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sexta-feira, 31 de outubro de 2025

LEGO DISPERSO




Parece vaga a sonoplastia da guerra;
Distante, sem norte, aleatória, Um mundo onde a parte que cresce, E grande parte que se faz, Tem gosto e cheiro de morte.
Seres sem glória, de alma tóxica; Próximos fantasmas, Da face autofágica que padece, E se parte entre espasmos e preces, Triste, democrática e trágica. Cenário sujo de negro e cinza, E de iguais ruídos grisalhos.  Chão de plasmas intransfusos; Sangues tisnados, confusos Forjados na métrica do malho. Fator irmão, de mesmo Deus, De herança genética fragmentada
Formam polos teimosos de rancor; 
Que não são vagos nem distantes;
Que brotam entre nós a cada instante,
Mas a dor, que pulsa, mal sofremos.

Os cacos que se juntam não se ajustam, E o lego que era lógico se perdeu

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

ROMY SCHNEIDER

 


Rosemarie Magdalena Albach, nasceu na Áustria e morreu na França, aos 43 aninhos. Finou-se de dor e carência de estima. Está sepultada junto do filho David, morto aos 14 anos, com uma seta de portão espetada no peito, quando tentava pular um muro, um ano antes da morte dela.

Rosemarie, ou Romy Schneider tornou-se uma das damas do cinema dos anos 60/70, após dura batalha para descolar de si a personagem da mimosa imperatriz da trilogia Sissi. Formou com Alain Delon um dos casais ícones, nas telas e fora delas, por tudo o que representavam para a época, de glamour e beleza física.
Tinha um olhar encantador, de olhos únicos, meio mongólicos, da cor incerta do mar e de expressões variadas de acordo com o momento. Assim como o mar. Dos filmes, "O processo", do romance de Kafka, e "O assassinato de Trotsky" são ótimos e vale muito a pena serem vistos.
"A piscina", de 1969, também é bom, e tem um significa muito especial. Delon e Romy estavam divorciados havia seis anos, e ela estava casada com Harry Meyen. Algo deve ter acontecido nos bastidores durante as gravações que desagradou profundamente o marido dela. Tanto que, um tempo depois, divorciou-se. E mais adiante divorciou-se radicalmente também da vida, enforcando-se.
Consta que Romy jamais tenha elaborado o "pé" que levou de Delon. Acabou ficando mais depressiva após o suicídio do ex-marido, e desintegrou-se como gente com a trágica morte do filho adolescente. Ela já tinha retirado um rim, mas não abria mão dos coquetéis fatais de álcool e estimulantes. Matou-se assim, cedo demais e aos poucos, antes que o tempo fizesse a sua maquiagem macabra.
"A piscina" é um bom filme, e representativo pelas intercorrências que causou. E marca também a estreia de Jane Birkin. Aquela que depois foi gemer com a icônica "Je T'aime Moi Non Plus" junto a Serge Gainsbourg,

