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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

OS INTOCÁVEIS



- Estão dizendo que vão derrubar a lei seca. O que o senhor vai fazer então?

- Talvez tomar um drink...
E foi nessa baladinha conformista mesmo que acabou a vida do grande Eliot Ness, aos 54 anos: bêbado e pobre. O homem que conseguiu a façanha improvável de prender Al Capone. Bêbado justo ele, carrasco da máfia durante a Lei Seca americana. O rótulo de celebridade mexeu com a cabeça do antes "Intocável" agente Ness, e ele perdeu os freios depois da consagração.
A saga contada sobre sua vida começou com um livro escrito por Oscar Fraley, em 1957, cujo texto aprovado por Eliot e lançado um mês após sua morte, resgatou o lado herói do agente e deu inicio às demais produções (série e filme). Em matéria de produção, no entanto, o herói é muito menos glamoroso que o bandido. O velho Alphonse Gabriel Capone tinha o charme especial de um dos maiores anticristos da história. E no filme com o brilho de Robert De Niro, exibindo todo o cinismo, a prepotência e a crueldade que dizem que o "capo" tinha, além do seu guarda-roupa chique em detalhes.
"Os intocáveis", com a batuta premiada de Brian de Palma, roteiraço muito bem encaixado e trilha sonora de Morricone à altura, é um filme que eu poderia narrar, mesmo sem tê-lo revisto, de tão marcante que é. E um show de interpretação de Sean Connery em sua meia hora de participação, no filme que tem quase duas horas. Meia hora que valeu um Oscar.
Albert H. Wolff, era o "intocável" ainda vivo à época do filme e auxiliou Kevin Costner a compor o personagem de Ness. Embora registros indiquem que o agente não andava armado.

Filmaço

OS BONS COMPANHEIROS



Um filme de fôlego, denso, rude. Um texto sobre a máfia que só é menor como obra que "O poderoso chefão". A meu juízo, fica ao nível de "Os intocáveis".

É narrado por Henry Hill (Ray Liota), cuja aspiração infantil era ser gângster no Brooklyn. Sonho fácil de ser realizado, uma vez que seus heróis eram vizinhos e ofereciam cartilhas práticas diuturnas, com ênfase em alguns procedimentos operacionais padrão que não davam margem a improvisos. Sonho que se tornou real quando, aos 11 anos, caiu nas graças do chefete local James "Jimmy" Conway (De Niro), que praticamente o adota como filho, após ter renegado a família.
Mas não é só Henry que deseja ascender na carreira. Jimmy também quer alcançar postos maiores entre as famílias e, tanto quanto possível, usa da diplomacia para resolver suas pendengas. Porém, à sua sombra cresce a raiz do mal, impetuosa e cruel, destinada ao serviço sujo, o que faz com tanta maestria e veracidade que rendeu ao protagonista de Tommy DeVitto (Joe Pesci) a estatueta de coadjuvante.
O filme retrata uma história real sobre mafiosos denunciados por Henry Hill, que morreu em 2012, aos 69 anos de insuficiência cardíaca. Viveu até onde deu sob proteção de testemunha. Mesmo caso de sua esposa Karen Hill ( no filme representada magistralmente por Lorraine Bracco), bem como seus filhos. Jimmy Conway, na realidade é James Burke, Tommy DeVitto é Thomas DeSimone e Paul Cicero é Paul Vario e segue a lista. Todos operavam sob o guarda-chuva da família Lucchese, de Nova Iorque, condenados e já mortos em função da delação premiada (lá funciona) de Henry. DeSimone foi o que morreu mais cedo, mas este, da mesma forma que viveu: brutalmente.
Por fim, Martin Scorcese,+ Robert deNiro + Joe Pesci resultam em duas certezas: sangue e sucesso. E a trilha sonora é tão maravilhosa, que choca com o contexto e fica parecendo escárnio.

