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quarta-feira, 12 de novembro de 2025

SUMMER OF LOVE



Verão do amor (Summer of Love) foi um movimento pela paz iniciado na primavera de Nova Iorque, em 1967, que tomou rumo do mundo. Um fenômeno social contra a guerra do Vietnam, que arrebanhou a elite cultural. Artistas, e em especial ativistas da comunidade "Make love, not war ". Foi um evento urbano, limpinho, de banho tomado e arrumadinho, sem sexo e drogas, mas não dá para apostar. Acho que foi precursor do embarrado surubão de Woodstock que aconteceria dois anos depois, o que não invalida os motes, muito pelo contrário.

Algumas canções fizeram coro às manifestações, como uma espécie de hino pop. "San Francisco (Be Sure to Wear Flowers In Your Hair)", cantada por Scott McKenzie é a principal delas. Outra que fez parte da trilha e se expandiu foi "A Whiter Shade of Pale", o primeiro single da banda inglesa Procol Harum, lançada concomitante ao movimento.
Essa música, "A Whiter...", passou a fazer parte da vida das comunidades envelhescentes do mundo. Não há quem não tenha uma história em que ela não esteja como trilha sonora. É um clássico ´pop, intimista e foi considerada por um desses institutos especializados, não sei qual, como a música mais bonita de todos os tempos. É uma questão de gosto, mas foi gravada por diversas vozes, inclusive pelo nosso Timóteo, e é das poucas que ultrapassou a marca de 10 milhões de cópias vendidas.

Guerras não faltam; nunca faltaram, e assim será Per omnia saecula saeculorum. Falta agrupamentos de pessoas, esses privilegiados pela vida e que formam nichos, com o sentimento daquela geração transformadora que foi capaz de protestar com a suavidade de "Summer of love". Hoje até shows musicais são discricionários e estimulam ódio.




TRANSFORMERS POP



Quando a Capitol Records lançou "I Want To Hold Your Hand" dos Beatles no final de 1963, depois de uma pesada campanha de marketing, a música pulou para a primeira colocação das paradas estadunidense. Então os Beatles viajaram para os Estados Unidos pela primeira vez. A histórica aparição do grupo no The Ed Sullivan Show na noite de 9 de fevereiro de 1964, alcançando então a maior audiência televisiva da história é vista por muitos como o marco zero da Invasão Britânica.
No anos sessenta e na década seguinte, familiares conservadores, na época todos eram, lutavam bravamente para impedir a avalanche juvenil que vinha implacável montanha abaixo, derrubando os tais "bons costumes". Os cabelos da gurizada cresciam transpondo os ombros; as saias do colégio subiam quatro dedos gordos acima do joelho, depois da primeira esquina, e os namoros tendiam a ser, como dizer... um pouco mais invasivos. As frágeis barreiras que haviam não mais podiam controlar os gametas, e cada um fazia a sua Woodstock com o que tinha à mão. E estas, as mãos, jamais se encontravam quando nas despedidas de portão.

Os gritos de liberdade eram acompanhados pelos tweeters das caixas de som; agudos de guitarra e coisa e tal, e as luzes antes claras ou no máximo difusas, passaram a estroboscópicas e negras.

Foi uma geração transformadora e não me permito, agora na qualidade de envelhecente, me posicionar a favor de censuras, mesmo as que possam eventualmente me causar algum desconforto. As que me tocam, direta ou indiretamente faço de conta que nem são comigo. Deixo para me aborrecer quando implantadas.

Décadas mágicas. Viver por lá foi uma festa.
ORIGINAL

sábado, 8 de novembro de 2025

ALFONSINA


 

Alfonsina Storni nasceu na Suíça e aos quatro anos mudou-se com os pais para a Argentina. Em 1901, ainda criança, a família fixou-se em Rosário, sempre com severas restrições financeiras. Alfonsina então se jogou no trabalho, atuando como operária, professora de costura e atriz. A poesia doía na alma poética desde sempre, mas vertia apenas como catarse.

