... Certo perdeste o senso! (Olavo Bilac)
Há ouvidos capazes de ouvir estrelas. Especialmente uma que
cintilou um dia como Dalva; brilhou num universo de esperanças, foi portadora
de sonhos e iluminou por muito as grandes maiorias então caladas. Mas dela
pouco restou além da forma e a maneira de plantar verdades.
Ela nada mais tem sido que o velho e combatido populismo nas
querelas de antanho, hoje grife de um homem que passou a ser desconhecido por
muitos. Basta que se compare falas, fatos e fotos; se perceba seus novos
discursos cuspidos e o líquido
percolado que deixou escorrer atrás de si. Um homem que ainda mantém a ordenação das vontades companheiras;
o poder das bolsas pobres em nichos pontuais; a batuta competente e sinistra
dos bastidores onde rege a orquestra dos iludidos eleitores do
assistencialismo. O dono da estrela.
Messianismo puro, antes detratado. Liderança fundamentalista que
cega e ensurdece. Induz a ouvir uma única toada e ver o único corpo celeste com
o qual conversa. Doce como o veneno mais traiçoeiro: Lula-lá, brilha uma estrela,
Lula-lá.... Como disse o
poeta, só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e entender estrelas. Ou
cegar-se por elas.
Nada parece abalar esse brilho de luz carmin, como o das velhas
tascas. Não por acaso, portanto, há por trás disso uma camarilha de cafetões a
copular com a nossa sorte e a manter seduzida esta legião de convictos, que
sustentam seu ícone no mesmo e até o momento inabalável percentual indicativo
de, no mínimo, segundo turno em qualquer eleição majoritária. O partido que
engrossa a fileira dos revoltados com Guantánamo se orgulha desse
aprisionamento.
E aqui jaz, amigos que eu mantive, e outros tantos que tenho, mas cujo senso
comum se dispersou, o meu mais constrangido respeito. E pena.
Por ser um desportista e até algum tempo frequentador de estádios,
faço parte de uma comunidade que olha as torcidas como um modelo distorcido e
especial de inconsciente coletivo. E é assim que também vejo os portadores da
bandeira vermelha com estrelinha no meio: não são eleitores, são torcedores. A
despeito do que venha a acontecer com a sigla, dos desmandos e falcatruas que
seus representantes venham praticar, lá estarão eles fiéis e apaixonados, no
entanto, de janela aberta, pálidos de espanto. Tresloucados irmãos que se
importam pouco com a segunda divisão da ética.
Essa parcela de povo acredita ser possível o líder de um grupo não
saber o que possam ter feito seus pares. Temo que chegue o momento em que o próprio
líder, com a consciência em metástase, use o palanque do horário nobre, diga que
sabia de tudo e mostrando seu sorriso de retirante e gesticulando com a mão
desfalcada, se confesse arrependido. Temo pelo eventual resultado das pesquisas
imediatamente posteriores. Prêmio pela sinceridade.
Lula sabe. Impossível que não saiba. Até o Bobota saberia quem é
quem, e quem fez o quê nos bastidores da estrela de cor carmin. Segue,
entretanto, impermeável em sua balada peregrina, ora comparando-se a Jesus, ora
a Abraham
Lincoln. E na condição de estrela, oferece sua luz magnânima aos postes que o
sucedem.
Supernova
é o nome de uma estrela explodida. Mas isso pouco interessa, porque que alguns
continuarão conversando com ela, ainda que se torne um buraco negro.