DÉ-JÀ VÚ


 

Paradoxo temporal é uma viagem, uma espécie de endo-turismo, e lidar com isso é tentador. Quem não gostaria, por um lapso miserável de tempo, voltar lá, onde começaram os danos e preveni-los; ou consolidar aquela alegria que ficou empatada e conjugar a juventude no pretérito perfeito? Quem nunca experimentou um dé-jà vu e saiu por aí fazendo teses?

Dé-jà vu é uma palavra exótica, um galicismo. Vem a ser uma amagada da memória em cumplicidade com uma vontade, inexplicável para muitos e explicável para os sonhadores ou crentes. Mas isso é papo para boteco, depois da quinta dose.
O filme "Dé-jà Vu" é sobre isso: uma ficção, a meu ver muito bem feita, em função da "lógica" que se estabelece na trama. Foi realizado em Nova Orleans, em 2006/07, que acabou sendo uma homenagem a recuperação da cidade após a tragédia causada pelo furacão Katrina. Um filme que assisto, ao menos uma vez por ano.
Denzel Washington é um policial comum, intuitivo. É juntado a um programa de governo chamado "Branca de neve", que é uma janela de tempo. que permite retornar a exatos 4 dias, 6 horas, 3 minutos, 45 segundos e 14.5 nanosegundos. A ação proposta é impedir que um ataque terrorista faça o estrago que já fez. E quando nesse coquetel digital entra uma dose generosa de paixão, dobram-se os esforços para que isso se torne possível. Paula Patton valeria o esforço.
Não sou fã de ficção, mas este é especial porque entra em campo na trilha um dé-jà vu meu chamado "Don't Worry Baby", da banda californiana "The Beach Boys", que me remete a momentos apoteóticos. É um grupo dos anos 60, que toca de tudo, até música erudita com arranjos especiais e que ainda anda por aí, o que, de certa forma, justifica a teoria de que da para viver o paradoxo temporal, sem precisar mudar nada.



PATTON


"All right, you sons of bitches. You know how I feel. I'll be proud to lead you wonderful guys in battle anytime, anywhere. That's all". (Tudo certo, seus filhos da puta. Vocês sabem como eu me sinto. Ficarei orgulhoso de liderar caras maravilhosos como vocês para batalha em qualquer hora, em qualquer lugar. Isso é tudo).

Trecho final do discurso do General George S. Patton, em 05/06/1944 para o Terceiro exército, um dia antes do memorável desembarque na costa da Normandia. Codificada como "Operação Netuno", a fase anfíbia, a primeira da "Operação Overlord", que se tornou popular e referência para momentos decisivos como "Dia D".
A fábrica de heróis americana vai muito além da Calçada da fama de Hollywood e das franquias Marvel. Por ser um povo de guerras, nela há lugar cativo para seus generais. São carreiras de bravura, inteligência, estratégia e arrojo. Além de Patton, dividem o pódio colegas de farda e patente como MacArthur e Marcus, entre outros.
Por sua personalidade egocêntrica, Patton, que incrivelmente era poeta, foi amado e odiado, dentro e fora de suas bases. Manteve rivalidades históricas com parceiros generais, em especial com o britânico aliado Montgomery, e botou para correr o grande general alemão Von Rommel, "A raposa do deserto", em sua primeira batalha na Argélia.
"Patton, Rebelde ou herói", de 1970 é um filme biográfico, maravilhoso! Imperdível! Ao todo foram sete Óscares, incluindo melhor ator para o fabuloso George C. Scott, que retrata fielmente a personalidade dura, controvertida, debochada e prepotente desse grande general, descrita em sua biografia. Sem mais detalhes. Quem ainda não assistiu, já passou o "Dia D".
Scott, dizem, só precisou ser George para ser Patton. Não são só as semelhanças físicas que se confundem.
Magnífico!

DIÁRIO DE UMA PAIXÃO



É uma história que nos puxa para dentro. Tanto para dentro do filme, quanto para dentro de nós, nesses endoturismos reflexivos do último terço. Faz com que vivamos um pouco dentro da trama sem que importem clichês ou pieguices. É uma história comum e que poderia ser a nossa.