Com 43 anos descobriu um câncer de mama. No estágio em que foi identificado e com os recursos da época, nada mais poderia ser feito. Então resolveu tomar o caminho que um ano antes, quando também diagnosticado com câncer, o escritor uruguaio Horacio Quiroga tomou: suicídio. A diferença, talvez porque Quiroga fosse um homem sorumbático e trágico com a vida, foi a forma. Ele tomou cianeto, Alfonsina caminhou vagarosamente em direção ao mar e se deixou engolir por ele. O ano era 1938, e três dias antes de se suicidar, ela envia de um hotel de Mar del Plata para um jornal, o soneto “Voy a Dormir”. E foi.

Ariel Ramírez, autor da Misa criolla, compôs também o tributo musicado em homenagem a ela, cuja letra e melodia jorram de dor e devem ter ajudado a salgar a costa Argentina. Ele não conheceu Alfonsina, mas inspirou-se em sua história, que lhe fora contada pelo pai, de quem ela tinha sido aluna.

"Pela branda areia que lambe o mar
Sua pequena pegada não volta mais
Um caminho solitário de dor e silêncio chegou
Até a água profunda
Um caminho solitário de dores mudas chegou
Até a espuma"

Mercedes Sosa eternizou a canção, mas ... Nana Mouskouri, a diva que já gravou em 15 idiomas, dos quais sete fala fluentemente; que depois de Dalida é quem mais vendeu discos na França, e que junto com Michelle Pfeiffer divide o lado leste do meu coração, a internacionalizou. Quando ouço, quase me afogo.




quarta-feira, 5 de novembro de 2025

𝐇𝐎𝐌𝐎 𝐇𝐎𝐌𝐈𝐍𝐈 𝐋𝐔𝐏𝐔𝐒



Pelas paredes do velho e querido Colégio União havia quadros com provérbios em latim, fato que nos obrigava a pesquisar seus significados no Google de então, também conhecido como Delta-Larousse. Entre os provérbios, o mais intrigante deles: 𝙎𝙞 𝙫𝙞𝙨 𝙥𝙖𝙘𝙚𝙢 𝙥𝙖𝙧𝙖 𝙗𝙚𝙡𝙡𝙪𝙢 (se queres a paz, prepara-te para a guerra).

Custava um pouco a fixar em cérebros virgens tamanha ambivalência. No entanto e com o decorrer do tempo, a maturidade sendo exposta diariamente à estirpe de Caim que carregamos, passou a fazer todo o sentido. Bismark (aquele que não conseguiam afundar) também teria dito algo assim: 𝙙𝙞𝙥𝙡𝙤𝙢𝙖𝙘𝙞𝙖 𝙨𝙚𝙢 𝙖𝙧𝙢𝙖𝙨 é 𝙘𝙤𝙢𝙤 𝙢𝙪𝙨𝙞𝙘𝙖 𝙨𝙚𝙢 𝙞𝙣𝙨𝙩𝙧𝙪𝙢𝙚𝙣𝙩𝙤𝙨. Pois então.
E bem antes desses sábios falarem essas frases chocantes, Joãozinho Evangelista, lá no Novo Testamento, já avisava sobre 𝙤𝙨 𝙦𝙪𝙖𝙩𝙧𝙤 𝙢𝙖𝙩𝙪𝙣𝙜𝙤𝙨 𝙙𝙤 𝘼𝙥𝙤𝙘𝙖𝙡𝙞𝙥𝙨𝙚 que representam os nossos flagelos, normalmente puxados pelo alazão (guerra). A morbidez humana parece adorar esses bichos. Renegam a paz e conseguem transforma-la em um sentimento vazio, que não leva a nada, porque se esgota em si. Paz, enfim, vem a ser como um tempo de verbo, algo como presente do subjuntivo, longe de ser um futuro perfeito. Assim, só uma possibilidade. É uma triste ironia, mas fazemos da guerra uma necessidade em busca dela, da paz. E se realimentam nos ciclos e os ódios. O que Ghandi disse sobre a paz é revelador: 𝙣ã𝙤 𝙝á 𝙘𝙖𝙢𝙞𝙣𝙝𝙤 𝙥𝙖𝙧𝙖 𝙖 𝙥𝙖𝙯, 𝙖 𝙥𝙖𝙯 é 𝙤 𝙘𝙖𝙢𝙞𝙣𝙝𝙤. Caminho sim, só o caminho (cubierto de cardos), nunca a chegada. E só não desistimos dela porque sem ela não haveria mais guerras para buscá-la .
Ou seja, bacudo, de tempos em tempos, ou em quase todo tempo em alhures ou algures, como se dizia no castiço, é chumbo trocado para ver se, matando alguns, se sacia a sede que temos pelo sangue irmão. Matemo-nos, pois, no caminho da paz. Mas depois, de saco cheio dela, matemo-nos de novo.
Custei um pouco, mas entendi, querido Colégio União.

