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sexta-feira, 11 de outubro de 2024

CASABLANCA



"Casablanca", de 1942, não é apenas uma obra magnífica por ser rico em frases que se eternizaram. Também não ficou famosa pela música que, se nunca saiu da cabeça de um renegado como o Rick Blaine, proprietário do "Café Rick" (café de fachada), como haveria de sair da nossa? Por fim, não é porque tem uma musa como Ingrid Bergman, contracenando com aquele que foi eleito pelo Instituto Americano do Cinema como o maior ator de todos os tempos, o feioso Humphrey Bogard. Não é por nada disso individualmente, que vamos colocar esse filme na cinemateca dos sonhos. É mais. Casablanca é um filme rico por tudo isso junto.

Não se deve comparar histórias diferentes, mas se eu pudesse votar no melhor romance já filmado, Casablanca seria o meu escolhido. É uma trama quase que totalmente gravada em estúdio, ambientada entre as tensões da Segunda Grande Guerra, vivida no Marrocos, território controlado pela França, onde se reencontram Isa e Rick, antigos amantes nos tempos de Paris. Ela e o atual marido pertencentes a resistência antinazista e Rick, apenas um gerente de bar, atormentado de lembranças e, teoricamente, neutro em relação a guerra, mas que facilitava o trânsito de armas, camufladamente.
Entretanto é extraordinário o clima mágico que se mantém entre eles. Provavelmente, o resultado dessa magia tenha sido o motivo do segundo divórcio de Bogard, com a ciumenta Mayo Methot.
O detalhe curioso é que para nivelarem as faíscas de olhos nos olhos, o baixinho Bogard teve que usar sapatos de solado especial para dançar e subir em caixotes, a fim de ganhar alguns centímetros.
Além dos protagonistas, outra presença marcante é a do ator Claude Rains, que vive o capitão Louis Renault, que antes do "The end" ouve de Rick "Louis, acho que este é o começo de uma bela amizade".
"As Time Goes By" (conforme o tempo passa). Passa, mas deixa suas pegadas nas linhas de tempo do corpo e do espírito. ("E quanto a nós?" - "Nós sempre teremos Paris")



"𝐂𝐇𝐋𝐎𝐄 - 𝐎 𝐏𝐑𝐄Ç𝐎 𝐃𝐀 𝐓𝐑𝐀𝐈ÇÃ𝐎"



"Chloe" ou "O preço da traição" é um filme real e humano, que foca a vida de um casal esfriado pela rotina, exposto a uma arapuca que se realimenta pelos segredos.

O epicentro do filme é uma festa de aniversário frustrada, que gera uma desconfiança, e que gera uma certeza quando a mulher, no pico da insegurança, opta por um teste que mulher nenhuma deveria propor. O filme é de 2009, refeito de uma versão anterior de 2003. Tenso e um pouco (ou muito) doentio. A história é ótima, mas penso que o roteiro peca um pouco no final. Nada que possa deslustrar a atuação de Julianne Moore e da "olhão-cabelão-bocão" Amanda Seyfried, a mimosa de "Cartas para Julieta", que faz uma performance meio "Lolita", porém, muito mais perigosa que aquela. As musas roubam a cena. E com Liam Neeson em um papel fora do seu estilo, uma vez que não dá porrada nem tiro em ninguém.

Sobre ele, uma curiosidade triste. Sua esposa Natasha Richardson, também atriz, que tinha como pedigree ser filha da maravilhosa Vanessa Redgrave, sofreu um acidente enquanto esquiava no Canadá, bateu a cabeça, foi hospitalizada e não voltou mais. O acidente ocorreu durante as filmagens de "Chloe", cujas gravações foram interrompidas para que Liam acompanhasse a esposa em seus últimos momentos. Ela havia sido transferida do hospital canadense para Nova Iorque a pedido dos familiares, que a acompanharam em vigília até o último momento. Com morte cerebral, teve os aparelhos desligados, poucos dias depois do acidente.




𝗔 Ú𝗟𝗧𝗜𝗠𝗔 𝗖𝗔𝗥𝗧𝗔 𝗗𝗘 𝗔𝗠𝗢𝗥"


Muitos viventes dos anos 60/70 que se arriscaram nas escritas, começaram escrevendo em guardanapos. Um guardanapo, uma Bic emprestada do garçom, um chope e um prato de fritas frias, cenário perfeito para a catarse.