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

A CHAVE DE SARAH

Julia Armond ( Kristin Scott Thomas ) é uma jornalista americana, que vive em Paris com o marido francês e uma filha adolescente. Recebe a tarefa de seus editores de escrever uma matéria sobre a segunda guerra, enfiando o dedo na ferida da pátria, trazendo a furo o fato de que muitos franceses, em 1942, colaboraram com a ocupação nazista.
Coincidentemente, seu marido recebe como herança, um apartamento que, no período da guerra, abrigou uma história trágica. A casa pertencia à familia de Sarah, uma menina de 10 anos que vivia com os pais e um irmãozinho e que, por serem judeus, foram enviados aos campos de exterminio. Quando a polícia chegou, Sarah chaveia o menino em um armário, e não descansou enquanto não conseguiu fugir para libertá-lo. A chave se torna amuleto e grilhão.
Sarah cresceu, sendo acolhida clandestinamente por uma família francesa, mas com os demônios da infância arrastando correntes em sua consciência. Quando completa 18 anos, muda-se para a América. Deixa um bilhete carinhoso e só volta a contatar a família benfeitora quando, tempos depois, dá conta de que está bem, casada e com um filho.
Julia, que por muitos anos tentara uma nova gravidez sem sucesso, acaba engravidando e enfrenta o nariz torcido do marido, de quem se divorcia. Torna-se obsessiva pela história e sai a caça de seus personagens ainda vivos. Publica sua matéria, mas ainda há coisas para descobrir. E encontra o saldo da vida de Sarah: seu filho William (Aidan Quinn). com quem tem uma primeira conversa desastrada, uma vez que o filho desconhecia o passado da mãe. Dois anos depois, Willian, já de posse da outra parte da história da mãe, consegue reunir-se com Julia, que vai ao seu encontro levando a filhinha.
Paro por aqui porque já cortei mais da metade do que tinha escrito sobre esse filme. Fiquei muito tocado, a ponto de vê-lo duas vezes no mesmo dia. 𝐎 𝐟𝐢𝐧𝐚𝐥 é 𝐚𝐩𝐨𝐭𝐞ó𝐭𝐢𝐜𝐨. 𝐀𝐬 𝐟𝐚𝐥𝐚𝐬, 𝐨 𝐫𝐞𝐬𝐮𝐥𝐭𝐚𝐝𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐦𝐢𝐬𝐭𝐮𝐫𝐚 𝐚 𝐨𝐛𝐬𝐞𝐬𝐬ã𝐨 𝐝𝐚 𝐣𝐨𝐫𝐧𝐚𝐥𝐢𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐨 𝐚𝐦𝐨𝐫 𝐝𝐞 𝐦ã𝐞, 𝐞 𝐚 𝐢𝐦𝐚𝐠𝐞𝐦 𝐟𝐢𝐧𝐚𝐥 é 𝐝𝐞 𝐮𝐦𝐚 𝐬𝐞𝐧𝐬𝐢𝐛𝐢𝐥𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐟𝐨𝐫𝐚 𝐝𝐞 𝐩𝐚𝐝𝐫ã𝐨 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐨 𝐦𝐨𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐞𝐦 𝐪𝐮𝐞 𝐯𝐢𝐯𝐞𝐦𝐨𝐬.
Não percam!.

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

CLAIR

 A música é linda e muito especial. Carrega, no entanto, uma história triste que, de tanto ser explicada pelo autor, acabou se tornando ainda mais perturbadora.

Clair era uma menina de 3 anos, em 1972, filha de Gordon Mills, produtor de Gilbert O'Sullivan e muito amigos. Mas, amigos amigos, negócios à parte. Os parceiros acabaram brigando pelos direitos do portfólio do artista, se separaram, e os assassinos de reputação, presentes desde a primeira mordida na maçã, emplacaram em Gilbert, cujo nome é Raymund O'Sullivan (Ray), o selo de pedófilo, em função da letra da música.
Olhando por esse viés, é claro que a letra se torna perturbadora, mas quando composta "tio Ray" era um amigo muito próximo da família, e encantado com as proezas verbais da pequena Clair.
Clair, hoje uma senhora de meia idade, ao que parece, acabou tirando de letra essa canalhice, uma vez que em um show de 2010, subiu ao palco com tio Ray para cantar a sua música.
A despeito de tudo, curto muito essa música, que me traz à lembrança um barzinho de Porto Alegre chamado Tívoli, e o povo que vivia nele e dele.


domingo, 14 de setembro de 2025

GRACE KELLY

 



"Alcancei grande sucesso no exterior devido não somente aos meus recursos como futebolista nato, mas também por outras circunstâncias, oriundas quem sabe da minha personalidade original, de minha maneira fidalga dentro e fora do gramado e talvez, segundo a opinião das mulheres, pela minha postura de atleta galã. Aliás, dizem que o público feminino começou a frequentar estádios para admirar minhas belas pernas.” Yeso Amalfi. Brasileiro, jogador do São Paulo da década de 40, que fez grande sucesso na Europa, em especial na França, onde ficou conhecido como "Deus do estádio". 