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

LEGO DISPERSO




Parece vaga a sonoplastia da guerra;
Distante, sem norte, aleatória, Um mundo onde a parte que cresce, E grande parte que se faz, Tem gosto e cheiro de morte.
Seres sem glória, de alma tóxica; Próximos fantasmas, Da face autofágica que padece, E se parte entre espasmos e preces, Triste, democrática e trágica. Cenário sujo de negro e cinza, E de iguais ruídos grisalhos.  Chão de plasmas intransfusos; Sangues tisnados, confusos Forjados na métrica do malho. Fator irmão, de mesmo Deus, De herança genética fragmentada
Formam polos teimosos de rancor; 
Que não são vagos nem distantes;
Que brotam entre nós a cada instante,
Mas a dor, que pulsa, mal sofremos.

Os cacos que se juntam não se ajustam, E o lego que era lógico se perdeu

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

ROMY SCHNEIDER

 


Rosemarie Magdalena Albach, nasceu na Áustria e morreu na França, aos 43 aninhos. Finou-se de dor e carência de estima. Está sepultada junto do filho David, morto aos 14 anos, com uma seta de portão espetada no peito, quando tentava pular um muro, um ano antes da morte dela.

Rosemarie, ou Romy Schneider tornou-se uma das damas do cinema dos anos 60/70, após dura batalha para descolar de si a personagem da mimosa imperatriz da trilogia Sissi. Formou com Alain Delon um dos casais ícones, nas telas e fora delas, por tudo o que representavam para a época, de glamour e beleza física.
Tinha um olhar encantador, de olhos únicos, meio mongólicos, da cor incerta do mar e de expressões variadas de acordo com o momento. Assim como o mar. Dos filmes, "O processo", do romance de Kafka, e "O assassinato de Trotsky" são ótimos e vale muito a pena serem vistos.
"A piscina", de 1969, também é bom, e tem um significa muito especial. Delon e Romy estavam divorciados havia seis anos, e ela estava casada com Harry Meyen. Algo deve ter acontecido nos bastidores durante as gravações que desagradou profundamente o marido dela. Tanto que, um tempo depois, divorciou-se. E mais adiante divorciou-se radicalmente também da vida, enforcando-se.
Consta que Romy jamais tenha elaborado o "pé" que levou de Delon. Acabou ficando mais depressiva após o suicídio do ex-marido, e desintegrou-se como gente com a trágica morte do filho adolescente. Ela já tinha retirado um rim, mas não abria mão dos coquetéis fatais de álcool e estimulantes. Matou-se assim, cedo demais e aos poucos, antes que o tempo fizesse a sua maquiagem macabra.
"A piscina" é um bom filme, e representativo pelas intercorrências que causou. E marca também a estreia de Jane Birkin. Aquela que depois foi gemer com a icônica "Je T'aime Moi Non Plus" junto a Serge Gainsbourg,

