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sábado, 12 de outubro de 2024

HER





A Alexa, por vezes me dá a impressão que é mais um símbolo machista mal disfarçado. Aprisionaram uma mulher, cujas habilidades são programadas unicamente para nos servir, e o faz com competência e de acordo com o nosso agrado. Não sei como as gurias do feminismo ainda não contragolpearam com um "Jarbas" ou "Charles". "Jair" já tem, mas é a pilha, e só para tarefas leves.

Alexa é o alter ego das obsoletas secretárias eletrônicas e um passo além da "Siri" e da "Cortana". (Reajam, gurias)
Penso nisso desde que revi "Her", com o desempenho monumental do Joaquin Phoenix. Joaquin já tinha "destruído" em "Johnny & June", que relata sobre a conturbada vida do homem de preto Johnny Cash. Em "Her", faz o papel de Theodore, divorciado, solitário e carente que, possuído por sérias patologias espirituais, desenvolve uma profunda relação de afeto com uma assistente virtual, a "Samantha", de voz linda e sensual, como linda e sensual é a dona da voz: Scarlett Johansson que, por óbvio, Theodore só imagina. O filme, sob a batuta refinada do prod0tor e roteirista Adam Spiegel (Spike Jonze) teve cinco indicações ao Oscar. Ganhou um.
Theodore e Samantha viveram felizes, mas só por um tempo. O filme mostra que pessoas podem evoluir, mas a tecnologia o faz muito mais rapidamente, em especial, caso possa dispor de sua própria inteligência artificial.
Por fim, foi forte demais para o Theo aceitar que a nossa Sam também estivesse apaixonada por outras 641 pessoas. Afinal, ela era um sistema operacional. É um filme que mistura temas como drama, ficção científica, com notas de humor. Tudo com bom gosto e em dosagens corretas. E atenção para os sutis toques filosóficos.
Karen O, que interpreta a música "The moon song", é uma coreana/americana com uma vozinha de travesseiro. Miada, mas apaixonante.

A INFORMANTE


Kathryn Bolkovac é uma defensora dos direitos humanos, ex-investigadora da polícia americana e ex-monitora da Força-Tarefa das Nações Unidas na Bósnia e Herzegovina. Ela ganhou notoriedade quando processou seus empregadores por demissão sem justa causa, após infrutíferas tentativas de expor o tráfico sexual na região, com a participação de oficiais.

Bolkovac havia sido contratada pela DynCorp Aerospace, uma empreiteira militar privada americana (hoje Amentum), que tinha um contrato de US$ 15 milhões relacionado à ONU para recrutar e treinar policiais.
Em julho de 2001, Bolkovac entrou com uma ação na Grã-Bretanha contra a DynCorp. Em 2 de agosto de 2002, o tribunal decidiu por unanimidade em seu favor. Ela relatou que colegas oficiais cometiam abusos contra mulheres, estuprando meninas e participando de tráfico sexual. Os envolvidos nativos foram processados, porém, os contratados da ONU, pela imunidade diplomática saíram livres. Alguns apenas foram forçados a renunciar a seus cargos e deixar o país.
O filme "A informante", com a ótima Rachel Weisz no papel de Kathryn, é uma sinopse da vida dessa mulher fantástica, especificamente sobre suas ações na Bósnia. Aos 61 anos, se mantém firme e ativa pela causa feminina como advogada, palestrante e conselheira. Em 2015 foi indicada ao Prêmio Nobel da paz.
Seu segundo marido, Jan, com quem casou em 1999, é um policial do governo holandês, que conheceu e foi seu parceiro nos horrores da Bósnia. Vivem entre Lincoln (EUA) e Amsterdã.

LOVE STORY





"Love means never having to say you're sorry” (Amar significa jamais ter que pedir perdão).