Para saber com quem estão lidando, vô Yeso "deu uns pegas" em nada menos que Brigitte Bardot e Sophia Loren, entre várias outras, a época das categorias de base, mas que depois subiram aos céus Hollywoodianos. Yeso teve uma vida encantadora (morreu em 2014) e é uma personalidade que vale a pena ser pesquisada. Mas por que estou fazendo referência a ele hoje? Simples: foi ele quem tornou Rainier II, de Mônaco, um príncipe consorte (bota sorte nisso!). E hoje, 14/09, em 1982, a estrela foi juntar-se às Três Marias lá em cima, viuvando Rainier. A nós, já tinha viuvado em 1956.


Vô Yeso apresentou sua amiga Grace Kelly ao Rainier, e o resto da história todos sabem. Grace deixou as telas com apenas 26 anos para ser princesa, e um acervo de 11 filmes, os maiores e mais bem votados do gordinho Hitchcock, que vez por outra dou uma visitada. Viveu nas telas o suficiente para se tornar mito. 

Linda Grace! Modelo de elegância e classe, e inspiração de uma ou duas gerações de moçoilas suspirantes. Ave!

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

CURTINDO A VIDA ADOIDADO


 

'Life moves pretty fast. If you don't stop and look around once in a while, you could miss it.' ('A vida se move muito rápido. Se você não parar e olhar ao redor de vez em quando, pode perder). - Ferris Bueller.

Ferris Bueller é o hoje sexagenário Matthew Broderick, e a frase do personagem é do filme "Curtindo a vida adoidado". É o melhor filme do gênero adolescente, sem dúvida alguma.
Não sei quantas vezes o assisti, no caso como envelhescente. E quase sempre sábado à tarde, quando quero dar uma viajada ao universo paralelo que carrego no cérebro. Um paradoxo temporal sem a necessidade de mudar nada. Só pela viagem mesmo. E pipoca, mate ou cerveja.
É impossível não se comover, porque aquela gurizada são os os veteranos de hoje. Foi gravado em 1986, ambientado na própria época, mas se tivesse sido rodado vinte anos anos antes, estaria no tempo adequado. É daqueles filmes que vamos morrer aguardando uma sequência.
E mais: "Twist and shout", para quem é Beatlemaníaco quer dizer isso mesmo. É a vontade pela tradução literal "Agitamos e gritamos". A música é de Phil Medley e Bert Russell, gravada originalmente por The Top Notes, em 1960, mas explodiu com os guris de Liverpool, em 67. Tem cenas absolutamente marcantes, como a da gurizada nacionalista cantando e dançando na rua, festejando a vida ao som dos ícones da "invasão britânica".

"O envelhecimento afeta a percepção e representação neural subcortical, da harmonia musical, e assim deixamos de gostar de novas músicas". Quem disse isso foi a doutora Cristiane Rocha, que não conheço, mas voto na íntegra com a eminente relatora. Faz parte do conjunto das nossas paixões que, embora continuem vivas, são afetadas pela idade. O que era incandescente vai ficando morno, o que era preto vai branqueando e caindo e, bueno...
Quando estiver por aí, al pedo, abichornado, atravancado ou atravancando, assista. Volte lá na origem de tudo. É um filme para assistir de pé, ensaiando os passinhos de ontem, com moderação. Faz um bem enorme.


02/11




No dia 02/11 eu olhava para trás, buscando vestígios partidos. O que via, nada mais era que um vácuo carregado de nuvens de dor. Com o tempo essa nebulosidade foi esmaecendo, suavizando, e os focos de lembrança partidas adormeceram no cinza da memória. Estão lá, como fotos de cabeceira que guardam, além de imagens, carinho.

No retrovisor não havia mais nada, e por uma razão óbvia: estava tudo dentro de mim. Bastava um passeio por dentro para visitar a saudade que, também com o tempo, teve aparadas suas bordas doloridas. E de saudades, ah, disso eu entendo. Em determinado momento percebi que saudade é coisa boa e a gente não mata, apenas realimenta.
Afetos não morrem. Eles são como os livros, somente a parte que escreve se vai, a outra se eterniza na estante para ser sempre vista e cultuada. Pais, mães, irmãos e demais familiares únicos e imprescindíveis estarão sempre na primeira prateleira. E também por dentro estão outros entes queridos, também insubstituíveis, e partes das vidas que eu perdi, cuja matéria se desfez, mas a alma está lá, na mesma estante, na prateleira da linha dos olhos.