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

A CHAVE DE SARAH

Julia Armond ( Kristin Scott Thomas ) é uma jornalista americana, que vive em Paris com o marido francês e uma filha adolescente. Recebe a tarefa de seus editores de escrever uma matéria sobre a segunda guerra, enfiando o dedo na ferida da pátria, trazendo a furo o fato de que muitos franceses, em 1942, colaboraram com a ocupação nazista.
Coincidentemente, seu marido recebe como herança, um apartamento que, no período da guerra, abrigou uma história trágica. A casa pertencia à familia de Sarah, uma menina de 10 anos que vivia com os pais e um irmãozinho e que, por serem judeus, foram enviados aos campos de exterminio. Quando a polícia chegou, Sarah chaveia o menino em um armário, e não descansou enquanto não conseguiu fugir para libertá-lo. A chave se torna amuleto e grilhão.
Sarah cresceu, sendo acolhida clandestinamente por uma família francesa, mas com os demônios da infância arrastando correntes em sua consciência. Quando completa 18 anos, muda-se para a América. Deixa um bilhete carinhoso e só volta a contatar a família benfeitora quando, tempos depois, dá conta de que está bem, casada e com um filho.
Julia, que por muitos anos tentara uma nova gravidez sem sucesso, acaba engravidando e enfrenta o nariz torcido do marido, de quem se divorcia. Torna-se obsessiva pela história e sai a caça de seus personagens ainda vivos. Publica sua matéria, mas ainda há coisas para descobrir. E encontra o saldo da vida de Sarah: seu filho William (Aidan Quinn). com quem tem uma primeira conversa desastrada, uma vez que o filho desconhecia o passado da mãe. Dois anos depois, Willian, já de posse da outra parte da história da mãe, consegue reunir-se com Julia, que vai ao seu encontro levando a filhinha.
Paro por aqui porque já cortei mais da metade do que tinha escrito sobre esse filme. Fiquei muito tocado, a ponto de vê-lo duas vezes no mesmo dia. 𝐎 𝐟𝐢𝐧𝐚𝐥 é 𝐚𝐩𝐨𝐭𝐞ó𝐭𝐢𝐜𝐨. 𝐀𝐬 𝐟𝐚𝐥𝐚𝐬, 𝐨 𝐫𝐞𝐬𝐮𝐥𝐭𝐚𝐝𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐦𝐢𝐬𝐭𝐮𝐫𝐚 𝐚 𝐨𝐛𝐬𝐞𝐬𝐬ã𝐨 𝐝𝐚 𝐣𝐨𝐫𝐧𝐚𝐥𝐢𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐨 𝐚𝐦𝐨𝐫 𝐝𝐞 𝐦ã𝐞, 𝐞 𝐚 𝐢𝐦𝐚𝐠𝐞𝐦 𝐟𝐢𝐧𝐚𝐥 é 𝐝𝐞 𝐮𝐦𝐚 𝐬𝐞𝐧𝐬𝐢𝐛𝐢𝐥𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐟𝐨𝐫𝐚 𝐝𝐞 𝐩𝐚𝐝𝐫ã𝐨 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐨 𝐦𝐨𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐞𝐦 𝐪𝐮𝐞 𝐯𝐢𝐯𝐞𝐦𝐨𝐬.
Não percam!.

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

CLAIR

 A música é linda e muito especial. Carrega, no entanto, uma história triste que, de tanto ser explicada pelo autor, acabou se tornando ainda mais perturbadora.

Clair era uma menina de 3 anos, em 1972, filha de Gordon Mills, produtor de Gilbert O'Sullivan e muito amigos. Mas, amigos amigos, negócios à parte. Os parceiros acabaram brigando pelos direitos do portfólio do artista, se separaram, e os assassinos de reputação, presentes desde a primeira mordida na maçã, emplacaram em Gilbert, cujo nome é Raymund O'Sullivan (Ray), o selo de pedófilo, em função da letra da música.
Olhando por esse viés, é claro que a letra se torna perturbadora, mas quando composta "tio Ray" era um amigo muito próximo da família, e encantado com as proezas verbais da pequena Clair.
Clair, hoje uma senhora de meia idade, ao que parece, acabou tirando de letra essa canalhice, uma vez que em um show de 2010, subiu ao palco com tio Ray para cantar a sua música.
A despeito de tudo, curto muito essa música, que me traz à lembrança um barzinho de Porto Alegre chamado Tívoli, e o povo que vivia nele e dele.


domingo, 14 de setembro de 2025

GRACE KELLY

 



"Alcancei grande sucesso no exterior devido não somente aos meus recursos como futebolista nato, mas também por outras circunstâncias, oriundas quem sabe da minha personalidade original, de minha maneira fidalga dentro e fora do gramado e talvez, segundo a opinião das mulheres, pela minha postura de atleta galã. Aliás, dizem que o público feminino começou a frequentar estádios para admirar minhas belas pernas.” Yeso Amalfi. Brasileiro, jogador do São Paulo da década de 40, que fez grande sucesso na Europa, em especial na França, onde ficou conhecido como "Deus do estádio". 