É um filme que recebeu uma crítica morna, elogios econômicos dos especialistas, mas eu achei maravilhoso. Uma linda historia de convicção no amor e de perseverança. E com um desfecho que talvez seja o segundo fim de caso com a vida desejado, na hierarquia de muitos.
Vida, em resumo, é o que acontece entre o "bom dia" e o "boa noite". Mas nessa história que trespassa os anos, há um bom dia luminoso, de energia juvenil que se interrompe, e uma contagem de tempo até o boa noite terno, resignado e sombrio. Os meninos Ryan Gosling e Rachel McAdams, casalzinho cujo destino é semelhante, não igual, aos de Montecchio e Capuleto, e pelo mesmo sórdido motivo, que enfeitam a primeira fase, estão estupendos. A química foi tanta que a relação rendeu prorrogação e pênaltis para fora do set. E os veteranos James Garner e Gena Rowlands fecham o livro com chave de ouro e algumas fungadas.
Há cenas lindas, como a do beijo na chuva entre os protagonistas. Uma foto que eu colocaria na estante, junto com o trocado na praia entre Burt Lancaster e Debora Kerr, sendo roçados pelas rendas do Pacífico, em "A um passo da eternidade".
O filme é de 2004, e já devo ter assistido umas três ou quatro vezes porque, entre outras coisas, é material para a vida. Como o início da trama se passa em tempos de Segunda Guerra, há uma bela seleção de jazz, onde se destaca o sopro do major Glenn Miller.

Prometem uma sequência desse filme, mas não entendo como. A menos que seja em flashback. Aguardemos.

𝐎 𝐉𝐎𝐆𝐎 𝐃𝐀 𝐈𝐌𝐈𝐓𝐀ÇÃ𝐎"



Alan Mathison Turing foi um matemático, cientista da computação, lógico, criptoanalista, filósofo e biólogo teórico britânico. Um currículo acadêmico e tanto. Mas quem de fato é Turing na fila da vacina?

A Alan Turing, tido como pai da ciência da computação e da inteligência artificial, é creditado o encurtamento da segunda guerra em dois anos, e a salvação de estimadas 14 milhões de vidas, graças a interceptação e decodificação de mensagens criptografadas da inteligência alemã, transmitidas pela "Máquina Enigma".
O filme, de 2014 é um relato biográfico da vida desse gênio, escondido por mais de meio século da humanidade, por segredos de estado e por intolerâncias. Uma obra muito bem feita; um roteiro muito bem adaptado e uma história incrível que resgata aspectos históricos e a insana intolerância, corrigida apenas em 2013 pela rainha Elizabeth. Alan era homossexual, e nos anos 50 havia sido condenado a castração química por isso. "O fato é que todo mundo que toca em um teclado, abrindo uma planilha ou um programa de processamento de texto, está trabalhando em uma encarnação de uma máquina de Turing" Revista Time, 1999, oportunidade em que o considerou uma das 100 pessoas mais importantes do século XX. Enfim, sua biografia faz-lhe justiça. 
É um filme no qual coloco o selo de imperdível. Benedict Cumberbatch, (Dr. Estranho), está soberbo como Alan, arrastando as fichas. Todos os personagens centrais, os gênios do grupo de trabalho que decodificou as mensagens, cinco ao todo, são reais. Com Joan Clark (Keira Knightley), Alan teve um rápido noivado, mas de mentirinha. A la Cauby Peixoto.
Alan morreu aos 41 anos, não se sabe se envenenado, por suicídio ou por acidente.
Bora lá estudar história, gurizada. Com esse filme vale muito a pena.

AUSTRALIA

 



É um filme que divide opiniões do público. Longo, cansativo, por vezes sonolento, mas com ingredientes suficientes para preencher 2:30 de projeção. É o cuidado que têm que ter esses longas metragens que se propõe a contar uma saga humana completa. Aventura, ação, amor, ódio, jogos de interesses, com tempero de guerra, e um passeio consistente sobre os aspectos culturais da locação. Porém, como foi o meu caso, para quem consegue se integrar à trama e ao roteiro, é maravilhoso.