É um dia duro, de lembranças e saudades. E também de inconformidades por algum mal que se fez ou por um bem que se deixou de fazer. Se fez, desfaça, se não fez, a hora é agora. Acredite: sentir saudades, ainda que desperdiçadas, é melhor do que matar lembranças doloridas. E agradeça a Deus por ainda ter tempo de fazer isso.

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

SUITE FRANCESA



O título é extremamente atraente e, embora choque com o tema, se insere bem na contexto criado para a obra, e no clima entre os personagens principais. O pano de fundo é a segunda guerra mundial, ano 1940.

Uma família francesa rica é obrigada a hospedar o oficial alemão, Bruno (Matthias Schoenaerts), um sujeito refinado, romântico, que demonstra desconforto com a farda, mas é ciente do dever. Lucille, a mocinha, mora com a sogra controladora, enquanto o marido está no front e a gente não sabe de quem se trata, uma vez que não dá as caras no filme.
Demora um segundo para Bruno sentir-se atraído por Michelle. A recíproca demora um pouco mais, mas é inevitável. E vivem por alguns meses uma discreta, mas intensa, história de amor. Na guerra, porém, há pouco espaço para o amor, e nada de espaço para amor entre antagonistas. Mas amor é amor. Rompe fronteiras, quebra convicções e gera sacrifícios, nem sempre compensados.
Michelle Willians, a Lucille, é uma atriz que parece ter um talento especial para o sofrimento. Sustenta muito bem a carga dramática, e é o expoente do filme, com uma atuação tão boa que a gente não se dá conta de que a sogra é a maravilhosa Kristin Scott Thomas, e muito mais maravilhosa ainda, fazendo apenas um biquinho pra lá de desnecessário, está a usina geradora de suspiros Margot Robbie.
Um bom filme, que Lucille nos conta em playback, vivendo longe do foco trágico dos acontecimentos, e depois que a França retomou a posse do território.

terça-feira, 26 de agosto de 2025

YESTERDAY - UMA TRILHA DE SUCESSO

 


"Rebecca, a mulher inesquecível", de 2020, uma releitura de mesmo nome do rodado em 1940, um filme de Hitchcock, me fez gravar um nome: Lily James. E quando gosto de algum artista novo, saio a cata de filmes em que estejam presentes. Esbarrei em um: "Yesterday - uma trilha de sucesso". Ora, ao menor sinal da palavra Beatles, peço que parem as rotativas para que eu encontre uma chamada forte para a realidade.

Esse filme (Netflix e Prime video) é a cara dos filmes rodados pelos quatro cavaleiros do apocalipse pop. Dinâmico, juvenil, um humorzinho duas quadras pra lá de sem graça, mas uma trilha sonora... Bueno, quando se trata de Beatles a gente não assisti, ouve.

A trama se desenvolve a partir de um bug; um apagão global, onde um músico inexpressivo descobre que só ele lembra da existência dos Beatles. Quando começa a desfilar o aquele repertório inesquecível como se fosse seu, por óbvio, vira pop star. Até que a consciência e uma dentucinha charmosa e inocentemente sensual o façam repensar e recompor a verdade. Ajudado também por um casal de veteranos, que como ele também escapou do bug e conhecem a verdade.

O imaginário da direção cria um John Lennon, então com 78 anos, aposentado e vivendo na praia. Um apêndice desnecessário, que incrivelmente consegue ficar fora de contexto. Lennon fora de contexto em um filme dos Beatles!

Ao humor sem graça junte-se a falta de carisma do personagem principal e a inexistência de química entre o casal protagonista. Lily é areia demais para a caçambinha do Patel. Ela é bem isso, embora nesse filme só pareça a metade: uma carinha de anjos, um deles caído.

Fora isso, gostei do que ouvi.

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

AMOR E OUTRAS DROGAS




É um filme que dança entre a comédia romântica e dramas pessoais, que envolvem uma doença importante e sem cura, o Parkinson.