Para saber com quem estão lidando, vô Yeso "deu uns pegas" em nada menos que Brigitte Bardot e Sophia Loren, entre várias outras, a época das categorias de base, mas que depois subiram aos céus Hollywoodianos. Yeso teve uma vida encantadora (morreu em 2014) e é uma personalidade que vale a pena ser pesquisada. Mas por que estou fazendo referência a ele hoje? Simples: foi ele quem tornou Rainier II, de Mônaco, um príncipe consorte (bota sorte nisso!). E hoje, 14/09, em 1982, a estrela foi juntar-se às Três Marias lá em cima, viuvando Rainier. A nós, já tinha viuvado em 1956.


Vô Yeso apresentou sua amiga Grace Kelly ao Rainier, e o resto da história todos sabem. Grace deixou as telas com apenas 26 anos para ser princesa, e um acervo de 11 filmes, os maiores e mais bem votados do gordinho Hitchcock, que vez por outra dou uma visitada. Viveu nas telas o suficiente para se tornar mito. 

Linda Grace! Modelo de elegância e classe, e inspiração de uma ou duas gerações de moçoilas suspirantes. Ave!

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

CURTINDO A VIDA ADOIDADO


 

'Life moves pretty fast. If you don't stop and look around once in a while, you could miss it.' ('A vida se move muito rápido. Se você não parar e olhar ao redor de vez em quando, pode perder). - Ferris Bueller.

Ferris Bueller é o hoje sexagenário Matthew Broderick, e a frase do personagem é do filme "Curtindo a vida adoidado". É o melhor filme do gênero adolescente, sem dúvida alguma.
Não sei quantas vezes o assisti, no caso como envelhescente. E quase sempre sábado à tarde, quando quero dar uma viajada ao universo paralelo que carrego no cérebro. Um paradoxo temporal sem a necessidade de mudar nada. Só pela viagem mesmo. E pipoca, mate ou cerveja.
É impossível não se comover, porque aquela gurizada são os os veteranos de hoje. Foi gravado em 1986, ambientado na própria época, mas se tivesse sido rodado vinte anos anos antes, estaria no tempo adequado. É daqueles filmes que vamos morrer aguardando uma sequência.
E mais: "Twist and shout", para quem é Beatlemaníaco quer dizer isso mesmo. É a vontade pela tradução literal "Agitamos e gritamos". A música é de Phil Medley e Bert Russell, gravada originalmente por The Top Notes, em 1960, mas explodiu com os guris de Liverpool, em 67. Tem cenas absolutamente marcantes, como a da gurizada nacionalista cantando e dançando na rua, festejando a vida ao som dos ícones da "invasão britânica".

"O envelhecimento afeta a percepção e representação neural subcortical, da harmonia musical, e assim deixamos de gostar de novas músicas". Quem disse isso foi a doutora Cristiane Rocha, que não conheço, mas voto na íntegra com a eminente relatora. Faz parte do conjunto das nossas paixões que, embora continuem vivas, são afetadas pela idade. O que era incandescente vai ficando morno, o que era preto vai branqueando e caindo e, bueno...
Quando estiver por aí, al pedo, abichornado, atravancado ou atravancando, assista. Volte lá na origem de tudo. É um filme para assistir de pé, ensaiando os passinhos de ontem, com moderação. Faz um bem enorme.


02/11




No dia 02/11 eu olhava para trás, buscando vestígios partidos. O que via, nada mais era que um vácuo carregado de nuvens de dor. Com o tempo essa nebulosidade foi esmaecendo, suavizando, e os focos de lembrança partidas adormeceram no cinza da memória. Estão lá, como fotos de cabeceira que guardam, além de imagens, carinho.

No retrovisor não havia mais nada, e por uma razão óbvia: estava tudo dentro de mim. Bastava um passeio por dentro para visitar a saudade que, também com o tempo, teve aparadas suas bordas doloridas. E de saudades, ah, disso eu entendo. Em determinado momento percebi que saudade é coisa boa e a gente não mata, apenas realimenta.
Afetos não morrem. Eles são como os livros, somente a parte que escreve se vai, a outra se eterniza na estante para ser sempre vista e cultuada. Pais, mães, irmãos e demais familiares únicos e imprescindíveis estarão sempre na primeira prateleira. E também por dentro estão outros entes queridos, também insubstituíveis, e partes das vidas que eu perdi, cuja matéria se desfez, mas a alma está lá, na mesma estante, na prateleira da linha dos olhos.