Mas escrevíamos também cartas. Parte gorda dos meus magros recursos eram gastos em blocos, envelopes e selos. E sei que, em algum canto por aí, ainda há pilhas de cartas de minhas, as que sobraram, uma vez que sei de muitas que viraram artefatos ou se incendiaram em momentos de profundo desamor.
"𝗔 ú𝗹𝘁𝗶𝗺𝗮 𝗰𝗮𝗿𝘁𝗮 𝗱𝗲 𝗮𝗺𝗼𝗿" é um pouco do que aconteceu na vida desses muitos de nós. Uma história de amor que tem começo, um lapso interminável e dolorido de tempo linkado a uma carta perdida, que foi achada por mãos curiosas e dispostas a juntar remetente e destinatário, a fim de que resolvessem o que as mal traçadas haviam prometido.
Assisti ao filme porque gosto da senhorita Shailene Woodley, que ainda não decolou como devia, e do desengonçado que se parece comigo quando eu era jovem Callum Turner. É baseado no livro The last letter from your love, da apaixonada Jojo Moyes, Não li o livro,, mas caso o roteiro tenha sido fiel, o livro também é recomendável.
O gênero não me agrada muito, o tema sim, mas gostei do filme. História meio clichê, mas muito bem feita. Serviu para dar uma amolecida nesta velha, cansada e cheia de calosidades bateria, que vez por outra anda atravessando o samba.
PS: Cartas são cápsula de tempo. Escreva-as para si, para alguém ou simplesmente para ninguém, coloque em uma garrafa e esconda.

"𝐎 Á𝐋𝐁𝐔𝐌 𝐃𝐄 𝐌𝐄𝐌Ó𝐑𝐈𝐀𝐒"



Caso a semana tenha sido, sem querer ser grosseiro, mas já sendo, uma bosta, mercê de qualquer coisa, a escolher entre tantas possibilidades atuais, e haja a necessidade de uma boa dose de glicose, tipo algum filme que você possa assistir, clichezão meloso meio anos 60, sem espaço para papo-cabeça, com final previsível, eu tenho uma dica: "O álbum de memórias".
O clichê obedece a saga de outras tramas como "Uma carta de amor", com o Kevin Costner ou "Cartas para julieta" com o casal Vanessa e Franco. Só que ao invés de cartas é um álbum de fotografias achado em um mercado de pulgas, que formiga a curiosidade da bela e desencadeia uma busca incansável para achar, "desembirrar" e fazer com que as fotos pulem fora do álbum.
Meghan Ory, a personagem central é boa e linda, mas não chega a ser uma grande atriz. O que é extraordinário nela é o olhar; a forma de olhar, e essa é a sua grande ferramenta. Pode ser doce como um sorvete de pistache, amargo como uma bomba de rúcula; seja no modo paisagem, seja no modo veneziana, tanto faz. É como dizia o Tibete, "mais verde que guspida de mate". Perturbador!
É um filmezinho leve, fofo, sem apelos sexuais e, claro, muito menor que o tema que, se bem explorado renderia uma história muito mais consistente, mas como disse, serve como dose de glicose para dias amargos. A melhor cena do filme é a projeção empática que faz o espectador, ao encarnar o personagem que recebe uma declaração criativa de amor como a feita no final, junto com uma encarada de derreter iceberg. Bó! Só isso vale o filme.

SCARFACE


Al Pacino havia torcido o nariz para Michelle Pfeiffer, quando a viu ser indicada para o papel da cheirada Elvira Hancock, mulher do Tony Montana, em Scarface. As preferidas eram muitas, todas já consagradas e Michelle era uma neófita. Tinha tido uma pequena relevância em "Grease 2..." um ano antes, enquanto que ele já era "seu" Al Pacino. Mas valeu a força do produtor Martin Bregman e ela surgiu como um cometa nesse filme. Meio anjo, meio demônio... Maravilhosamente fútil.

Depois desse filme, enfeitiçou os irmãos Bridges em "Susie e os Baker Boys ", e a partir daí faltou brilho nas manhãs de abril para estabelecer parâmetros. Não vale dizer qual filme é melhor com ela. Seja uma bruxa, um fantasma, uma ave ou uma lambida da mulher-gato. Nunca houve uma mulher como Gilda... Muito menos como Michelle. É um dos rostos mais expressivos do cinema, talvez porque não baste apenas ter olhos lindos, tem que saber olhar. "Micha" é uma Kryptonita. "Quero vivê-la em cada vão momento e em seu louvor hei de espalhar meu canto... E rir meu riso..." Etc...(perdão, Vinicius).
Ah sim, o filme... "Scarface" é uma releitura de um filme de 1932, inspirado nas peripécias do outro Al, o Capone, cujo roteiro foi feito por alguém que justamente lutava para livrar-se do vício de cocaína, Oliver Stone, e dirigido pelo genial Brian de Palma. Conta a história de um marginal cubano exilado em Miami, que começa fazendo bicos com drogas, e vai subindo as escadas da organização mafiosa. Chega ao topo e leva junto a mulher do ex-chefe, assassinado por ele.. O filme é um divisor de águas na indústria, seja pela violência extrema, seja pelas expressões chulas, seja pela exposição crua das intimidades do narcotráfico e seu tenso reinado no mundo paralelo. E como borracho não pode ter boteco, mostra que a regra vale para quem cheira. É um grande filme.