No contexto, entra um malandro, de boa família e desgarrado, que trocou a faculdade de medicina pela várzea, acostumado a passar o rodo no time feminino do lugar. Até que encontra uma parceria à altura. Um morena linda, viciada em sexo casual, cujo objetivo único é fazer o tempo passar, da melhor maneira possível e sem compromissos, enquanto as sequelas da doença não a chamam para o terço final.
Anne Hathaway é fabulosa. Linda, charmosa, que empresta aos seus papéis total autenticidade. Faz par com Jake Gyllenhaal, que é bom, mas de algumas prateleiras abaixo. No entanto se encaixam muito bem na trama, com boa química e valorizam o filme. Há várias cenas picantes, porém, de muito bom gosto e devidamente contextualizadas. Sem apelos.
Jamie (Jack) tornar-se vendedor de laboratório, depois de ser demitido de uma loja de eletrônicos, ao ser flagrado transando com uma colega de trabalho. Em uma visita médica conhece Maggie (Anne), rainha das comorbidades, usuária de coquetéis pesados como Prozac, Zoloft e Xanax, entre outros.
E assim começa a saga de um malandro que, ao fim, amadurece com o amor, e se dispõe a viver pelo presente.
Há no filme um enfoque histórico da indústria farmacêutica, que é o lançamento do Viagra, que faz o sucesso profissional do personagem.
Um filme de 2010, muito bom de assistir, que está o Netflix.

terça-feira, 19 de agosto de 2025

A FILHA DO GENERAL

 

A gurizada que amava os Beatles e os Rolling Stones abriu uma brecha no final dos anos 70 para os embalos de sábado a noite, com os Bee Gees e uma série de cantores e bandas fantásticas do disc music. E dançou com Travolta e Olivia Newton-John! Mas Travolta foi adiante. Mostrou que também é bom fora das pistas e faz uma consistente carreira cinematográfica.
"A filha do general" é um exemplo. Um thriller psicológico de 1999, que tem na parceria o poço de sensualidade chamado Madeleine Stowe. Madeleine sozinha enfeita a tela, é perturbadora! Na trama, o agente Paul Brenner (Travolta) disfarçado, tenta desvendar uma operação de tráfico de armas dentro da unidade militar. No entanto, o cenário criminoso amplia seu espectro, quando a capitã Campbell, filha de um general, é encontrada supostamente estuprada, provavelmente estupro coletivo, e morta na base que é de alta segurança, e exposta de forma desumana. Nem o estilo de vida secreto da capitã justificaria tanta violência.

O código de ética criminoso faz com que o agente Paul encontre intransponíveis barreiras de silêncio. Então entra em cena Sara (Stowe), uma agente especializada em crimes sexuais, com quem havia tido um "rolo" antigo. E o que era para ser apenas um crime brutal e revoltante, era bem mais do que isso. Os fatos mergulham em segredos varridos para os cantos, chantagens, vendetas e traições, que comprometem muita gente, inclusive altas patentes do exército.

É um filme tenso, de cenas fortes e muito bem desenvolvido e de desenlace surpreendente, apesar da crítica especializada não ter achado tudo isso. E eu com eles! A trilha sonora, múltipla e variada, ambienta muito bem o cenário

Aproveitem enquanto o Netflix não arquiva.

domingo, 17 de agosto de 2025

A MEIA CALÇA



Não acho que descobrir o nome da pessoa que inventou a meia-calça de nylon vá mudar o preço da gasolina, baixar o dólar, assustar o Putin ou simplesmente mudar o humor de alguém. Mas talvez seja legal saber o porque a gente chama de "gata" uma mulher linda.

Pois a origem vem da gastíssima Julie Newmar, a primeira mulher-gato que, com um rosto lindo e uma carcaça escultural distribuída em 1,80m, que o Criador deve ter largado entre nós, a fim de propagandear "a imagem e semelhança", faria inveja às meninas trabalhadas em procedimentos e filtros de hoje. Julie habitou nossos sonhos juvenis nos anos 60, especificamente enquanto arranhava o Batman. Apesar da plástica privilegiada e algum talento, sua grande participação nas telas foi na telinha, como mulher-gato. 