Essa frase por si já traz uma carga densa de emoção. Que atire a primeira sílaba quem nunca tenha se socorrido dela ou similares, lá pelos anos 70, quando algum desconforto com notas de culpa, estivesse flutuando entre duas almas.
Oliver Barret IV (Ryan O'Neal) diz isso para seu pai, Oliver Barret III (Ray Milland) que arrependido de não ter apoiado o filho, corre para desculpar-se e ampará-lo no leito de morte da esposa Jennifer (Ali MacGrow).
Oliver e Jennifer, ele um aristocrata, ela uma plebeia, são universitários que se apaixonam e, para a contrariedade dos pais dele, se casam. Oliver é deserdado e o casal vai viver por sua própria conta. Até descobrirem que Jenny, que não conseguia engravidar, tinha uma doença terminal.
É um filme bem ao gosto da "juventude paz e amor" dos anos 70; um manual bem elaborado de clichê choroso, mas, de todos as pieguices já filmadas é, sem dúvidas, a melhor. Também uma das maiores bilheterias da história de Hollywood, tendo rendido 7 estatuetas.
Filmes de amor trágico sempre venderam bem, são quase sempre iguais, mas continuam rendendo mares de água salgada, desde que Shakespeare deu guarida ao ranço da família Capuleto. Recentemente vimos isso em "A culpa é das estrelas" e "Como eu era antes do você", só por exemplo.
E a trilha sonora oscarizada, que ajuda muito na dramaticidade do filme pela beleza melancólica, foi realizada pelo gigantesco Francis Lai, o mesmo de "Um homem, uma mulher" e mais de 50 filmes.

UMA RAZÃO PARA VENCER



 



A gente sabe desde o início o que vai acontecer no fim. É tudo muito previsível, ou melhor, é uma já história contada, por ser real. Mas, como passamos o tempo inteiro armazenando emoção para despejar no momento óbvio, tudo acaba ficando justo e contemplado.

É uma história de superação dentro de uma atividade que exige muita concentração, técnica, agilidade e precisão. No entanto, como é esporte coletivo, conta muito o espírito de equipe, motivação, determinação e foco. Com esses ingredientes, às vezes "Davis" derrubam Golias.
O filme é baseado na história vivida pela equipe de voleibol Iowa City West High School, após a morte de Caroline Found, a saber, uma menina extremamente carismática, líder da equipe, em um acidente, em 2011, aos 17 anos, antes do início da grande competição estadual. Mas do caos nascem estrelas, e o infortúnio acabou inspirando outras jogadoras, em especial sua melhor amiga Kelley, até então inexpressiva. Fizeram do trágico evento uma grande razão para vencer. Jogaram por ela, sob o comando da rigorosa treinadora, representada por Helen Hunt. A curiosidade é que a verdadeira treinadora aparece na torcida, vibrando na final, bem como o pai de Caroline, que é interpretado por Willian Hurt, falecido no mês passado.
Neil Diamond não escreveu "Sweet Caroline" para nenhuma Caroline. A homenageada era Marsha, sua mulher à época (1969), mas cadê a métrica? Então, meio que por acaso, achou a mimosa Caroline Kennedy, filha do John, que tinha 11 anos. Bingo! Muitos anos depois, Neil teve a oportunidade de cantar essa música para Caroline, na festa dos 50 anos dela.
O final do filme é de arrepiar.
Um carinho às minhas queridas amigas do vôlei, que dividem conosco os encontros anuais do esporter.


PSICOSE



De 1960, é um marco para os thrillers do seu gênero. Investe na fronteira frágil que divide o suspense e o terror, com muita sutileza. É um clássico com o carimbo de Hitchcock, que o assina participando como sempre em uma tomada, desta vez na figura de uma cowboy enchapelado.

Norman Bates é o personagem de Anthony Perkins. Um maníaco depressivo, aparentemente inofensivo, que gerencia um motel falido da família. Janet Leigh é Marion Crane que, para casar e viver feliz para sempre com seu noivo cretino, dá um desfalque no patrão, foge e é apanhada por uma tempestade no meio do caminho. Duas tempestades, sendo que a segunda e definitiva virou vinheta para qualquer referência que se faça a cenas de suspense: a facada da mãe do Bates, ao som de uma quantidade enorme de grilos que compunham a trilha sonora. Mãe que, na verdade a gente sabe muito bem quem é. Fruto da fixação macabra do filho pela velha, demonstrada em flashes na cena final, e que há muito já estava devidamente empalhada.
O filme agrega no personagem principal traumas, complexos e outras patologias mimosas. É baseado na história real de Ed Gein, o "Assassino de Wisconsin", a saber, um serial killer dos anos 50, que fazia utensílios domésticos com a pele de vítimas. Uma forma não muito convencional de guardar uma lembrancinha dos seus casos.
E Antony Perkins foi o Bates que desde criança fora. Teve uma vida tão atribulada, tão cheia de complexos, negações e fantasmas quantas seu personagem expõe. Uma vida que se finou aos 60 anos, golpeada pela AIDS. Foi tão autêntico; tão real na trama que lhe rendeu o estrelato.
Um clássico.

