença  de que é mais fácil um camelo passar no buraco da agulha do que um rico entrar reino dos céus, alguns figurões sendo barrados na porta da arca pela sua condição social, todos prudentemente acompanhados de advogados com mandado de segurança na mão.

E Paulo Salim e Zé Ribamar? Quem haveria de segurar o Paulo Salim e Zé Ribamar? Não adianta.  Eles vão, vestidos não sei de que espécies, mas vão.

Como o Noé haverá de ser biônico, espera-se dele que, no exercício da função, não faça conchavos, não edite MPs, não distribua cargos de confiança, não pratique nepotismo, nem seja fisiológico, e muito menos faça acordo com o anjo caído para livrar “o seu”. Tipo duas almas por uma. Que faça as licitações corretamente na aquisição da matéria prima para a construção da arca; que leve moças do sul, por que  lá  é que a gente deve casar quando a chuva parar, e os  rios  e os juízos voltarem ao leito normal;  que leve ovelha texel e gado  de sobre-ano,  e não repita a burrice histórica de juntar serpente com maçã.

Ah! E que verifique na entrada atentamente as mãos de quem entra. É fundamental que todos tenham todos os dedos. Não podemos arriscar.


E desde já convido meu amigo Precioso, para manipular a bomba e gelar a serpentina, porque ninguém é louco ou burro de ficar quarenta dias e quarenta noites de bico seco, ou bebendo água da chuva.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

GRENAL




Escondido sob a saia da recente festa democrática, eis que aparece um GreNal. É, um GreNal, aquele jogo que antes dividia o estádio ao meio, e que era uma festa para os olhos, ouvidos e que acelerava os corações.

Mal percebi, talvez pela distância, mas no domingo sela-se o destino de um dos dois no campeonato brasileiro. Qualquer  resultado diferente de vitória deixará um dos gaúchos longe da Libertadores, único trunfo que resta para o ano da graça de Nosso Senhor de 2014.

Ah, sim, o Inter ganhou o Gauchão. Bueno, bueno... Como dizia o inesquecível mestre Cabeça, Seu Ênio, ganhar o campeonato Gaúcho é uma bela porcaria. Mas experimente perder!

Enfim, domingo tem GreNal e a comunidade rubra faz festa com o longo período em que o Grêmio não ganha. Prova cabal de que esse confronto é uma competição à parte. Como pouco ainda resta, melhor é ganhar do rival e chegar à frente dele. Já é consagrador.

Time por time, o Internacional é melhor. Tem o meio de campo dos sonhos de qualquer treinador, e um jogador raro; único no Brasil: D’Alessandro. Tem uma defesa frágil, mas recuperaram o juízo ao sacar Dida do gol (desde quando goleiro dispensado pelo Grêmio serve ao Inter?), e um ataque que recebeu o acréscimo – e que acréscimo – do Nilmar. Na minha visão, continua favorito.

O Grêmio, por tudo e por nada, jogará a morrer, e isso poderá fazer alguma diferença.

Mas o que eu desejo mesmo é que as milícias (malditas milícias) se comportem. Há muito não escrevo nada; não falo nada em vésperas de GreNal. E há muito abomino senhores multiplicadores de ódio, principalmente nas ondas do rádio, que armam e incentivam espíritos bélicos, e cito nominalmente dois, em especial: Kenny Braga e Cacalo, da rádio Gaúcha. Anacrônicos. E não percebem isso!

Paz total não vai haver. Não está no DNA moderno do clássico, mas que a guerra seja suave, e de preferência que fique circunscrita às quatro linhas do campo. Se briga houver, que seja pela vitória.


Como disse, estava despercebido do clássico, mas a partir de agora começam as contrações. Domingo, às quatro da tarde, terei dilatação de quatro dedos.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

ESCONDAM O ESTOPIM

Sou dos que pensam que uma eleição nunca termina. Finda a campanha e “escrutinadas” as urnas, a meu ver, não é hora de recolher opiniões, conceitos ou calarem-se os debates. O que se deve recolher são bandeiras, gritos ensandecidos, carros de som; e que se limpem as sujeiras (a parte inocente delas).