A HISTÓRIA DE NÓS DOIS




A HISTÓRIA DE NÓS DOIS

Não acredito em retornos. Profissionalmente, via de regra, é como tentar soluções antigas para problemas novos. E afetivamente não sei, nunca tentei, e tenho convicção de que, se algo houve que tenha conseguido romper um sentimento, é porque a causa da ruptura foi maior. Quebra-se o espelho e as tentativas de conserto só servirão para mostrar figuras caricatas. Ademais, penso o seguinte: "quando a mão abre a porta e os pés se vão embora, a cabeça já se foi há horas".
"A história de nós dois" é um drama romântico, meio comédia, ou um "Love Story" com final feliz. Um filmezinho de 1999, leve, sem Oscar ou grande mídia, mas se nos introjetarmos na trama, acaba se tornando bem mais do que isso. É uma metáfora da vida em comum
Ela (no caso "dela" não se trata de um inexpressivo pronome pessoal. Eu a classificaria como um adjetivo superlativo), Michelle Pfeiffer é Katie, casada com Ben (Bruce Willys), que vivem às turras, sem conseguirem vencer as dificuldades de uma relação de quinze anos, com dois filhos adolescentes.
Resolvem seguir o caminho dos trilhos, ou seja, apartados, porém, em função das crianças, unidos por robustos dormentes. Tentaram resolver pelo lado mais cômodo que, obviamente, em função do que sentiam um pelo outro, que também fazia parte dos dormentes, seria muito mais difícil.
Pois o resultado da ópera é este: havia um sentimento forte, que valia a pena tentar uma solução. Que fosse à exaustão, mas compreensivamente, sabendo que o tempo e suas circunstâncias conspiram permanente e amplamente contra o que fomos um dia. Acho que sabemos que amor não é um fim. É uma resultante de paixão e outros temperos, que se fortalece por admiração, carinho e respeito, na ordem que quisermos colocar, e que exige as presenças física e espiritual.
Recomendo uma cena perto do final quando ELA faz um monólogo maravilhoso. É um trecho de pouco mais de dois minutos, mas que vale pelo filme inteiro. É filme para domingo à tarde, com chimarrão e pipoca.
Ave, Micha. Te videre in caelo

CONSEQUÊNCIAS




Assisti a "Consequências" (The aftermath) duas vezes em uma semana. Precisava ter certeza de que tinha gostado. Gostei e recomendo. Nada de extraordinário.

O filme é novinho, de 2021, com Keira Knightley, Jason Clarke, Alexander Skarsgård. O trio é bom e garante a atenção no filme desde o primeiro momento. Aliás, o sueco Alexander rouba as fichas.
O cenário é a destruída Hamburgo, na Alemanha, pós segunda guerra. O marido de Keira, Jason, é um oficial britânico escalado para ajudar na reconstrução da cidade. Vai morar em uma casa "requisitada" pelos vencedores, cujo proprietário é um rico arquiteto alemão, viuvado pela guerra, com uma filha revoltada e pronta para assumir sua participação no "88", sigla e representação numérica de duas letras do alfabeto: HH, ou seja, Heil Hitler (que o anjo caído esteja decomposto no último círculo de Dante).
Jason meio que simpatiza com o "anfitrião" e o convida para continuar morando lá, em uma ala da enorme mansão. E aí, bacudo, é quando a Alemanha quase ganha a guerra. O anfitrião, aos moldes da mitologia grega, acaba sendo o pobre coronel inglês.
Mas não há ações de batalha, a não ser protestos do povo arrasado, por ódio e comida. O enredo gira em torno de traumas familiares, carências e revoltas por perdas, num jogo de culpas e represamento de dor. Ou seja: de guerra, só as amargas consequências.
Há uma cena muito tocante, que é quando a mocinha executa ao piano "Clair de Lune" (Debussy), a quatro mãos com a filha do dono da casa. Comova-se.


E O VENTO LEVOU ...



"E o vento levou" é uma obra quase artesanal e de fôlego. 60.000 metros de celuloide e 28 horas de gravação, de janeiro a julho de 1939, que levaram à tela o premiado livro de 1.037 páginas de Margaret Mitchel.