INSTINTO SELVAGEM



Um gato angorá, desses bem felpudos, ao atravessar os trilhos teve seu rabo decepado pelo trem. Chocado com a perda, voltou para apanhar o que perdera, e teve a cabeça decepada pelo vagão. Moral da história: por um bom rabo se perde a cabeça.

Pois então... O detetive Nick (Douglas), ao investigar uma suspeita linda, extremamente manipuladora e transpirando a lascívia (Stone), brincou nos trilhos, acabou misturando as estações e se foi flertar com o abismo. Perdeu a cabeça e viu o quanto também pode ser sublime a face da morte.
"Instinto Selvagem", de 1992 é um baita filme, para quem gosta do gênero., embora olhado de viés pela crítica. Foi o salto na carreira de Sharon Stone, que a bem da verdade não se confirmou como uma grande atriz, entretanto... cruza as pernas como ninguém. E foi um divisor de águas nas cenas quase explícitas de sexo em "filmes sociais". Antes de Stone, que Michel Douglas achava inexpressiva, foram cotadas Kim Basinger, Julia Roberts, Greta Scacchi, Meg Ryan, Michelle Pfeiffer, Geena Davis, Kathleen Turner, Ellen Barkin e Mariel Hemingway e Demi Moore, que rejeitaram porque aquilo não era papel para moça de família.
O filme trata de uma escritora que gosta de fazer laboratórios arriscados e viver as páginas que escreve, ao limite. E já desde do início mostra a que veio, ou seja, um casal experimentando algumas fantasias que vão de galopadas frenéticas, mãos amarradas, orgasmos temperados com esguicho de sangue pela jugular, provocado por uma penetração inesperada: um picador de gelo. Um crime que passa a ser investigado pelo detetive metido a esperto, que se apaixona e não desvenda nada. Aliás, investigação como um todo é de araque. Ora, teste de DNA, que já era um recurso disponível, nem pensar? O autor do romance se desculpou pela falha, e o roteirista, que poderia corrigir, também chupou bala.
Bueno, de qualquer forma é um filme bem feito, intenso e cativante, do início ao fim. Teve grande bilheteria e até tentaram dar uma sequência, anos depois, que foi um fracasso total.

VÍTIMAS DE UMA PAIXÃO



É o título brasileiro para "Sea of love" (Mar de amor). Tanto o título original como o nosso ficaria bem como letra de tango, sendo que o nosso espirra sangue dos pulsos.

Foi gravado em um período excepcional na carreira de Al Pacino. Andava por baixo, em função do fracasso de seu filme anterior, e foi uma bela oportunidade para mostrar com quem estavam lidando. O velho Al dá um banho como o detetive atormentado Frank Keller.
É um policial de Nova York em crise, que não consegue elaborar o pé na bunda que recebe da mulher e vai procurar ombro onde só tem álcool. Pior: a mulher o largou por um parceiro de departamento!
Quando é indicado para investigar um caso, descobre que há outro crime igual sendo investigado por outra delegacia, que tem em comum o fato de ambos estarem ligados ao Tinder da época, ou seja, alguém marcava encontros com a morte, pelos aplicativos primitivos de encontros de então (1989).
Frank se inscreve no aplicativo, dá de cara com uma loiraça charmosíssima, sedutora e cheia de mistérios (Ellen Barkin), que dá vida a senhorita Helen Cruger. Cruger e não Krueger, como o nosso querido Freddy. Mas não relaxem. Neste caso, os espinhos da rosa estavam envenenados.
Bueno... Vai lá ver. São quase duas horas, mas o velho Al e a Ellen fazem valer a pena.
Obs.: Sempre me choca a imagem da Ellen. É muito parecida com uma amiga muito querida que partiu cedo demais para a paz que passou a vida inteira merecendo.

PERDIDOS NA NOITE


Midnight cowboy, 1969, é um filme para ser assistido atentamente e desarmado de sinopses. Ambienta-se em uma época de grandes mudanças comportamentais, ao som de uma trilha sonora, parte do que melhor se produziu musicalmente, naqueles combos que misturavam rock, soul e country americano.