Também foi visto com reservas pela crítica que, apesar de ser bem premiado, deveria ter sido mais. Nicole e Jackman não foram lembrados para as estatuetas. Tudo bem, tinha outros pesos-pesados no Oscar de 2009, mas deixar a trilha sonora de fora é quase uma aberração. Ora, um filme com som de Elton John (The drover's ballad) e a saudosa "Over the rainbow", do "Mágico de Oz" não estar entre os indicados foi uma falha. Trilhas parecem ser uma fixação de Baz Luhrmann, o australiano que produziu e dirigiu a trama. Ele não tem uma filmografia longa, mas tinha feito o musical "Moulin Rouge", tempos atrás, com a também australiana por opção, já que nasceu no Havai, Nicole. Quase um nepotismo.
O filme conta a história de uma emplumada inglesa, milionária, proprietária de uma fazenda na Austrália, que com os sufocos da Segunda Guerra afligindo o Reino Unido, resolve ir ver como estavam as coisas, lá, longe da fumaça das bombas. Chegando lá, se vê segura no pincel. Viúva, o marido fora assassinado, e sem entender patavinas de castração de touro. Então conhece o vaqueiro Hugh. A química entre os protagonistas, apesar das reações refratárias iniciais, é extraordinária. Algo como uma versão de estética perfeita de a bela e a fera. Wolverine se deu bem, e Keith Urban, marido da Nicole, deve ter tremido na base.
Com alguns queijos e botellas de Syrah (na Austrália chamam de Shiraz) que por lá é top de mercado, é uma boa pedida para sábado.

Todas as reações:

𝗔𝗗𝗘𝗨𝗦 À𝗦 𝗜𝗟𝗨𝗦Õ𝗘𝗦.

 


O filme tinha todos os ingredientes para tornar-se um clássico. Fotografia e música espetaculares, um elenco de primeira e a batuta do sr. Vincent Minnelli, já em fim de carreira. Os personagens, Liz Taylor e Richard Burton, duas vezes casados na vida real, reincidentes específicos, portanto. Ele que tinha como hobby, quando queria ser carinhoso com ela, oferecer-lhe não flores, mas joias. Coisa pouca, como o diamante Krupp de 33 quilates, ou a pérola La Pelegrina, a mesma que o Rei Felipe II, da Espanha deu a Maria Tudor, no século XV. Pequenos mimos para ela, segundo o fofo.
Esse filme era para ser algo revolucionário do ponto de vista dos costumes. Um libelo contra o imobilismo e as ideias retardadas e hipócritas da sociedade de então, lá no início dos anos 60. A personagem Laura Reynolds (Liz), uma mãe solteira, libertária convicta, juramentada e praticante, parece ser a mesma Gloria Wandrous do Disque Butterfield 8. Mulheres fortes, lindas e atormentadas, que não conseguem harmonizar seus demônios internos. Já Burton faz um pastor episcopal, casado e quadrado, mas que ao ver aquela imagem semovente, muito mais linda que a costa da Califórnia, caiu de quatro. A fórmula gasta, no entanto, atrapalhou o sucesso do filme.
Além da fotografia, sobra a música ""𝐓𝐡𝐞 𝐬𝐡𝐚𝐝𝐨𝐰 𝐨𝐟 𝐲𝐨𝐮𝐫 𝐬𝐦𝐢𝐥𝐞" – Oscar de 1966, (A sombra do seu sorriso), ou para nós, nominada como no filme, "Adeus às ilusões". É uma poesia musicada; é papo-de-anjo no ouvido; melodia de travesseiro. E esse é o momento em que eu lamento pelos amigos que não viveram a doçura insurreta daqueles tempos.
Essa canção é daquelas que nos faz respirar cachorrinho, ter contrações de cinco em cinco segundos e dilatação de quatro dedos na aorta. Inesquecível, como inesquecível é a Liz, que nos viuvou em 2011, fechando para sempre aquelas duas ventanas que levava no rosto, e que ofereciam a vista para Atlântico e Pacifico em dias de melhor tom de azul, ou verde, ou violeta... Foi quando no sétimo dia, o Velho, já cansado, misturou as palhetas e perdeu a fórmula.