Julie ainda anda entre nós. Vive em Fort Worth, Texas, já tendo assoprado mais de 90 velinhas. Lida com comorbidades sérias e, apesar do sobrenome de quase craque, dá para ver que não é fácil de ser derrubada.

Ela é a inventora da meia-calça Nudemar,  projetada para dar aos glúteos uma aparência mais arredondada. Julie patenteou no anos 70 e a descreveu como tendo "alívio atrevido no traseiro". 

Essa Julinha...

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

AMORES MATERIALISTAS




Dakota Johnsonf foi elevada à condição de sex symbol da modernidade, a partir de sua escalada de submissões em "50 tons de cinza" e sequências. É linda, charmosa, tem sex appeal e talento, provavelmente vindo do sangue, já que é filha e neta de artistas. Isso faz com que qualquer filme com ela seja atrativo.

Em "Amores materialistas", ela é o centro do filme. Abusa da voz monocórdica e sussurrante, o que contrapõe um pouco a ausência de sexualidade da trama. Não é do que se trata. Não há nem uma química mais apurada entre ela e os personagens masculinos, Chris Evans e Pedro Pascal, o primeiro seu amor pobre, de boas e muito más lembranças, e o outro a realização do sonho de ser rica e riscar para sempre a vida passada.
Lucy (Dakota), é uma casamenteira de sucesso que, ao ver frustrado um dos seus processos, deixa fluir sua própria frustração na vida amorosa, que quer negar. É o momento em que o enredo tenta levar o espectador a reflexões mais profundas sobre o relacionamentos e não consegue. A água é rasa e a superficialidade inevitável. Deixa, no entanto, boas mensagens sobre valores sociais e humanos.
É um filme bonito, com uma trilha sonora de muito respeito (destaco Sweet caroline- Neil Diamond), levemente romântico, muito longe de ser uma comédia e morno. A propaganda, fortemente alicerçada no elenco, é bem mais do que a obra entrega.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

TERRA SANTA

 

Por longo que tenha sido o caminho percorrido;
Que incontáveis aventuras que eu tenha vivido;
E nem por trinta e três de envido,
Minhas lembranças se perdem dos faróis.

Não troco o lambuzo dos primeiros lençóis,
Na formação dos pubianos caracóis.
Não esqueço o samba na quadra dos Rouxinóis,
Dos surdos, tamborins e atabaques.

Não troco lembrar as gurias de eslaques,
O charme soberbo da Dora Jacques;
Das luzinhas vermelhas de poucos watts;
Dos mistérios da Pata Moura e outras tantas.

Em Uruguaiana o processo vital se decanta.
Uma energia nova sempre me imanta,
Por isso apelidei de Terra Santa,
Onde o gelo junto nos tempos se derrete.

Lá deixei meu jeito de fazer esquete
Brinquei, namorei, dancei, joguei confete
Aprendi o pouco que sei sobre basquete
E o quanto o esporte produz parceiros.

Dê-lhe boca, basqueteiros!
A gente sonha um ano inteiro
Por esse encontro que passa tão ligeiro,
Do grupo que me orgulho de ser membro.

Aqui reviro baús do que me lembro.
São sempre os mesmos contos que desmembro,
Que de novo serão novas em setembro.
E que começo a contar em maio.

Amigos queridos deste velho lacaio:
Com uma espora sem roseta, outra sem papagaio
Saibam que estou pronto, deste solo quase paraguaio.
Vou, mas por enquanto me aquieto. Canto flor... E saio.

SOB O MESMO CÉU




Não tenho grandes expectativas com filmes desse tema, mas se me proponho a assistir dou a atenção devida. E assisti mais pelo elenco, que é composto pela carinha doce de Rachel McAdams, a oscarizada Emma Stone com sua cabeleira vermelha e os dois fuzis verdes que carrega entre os cílios, e um dos queridinhos atuais da academia Bradley Cooper, e mais alguns pesos pesados da velha guarda.