Sou dos que pensam, e agradeço ao Velho por pensar assim, que o after day de uma consagração ou de uma derrota eleitoral, passa a ser hora de arregaçar as mangas, pranchetear promessas e partir para as cobranças. Estando eu do lado que esteja.

E por último, sou dos que pensam que uma eleição não termina com um ou outro lado da população vencedora. Não disputamos um pleito contra outro país. A disputa é interna e o resultado das urnas, para o bem ou para mal, repercutirá na nossa realidade. Talvez por isso tenha me aborrecido muito (MUITO!), o nefasto discurso maniqueísta da briga entre o “nós” e o “eles”. Quando alguém quis separar o Rio Grande, o Brasil inteiro apedrejou o lunático. Nestas eleições, entretanto, metade do Brasil aplaudiu a mesma ideia separatista. Prova que algumas lideranças não sabem o tamanho do estopim das bases, e como elas raciocinam quando em massa.

O pleito acabou (acho). Hora, portanto, de fiscalizar, e aqui me refiro a quem realmente se importa com a causa-Brasil, não com a causa partidária.

Mas há algo muito perigoso no ar. A insatisfação com a rédea frouxa, para dizer o mínimo, do governo em relação as coisas públicas, trouxe um novo elemento das sombras: os militares.

A mim não resta dúvida, porque vivi e tive problemas no período em que o verde-oliva comandava: é um povo honrado, que aprendi a respeitar e que teve menos culpas de tudo que lhes foi atribuído.  Entretanto, existe um fator concreto: militar negocia muito pouco. Militar é treinado para a guerra; é treinado para defender a nação contra o perigo externo; militar não tem adversário, tem inimigo, portanto, suas balas não são de festim e suas porradas são preparadas para matar. Tem pouco ou nenhum treinamento de polícia.

Há pedidos para que os militares retornem ao comando e sinto que muitos deles estão gostando da ideia. Por outro lado, vejo Zé Dirceu e outros saindo da prisão por seus “malfeitos”, e serem ovacionados pela parcela da população que adotou o “rouba-mas-faz”, versão festiva; vejo amigos queridos, de visão absolutamente obstruída com a ideia de alternância no poder, e por isso, só por isso, não tenham dúvidas: uma ação militar contra o governo nos faria chorar milhões de mortes, algumas bem próximas.

Além do quê, no futuro, isso oneraria irremediavelmente o erário a título de indenizações. E nossos netos ou bisnetos iriam à loucura, de saco cheio com uma nova comissão da verdade. No ciclo das verdades.

Considero essas lembranças importantes para quem vive a politica, mas especialmente para quem deseja o retorno dos militares ao comando. Àqueles que repudiam esta ideia, e que respeito também por isso, eu costumo perguntar a idade. Então deixo manifestar a presunção que reservo para esses momentos. Só considero opiniões de pessoas nascidas até a década de 60. Os outros que me perdoem, mas não sabem do que falam.    


   

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

FENOJO





















Estamos às vésperas do encerramento da Feira Nacional do Joio e do Trigo, a FENOJO, e muitos ainda não sabem o que fazer. Quem joga no time do joio? Quem joga no time do trigo? E não esperem que os últimos dias esclareçam, uma vez que as assessorias, encarregadas pelos chicletes de ouvido, não conhecem rima com joio. Mas em loiros e límpidos trigais se esbaldam, como se lidassem com as mais santas verdades.

Ao final de uma campanha política, todos nós parecemos mais cansados. Mesmo que a grande maioria dos nossos esforços seja tão somente nos fincarmos no sofá, a fim de ouvirmos o matraquear interminável de criadores de países de sonhos; Da lavanderia de roupas brancas, embebidas de chorume e múltiplos excrementos.

A FENOJO tem comercial caro, equipes caríssimas e grandes produções. Rola um volume de dinheiro quase nunca bem contado, embora use horário gratuito para divulgação. A cada debate, e não falo de debate entre moleques, sempre espero que não; falo de pessoas que atingiram o mais alto escalão das pretensões públicas; falo de homens e mulheres que irão nos representar nas Nações Unidas; que levarão o nome do Brasil a todos os rincões desse mundo de Deus, me estarreço. O nivelamento rasteiro, a falta de educação e postura, me faz lembrar brigas que fariam corar o chinaredo ribeirinho. É bate-boca de tasca, às quatro da manhã, na disputa pelo último borracho.