CONTA COMIGO


 

Dizem que juntos, não conseguimos formar um grupo maior do que quatro amigos. Eu falo de amigos, aqueles assim como bem definidos por Franklin, cuja frase me apropriei e repito à exaustão.

"Conta comigo" é sobre isso. Um filme simples, sem luxo, sem musa, sem beijos ou cenas eróticas, e de baixo custo, que venceu todas barreiras com o mais poderoso dos argumentos: a amizade. Na trama, fruto do companheirismo, da pureza e do irresponsável espírito adolescente de quatro meninos: Gordie, Chris, Vernie e Teddy.

Gordie Lachance, o narrador e alter ego de Stephen é escritor, e lembra de uma aventura vivida no verão de 1959, junto com os amigos quando tinham 12 anos. Viviam numa pequena cidade do interior dos EUA e um dia saem em busca do corpo de um jovem sumido na mata.

Tudo é inesquecível nesse filme. A trilha ""𝐒𝐭𝐚𝐧𝐝 𝐛𝐲 𝐌𝐞" pela voz única de Ben E. King comove ainda mais o cenário, e ajuda a buscar um pouco de nós em cada um daqueles moleques.

Revejo a cada 20 de julho por motivos óbvios, mateando e sentindo saudades dos amigos que estão por aí, que vejo quando Deus permite, e dos que já se foram e que verei quando Deus resolver nos reunir. Pero... Despacito, Viejo


𝐀 𝐂𝐀𝐒𝐀 𝐃𝐀 𝐑𝐔𝐒𝐒𝐈𝐀

 



O filme dá meio que um nó no expectador. Nó Górdio! O nosso eterno 007, Sir Sean Connery, no entanto, torna palatável qualquer filme de enredo confuso, em especial se for tipo aqueles que o consagraram: a espionagem. Já sua partner, basta que apareça em cena e, vez por outra, olhe em direção a tela onde estaremos de olhos fixos e pálidos de espanto. Michelle me faz ver o quanto a beleza dói. Dói à proporção de não podermos enclausurá-la. Enfim...

O filme se reporta ao período de implantação e resistência ao Glasnost (transparência) a Perestroika (reconstrução), no tempo de guerra sem canhões, quando a Rússia tentava se libertar de uma vez por todas das amarras vermelhas que escondiam toda a sua beleza e sedução. A trama é quase análoga a maratona pela qual passou Boris Pasternak, para publicar o romance "Doctor Zhivago" que, para que pudesse seguir seu curso e depois ganhar o prêmio Nobel de literatura. Bem a propósito, seus protagonistas são editores, um britânico e uma russa, que tem de se virar para que não sejam hospedados em algum SPA siberiano, tomando sopa de beterraba. Quem não viu, não perca; quem viu sabe que deve ver de novo, e este é o meu caso.
Manés, sintam-se felizes por viverem no mesmo século de Michelle Pfeiffer. E mais: sintam-se felizes por terem vivido no mesmo século que viu se abrir a nefasta Cortina de ferro com blecaute de chumbo e xale de sangue, apesar dos esforços anacrônicos e criminosos para vê-la restaurada. No pasaran! (Vai vendo)

CARTAS PARA JULIETA




Um filme pode ter maus atores, enredo atrapalhado e outros pecadilhos. Mas se deixar uma mensagem legal se salva. E há aqueles que deixam um "queromais" , porque a temática instiga e sobra espaço para desenvolver. Como "Beleza oculta", por exemplo, lindo e frustrante uma vez que faltou recheio para o tamanho do tema.

