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sexta-feira, 16 de março de 2012

C'EST MA VIE


Tenho um gosto musical bastante eclético, não tendo conseguido nunca definir que tipo me dá mais prazer de ouvir. Claro, não estamos falando de circunstâncias. Em momentos up até alguns sambas-enredo caem bem, e nos dow, não sei quem rasga mais a alma se Antonio Marcos ou o Lupicínio.  Como não lembro quando foi a última vez que tive os cotovelos inchados, e talvez as juntas não me ajudem mais a embalar num samba-enredo, ouço mais o bom e velho Chico, mais pelas letras do que pelas músicas, assim como a boa e velha  Bethânia, que quando canta, imagino ser a Angelina Jolie. Mas tem uma música em especial, não sei bem porque é especial, que me toca profundamente. Tenho-a sempre comigo. Gosto tanto dela que vivo pedindo para que seja tocada no dia em que o Criador resolver me chamar para fazer um carreteiro de charque para os anjos. Também não entendo o porquê, uma vez que, então, estarei mais envolvido em tentar descobrir o sexo dos comensais.
C'est ma vie, do Salvatore Adamo é o topo da inspiração musical. Certa vez ouvi uma versão em português e achei um horror. Quis entender francês para saber do que se tratava e também perdeu a graça. É como aquelas namoradinhas platônicas da juventude. Eram belas e desejáveis, quando impossíveis, ou ainda, como a roda do carro para os cães, quando conquistadas morrem os motes. Esta música, portanto, gosto de ouvi-la assim, na sua língua original, sem ser entendida e sem poder ser cantada.

Algumas vezes, enquanto viajo, sinto-me tentado a colocar o cd para rodar, mas aí vem a questão: pedi para que fosse tocada em lugar da marcha fúnebre, não é mesmo?  Por que arriscar? As estradas andam muito perigosas. Melhor ouvir em casa, sozinho, tranqüilo, atirado, fazendo-me acompanhar por qualquer negrão chileno de sobrenome francês, das famílias Sauvignon, Merlot ou carménère, só para manter o clima. Uma garrafa chega. Mas e se for a hora de morrer? Sozinho, sem me despedir de ninguém, sem dar as recomendações para os filhos, tipo: crianças lembrem-se do quanto foi bom termos vivido juntos, mas não chorem por isto, construam uma família igual, e para a mulher: meu bem, você deve casar de novo, mas deixe o corpo esfriar. Essas coisas. Melhor não ouvir sozinho. Deitado, com o fone de ouvido é uma boa e segura alternativa.  Ademais, dormir escutando a música preferida é o próprio Nirvana, é como se entregar aos braços de Deus, convicto, redimido e feliz. O sono virá lento, suave, profundo, há de parecer que efetivamente Ele está chamando.  E se Ele entender que aquele momento de remissão e reencontro com a inocência é o ideal para me levar? Dormindo, sem poder argumentar, negociar, empurrar com a barriga? Nem pensar!

Qual foi a última vez que ouvi C'est ma vie? Talvez tenha sido em algum momento de profunda depressão, quando o Grêmio foi rebaixado, por exemplo. Ali uma parte da vida perdeu a razão de ser e, sei lá, o que viesse viria bem, ou num momento de grande alegria, de uma grande conquista, que somente o paradoxo tricolor é capaz de patrocinar. Como não é só do esporte que tenho alegrias, e muitas, por certo eu estava feliz, sem receios ou borracho na ultima vez que ouvi esta música, a ponto de dizer para o Velho: obrigado, Cara, vamos nessa! Não, não deve fazer muito tempo

Outro dia o querido amigo Ranquetat a música. Está gravada em arquivo muito especial no escritório e qualquer dia vou ouvi-la. Qualquer dia porque a tensão no trabalho está muito forte. Primeiro vou fazer alguns exames, verificar se continuo com o trinômio que me garante: pressão de menina-moça, batimento de atleta e temperatura de padre. Se bem que ninguém está livre de ter um acidente qualquer e acabar se mudando para a sobreloja. Ademais, escritório não é lugar para morrer, imaginem o que dirão?

Ouço vozes internas me estimulando: play it again, Jajá. Sinto-me tentado, mas e se as vozes forem externas?
























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