Fui acostumado com padrões definidos para malandros. Meu pai os classificava assim: espertos, espertinhos e espertalhões, e me mandava escolher qual deles eu pretendia ser. Ele tinha orgulho quando eu me mantinha no primeiro, mas me punia proporcionalmente quando arriscava os outros estágios. 

Por fim, ando desconfiado que democracia, cuja festa máxima é a FENOJO, é um artifício destinado a uma pequena casta formada por espertalhões, que viram na política uma forma fácil de fazer carreira, e que se especializaram em vender almas sem pecado. E nós, cidadãos comuns, não passamos de desclassificados malandros sociais, quase só quando fazemos nossa declaração de bens, ou quando estamos à frente de uma entrevista de emprego.

Em política, muito especialmente no apagar das luzes da FENOJO quadrienal, desconheço a participação de espertos. Mas o Brasil é de quem participa; o mundo é deles, e nós damos graças a Deus por ainda podermos ajudá-los.  



quinta-feira, 16 de outubro de 2014

VERSOS SATÂNICOS 106 – NÚMERO DE VEREADORES




Maior número de vereadores, câmara mais eficaz!
Como dizia Cel. Chagas e Silva: “meu nobre rapaz,
... Estão querendo te passar para traz”.

Mas e essa continha esperta quem faz?
E essa tese sem prova o que me diz?
Claro: nossos preclaros e conspícuos edis.

Querem multiplicar a força motriz,
E para isso usam os mais diversos ardis.
Uns sutis, outros pueris e entre tantos, esse infeliz,
De secar por via escusa o já sofrido erário.

Engraçado.

Sempre ouço profusões verbais em plenário,
De que o legislativo é um verdadeiro calvário;
E que uma vez eleitos, para Cristos, só falta o sudário.
(Puro exercício vocabulário para compor o cenário)

O cofre que sustenta esses beneficiários
É o nosso, portanto, aumentar o contingente ou diminuir,
Não deveria caber  a eles concluir,  consentir, aderir, ganir.
Nem por bastante haveriam de servir as opiniões a seguir:
Do papa, do  emir, do vizir ou do Jair;
O povão é quem deveria decidir.
Então iríamos ao decreto da plebe, o plebiscito;
Ali não ficaria o dito pelo não dito.
Mesmo que vá gerar conflito, que nos ganhem no grito,
(Só de lembrar eu me irrito).
Esse é sempre o mais justo veredicto.
Por esse direito não derrubamos um regime proscrito?
E que não nos embutam o Referendo.
Parece a mesma coisa, mas não é, e se há dúvida, desvendo:
Um é antes do fato, o outro depois, por isso não recomendo,
Porque em política (entendo) o que não podem, acabam fazendo.
Agora imaginem podendo! Ai não tem remendo.

Antecipo meu voto!

Que aumentem o número de edis,
Desde que não me peguem pelos quadris,
Como fizeram no Último tango em Paris.
Assim, que os atuais servidores varonis
Sejam agraciados em seu pleito estatutário,
Mas que não infeccionem o tumor orçamentário,
Na sofrida rubrica que abriga esse numerário.
Ou seja, que dividam seus próprios salários,
Com os novos e valentes correligionários.
Portanto, para o legislativo continuaria a mesma verba,
Independente do número de beneficiários.
(Mas aposto que continuaria a “lesma lerda”).  
E todos continuariam ganhando
Mandatários, partidários, funcionários...
Voluntários, sectários, mercenários...
Teúdas, manteúdas e coadjuvantes salafrários...

E quem pagaria a conta? Os mesmos otários


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

DIA DO PROFESSOR




1) As férias de julho se aproximavam e eu não me aguentava nos cascos para varzear.

Faltaria bola, faltaria campo, faltaria rua... Enfim, faltaria tempo para tudo. Nada enche mais o dia de um guri de onze anos, que não ter nada para fazer.

Mas no penúltimo dia a professora me chamou: “leve esse bilhete aos seus pais”. Lá estava escrito algo como isso: “pai e mãe, precisamos melhorar a letra do Jair. Eu me proponho a ajudar durante as férias de julho, na minha casa. Assim, caso concordem, providenciem um caderno de caligrafia para amanhã”.  