Talvez seus criadores quisessem ter feito uma aventura bem-humorada, porém, a parceria do ingênuo Joe Buck (Jon Voight) com o rengo safado Enrico Rizzo (Dustin Hoffmann), transformada em um profunda relação fraternal, o tenha tornado também um drama de extrema sensibilidade.
"Perdidos..." Não é só uma história meio drama meio comédia, tipo vida de palhaço, é uma lição. Ainda hoje, mesmo que tenha se passado mais de 50 anos do seu lançamento, uma lição muito válida para que a gente possa aprender a dimensionar os sonhos. Saber que, em regra, eles devem ser escalonados, e que deixem que a cabeça viaje, sem arrancar os pés do chão.
Buck vai tentar a vida como michê em Nova Iorque, baseado na sua enorme capacidade de sedução, segundo ele mesmo, habilidade essa testada nos tempos de galã arrabaldino. Jon Voight, que perdeu a identidade quando Angelina Jolie mostrou os lábios (passou unicamente a ser pai dela) dá uma aula de interpretação; e Dustin Hoffmann, na sua normalidade genial.
Dá tudo errado, o final é deprimente. Melancolias à parte, o filme é maravilhoso. Tanto que arrebanhou três Oscar's e mais algumas indicações.
"
Everybody's Talkin é da lavra de Fred Neil, mas ganhou notoriedade com o filme e na voz do ótimo Harry Nilsson.

𝐀𝐋É𝐌 𝐃𝐀 𝐄𝐓𝐄𝐑𝐍𝐈𝐃𝐀𝐃𝐄



Nesse filme, Audrey Hepburn está na condição em que viveu: entre os anjos, sendo protagonista entre eles. Há muito da história da vida pessoal dela para ser contado, que não cabe em resumos de rede. Foi uma grande mulher. Em "Além da eternidade", seu último trabalho para o cinema, ela apenas aparece para nos fazer acreditar em anjos e ajudar a consagrar Richard Dreyfuss nas mãos de Spielberg.
Pete (Dreyfuss) é um piloto da brigada anti-incêndio, com a coragem e a valentia dos irresponsáveis, que ao morrer, é transformado em anjo da guarda pelo anjo Audrey, justamente para proteger Ted, seu sucessor no grupamento. Mas o destino de Ted, além do avião, foi de pilotar também o coração de sua inconsolável Dorinha. Pobre Pete!
No cenário, os maravilhosos "The Platters", que parece terem se formado para cantar em velório. Quem não lembra de "Unchained Melody" em "Ghost", quando enfeitam fantasma de Sam Wheat (Patrick Swayze)? Pois em "Além da eternidade" eles sublimam emprestando seu talento para produzir olhos úmidos no réquiem de Pete, com a trilha espetacular "Smoke Gets In Your Eyes". Fumaça nos olhos... Tudo ver.
Filme de 1989, na categoria dos imperdíveis


OS GIRASSOIS DA RÚSSIA

 




"Não acredite em nada do que você ouve e apenas na metade do que você vê" - Edgar Allan Poe, poema "O corvo".
Giovanna seguiu à risca. Não acreditou nas informações oficiais e se foi à Rússia em busca do marido Antonio, desaparecido desde o fim da segunda guerra. E achou! A questão é: sabe aquela máxima que diz que às vezes é melhor amar uma lembrança e, se for o caso, até viuvar por ela? Pois então...
"Os girassóis da Rússia", de 1970, é um romance lindo, suave, com imagens maravilhosa da então Cortina de ferro pouco conhecida no ocidente, com seus campos pintados de verde e amarelo. Soma-se a isso uma trilha sonora que, só de ouvir, dá vontade de passar o inverno na Sibéria.
Sophia Loren é Giovanna, Marcello Mastroianni é seu marido Antonio, o desaparecido que, por gratidão à sua salvadora deixou que a fila andasse, e Ludmila Savelyeva, a salvadora, era a senha nº 1 da fila. Esta, uma russinha linda que já tinha brilhado em "Guerra e paz" anos antes, e em "Girassóis...", consegue a façanha de furar os olhos da Sophia.
O filme ainda tem duas assinaturas de peso: Henry Mancini na trilha e Vittório De Sica na direção. Mas atenção: se você gosta de Pablo Vittar, Anitta ou MCqualkerkoisinha não ouça.

Tenho feito postagens sobre o tema "Rússia", porque sei, ou desconfio, ou tenho a esperança de que ela seja bem mais do que Putin e os filhos do Putin que pisoteiam os girassóis e empestam as neves.