É um dia duro, de lembranças e saudades. E também de inconformidades por algum mal que se fez ou por um bem que se deixou de fazer. Se fez, desfaça, se não fez, a hora é agora. Acredite: sentir saudades, ainda que desperdiçadas, é melhor do que matar lembranças doloridas. E agradeça a Deus por ainda ter tempo de fazer isso.

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

SUITE FRANCESA



O título é extremamente atraente e, embora choque com o tema, se insere bem na contexto criado para a obra, e no clima entre os personagens principais. O pano de fundo é a segunda guerra mundial, ano 1940.

Uma família francesa rica é obrigada a hospedar o oficial alemão, Bruno (Matthias Schoenaerts), um sujeito refinado, romântico, que demonstra desconforto com a farda, mas é ciente do dever. Lucille, a mocinha, mora com a sogra controladora, enquanto o marido está no front e a gente não sabe de quem se trata, uma vez que não dá as caras no filme.
Demora um segundo para Bruno sentir-se atraído por Michelle. A recíproca demora um pouco mais, mas é inevitável. E vivem por alguns meses uma discreta, mas intensa, história de amor. Na guerra, porém, há pouco espaço para o amor, e nada de espaço para amor entre antagonistas. Mas amor é amor. Rompe fronteiras, quebra convicções e gera sacrifícios, nem sempre compensados.
Michelle Willians, a Lucille, é uma atriz que parece ter um talento especial para o sofrimento. Sustenta muito bem a carga dramática, e é o expoente do filme, com uma atuação tão boa que a gente não se dá conta de que a sogra é a maravilhosa Kristin Scott Thomas, e muito mais maravilhosa ainda, fazendo apenas um biquinho pra lá de desnecessário, está a usina geradora de suspiros Margot Robbie.
Um bom filme, que Lucille nos conta em playback, vivendo longe do foco trágico dos acontecimentos, e depois que a França retomou a posse do território.

terça-feira, 26 de agosto de 2025

YESTERDAY - UMA TRILHA DE SUCESSO

 


"Rebecca, a mulher inesquecível", de 2020, uma releitura de mesmo nome do rodado em 1940, um filme de Hitchcock, me fez gravar um nome: Lily James. E quando gosto de algum artista novo, saio a cata de filmes em que estejam presentes. Esbarrei em um: "Yesterday - uma trilha de sucesso". Ora, ao menor sinal da palavra Beatles, peço que parem as rotativas para que eu encontre uma chamada forte para a realidade.

Esse filme (Netflix e Prime video) é a cara dos filmes rodados pelos quatro cavaleiros do apocalipse pop. Dinâmico, juvenil, um humorzinho duas quadras pra lá de sem graça, mas uma trilha sonora... Bueno, quando se trata de Beatles a gente não assisti, ouve.

A trama se desenvolve a partir de um bug; um apagão global, onde um músico inexpressivo descobre que só ele lembra da existência dos Beatles. Quando começa a desfilar o aquele repertório inesquecível como se fosse seu, por óbvio, vira pop star. Até que a consciência e uma dentucinha charmosa e inocentemente sensual o façam repensar e recompor a verdade. Ajudado também por um casal de veteranos, que como ele também escapou do bug e conhecem a verdade.

O imaginário da direção cria um John Lennon, então com 78 anos, aposentado e vivendo na praia. Um apêndice desnecessário, que incrivelmente consegue ficar fora de contexto. Lennon fora de contexto em um filme dos Beatles!

Ao humor sem graça junte-se a falta de carisma do personagem principal e a inexistência de química entre o casal protagonista. Lily é areia demais para a caçambinha do Patel. Ela é bem isso, embora nesse filme só pareça a metade: uma carinha de anjos, um deles caído.

Fora isso, gostei do que ouvi.

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

AMOR E OUTRAS DROGAS




É um filme que dança entre a comédia romântica e dramas pessoais, que envolvem uma doença importante e sem cura, o Parkinson.