Li o livro e vi o filme, este diversas vezes, que arrebanhou oito estatuetas, inclusive o de melhor atriz coadjuvante para Hattie McDaniel, "que não pôde" comparecer a cerimônia porque era negra. Somando tudo, acho que devo ter perto de dois dias assistindo as 03h54min de projeção.
É um épico impressionante, com ricas histórias de amor, frustrações e força, ambientado na guerra civil americana. Por curiosidade não tem nenhuma cena de batalha na obra, onde sobressai de longe a atuação de Vivien Leigh, oscarizada por isso. Das únicas cenas que sugerem batalha está a caminhada trágica da mocinha sobre os corpos estendidos (800 figurantes, mais 800 manequins).
Scarlet é uma dondoca sulista chata, presunçosa, arrogante, dominadora... E guerreira! Uma mulher pronta para viver em qualquer época, dessas que matam baratas com salto agulha. Ou seja: ela, que era bipolar juramentada, interpretando ela mesma. Pelo papel , Vivien venceu mais de 1400 concorrentes, entre muitas “peso pesado” hollywoodianas. No meio delas estava Carole Lombard, preferida do então marido Clark Gable. A mocinha venceu também o nariz torcido dos nacionalistas americanos, já que era inglesa, nascida na índia. Clark, por sua vez, quase não teve concorrência. O preferido era Gary Cooper que recusou o papel por avaliar que o filme seria um fracasso(!). Errou feio. É dos únicos que ainda fatura quando reprisado, oitenta anos depois.
Qualquer resumo que se faça sobre esse filme maravilhoso corre o risco de competir em tamanho com a obra de Margareth. Mesmo uma sinopse, com alto poder de síntese, não caberia em espaços facebuqueanos.
“Frankly, my dear, I don't give a damn” (Francamente, minha querida, eu não dou a mínima), dita por Rhett Butler (Gable) para Scarlet (Vivien), quando caia fora da relação, enquanto a amada seguia em direção ao fundo do poço, é a frase mais popular do filme que produziu tantas outras memoráveis.
O filme é também recheado de curiosidades e brigas de beleza. Vale a pena pesquisar.
E por falar em curiosidade, Olivia de Havilland, a Melanie Hamilton (prima da dondoca) viveu até os 103 aninhos. Morreu em 2020.

DOUTOR ZHIVAGO




A história, os mistérios e a literatura russa me fascinam desde sempre. Mas o meu fascínio expira em último encantamento ao olhar a arquitetura lúdica do Kremlin. É lindo, mas tem sinistrose na aura. É o mais amplo sentido da palavra formidável.
E é de lá, das nuvens de pólvora; do gosto de vodca com notas de sangue, que chegou a nós o romance "Dr. Zhivago", de Boris Pasternak, cuja maratona para ser publicado mereceria outro romance. Boris foi excomungado pelo fundamentalismo comunista, foi obrigado a recusar o premio Nobel de literatura em 1958, e o filme só foi exibido por lá em 1987, após a dissipação das trevas vermelhas mais densas.
Doutor Jivago, é uma história de amor trágico. Lara (Julie Christie) é uma enfermeira jovem, pobre, usada por um crápula amante da mãe. Vai encontrar Jivago (Omar Sharif), que é um médico aristocrata e casado, em uma operação de campanha. Se aproximam e se apaixonam. Isso rende o início de uma linda história, cheia de impossibilidades, com um final amargo e algumas lacrimejadas.
História construída na forja de um tempo rude, sanguinário e frio. Tempo que esqueceu de passar e não cansa de ser hoje.
A música "Tema de Lara" é daquelas que faz com que a gente feche os olhos e se vá àqueles enormes salões principescos, dança a noite inteira com a dona dos olhos que se cruzaram com os seus, e quando tudo termina, vai para casa valseando com as folhas tocadas por vento, judiado por uma certeza: vocês jamais voltarão a dançar. É poesia em partituras.
"Tema de Lara" não se define. A gente ouve, fica triste e agradece o fato de Maurice Jarre ter encontrado tanta beleza na tragédia.


PERDAS E DANOS



Assisti no início dos anos 90, quando foi lançado por aqui. E gostei. Mais de Juliette Binoche, não só pelos motivos óbvios, mas pelo que representa como atriz. Em especial nesse filme, ela só precisaria do olhar para interpretar.