SUAVE É A NOITE




Assisti a "Tender Is the Night" na primeira vez um pouco contrariado. Ainda estava viuvando do casal Drª Han Suyin (Jennifer Jones) e Mark Elliott (William Holden), de "Suplício de uma saudade". Portanto, não me conformei com a presença do Jason Robards, ao lado da Jen, Mas este, na qualidade de borracho e quase gigolô, manda muito bem,

O título do filme, estranhamento é tradução literal para o português "Suave é a noite", um baita romance, escrito por F. Scott Fitzgerald, que vai para a telona em 1962 sob a batuta poderosa de Henry King. Um filme que, no meio das carências atuais, pede um remake.
Nicole(Jennifer) era uma mimosa multimilionária americana que não batia bem da cabeça, em função de um trauma familiar, obra do sem vergonha do pai, A tutela da mocinha estava a cargo da irmã mais velha, uma socialite fútil e fria, que é vivida por Joan Fontaine (a saber: irmã da doce Olivia Havilland, a eterna Melanie Hamilton de "...E o vento levou", recentemente falecida aos 104 anos).
A mocinha, Nicole, a abou sendo internada em uma clínica psiquiátrica na Suíça. Recebeu um tratamento tão eficaz e completo do Dr. Dick (Robards), que acabou casando com ele. Na real, o doutorzinho deu um braguetaço, e com todo o dinheiro que a mulher tinha, encostou-se. Foi viver entre as águas azuis da Riviera francesa e as engarrafadas, com bolinha e sem bolinha, mas necessariamente acima de 10 na graduação alcoólica. Mas acabou afrouxando os tentos; descuidou-se da mulher, e perdeu a boca. Tinha um gavião predador silencioso sobrevoando a área, fato que a gente começa a desconfiar depois que a mocinha Nicole enfia o pé no marido.
A música de fundo é um espetáculo e levou o caneco, ou melhor o boneco da Academia. Uma seleção top gravou essa trilha, como Tony Bennet, Andy Willians (a melhor), Vic damone, Johnny Mathis, e o nosso Moacyr Franco. Quem não cozinha na primeira, vai lembrar bem do sucesso que fez essa música na época. Estava nas paradas desde a "Audição da simpatia" ao "Intermezzo musical", mas disso ninguém vai se lembrar.

𝐀 𝐏𝐑𝐈𝐌𝐄𝐈𝐑𝐀 𝐍𝐎𝐈𝐓𝐄 𝐃𝐄 𝐔𝐌 𝐇𝐎𝐌𝐄𝐌


 
Muitos guris que amavam os Beatles e os Rolling Stones tiveram seus momentos Benjamin Braddock. Na época, era uma atividade curricular, essencial para a boa formação da turminha de espinha na cara e pelos nas mãos, proporcionada generosamente por senhoras de bom coração. Hoje seria abuso, sujeito às penas da lei.
Mas não há quem não tenha tido uma paixão inocente por alguém como Elaine Robinson (a mimosíssima Katharine Juliet Ross, no auge dos seus 27 aninhos, com cara e jeito de 17, e aqueles olhões pedintes de cachorrinho Basset). Era impossível colar os olhos nela e não sentir nada.
Em "𝘼 𝙥𝙧𝙞𝙢𝙚𝙞𝙧𝙖 𝙣𝙤𝙞𝙩𝙚 𝙙𝙚 𝙪𝙢 𝙝𝙤𝙢𝙚𝙢", que também poderia ser conhecido como o primeiro filme de um homem, Dustin Hoffmann debuta na constelação hollywoodiana. Ele vai viver um jovem recém formado, que volta para casa, com pompa e circunstância.
Mal chega e já é consumido pelo fogo inconformado da senhora Robinson, que é a sensualíssima Anne Bancroft. Seria moleza ser seduzido por ela, menos para o Ben, que teve a pachorra de questioná-la: ""Mrs. Robinson, you're trying to seduce me. Aren't you?" ("Sra. Robinson, você está tentando me seduzir. Não é?"), ora Ben... Ela que depois causa um baita estrago, quando percebe que quem dá as cartas e joga de mão no coração do abobado é a sua filha Elaine, a mimosíssima. O estrago foi tanto que a filha deu no pé, e foi preciso um ato heroico do Ben, quando resolveu honrar as calças. Algo como roubar uma noiva e fugir de ônibus, por exemplo.
O filme foi grandemente reconhecido e premiado, entretanto, a trilha sonora como um todo é inesquecível, sob o comando de Simon & Garfunkel. Tudo o que toca no filme é genial, como The Sound of Silence. Mas nada igual a "Mrs Robinson", composta por Paul Simon, que carrega uma curiosidade em especial: a referência ao ex-astro de futebol americano Joe DiMaggio, casado, descasado e recasado com a casadoira Marilyn Monroe.
A trilha é uma viagem maravilhosa no tempo.



sexta-feira, 11 de outubro de 2024

𝐌𝐀𝐌𝐌𝐀 𝐌𝐈𝐀


Não gosto de musicais. Acho que eles não foram feitos para a tela e sim para o palco. Mas é só o que eu acho e nem quero estar com a razão. A verdade é que tenho sede de história bem contada.