É um filme levezinho, uma quase comédia quase romântica, que conta a história de um piloto talentoso e aposentado jogado na sarjeta, busca recuperar sua vida no Havaí, onde deixou marcas sentimentais profundas. Um ex-amor, ora casada com um colega, que formam uma linda família, tem mágoas de abandono passado e uma revelação capaz de transformar a vida de qualquer um.

E no meio do turbilhão, surge uma colega de armas, linda e desafiadora, que muda o curso da história. Não estranhe se Ng, a colega de armas, é uma havaiana ruiva e de olhos verdes. Mas talvez isso explique a baixa desenvoltura de Emma no papel. Um pouco caricato.

O pano de fundo do romance mostra algumas movimentações políticas na ilha, possessão americana, a ganância extremada dos donos do capital, e a insatisfação dos nativos sobre um novo projeto, mais criminoso do que parece e do qual o mocinho está na linha de frente. Parte da doçura do filme está com Danielle Rose, a filha da família linda.

Quer terminar uma semana com afagos no coração e sorrindo? Assista, mas sem grandes expectativas. Está no Netflix.


quarta-feira, 13 de agosto de 2025

BORBOLETA NEGRA




O sonho de qualquer escritor é adormecer e acordar com uma obra pronta na cabeça. Borboleta negra diz um pouco disso, trazendo um tema intrigante e um roteiro perfeitamente adequado. Entretanto, é um filme em que se faz necessário, depois do final, voltar e rever os primeiros momentos. Sem isso, vai restar uma dúvida enorme e insolúvel. Ou adote Allan Poe: "Não acredite em nada do que você ouve e em metade do que você vê", preste muita atenção e só sirva o vinho depois de cinco minutos.
De acordo com a segunda teoria freudiana, o ID tem um lado inconsciente, primitivo e atávico, e outro lado mais consciente adquirido pela rudeza da vivência. Nesse filme, lotado de simbolismo (a borboleta negra, segundo mitologia japonesa, tem o viés de interface com a eternidade), tudo acontece como em um sonho. Um sonho onde o ID se revolta contra um ego frustrado, bate tanto (literalmente!) que acorda o personagem central daquele estágio mórbido que muitos de nós, metidos a escriba, temos: o bloqueio criativo. Ele começa o filme admitindo, tanto que escreve, que está preso. E o sonho o liberta.
As cenas iniciais parecem desconexas. Procuram-se pessoas assassinadas que provavelmente jamais serão encontradas; um criminoso desconhecido que pode ser fulano ou beltrano; ou nenhum deles, e situações de violência bizarras e incompreensíveis, bem como acontece nos sonhos no modo pesadelo. Até que, enfim, o escritor desperta com a obra pronta.
Gostei do filme, mas assisti uma vez e meia para entender. Antonio Bandeiras é a grife, mas a aula fica por conta de Jonathan Rhys

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

REGRAS DA VIDA




Assisti a esse filme, muito em função do elenco, e porque nesse dia, Charlize estava de aniversário. Não tinha muita mídia e a crítica ficava ente os 170km que separam San Juan e Mendoza. Meio lá, meio cá. E tive uma bela surpresa! Um filme de muitas emoções, boas lições e uma bela fotografia noir em tempos de guerra. Aliás, em determinado momento do filme, há uma fotografia espetacular protagonizada pela aniversariante. Charlize é uma esfinge sul-africana, construída por blocos de diamante.
"Regras da Vida" ou "The cider house rules", de 1999, tem alguma pieguice, muita crueza em situações cruciais da vida, como incesto e aborto, inocência e solidariedade. Tobey Maguire, é Homer, um menino criado em orfanato, como se fosse filho do seu mentor, dr. Wilbur (Michael Caine), que a ele ensina tudo relativo a profissão de médico, com uma especialidade sinistra: aborto. Mas Homer quer conhecer o mundo, e o mundo chega a ele trazido pela mão do anjo caído: Candy (Charlize). E o inocente Homer se vai ao mundo levando na bagagem toda pureza e honestidade que aprendeu. Mas deveria ter levado também consigo a frase do seu homônimo Simpson: "Qual é o propósito de sair? Nós vamos voltar para cá de qualquer jeito".
O filme cumpre muito bem o papel de entreter do início ao fim. Apesar de focar em uma época mais lerda do tempo, tem uma levada dinâmica, reserva também alguma tensão, um pouco de humor, uma aula de Michael Caine e a tradicional atuação morna de Maguire. Dizem que aquela carinha de abostado foi fundamente para sua indicação ao papel de Homem-aranha. Há uma lição quase subjetiva, mas que vale uma grande atenção: quem faz as regras é quem vive no lugar.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

