Tributo a Moacir Bastiani
"De
tudo, ficaram três coisas:
A certeza de que estamos sempre começando...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...
A certeza de que estamos sempre começando...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...
Fernando Sabino
É certo que já nascemos com o objetivo de morrer e o fazemos desde o primeiro choro que nos traz à vida. É certo que
vivemos em busca da longevidade lúcida. Do corpo, muitos de nós judiamos, uma
vez que parece ter os prazeres do mundo o dom da judiação material. É certo que
nunca é chegada a hora de morrer, mesmo para os que estão ali, no partidor da
grande raia, ansiosos pelo “se vieram!”.
Não sei participar de
momentos de dor sem ser protagonista. Não me serve o papel de coadjuvante porque olho ao redor e
vejo braços querendo abraços, cabeças pedindo ombro, ouvidos que ouvem palavras
compungidas, iguais em conteúdo e forma, mas que se esvaem de pronto, pois a
única voz de consolo possível se calou. Resolveria alguém que súbito dissesse: “que susto
hein? Agora vamos acordar”. E os olhos? Os olhos que se intumescem de vermelho
por não conter o aquífero inesgotável bombeado pela alma com a irrespondível
pergunta: "meu Deus, porquê?"
Quando morre um amigo morre um pouco do que
somos. Morre uma tira preciosa dos nossos sonhos pueris de eternidade. São estes sonhos que nos mantêm teimosamente jovens quando toda estrutura
física nos desmente. Por eles encontramos motivos para juntar, vez por outra nossas vidas dispersas,
apenas porque sim. As nossas escolhas e o tempo nos fizeram desiguais. Pouco
temos em comum; pouco
ficou do que fomos na base da existência a não ser eles, os sonhos que sonhamos
de calças curtas.
Não sei ser coadjuvante
de momentos de dor profunda,
porque não me ensinaram a postura da perda conformada. Não nasci para chorar
afetos que morrem. Não sei o que fazer, cubro-me de reticências e
tartamudeio até no teclado. Em dias como este chego em casa, olho meus filhos, lembro
dos mais próximos e rezo, e rezo, buscando a
mais profunda fé que jamais tive para que o calendário do Criador não me negue o
privilégio de partir antes.
Mas e a vida? O que é o
que é meu irmão. Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo. É uma
gota; é um tempo que não dá
um segundo (Gonzaguinha). Pois é. Boa caminhada, meu amigo Moacir. Por certo a
estrada estará mais fácil do que outras que trilhaste. Quanto a luz, tu mesmo
levas.
Jair Portela
Nenhum comentário:
Postar um comentário