Dia desses assisti novamente e... Não gostei. Não gosto do Jeremy Irons. Acho ele inglês demais, e nesse filme, em particular nas cenas de sexo, é teatral, caricato, sem elã. Posso ter colocado um olhar muito crítico, mas achei uma história boa, como já tinha achado da primeira vez, porém mal aproveitada, com um roteiro atrapalhado e sem sal, e uma condução modorrenta.
Trata-se da vida de uma família normal, rica e equilibrada, com um casamento morno, entre uma dona de casa e um político. Stephen Flemming (Irons), o marido, de súbito é atropelado pelo olhar da futura nora. Um olhar que era a exaltação do céu beirando o abismo; que transitava entre o vulcânico, prestes a jorrar lavas libidinosas e uma paz de vitrine. Anna Barton (Binoche), a noiva do filho e dona dos olhos vulcânicos, esconde uma alma perturbada, carregada de demônios e trata, nas horas vagas de ser vetor do caos. Mas Fleming não está nem aí. Mergulhou fundo na lava incandescente.
É uma trama que cria logo de cara, sem que possa se estabelecer empatia entre os amantes, uma relação extremada. O drama está bem definido, já o erotismo proposto, com notas de sexo selvagem, só tem de convincente a dominação pela submissão. A forçação de barra, em determinado momento fica tão estereotipada, que faz com que a nossa Juliette pareça um boneco de posto.
O ponto alto fica por conta da demonstração de que a relação é de fato doentia e não de afeto, e das cenas de revelação do caso e suas trágicas consequências.
Não vai fazer cócegas no currículo do Louis Malle, que gostava de chocar pela ousadia, e nos deixou três anos após este, que foi seu penúltimo filme, acho que ele errou a mão, mas é só a minha opiniãozinha.

A UM PASSO DA ETERNIDADE



É um filme icônico, com um elenco digno das oito estatuetas que arrebanhou. Burt Lancaster , Montgomery Clift, Deborah Kerr, Donna Reed, Frank Sinatra , Ernest Borgnine... Intrigas, rusgas, "guerrilhas íntimas" próprias de um confinamento, a espera de algo ainda não dimensionado, e que viria por ampliar o espectro da II Grande guerra.
Na base de Honolulu estão soldados americanos; homens destemidos, sem noção de limites e perigos. Tanto que sargento Warden (Burt) resolve tirar uma lasquinha da senhora Holden,(Débora) furando o olho do seu comandante. E a demais soldadesca se vendo aos pulos com o sadismo implacável do sargento Fatso (Borgnine). Quem nunca sentiu raiva de Ernest Borgnine? Um gênio.
Enquanto isso, os japiinhas preparavam o terrível ataque a Pearl Harbor de dezembro de 41, na tentativa fracassada de aniquilarem a frota naval americana. A trágica resposta veio tempos depois: os cogumelos genocidas de Hiroshima e Nagasakii. Cogumelos que hoje mal serviriam para enfeitar um estrogonofe, caso as feras mal contidas sobre a neve, ultrapassarem a linha tênue que as separa do juízo. O mundo atual está a um passo da eternidade, e alguns não se dão conta.
Bueno... O filme, é de 1953, ou seja, os corpos ainda nem tinham esfriado, e deixou para a eternidade, além do suposto passo, a cena de Burt e Kerr, deitados com seus corpos sendo roçados pelas rendas do Pacífico, para o estarrecimento das tias. É antológica e trespassa os tempos.
No anos 80 rodou uma mini série sobre a obra, com Natalie Wood e Kim Bassinger, para ficar só no que importa, mas nem elas se salvaram.
Se tu não tens um arquivo que possa chamar de "Clássicos inesquecíveis", vai lá e abre. Coloca esta obra ao lado de "O poderoso chefão", "E o vento levou"; "Casablanca", só para ficar nos do pódio.

HOUVE UMA VEZ UM VERÃO




"Summer of '42" é um filme autobiográfico. Conta uma história de encantamento vivida pelo roteirista Herman Raucher e seu amigo Oscar Seltzer, adolescentes em férias. Jennifer O'Neill é Dorothy, linda, jovem, casada, cujo marido prestava serviço na II Guerra. Morava na praia, solitária, extremamente carente, à espera do companheiro, e passa, involuntariamente, a atormentar a imaginação da gurizada.
O filme é lindo, altamente sedutor, narrado pelo próprio Hermy Raucher. É uma história tão intensa e representativa para o prezado Hermy, que ele dedicou a vida inteira na tarefa de "pegar" todas as garotas possíveis de nome Dorothy, e se comunicava com outras tantas que não conseguia pegar. O mais incrível é que muitos e muitos anos depois, uma dessas moças com quem se comunicava à distância, já senhora e avó, identificou-se como sendo "aquela" Dorothy da praia, e lhe pedia perdão por algum eventual trauma. Ora, Dorothy, trauma é repressão de hormônios.
Jennifer está inesquecível nesse papel. Como Dorothy permanece eterna e sempre me atormenta quando vou a praia. Hoje, infelizmente para a classe adolescente, uma história dessas renderia escândalo e prisão por danos morais. Tsc , tsc, tsc. Essa justiça...
E a trilha sonora... A trilha, assinada por Michel Legrand, o mesmo de "Um homem, uma mulher" e "A piscina", entre outras barbaridades inesquecíveis, é das coisas mais maravilhosas já ouvidas, que quando ouço, tenho o corpo tomada pela maresia e sinto os pés sujos de areia.
Quanto a Jennifer, que é nascida no Brasil, mas foi embora ainda criança, "Summer..." foi seu único papel de relevância. No mais, dedicou-se a casar, e o fez bem mais do que eu (nove vezes, sendo com Richard Alan cometeu reincidência específica: casou duas vezes em períodos de três anos cada. Mas continua linda, linda linda de marré deci, aos 76 anos.