Amanhã!!! Era o fim. Nada poderia ser pior.

Entretanto, acabou sendo um mês de julho muito agradável, embora trabalhoso. A professora, com a doçura que a caracterizava, não dava folga. Tratava-se de preencher um caderno, dois cadernos, três cadernos... Repetitivamente. A folga era para um café, uma “batida” de banana e algum bolinho.

Onde acabou essa história: até pouco tempo atrás eu era convidado a subscrever cartões e fazer atas em função da minha caligrafia.

2) Um dos professores de linguagem (língua portuguesa) que tive era jovem, orgulhoso; duro como tronqueira de guajuvira. Um determinado dia pediu uma “composição”. Fomos às letras.

Apresentei o meu trabalho e ele leu atentamente como sempre; releu uma, duas vezes e sentenciou mais ou menos assim: “aqui tem vocabulário, quando tiver sentido poderá ficar bom”.  Não entendi, mas isso foi o suficiente para que eu passasse dois metros e meio de tempo da minha vida buscando sentido no que escrevo.

Nunca pude ser grato o suficiente a professora Ruth Argimon pelo carinho e empenho, mas ao mestre José Edil de Lima Alves eu posso e sou a cada oportunidade que tenho.


Obrigado mestres, e em nome deles abraço a todos.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

OVOS PARA O BEM DO BRASIL!


Quando Mario Henrique Simonsen, lá em 1977, a bordo de um barril de carvalho denunciou o chuchu por formação de quadrilha, assalto a cesta básica e principal líder pró-inflação, virou piada.

Certo, na época a gente podia gritar, mas não muito; podia espernear, mas com calma. Protestar, enfim podia, desde que não cheirasse a pólvora. Lembro que um diferencial para o protesto era usar terno e gravata, e nunca fazendo bagunça na rua. Barbudo de brim Coringa e alpargatas era risco. Com bandeira, então, ia direto ao teste de amperagem testicular nos jacarezinhos do Dops.

Mas na época, quem dava mais do que chuchu na serra eram os índices inflacionários. Que segundo me prometeram em 1994 “já eram”.

Não vi ninguém do governo atual culpar o ovo pelo aumento da inflação, ao contrário, ele, o ovo, dizem, é a salvação. Ex-vilão e grande parceiro do LDL, chega agora à consagração para as fumacentas manhãs de domingo.  

Assim gauchada velha, largue mão da minga, do salsichão e outras “hachuras” assadas a meia-guampa. Picanha, então, nem pensar. Assem ovos, não os de touro, que esses se come apenas uma vez por ano. Assem ovos! Ovos para o bem do Brasil.

Essa do ovo, como há muito foi o chuchu, vai para os anais (ou no caso específico volta, posto que dos anais veio) da economia, como coadjuvante na história tragicômica da retomada da inflação, por conta das sumidades que hoje nos dirigem.


A situação, entretanto, me parece “clara”: não “gema”. Vote para mudar.

sábado, 11 de outubro de 2014

HOY SOY TU SILENCIO


Um dia fui visitá-lo. Morava sozinho. Viuvara cedo e nunca mais quis arriscar no ofício de marido. Melhor dizendo, morava quase sozinho, posto que, vez por outra, alguma amiga comparecia para “arrumar a casa” segundo ele. Nunca a mesma para não criar vínculos “trabalhistas”. E quase sozinho porque nunca abria mão de ter com ele um cachorro. O meu amor pelos bichos vem daí.

Nesse dia quente de dezembro a tarde se arrastava, e nós, como sempre, contávamos as mesmas histórias, que sempre pareciam novas. E o que um dia o deixara brabo e a mim receoso, virara piada. Coisa leve, tipo: “Pai, tu sabias que eu tinha sido expulso do colégio?”. “Não, quando foi isso, filho da puta?”. Bem leve.

De tempos em tempos ele ralhava “já pra fora, meu filho”. Eu ria. Histórias e mais histórias, risos e mais risos e ... “já pra fora, meu  filho”.

Puta que pariu! “Quiéisso pai? Já tá me mandando embora?”. Então a revelação: “Não, guri. Meu filho é o nome do cachorro”.