Dificilmente assistiria Mamma Mia (mas assisti mais de uma vez), não fosse por Meryl Strep. E se não fosse pelo ABBA. Como muitos setenteiros, fui abduzido pela Síndrone de Estocolmo. Acho que todos sabem que o grupo leva o acrônimo de 𝑨gnetha Fältskog, 𝑩jörn Ulvaeus, 𝑩enny Andersson e 𝑨nni-Frid Lyngstad, suecos de Estocolmo , que sequestraram o que sobrou dos meus tímpanos, entregues antes aos guris de Liverpool.
Revi Mamma Mia, ou melhor, meio que assisti, porque mais ouvi do que prestei a atenção. No entanto é difícil não se deixar envolver por Meryl. Essa moça pode ser a durona Dama de Ferro; frágil e doentia como Sofia Zawistowk, perdida como Joanna Kramer ou doce como Francesca Johnson. Ela pode ser o que quiser, que será o melhor que esses personagens jamais poderiam supor.
O filme é uma historinha juvenil, com alguma pieguice, mas bem arranjada e valorizada pelo time, que conta com a olhuda e mimosa Amanda Seyfried, que emplacou seu hat-trick, do jargão boleiro, nos dois anos seguintes com Chloe e Cartas para Julieta, e mais a participação do bonitão Pierce Brosnan.
Bom para ver domingo de tarde comendo pipoca. É para ver, mas se quiser, apenas feche os olhos e ouça. Você vai viajar.

MOULIN ROUGE



Não sou fã do gênero, mas além de "Hair", muito mais pelo que representou do que pela obra em si, "Moulin Rouge - amor em vermelho", talvez seja o outro musical que eu realmente gosto e vez por outra revejo. Dos outros dançantes da década de 70, como os de Olivia e Travolta, só as músicas. Não me ocorrem outros.

"Moulin Rouge"- o filme - é um teatro de revista, caricato e circense, ambientado no século XIX, que tem como cenário o famoso cabaré parisiense fundado em 1889. Dizem que a partir dele que a cidade ganhou o apelido de "Cidade luz", em especial a vermelha. Paris foi um grande rendez-vous.
Há personagens reais, como o pintor pós impressionista Toulouse Lautrec, boêmio, viciado e com uma doença rara nos ossos que impediu seu crescimento. Toulouse era um extrato de genialidade. Influenciou fortemente o design gráfico e recebeu o carimbo de padrinho da Art Noveau. Morreu cedo (36), face a sua doença degenerativa, somado a sífilis e porres intermináveis.
A lindíssima Nicole Kidman é Satine, personagem central e china-mor da tasca e um combo sensual, sonhador e tragicômico. Um pouco de Margarite Gautier, a nossa Dama das Camélias. Ewan McGregor é Christian, escritor, parceiro juramentado e praticante do combo lúdico de Satine, por quem cai de quatro logo de cara (quem não cairia?). A cena onde selam sua paixão é mágica. É como um namoro de gato no telhado, quando soltam a voz em dueto, com um pot-pourri maravilhoso.
A trilha sonora é atemporal. Como um todo, se formos buscar suas letras e significados, é uma outra forma de contar a história do filme e dos personagens centrais, que estão soberbos.
Imperdível. O único senão é o destino de Satine. Não se faz isso com a Niki.

CASABLANCA



"Casablanca", de 1942, não é apenas uma obra magnífica por ser rico em frases que se eternizaram. Também não ficou famosa pela música que, se nunca saiu da cabeça de um renegado como o Rick Blaine, proprietário do "Café Rick" (café de fachada), como haveria de sair da nossa? Por fim, não é porque tem uma musa como Ingrid Bergman, contracenando com aquele que foi eleito pelo Instituto Americano do Cinema como o maior ator de todos os tempos, o feioso Humphrey Bogard. Não é por nada disso individualmente, que vamos colocar esse filme na cinemateca dos sonhos. É mais. Casablanca é um filme rico por tudo isso junto.

