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quinta-feira, 15 de março de 2012

DAS PROFUNDEZAS DE UM DIA SEM FIM



Dedicado a todos os dias dois de janeiro...

Hoje é o dia santo de dois de janeiro e todos os exageros devem ser perdoados. A presunção de vida retiro do fato de ter abertos os olhos, lido uma parte do jornal no banheiro e não ter percebido meu nome no obituário. Ademais, respirar, respiro, mas o dia se esgueira em transe lento, desestruturado. O corpo foi-se à camada pré-sal enquanto que o espírito viaja longe em busca das Três Marias.


Estou cinco litros e dois furos de cinta mais gordo de tanto pecar com a carne. Com a carne, sim, de bichos variados, fuçadores e ruminantes transeuntes dos presépios. E com líquidos múltiplos, com bolinhas e sem bolinhas, de todas as cores, mas irremediavelmente partir de cinco graus de graduação alcoólica. Impõe-se de pronto uma dieta que deverá começar, como todas, na próxima segunda-feira, por que afinal, em algum canto da casa deve ter sobrado um espumante, alguma cerveja ou ambos. Se não sobrou, o supermercado fica logo ali, ora, pois. Ninguém é de ferro e consta em qualquer literatura médica que compostos químicos não devam ser retirados assim, de súbito do nosso organismo, o pobre! 


Como judiamos da carcaça cedida em comodato pelo Criador! E muito mais judiamos em nome da felicidade. Que horror! Depois de segunda-feira (da próxima) prometo não colocar cerveja na boca por, digamos alguns dias. Vinho, claro, tem o fator coronário, é remédio, é alimento, etc, mas não mais do que uma garrafa de negrão chileno com sobrenome francês. Sim, por dia, é o pedido que faço aos céus. 


Neste dia santo de dois de janeiro ainda não estou com os sentidos aprumados para olhar os trezentos e sessenta e poucos a frente. Tenho esperanças nele, mas nada de extraordinário. Sei, por exemplo, que o Mano ainda não voltará. Se é que um dia voltará; se é que um dia se foi. Bom para Ele que fique onde está. Lá, peleando por nós, ou aqui, no anonimato material. Ou lá e aqui, tanto faz. Bom para Ele por que como malvadinhos andamos sublimando. Continuamos judiando e matando em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém. Matamos por tudo. Por Nações ou por um par de tênis. Judiamos, mais do que do nosso corpo, do corpo dos outros, da terra, das paredes e muros, do nada e por nada. Só por judiar, só por matar, cumprindo a saga maldita que nos fez inteligentes também para o mal. 


Bueno, mas é dois de janeiro e não estou a fim de rever as reflexões natalinas, quando me prometi lutar por um mundo melhor, sensibilizado pelos presépios que exibem nenês deitados nos catres, circundado por bichos que não matam nada, além da nossa fome. Não, não. Quero, no entanto, usar este dia para, além de ficar aqui me fresqueando, falando sobre o poder do Engov e da Infalivina lembrar, ainda que furtivamente, que posso ser melhor neste ano. Não vou precisar do Jorge Luiz Borges e do seu suposto poema maravilhoso de arrependimento pelo que deixou de fazer. Mas é certo que tudo o que eu fiz vou fazer melhor. Não há de me faltar tesão nem fôlego para isso. Ainda não (Tomara que não!). Portanto, amigos do meu coração, afirmo, neste dia da graça de dois de janeiro, mesmo que ainda entorpecido de excessos, que não pouparei esforços para ser mais amigo, mais pai, mais companheiro, ainda mais irmão. O Criador há de me permitir esta gauchada, por que não me quererá ver entrando em seus domínios de cara feia, riscando o facão e reclamando. É cedo.


E alguém me abra mais uma por que esse papo todo me deu sede

Um comentário:

Unknown disse...

Dia 2 é isso, é para tomada de consciência de que um novo ano chegou, o gosto amargo na boca, que só irá embora depois de uma dose amarga de Olina, nos ajudará a pensar que a retomada da rotina é um dever, mas estaremos renovados, pois prometemos, mesmo que sob efeito do álcool, que seríamos melhores no novo ano.
Do texto brilhante o que dizer? Seria me repetir, maravilhoso mano velho.