No contexto, entra um malandro, de boa família e desgarrado, que trocou a faculdade de medicina pela várzea, acostumado a passar o rodo no time feminino do lugar. Até que encontra uma parceria à altura. Um morena linda, viciada em sexo casual, cujo objetivo único é fazer o tempo passar, da melhor maneira possível e sem compromissos, enquanto as sequelas da doença não a chamam para o terço final.
Anne Hathaway é fabulosa. Linda, charmosa, que empresta aos seus papéis total autenticidade. Faz par com Jake Gyllenhaal, que é bom, mas de algumas prateleiras abaixo. No entanto se encaixam muito bem na trama, com boa química e valorizam o filme. Há várias cenas picantes, porém, de muito bom gosto e devidamente contextualizadas. Sem apelos.
Jamie (Jack) tornar-se vendedor de laboratório, depois de ser demitido de uma loja de eletrônicos, ao ser flagrado transando com uma colega de trabalho. Em uma visita médica conhece Maggie (Anne), rainha das comorbidades, usuária de coquetéis pesados como Prozac, Zoloft e Xanax, entre outros.
E assim começa a saga de um malandro que, ao fim, amadurece com o amor, e se dispõe a viver pelo presente.
Há no filme um enfoque histórico da indústria farmacêutica, que é o lançamento do Viagra, que faz o sucesso profissional do personagem.
Um filme de 2010, muito bom de assistir, que está o Netflix.

terça-feira, 19 de agosto de 2025

A FILHA DO GENERAL

 

A gurizada que amava os Beatles e os Rolling Stones abriu uma brecha no final dos anos 70 para os embalos de sábado a noite, com os Bee Gees e uma série de cantores e bandas fantásticas do disc music. E dançou com Travolta e Olivia Newton-John! Mas Travolta foi adiante. Mostrou que também é bom fora das pistas e faz uma consistente carreira cinematográfica.
"A filha do general" é um exemplo. Um thriller psicológico de 1999, que tem na parceria o poço de sensualidade chamado Madeleine Stowe. Madeleine sozinha enfeita a tela, é perturbadora! Na trama, o agente Paul Brenner (Travolta) disfarçado, tenta desvendar uma operação de tráfico de armas dentro da unidade militar. No entanto, o cenário criminoso amplia seu espectro, quando a capitã Campbell, filha de um general, é encontrada supostamente estuprada, provavelmente estupro coletivo, e morta na base que é de alta segurança, e exposta de forma desumana. Nem o estilo de vida secreto da capitã justificaria tanta violência.

O código de ética criminoso faz com que o agente Paul encontre intransponíveis barreiras de silêncio. Então entra em cena Sara (Stowe), uma agente especializada em crimes sexuais, com quem havia tido um "rolo" antigo. E o que era para ser apenas um crime brutal e revoltante, era bem mais do que isso. Os fatos mergulham em segredos varridos para os cantos, chantagens, vendetas e traições, que comprometem muita gente, inclusive altas patentes do exército.

É um filme tenso, de cenas fortes e muito bem desenvolvido e de desenlace surpreendente, apesar da crítica especializada não ter achado tudo isso. E eu com eles! A trilha sonora, múltipla e variada, ambienta muito bem o cenário

Aproveitem enquanto o Netflix não arquiva.

domingo, 17 de agosto de 2025

A MEIA CALÇA



Não acho que descobrir o nome da pessoa que inventou a meia-calça de nylon vá mudar o preço da gasolina, baixar o dólar, assustar o Putin ou simplesmente mudar o humor de alguém. Mas talvez seja legal saber o porque a gente chama de "gata" uma mulher linda.

Pois a origem vem da gastíssima Julie Newmar, a primeira mulher-gato que, com um rosto lindo e uma carcaça escultural distribuída em 1,80m, que o Criador deve ter largado entre nós, a fim de propagandear "a imagem e semelhança", faria inveja às meninas trabalhadas em procedimentos e filtros de hoje. Julie habitou nossos sonhos juvenis nos anos 60, especificamente enquanto arranhava o Batman. Apesar da plástica privilegiada e algum talento, sua grande participação nas telas foi na telinha, como mulher-gato. 

Julie ainda anda entre nós. Vive em Fort Worth, Texas, já tendo assoprado mais de 90 velinhas. Lida com comorbidades sérias e, apesar do sobrenome de quase craque, dá para ver que não é fácil de ser derrubada.

Ela é a inventora da meia-calça Nudemar,  projetada para dar aos glúteos uma aparência mais arredondada. Julie patenteou no anos 70 e a descreveu como tendo "alívio atrevido no traseiro". 

Essa Julinha...