Mas... "𝗖𝗔𝗥𝗧𝗔𝗦 𝗣𝗔𝗥𝗔 𝗝𝗨𝗟𝗜𝗘𝗧𝗔" , de 2010, é um filmezinho sabor água com açúcar, com notas de frutas secas dos anos 60, e que eu gostei muito de ter assistido. Além de nos transportar para o tempo das mal traçadas linhas, as que deixamos de escrever, aquelas outras que rasgamos antes de enviar e aquelas que escrevemos e que gostaríamos de ter sido o próprio selo, coloca no ar uma questão atormentada. Como esse trecho da carta, mote do filme:
"...'𝑬' 𝒆 ‘𝑺𝑬’ 𝒔ã𝒐 𝒑𝒂𝒍𝒂𝒗𝒓𝒂𝒔 𝒒𝒖𝒆, 𝒑𝒐𝒓 𝒔𝒊, 𝒏ã𝒐 𝒂𝒑𝒓𝒆𝒔𝒆𝒏𝒕𝒂𝒎 𝒏𝒆𝒏𝒉𝒖𝒎𝒂 𝒂𝒎𝒆𝒂ç𝒂. 𝑴𝒂𝒔, 𝒔𝒆 𝒄𝒐𝒍𝒐𝒄𝒂𝒅𝒂𝒔 𝒋𝒖𝒏𝒕𝒂𝒔, 𝒍𝒂𝒅𝒐 𝒂 𝒍𝒂𝒅𝒐, 𝒆𝒍𝒂𝒔 𝒕ê𝒎 𝒐 𝒑𝒐𝒅𝒆𝒓 𝒅𝒆 𝒏𝒐𝒔 𝒂𝒔𝒔𝒐𝒎𝒃𝒓𝒂𝒓 𝒂 𝒗𝒊𝒅𝒂 𝒕𝒐𝒅𝒂. 𝑬 𝒔𝒆… 𝑬 𝒔𝒆… 𝑬 𝒔𝒆…...". Uma evidência clara de que algo importante deixou de ser feito. Ou uma perspectiva futura desafiadora.
E se? Releia sua vida fazendo essa pergunta em parágrafos estratégicos e ouse não se atormentar. Eu tenho infinidades de "e se..."; passei um metro e meio de tempo avaliando perspectivas, mas me conforta o fato de que , "e se" eu tivesse feito tudo diferente do que fiz, e errado menos, não seria eu. Também tem isso.
A trama deste filme é rica em perspectivas. Tem a linda Vanessa Redgrave como porta-estandarte, contracenando com seu marido Franco Nero. Aliás, a história de amor real desse casal também é digna de filme. Ela é Claire, que enviou uma carta chorosa para Julieta, encontrada 50 anos depois pela fofinha Amanda Seyfried, que na oportunidade fazia um tour pela Itália com o noivo deslumbrado e que a gente descobre logo de cara que vai levar um pé. A carta, em meio a milhares, é encontrada no muro das lamentações escritas, em Verona, terra dos Montecchio e dos Capuleto. Sophie (Amanda) abre a carta e não se conforma em apenas responder, muito menos de ficar assombrada a vida toda com um "E se..." pendurado no nada. Então a mocinha parte para ser o elo de duas lindas histórias de amor.
Vanessa Redgreave é uma mulher especial, dessas que falam e escrevem com os olhos. Olhos de azul infinito, indecifráveis e que parecem dizer quase sempre coisas tristes. Suas alegrias parecem contidas, de tal forma que devemos olhar também sua boca, caso queiramos ler um sorriso. Enfim, ela é inglesa. É uma musa da velha e boa safra. Aos 88 anos, traz uma vida rica, seja na arte, seja em ações sociais ou politicas. É uma diva. Dessas que vendem o filme pelo cartaz.
"Cartas para Julieta" me parece uma homenagem a Nero e Redgrave; um tributo a uma relação de amor que se iniciou durante as filmagens de "Camelot", em 1966, que nem sempre foi próxima, mas jamais ausente, uma vez que lá no início criou-se um elo indestrutível: Carlo Nero, filho do casal, nascido em 1969. Os velhos pombos resolveram dividir o mesmo ninho apenas em 2006, com pompas e circunstâncias.