Não se deve comparar histórias diferentes, mas se eu pudesse votar no melhor romance já filmado, Casablanca seria o meu escolhido. É uma trama quase que totalmente gravada em estúdio, ambientada entre as tensões da Segunda Grande Guerra, vivida no Marrocos, território controlado pela França, onde se reencontram Isa e Rick, antigos amantes nos tempos de Paris. Ela e o atual marido pertencentes a resistência antinazista e Rick, apenas um gerente de bar, atormentado de lembranças e, teoricamente, neutro em relação a guerra, mas que facilitava o trânsito de armas, camufladamente.
Entretanto é extraordinário o clima mágico que se mantém entre eles. Provavelmente, o resultado dessa magia tenha sido o motivo do segundo divórcio de Bogard, com a ciumenta Mayo Methot.
O detalhe curioso é que para nivelarem as faíscas de olhos nos olhos, o baixinho Bogard teve que usar sapatos de solado especial para dançar e subir em caixotes, a fim de ganhar alguns centímetros.
Além dos protagonistas, outra presença marcante é a do ator Claude Rains, que vive o capitão Louis Renault, que antes do "The end" ouve de Rick "Louis, acho que este é o começo de uma bela amizade".
"As Time Goes By" (conforme o tempo passa). Passa, mas deixa suas pegadas nas linhas de tempo do corpo e do espírito. ("E quanto a nós?" - "Nós sempre teremos Paris")



"𝐂𝐇𝐋𝐎𝐄 - 𝐎 𝐏𝐑𝐄Ç𝐎 𝐃𝐀 𝐓𝐑𝐀𝐈ÇÃ𝐎"



"Chloe" ou "O preço da traição" é um filme real e humano, que foca a vida de um casal esfriado pela rotina, exposto a uma arapuca que se realimenta pelos segredos.

O epicentro do filme é uma festa de aniversário frustrada, que gera uma desconfiança, e que gera uma certeza quando a mulher, no pico da insegurança, opta por um teste que mulher nenhuma deveria propor. O filme é de 2009, refeito de uma versão anterior de 2003. Tenso e um pouco (ou muito) doentio. A história é ótima, mas penso que o roteiro peca um pouco no final. Nada que possa deslustrar a atuação de Julianne Moore e da "olhão-cabelão-bocão" Amanda Seyfried, a mimosa de "Cartas para Julieta", que faz uma performance meio "Lolita", porém, muito mais perigosa que aquela. As musas roubam a cena. E com Liam Neeson em um papel fora do seu estilo, uma vez que não dá porrada nem tiro em ninguém.

Sobre ele, uma curiosidade triste. Sua esposa Natasha Richardson, também atriz, que tinha como pedigree ser filha da maravilhosa Vanessa Redgrave, sofreu um acidente enquanto esquiava no Canadá, bateu a cabeça, foi hospitalizada e não voltou mais. O acidente ocorreu durante as filmagens de "Chloe", cujas gravações foram interrompidas para que Liam acompanhasse a esposa em seus últimos momentos. Ela havia sido transferida do hospital canadense para Nova Iorque a pedido dos familiares, que a acompanharam em vigília até o último momento. Com morte cerebral, teve os aparelhos desligados, poucos dias depois do acidente.




𝗔 Ú𝗟𝗧𝗜𝗠𝗔 𝗖𝗔𝗥𝗧𝗔 𝗗𝗘 𝗔𝗠𝗢𝗥"


Muitos viventes dos anos 60/70 que se arriscaram nas escritas, começaram escrevendo em guardanapos. Um guardanapo, uma Bic emprestada do garçom, um chope e um prato de fritas frias, cenário perfeito para a catarse.

Mas escrevíamos também cartas. Parte gorda dos meus magros recursos eram gastos em blocos, envelopes e selos. E sei que, em algum canto por aí, ainda há pilhas de cartas de minhas, as que sobraram, uma vez que sei de muitas que viraram artefatos ou se incendiaram em momentos de profundo desamor.
"𝗔 ú𝗹𝘁𝗶𝗺𝗮 𝗰𝗮𝗿𝘁𝗮 𝗱𝗲 𝗮𝗺𝗼𝗿" é um pouco do que aconteceu na vida desses muitos de nós. Uma história de amor que tem começo, um lapso interminável e dolorido de tempo linkado a uma carta perdida, que foi achada por mãos curiosas e dispostas a juntar remetente e destinatário, a fim de que resolvessem o que as mal traçadas haviam prometido.
Assisti ao filme porque gosto da senhorita Shailene Woodley, que ainda não decolou como devia, e do desengonçado que se parece comigo quando eu era jovem Callum Turner. É baseado no livro The last letter from your love, da apaixonada Jojo Moyes, Não li o livro,, mas caso o roteiro tenha sido fiel, o livro também é recomendável.
O gênero não me agrada muito, o tema sim, mas gostei do filme. História meio clichê, mas muito bem feita. Serviu para dar uma amolecida nesta velha, cansada e cheia de calosidades bateria, que vez por outra anda atravessando o samba.
PS: Cartas são cápsula de tempo. Escreva-as para si, para alguém ou simplesmente para ninguém, coloque em uma garrafa e esconda.

