Sara era uma empregada dedicada. Mãe solitária, vivia em função da filha que vivia em função de passar e repassar olhares de mormaço aos pequenos galãs arrabaldinos. Mas Sara tinha também suas necessidades, desejos mal disfarçados. Apesar de quase quarenta anos, em tempos que isto era uma idade para deprimir qualquer mulher, não se achava de jogar fora. E talvez não fosse, não lembro.
Guris, (acho que em todas as épocas) na faixa de quinze anos costumavam perceber as representantes do sexo feminino, que não fossem mães, avós e irmãs, como se apenas peludos orifícios fossem. Fontes intermináveis de feromônios, e pouco importava se fossem “resbalosos” ou não. Enfim, pouco mais do que ejaculódromos.
Sara queria “casar bem” a filha. Como todas as mães, lógico e justo. Mas quem estava ao alcance no momento era o Precioso (*). Tecnicamente um bom partido. Bonito, saudável, boa família, com futuro encaminhado face o olhar vigilante dos pais, cabeça privilegiada, etc. Tinha um pequeno senão: o mundo era seu território, Uruguaiana seu quintal. O Criador se quisesse que marcasse hora. Portanto, seus limites não eram demarcados pelas convenções sociais vigentes, ou vontades de outras partes. Os entraves que eventualmente inibiam seus avanços tratava de acordo com seus tamanhos ou graus de dificuldades. Avançava sempre, embora respeitasse alguns nãos definitivos, mesmo não acreditando neles. Acreditava, sim, muito pouco em conselhos e desdenhava relhos, vassouras, chinelos e outros artefatos com que dialogava nas mãos do pai.
Era difícil não gostar do Precioso e com Sara não era diferente. Acompanhara um pedaço de sua meninice, o suficiente, porém, para num tempo curto decidir que mesmo vendo ali um destino melhor para a filha, talvez quisesse poupá-la desse futuro. Entretanto, como gostava muito do Precioso, não ia deixar com que partisse em definitivo para a vida sem ficar com algo dele, afinal dera muito dos seus cuidados de serviçal da família para aquele menino.
Sara tinha suas manias. Após o almoço tirava um cochilo. Precioso, no inicio, ia solertemente espiar a veterana pelas frestas da porta trancada. Num segundo momento, entrava no quarto de porta já então destrancada para olhar de perto o sono pesado da Sara. Depois a olhava ainda mais de perto porque ela já não ia trabalhar de “eslaque”. Passou a trabalhar de saia. Era mais fresquinho, dizia. Num terceiro ou quarto momento, já que estava nas dependências observando dois pares de perna com saia acima do joelho, porque não passar a mão? Como Sara tinha o sono pesado! E se tinha, porque não avançar para o intercurso carnal, mesmo que literalmente nas coxas? Ora isso lá seria empecilho para o Precioso!
A operação avançava. Sara já tirava sua pestana com as pernas entreabertas, talvez porque ficasse ainda “mais fresquinho”, mas tempos depois essa posição passou a criar dificuldades para o trabalho do Precioso, no momento em que este tinha de sacar a calça de opalina (samba-canção feminina) dela, embora ela desse uma acomodada para que esse processo fluísse mais rápido. Mas Sara, a experiente e dedicada serviçal, não estava lá para complicar a vida do filho do patrão e, portanto, passou a sestear “em pelo”. Era muito mais fresquinho.
Como tinha o sono pesado a Sara! Sono dos bons e justos, porque as vezes em que a vi dormindo sob a ação frenética do Precioso, exibia um leve sorriso no canto dos lábios.
A prudente e sonolenta Sara, que sesteava de porta e pernas abertas por que era super fresquinho, costumava fazê-lo de acordo com o desempenho do Precioso, pois jamais acordava com ele nos quartos, digo no quarto. Medida simples e talvez prazerosa que possibilitou o casamento futuro da filha de acordo com os costumes da época: virgem.


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