FACES DA VERDADE




É um filme sobre ética jornalística, onde valores pessoais sobrepõem aos profissionais. Gostei. Bem desenvolvido, com atuações marcantes de Elizabeth Beckinsale, Matt Damon, Vera Farmiga e do veterano Alan Alda, célebre e premiadíssimo, protagonista da maravilhosa série M*A*S*H, dos anos 70. Esse quarteto faz o filme.


Cai no colo de Rachel Armstrong (Kate), uma repórter que escreve sobre política,
por uma graça divina ou diabólica, e de uma fonte inocente, uma informação bombástica, capaz de mexer com a estrutura da inteligência americana. Também de uma forma ocasional, consegue confirmar a informação por outra fonte. É o sonho de qualquer jornalista. Um furo que alavanca a carreira e no caso americano, a inevitável e cobiçada inscrição ao Prêmio Pulitzer. Mas há os riscos de uma informação grave, e a partir dela, Kate começa a cavar o seu futuro.

A ética jornalística dá ao profissional o direito de preservar a fonte, conforme a constituição. Mas ela, a constituição, tanto lá como cá, deixa brechas para empoderar o autoritarismo, e a pressão governamental se vai ao absurdo. Kate é instada a revelar a fonte, por uma questão de segurança nacional, mas não cede e tem seu destino amargado pela lealdade. Essa lealdade é coroada com a frase de seu advogado (Alda) que diz em júri "eu vim defender uma pessoa, não um princípio, mas para pessoas grandiosas não há diferença entre a pessoa e os princípios". Uma frase que sai do filme para a vida. A fonte original, a pessoa que inocentemente deu a informação a Kate, a gente só descobre no último ato, e é o que mais engrandece o personagem, uma vez que abre mão de sua liberdade e parte de sua vida por princípios.

Um filme que prende do início ao fim vai para a prateleira dos imperdíveis.

terça-feira, 22 de julho de 2025

ARRITMIA

 




terça-feira, 15 de julho de 2025

MILAN KUNDERA


 

A juventude dos anos 70/80 vinha da ressaca transformadora da década anterior. Passou a uma fase a viagens introspectivas e a fincar bandeira, se não em gurus, em referenciais filosóficos. De Khalil Gibran a Vinicius de Moraes; de Michel Foucault, talvez para o entendimento de pensamentos mais rígidos e prevenir-se deles, a Manuel Jacinto Coelho e seu interminável Universo em desencanto.

Mas houve um que preencheu todas os espaços, e que nos deixou em 2023, aos 94 anos: Milan Kundera.

Dizem que Milan foi um transformador com a sua arte de escrever. Não sei avaliar isso. Sei que foi um ícone de pódium para quem gosta de leituras criativas e viagens profundas, algumas sem volta, bem como orienta sua influência literária que foi de Nietzsche a Kafka, entre vários outros pesos pesados das artes e da literaturaDele me busquei e me encontrei nos contos de "Risíveis amores", não pela temática sexual, ou não só por ela, mas pela robustez do que se insere nas entrelinhas da sexualidade.

Dias desses revi o filme "A insustentável leveza do ser", com Daniel Day Lewis e Julliete Binoche, baseado na obra homônima de Milan que, comparada ao livro deixa muitas frustrações, o que é normal. Ninguém adapta roteiros melhor do que nós mesmos introjetados nas histórias. 

Decolou rumo ao infinito como Aznavour, aos 94 anos e com isso, desconfio que essa seja a idade em que as estrelas daqui vão brilhar lá em cima.