Assista ao filme, depois isole-se e sente para escrever algo que comece com "E se...". Vai lá...Coragem! E não ouse revisar!

BELEZA OCULTA



É um filme que me provocou sentimentos variados. Um baita tema, um bom elenco, uma história sensível, mas... acabei ficando no vácuo. Achei frustrante, em função da expectativa que se cria durante a narrativa. Há tanta coisa para falar sobre o Amor, o Tempo e a Morte... Imagine então vê-las personificadas, agindo como velhas conhecidas! Ora... Poder cobrar do Amor o seu real significado, mais que aprisionar-se a ele; questionar o tempo e sua inexorabilidade, sua infatigável corrida em direção ao fim; e brigar com a morte ou negociar com ela sobre prorrogação e pênaltis... Bah! Há muito pano para manga. Mas enfim, é onde de esconde a beleza colateral que propõe o filme: no imponderável.

Will Smith, no modo abalado e vendo as bochechas do Chris Rock no mundo, é Howard, um profissional de sucesso, desesperado pela perda de sua filhinha de seis anos. Recebe o apoio incondicional de seus colegas de agência, mas uma perda dessas, só quem passa para saber como é. Howard vai ao fundo do poço moralmente e deseja fazê-lo também fisicamente.
É aconselhado a participar de grupos de apoio, mas cadê o ânimo? Tenta algumas vezes e conhece uma pessoa chamada Madeleine (Naomie Harris). Passa então a refletir sobre três entidades que o assombram: Amor, Tempo e Morte. E passa a comunicar-se com elas, através de cartas e depois a vê-las personificadas, nas carcaças de Helen Mirren, Keira Knightley e Jacob Latimore.
É quando a narrativa cambaleia. O contexto inicial prepara o ingresso dessas três entidades na trama, mas elas se esvaem na falta de criatividade ou consistência. Ou apenas materializam essas abstrações, como de fato são: abstrações. Não quero ser mórbido, mas acho que só a Morte se salva (!). Não por coincidência, acho, mas é única capaz de fugir de abstrações, e disso sabemos desde que nascemos.
De qualquer forma é um filme muito bom de ver porque, se não nos responde o irrespondível, nos empurra à profundas reflexões.
É um filme para um tempo meio amargo, reflexivo e para ser visto acompanhado pelo decanter. Mas beba moderadamente, caso contrário, acabará enchendo a caixa de mensagens das três entidades citadas. E você não quer que uma delas, especificamente, responda.

O SEGREDO DOS SEUS OLHOS







Mergulhado em pensamentos e dúvidas, e coberto de impossibilidades, certa vez escrevi um bilhetinho com um pergunta irrespondida: "Que segredo guardam os  teus olhos?". Devo ter escrito, dito ou pensado outras milhares de vezes frases similares a esta, afinal, olhos são feitos para serem lidos e "ouvidos". E há um tempo em que a gente diz essas coisas sem muito cuidado. Tempo em que tudo era para sempre, mas que quase nunca resistia a próxima sexta-feira. 

Às vezes, no entanto, olhos são mudos e ilegíveis. E aí voltamos às nossas impossibilidades, o quando mais conformados melhor.

Então... Alguns anos atrás dei de cara com "O segredo dos seus olhos"! Um filme argentino baseado no livro de Eduardo Sacheri (El secreto de sus ojos - o título em espanhol é de cortar os pulsos), protagonizado pelo grande Ricardo Darin e pela linda, carismática e gran cantante Soledad Villamil.

O filme trata de duas coisas. Fala de um romance escrito com o intuito de desvendar um crime acontecido um quarto de século atrás, e é também a tentativa de resgate de um romance não vivido na mesma época. Ambos são reais e se desvendam. Um com uma descoberta e o outro quando alguém diz: "...Cierra la puerta". Lindo e arrebatado como uma letra e tango!