CAMILE CLAUDELL






Assisti as duas leituras hollywoodianas de Camile Claudell, a saber, uma escultora francesa genial; uma mulher muito à frente da época em que viveu (1864 a 1943). Foi pupila e amante de outro "monstro" das artes, Auguste Rodin. A história conta, no entanto, que o moço não foi monstro só das artes.
Camile, lutou várias lutas, todas inglórias, flutuando entre a resiliência e a resignação. Primeiro a rejeição da mãe, que queria um filho homem em seu lugar; depois para se firmar em uma profissão proibitiva para mulheres. Lutou para decantar um pouco de amor, na relação abusiva que sofria com o amante; lutou contra a inveja e as manipulações de seu irmão Paul Claudell que acabou por interna-la arbitrariamente em um hospício, onde viveu por 30 anos, até morrer esquizofrênica, pobre e obscura. Sua obra só foi reconhecida mais tarde.
"Camile Claudell", filme de 1987 teve a linda Isabelle Adjani e sua boca enfeitiçada a la Jeanne Moreau, mas com arco-de-cupido bem desenhado, no papel principal. Ela e Gérard Depardieu (Rodin) levam os Oscares de protagonistas. Estão estupendos! Este é um filme que vale a pena ver. Até para se revoltar um pouco.
A segunda versão, já sem Rodin, Camile é representada por Juliette Binoche, e se passa já com ela internada no hospício, vivendo o inferno de sua esquizofrenia paranoide. Não gostei da proposta. .Essa versão só vale para passar colírio nos olhos com a imagem de Binoche, mesmo posando de louca e desarranjada.

SABRINA


Julia Ormond é linda. Um morenaço, com notas de Julliete Binoche, destinada a fazer filmes em que é disputada por irmãos, parentes ou amigos. Ela é a pupila do olho a ser furado.

No remake de "Sabrina", ela tem uma tarefa difícil: precisa reviver o papel de Audrey Hepburn de 1954. O time de veteranos como um todo era pesado. Além da Audrey, Humphrey Bogart e Willian Holden! Mas nós tínhamos Harrison Ford.
A personagem é um patinho feio, filha de um empregado de uma família poderosa, que ousa apaixonar-se por um dos filhos dos patrões. Um playboyzinho à toa. Para livrá-la do sofrimento e do fiasco, papai manda filhinha embora para Paris respirar outros ares.
Mas ninguém vai morar em Paris à toa. Eis que, alguns anos depois, o que volta é uma Sabrina emplumada como um cisne real, Totalmente repaginada.
O playboyzinho, entretanto, está prometido em um casamento conveniente para salvar a família. Para não falar em "braguetaço", digamos que ele não era um noivo, era um arras. O moleque, porém, não consegue recolher o queixo derrubado aos pés da nova Sabrina e quer desistir do negócio. Então entra em campo o irmão mais velho. E como sempre, Indiana Jones resolve as coisas tomando para si as decisões. Só que a nossa Sabrina é irresistível, e o malandro velho acaba descobrindo que também tem queixo de vidro.
As duas versões são ótimas. Na mais antiga, porém, Audrey canta "La vie en rose".

"𝗟𝗘𝗡𝗗𝗔𝗦 𝗗𝗔 𝗣𝗔𝗜𝗫Ã𝗢"



 

É um filme de época, com uma fotografia de tirar o fôlego justamente premiada e um bom elenco. Para o meu gosto, uma das melhores atuações do Brad Pitt (Tristan), e mais uma aula do mestre Anthony Hopkins.