Ele era assim. Irônico, brincalhão, extremamente inteligente, apaixonado por futebol, esporte em que foi mestre. Dele herdei alguma coisa. Não muitas. Caso fosse agraciado com essa última virtude, por exemplo, estaria rico.


Beijo, velho, hoje seríamos quase contemporâneos. Quero dizer com isso que me fazes mais falta ainda. Feliz 95.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

LUTAR, AINDA QUE SEJA COM O TOCO DA ADAGA



Há uma brisa de esperança soprando pelos lados do Humaitá. Um clima de anos 90, lá, bem no início, quando o gringo birrento e antissocial reassumia uma nau à deriva.  Foi um duro recomeço, coalhado de desconfianças e pedidos de “fora” ou “burro”.

A nau, como é cíclico no mar de angústias que cerca o futebol, voltou à deriva. Mas também em busca de uma tábua andava o velho comandante, arrasado por uma batalha que dizimou tropa e moral a golpes mortais.

Ao se reencontrarem devem ter entendido ser um a salvação do outro, e se entregaram em busca de águas mais calmas.

Mas o perfil de ambos não conhece águas calmas. Não são nadadores de piscina. Precisam da energia das tempestades para dar fôlego à vida.

Luiz Felipe, o Felipão, e o Grêmio são um do outro. Realimentam-se nos fracassos. Tropeçam e caem no decorrer de suas jornadas; lutam até o último segundo para encontrar o mínimo, que às vezes foge, mas que daqui a pouco vem com sobras.

Não sei até onde poderá ir este atual time do Grêmio. Há muitas carências. Percebo, porém, que na mudança de casa, algo que havia sido esquecido no Olímpico, finalmente chegou à Arena: a garra gremista, que no longo de sua história quase sempre esteve acima dos aspectos técnicos.  E nisso se nota o indefectível estilo Felipão. Do velho e quixotesco Felipão e seu indefectível Murtosa, que faltou à seleção brasileira.

O trabalho é novo, não há muito ainda a ser cobrado, mas a renovação, ao estilo do que havia sido feito nos anos 90, tem sido importante para isso.


Aguardemos, esperando que a torcida gremista tome tento; que se comporte em campo porque o prejuízo deste ano já foi grande. E quem quiser cobrar resultados agora, que assista outro esporte.  Futebol precisa de tempo, mesmo que não haja.         

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Versos satânicos 102 - VERDE QUE TEMIA VER-TE



VERDE QUE TEMIA VER-TE

Se eu fosse deputado
Estaria preocupado com os ares do quartel.
Os milicos da antiga andam com cara de briga,
E o povo até que se liga, quando enxerga um coronel.

Se eu fosse deputado,
Que o AI-5 tivesse cassado,
E se me tivessem encarcerado,
Colocaria as barbas de molho.

Me lembraria do exílio, longe da mulher e do filho,
Sem poder sair dos trilhos, tendo na nuca um ferrolho.  
Quem viveu a ditadura,
Sabe que não é frescura andar sob a linha dura,
Dormindo com um só olho.

Se eu fosse deputado
Estaria muito bem alinhado no direito e na justiça,
Pois o Partido Verde de agora, não é igual ao de outrora,
Que há muito foi embora, deixando cheiro de carniça.

Aquele era o verde-oliva-cassetete,
Que tinha como premissa
Choque em testículos, torniquete,
E colocava alfinete no furinho da linguiça.

Se eu fosse deputado,
Que da liberdade tivesse abusado,
Ou que tivesse feito vista grossa,
Com quem nos colocou na fossa,

De pronto apelaria ao Exu,
Porque se sair o Urutu,
Vai esquentar pra chuchu.
Que até o belzebu se cagará de medo.

E desde agora me antecedo:
Milico não é brinquedo,
Onde quer que enfie o dedo,
Não escapa nem tatu

O soldado não tem nada a ver com política.
É duro e treinado pra guerra,
Portanto, aqui deixo uma dica:
Bom cabrito não berra!

Sem general não se faz revolução.
Hoje, já andam pedindo continência;
E cuidado: pois por mera coincidência;
Tem um da família Mourão.