A trama recebeu Oscar de melhor filme estrangeiro e Soledad também recebeu loas . No entanto, fosse rodado em Hollywood, dirigido por qualquer um dos estrelados hollywoodianos, por certo estaria entre um dos indicados para a estatueta principal. E o portenho Darín, há muito já deveria estar recebendo outros brilhos. Bastaria não torcer para o River. O cara é um monstro.

É imperdível e vez por outra revejo.  
                                 
castelodeguardanapos.blogspot.com

O LADO BOM DA VIDA


O filme chama a atenção por vários motivos. O título "O lado bom da vida" é um clamor diário quase obrigatório que devemos passar a exercitar depois da primeira espreguiçada matinal. Saber que nem tudo passa sob os cascos dos quatro matungos de São João Evangelista que galopam pelo mundo. Tudo na vida tem dois lados, como uma moeda, e é divino quando podemos escolher o melhor. Mas o material é o mesmo, e num zás, o que é assim pode ficar assado. Todo cuidado é pouco, em especial sobre escolhas. 

Além disso, o casal protagonista está no topo da nova geração da indústria: o ótimo Bradley Cooper e a maravilhosa Jennifer Lawrence, cuja atuação nesse filme fez com que, aos 22 aninhos, após tropeçar no vestido e cair na escada, levasse para a prateleira de casa o seu primeiro Oscar. Os pombinhos são amadrinhados pelo decano Robert De Niro.

"O lado bom da vida" é um filme de 2012, que trata de pessoas psicologicamente doentes, com uma visão humana, real e sensível. Gira em torno da jovem viúva Tiffany (Jennifer), que lida com a depressão passando o rodo geral, e um cara de sucesso, Pat Jr (Bradley), que entra em parafuso, faz escolhas erradas e perde tudo: emprego, casa e esposa, e acaba internado em uma clínica. Pat volta para a casa dos pais mediante algumas condições, e com a ideia fixa de reconquistar o que perdeu, em especial a mulher.

E por fim a terapia, onde dois despirocados se encontram no link mais simples e antigo à disposição dos mortais: o amor.

A trilha sonora é especialíssima e para gostos variados. Mas se é para escolher, fico com "My cherie amour", do Stevie Wonder, que mexe comigo, e no filme desperta em Pat Jr os instintos mais primitivos.

Quem não viu, está perdendo. Eu assisto ao menos uma vez por ano, desde que foi lançado.

𝘼𝙇𝙄𝘼𝘿𝙊𝙎

 


O filme conta a história de dois espiões de países aliados, que recebem a incumbência de matar um diplomata nazista no Marrocos, durante a Segunda Guerra. Os agentes devem cumprir alguns protocolos, como simularem ser um casal, e se entrosarem à sociedade marroquina. Mas a gente sabe, até os mariscos da praia de Nazaré, que não tem sossego nunca, muito menos tempo para pensar sabem que, desde a escalação dos protagonistas de como acaba a tal relação simulada. O que ajuda na humanização da crueldade de suas profissões.

Todas as vezes que assisti a "Aliados", sinto os pés na areia, lembrando de "Casablanca". Mesma locação, ambientação na segunda guerra e dois protagonistas charmosos. Não tem como não viajar no clássico dos inesquecíveis Rick Blaine e Ilza Lund Laszlo (Bogart e Bergman) e do velho Dooley Wilson sentado ao piano tocando "As time goes by".

Entretanto, me faz lembrar de outro filme que teve protagonistas de luxo, cenário mágico e uma música maravilhosa, mas que deixa certa frustração, porque o roteiro varia entre o exagero e a falta. "Adeus as ilusões", com Burton e Liz. Aliados cria interrogações desnecessárias, deixa alguns vazios na trama, contando que o elenco poderoso, Brad Pitt e Marion Cotillard (que atriz espetacular!), a musa de "Piaff, um hino ao amor", resolva no talento.

Aliados é um filme bom de assistir. Bonito, tenso e com um final apoteótico, que praticamente paga a obra. Marion , mostrando um figurino premiado, sobra em atuação, ofuscando o bonitão ex da Angelina. E uma trilha sonora de época perfeitamente encaixada.