"𝐎 Á𝐋𝐁𝐔𝐌 𝐃𝐄 𝐌𝐄𝐌Ó𝐑𝐈𝐀𝐒"



Caso a semana tenha sido, sem querer ser grosseiro, mas já sendo, uma bosta, mercê de qualquer coisa, a escolher entre tantas possibilidades atuais, e haja a necessidade de uma boa dose de glicose, tipo algum filme que você possa assistir, clichezão meloso meio anos 60, sem espaço para papo-cabeça, com final previsível, eu tenho uma dica: "O álbum de memórias".
O clichê obedece a saga de outras tramas como "Uma carta de amor", com o Kevin Costner ou "Cartas para julieta" com o casal Vanessa e Franco. Só que ao invés de cartas é um álbum de fotografias achado em um mercado de pulgas, que formiga a curiosidade da bela e desencadeia uma busca incansável para achar, "desembirrar" e fazer com que as fotos pulem fora do álbum.
Meghan Ory, a personagem central é boa e linda, mas não chega a ser uma grande atriz. O que é extraordinário nela é o olhar; a forma de olhar, e essa é a sua grande ferramenta. Pode ser doce como um sorvete de pistache, amargo como uma bomba de rúcula; seja no modo paisagem, seja no modo veneziana, tanto faz. É como dizia o Tibete, "mais verde que guspida de mate". Perturbador!
É um filmezinho leve, fofo, sem apelos sexuais e, claro, muito menor que o tema que, se bem explorado renderia uma história muito mais consistente, mas como disse, serve como dose de glicose para dias amargos. A melhor cena do filme é a projeção empática que faz o espectador, ao encarnar o personagem que recebe uma declaração criativa de amor como a feita no final, junto com uma encarada de derreter iceberg. Bó! Só isso vale o filme.

SCARFACE


Al Pacino havia torcido o nariz para Michelle Pfeiffer, quando a viu ser indicada para o papel da cheirada Elvira Hancock, mulher do Tony Montana, em Scarface. As preferidas eram muitas, todas já consagradas e Michelle era uma neófita. Tinha tido uma pequena relevância em "Grease 2..." um ano antes, enquanto que ele já era "seu" Al Pacino. Mas valeu a força do produtor Martin Bregman e ela surgiu como um cometa nesse filme. Meio anjo, meio demônio... Maravilhosamente fútil.

Depois desse filme, enfeitiçou os irmãos Bridges em "Susie e os Baker Boys ", e a partir daí faltou brilho nas manhãs de abril para estabelecer parâmetros. Não vale dizer qual filme é melhor com ela. Seja uma bruxa, um fantasma, uma ave ou uma lambida da mulher-gato. Nunca houve uma mulher como Gilda... Muito menos como Michelle. É um dos rostos mais expressivos do cinema, talvez porque não baste apenas ter olhos lindos, tem que saber olhar. "Micha" é uma Kryptonita. "Quero vivê-la em cada vão momento e em seu louvor hei de espalhar meu canto... E rir meu riso..." Etc...(perdão, Vinicius).
Ah sim, o filme... "Scarface" é uma releitura de um filme de 1932, inspirado nas peripécias do outro Al, o Capone, cujo roteiro foi feito por alguém que justamente lutava para livrar-se do vício de cocaína, Oliver Stone, e dirigido pelo genial Brian de Palma. Conta a história de um marginal cubano exilado em Miami, que começa fazendo bicos com drogas, e vai subindo as escadas da organização mafiosa. Chega ao topo e leva junto a mulher do ex-chefe, assassinado por ele.. O filme é um divisor de águas na indústria, seja pela violência extrema, seja pelas expressões chulas, seja pela exposição crua das intimidades do narcotráfico e seu tenso reinado no mundo paralelo. E como borracho não pode ter boteco, mostra que a regra vale para quem cheira. É um grande filme.