O filme conta a linda, trágica e romântica saga de três irmãos criados pelo pai na dura vida de Montana, que tem origem no início de 1900. A família do coronel William Ludlow (Hopkins) passa por um trauma causado pela primeira grande guerra, depois pela lei seca, também com trauma, e vai até meados dos anos 60.
O Ludlow são irmãos de comportamentos totalmente antagônicas, mas que ao fim, fazem prevalecer o indesmachável laço de sangue.
Julia Ormond, linda como Pix inesperado, é Susannah, noiva do irmão mais jovem e protegido por todos. Mas este é idealista e arrasta os demais irmãos para a guerra, que se alistam com o objetivo de proteger o caçula. Com a morte do noivo na guerra, a solitária foi encantar-se em definitivo pelas melenas selvagens de Tristan. A pobre! Tristan só tinha olhos para o dia seguinte.
Tristan e Suzannah, aos modes do épico Tristão e Isolda, são lendas da paixão que se bifurca entre vida e morte. O filme perpassa um lapso de 60 anos de vida adulta e é sempre digno de ser revisto. Para quem vê mensagens nos enredos, este propícia ao menos uma reflexão: 𝐡á 𝐝𝐨𝐢𝐬 𝐮𝐫𝐬𝐨𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐧𝐨𝐬 𝐡𝐚𝐛𝐢𝐭𝐚𝐦. 𝐂𝐚𝐛𝐞 𝐚 𝐧ó𝐬 𝐞𝐪𝐮𝐚𝐥𝐢𝐳𝐚r𝐦𝐨𝐬 𝐬𝐮𝐚𝐬 𝐯𝐚𝐥ê𝐧𝐜𝐢𝐚𝐬 𝐞 𝐦𝐢𝐭𝐢𝐠𝐚𝐫 𝐩𝐨𝐝𝐞𝐫𝐞𝐬, 𝐜𝐨𝐢𝐬𝐚 𝐪𝐮𝐞 𝐧𝐞𝐦 𝐬𝐞𝐦𝐩𝐫𝐞 𝐜𝐨𝐧𝐬𝐞𝐠𝐮𝐢𝐦𝐨𝐬. É 𝐪𝐮𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐮𝐦 𝐝𝐞𝐥𝐞𝐬 𝐚𝐜𝐚𝐛𝐚 𝐧𝐨𝐬 𝐦𝐚𝐭𝐚𝐧𝐝𝐨.
Assisto a esse filme ao menos uma vez por ano.

𝐍𝐀𝐒 𝐏𝐑𝐎𝐅𝐔𝐍𝐃𝐄𝐙𝐀𝐒 𝐃O 𝐌𝐀𝐑 𝐒𝐄𝐌 𝐅𝐈𝐌



Cada vez que assisto a esse filme, e já o fiz várias vezes, muito por 𝐄𝐋𝐀, mas também pelo tema altamente sensível e até recorrente, paro no tempo com tudo e tenho vontade de beber vinho. Ok, isso tenho vontade sempre, mas eu me refiro a tomar um porre, daqueles de miar em guarani. Choca e nos remete a situações reais; a introjetar o drama.
Perder um filho deve ser horrível. Que o Velho não me negue o privilégio de partir antes. E perdê-lo sem saber como e porquê, simplesmente deixar de vê-lo como num passe de mágica não tem, não deve ter explicação.
Sentimento de mãe é algo que eu respeito. Um filho é um pedaço tirado de dentro de si, que tem o cordão cortado, ganha o mundo, mas o vínculo... esse é indestrutível. Perdê-lo deve ser como uma dor fantasma., a mais sofrida delas. Agora imaginem a mistura de sentimentos quando, dez anos depois de uma suposta perda, esse filho reaparece do nada à sua frente? O vulcão adormecido entra em erupção.
"Nas profundezas de um mar sem fim", de 1999, não é apenas um filme, é um tutorial de dor e esperança, com uma atuação maravilhosa de Michelle e de Ryan Merriman, no personagem do filho no retorno. Michelle é a mãe que perde o filho para o nada e a dor dessa perda se realimenta diária e paradoxalmente pela esperança jamais perdida. Ao reencontrá-lo, esses sentimentos transformam-se na paciente reconquista do filho, na sua ressocialização com a família, enquanto tenta também sepultar os efeitos colaterais do trauma
Se ainda não assistiu vai lá. Não perca.

NOSSO AMOR DE ONTEM


A história vivida por Katie Morosky, uma judia ativista pelos direitos humanos e Hubbell Gardiner, um branco, anglo-saxão, protestante (WASP), boa vida, sedutor e talentoso para a escrita, mas do tipo "nem aí" para nada´, é sublime.
"The way we ware" - ou "Nosso amor de ontem" é um dos mais lindos filmes românticos que vi, e sempre tenho vontade de rever. Com Robert Redford (Gardiner) e Barbra Streisand (Morosky) sob a batuta de Sydney Pollack, conta a história de duas criaturas de conceituação social opostas, que se conhecem na adolescência, se reencontram quando adultos, se apaixonam e casam. Porém, apesar de todo sentimento envolvido e da química extraordinária entre os dois, não conseguem vencer as suas diferenças. Num lapso de vinte anos em que se passa a história, há momentos de muito amor, alegrias e tristezas.
Arthur Laurents escreveu o romance e o roteiro, e o resultado é um bom bocado do que vi e vivi naquela juventude aloprada dos anos 70. O filme é de 1973, mas com temas atemporais. Uma relação de pessoas de sentimentos antagonizados que poderia estar acontecido agora e bem aqui, na superfície de um mundo conflagrado, de profundas mudanças sociais e de costumes, sob a sombra sinistra do Macarthismo, o "Caça às bruxas" americano dos anos que sucederam a II Guerra.
A música oscarizada tem a voz de travesseiro da Barbra, que a deixa linda quando canta, e eu sempre acho que é para mim. É uma voz apaixonante, que desperta emoções ocasionais e incertas.


FUNNY GIRL



Certa vez jogávamos papo fora sobre cinema e suas vidas paralelas. A pergunta era "se tivesses que escolher um ator ou atriz para conhecer, quem seria teu escolhido?" Pela minha mente passaram todas as musas, carregando meus pensamentos imundos. "Barbra Streisand", falei para a surpresa dos amigos mais antigos, que conheceram a minha coleção de pôsteres do banheiro.

Barbra é fascinante; tem uma beleza inexplicável, fora dos padrões. O que ela deixa transparecer quando canta, fala ou atua é uma coisa única, magnânima,... Uma sedução angelical, para a desgraça do anjo caído. Tudo o que ela se propõe a fazer nas artes, faz bem. Se não, vejamos:
**𝐄𝐦𝐦𝐲: 𝟔 - **𝐆𝐫𝐚𝐦𝐦𝐲: 𝟏𝟓 - **𝐎𝐬𝐜𝐚𝐫: 𝟐 - *𝐓𝐨𝐧𝐲: 𝟏
Está na lista seleta dos artista com a classificação EGOT, que nada mais é que um acrônimo dos prêmios recebidos, mas não é para qualquer um. O dela é honorário.
Há coisa lindas para ver e ouvir com ela. Uma das versões de "Nasce uma estrela", cuja primeira foi em 1937, depois teve outra em 1954. A de Barbra em 1976, e a última recentemente em 2018, com Lady Gaga. Todas são ótimas. "Príncipe das marés", é mais lindo ainda, entre vários outros. Porém, o que me seduz e sobre o qual já falei por aqui é "Nosso amor de ontem". Esse merece ser revisto sempre, porque além de lindo é atemporal e pedagógico. E que música!
Revi recentemente "Funny Girl - uma garota genial", de 1968, o primeiro Oscar de Barbra. É um drama musical biográfico., com foco na vida da comediante Funny Brice, que fazia muito sucesso na Broadway, no século XIX. Barbra também fez a sequência desse filme, "Funny Lady", em 1975, sem o mesmo resultado..
Para a Billboard, uma revista de mais de 100 anos que é a Bíblia da indústria fonográfica, e para mim, Barbra é top. E recém, há uma semana, fez 80 aninhos!

AS PONTES DE MADISON




No rescaldo do grande e dourado colapso gravitacional hollywoodiano, ainda há estrelas ativas entre nós. Por exemplo: Clint Eastwood (91) e Meryl Strep (72).

Clint colou em si o cowboy durão, solitário e sorumbático, criado por Sergio Leone e só muito tempo depois, quando passou a realizar seus próprios filmes é que mostrou o seu real tamanho e ecletismo. Um cineasta completo, atuando em todas as pontas da obra, tendo sido por isso, premiado em todas. É o ator recordista em tempo de atuação. Está há inoxidáveis 60 anos atuando, e desconfio que será sepultado em cena.
Já Meryl é múltipla. Nasceu múltipla, para ser considerada pela academia como a maior atriz de todos os tempos. Porém, quando há muito o que falar sobre alguém, melhor é não falar. Vá que fique faltando algo, então: obrigado, Meryl. Não quer dizer grande coisa, mas vi todos os seus filmes e não sei qual o melhor.
"As pontes de Madison", que reúne esses dois seres mitológicos, é um filme produzido em 1995, ambientado em 1965, terno e comovente, onde duas pessoas maduras, de vidas totalmente diversas, se encontram por acaso e se apaixonam. São 4 dias de amor que duram uma vida, e que só se revelam após a morte da mulher que registrara tudo em seu diário. Por isso a história é contada em flashbacks .
"Parece que tudo que eu fiz na minha vida foi para chegar até você". Uau! Por que eu nunca disse isso? Duas atuações de luxo, onde Clint Produz, dirige e atua, e Meryl arrebenta como sempre, e é oscarizada.
"Baby, Im Yours", na trilha deste filme catapultou a carreira de sua intérprete Barbara Lewis, alcançando mais de um milhão de cópias. Também apareceu nos filmes "The Midnight Hour", "An American Crime" e "Baby Driver".