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sábado, 12 de outubro de 2024

𝐉𝐔𝐋𝐈𝐄𝐓𝐀

 


Há quem goste de Almodovar e há quem desgoste, mas nada dele passa despercebido. Nem ele. É um diretor de extremo capricho, que parece viver fundo seus temas, cuidados na estética, e em especial a obsessão pelo protagonismo feminino. Sempre há mulheres inspiradoras, fortes ou frágeis, mas sobretudo marcantes em suas obras.
Assisti "Julieta", muito pela belíssima e talentosa Adriana Ugarte. O filme em si não chega a ser grande coisa, ao menos na minha ótica amadora, no entanto, prende a atenção do princípio ao fim, e você vai lembrar dele por muito tempo .
Conta a história de uma mãe, abandonada pela filha em seu momento mais crítico de reconstrução, após ter perdido o marido. A mãe, Ugarte na fase mais jovem, não cansa de procurar pela filha. Ou melhor, nas páginas tantas de seu desatino procurante ela cansa, encontra-se como gente, e vai viver sua vida na fase madura (sai Ugarte entra Emma Suárez) com um novo amor. Porém, um encontro inesperado faz com que todo aquele tempo gasto em busca da filha retorne, e ela larga tudo e volta à estaca zero e ao ponto de partida de suas buscas.
Há um detalhe interessante: consta que Almodovar tenha proibido choro dos protagonistas, embora haja cenas bem sensíveis. Cobrou, entretanto, intenso como é, dor e sofrimento, o que o elenco entrega com bastante competência.
Ao fim, a gente calcula que mãe e filha se encontram, no entanto, Almodovar, sendo Almodovar, nos coloca para trabalhar em um final de estrada bifurcada. Escolha o seu.

O FUNDO DO MAR



"No começo eu era sempre escalada como a namorada. Foi um longo tempo antes de eu começar a fazer personagens que eram pessoas".

Óbvio. Se algum mortal lúcido e de bom gosto fosse pensar em uma namorada, Jacqueline Bisset obrigatoriamente haveria de estar na comissão de frente. Ora... Então ela queria ser apenas "uma pessoa"?
Observem, por exemplo, o olhar dessa moça. Celestial, o que não significa que não dialogue também com o anjo caído. Encara-la deve ser algo como tomar sorvete na rua no verão de Uruguaiana.
Jacq nunca casou e também não tivemos filhos, apesar do rastro sangrento de corações despedaçados que deixou pelo caminho. Mesmo perto dos 80 aninhos dá um bom caldo. Continua linda, charmosa, sempre seletiva, tanto para filmar como namorar. E rica, rica, rica de marré deci. Milionária, mercê daquilo que, segundo ela, tem de melhor: a cabeça. Ora...
Há bons filmes para ver com ela, onde podemos lavar os nossos olhos, como "A noite americana", "Aeroporto", "Cassino Royale" e... "O fundo do mar".
Em "O fundo do mar", romance do mesma escritor que levou às telas o best "Tubarão", ela está mortal. A costa das Bermudas, lugar onde se passa a trama, nunca mais foi a mesma depois de 1977. As criaturas sinistras das profundezas que costumavam fazer desaparecer aviões e navios por ali, estão para todo o sempre vulcanizadas, tentando compreender a magia de uma camiseta molhada, fato que levou o produtor do filme Peter Guber a dizer: "Aquela camiseta me fez um homem rico" . É um filme de aventura, ação, suspense, tendo sido rodado 30% embaixo d'água.
Os tons de azul esverdeado da obra se confundem entre o céu e o mar convencionais, e o céu e o mar que a mocinha carrega entre os cílios.
Porque hoje é sábado vou rever, abraçado em um negrão chileno de sobrenome francês, da família Sauvignon, ou Merlot ou Carmenérè... Ou todos.

"𝐎𝐏𝐄𝐑𝐀ÇÃ𝐎 𝐑𝐄𝐃 𝐒𝐏𝐀𝐑𝐑𝐎𝐖"


Quem gosta da temática e tiver um olhar descompromissado de aspectos críticos pode gostar desse filme.

Como regra, a espionagem romântica, aquela que consagrou sir. Sean Connery e seu 007, que para nós, prepotentes ocidentais, desequilibrou a balança maniqueísta entre americanos e russos. O tema esgotou-se com o fim da guerra fria e a derrubada do Muro de Berlin.
O filme requenta um pouco o assunto. Especula sobre uma tal escola de espiões russos, para onde vai Domenika (Jennifer) a fim de servir às chantagens de um tiozinho safado, e depois de ver sua carreira como solista do Bolshoi ter um trágico fim. Escola que mostra uma única matéria curricular, a sedução, e que aliás nem é explorada na protagonista (cá pra nós: Je precisa de um sofisma desses?).
Um olhar um pouco mais aprofundado vai encontrar buracos e inconsistências na história, e tropeços de roteiro, mas não estou aqui para explorar esses aspectos porque, afinal, não sou do ramo e o filme prende a atenção do início ao fim, portanto, cumpre a sua função de entretenimento.
"...Sparrow" é um passar de olhos americano pelas intimidades do Kremlin e suas circunstâncias, onde a mocinha, desempenhando a malvadinha do bem, faz de Bobota os parceiros do Putin. E aquele esperado herói americano, supostamente colocado no filme para salvar a mocinha, acaba no limbo, e é totalmente desnecessário. Charlotte Rampling reaparece, e em uma coadjuvância que homenageia sua carreira: é professora da escola de sedução. Bingo!
Caso você não esteja procurando um super-clássico, assista; O filme é legal e, deturpando um pouco a frase do Rick Blane "sempre haverá Jennifer Lawrence". Não é o melhor dela, mas aquele olhar de absinto congelado é inigualável.

ÍNTIMO E PESSOAL



É um filme de 1996, baseado na biografia "Golden Girl", de Alana Nash, sobre a vida da jornalista Jessica Savith, morta aos 36 anos em um acidente automobilístico, no auge da carreira. Jessica estava alcoolizada.

O drama romântico conta a história da jovem Sally Atwate (Michelle Pfeiffer) que mora em uma cidadezinha interiorana e sonha em ser jornalista famosa. No inicio da escalada encontra Warren Justice (Robert Redford), um âncora, jornalista experiente e famoso, com quem, além do apoio e suporte na carreira, vive um grande amor. O filme deixa varias lições de luta, determinação, resiliência, e uma lição generosa de amor, com final dramático. Duas frases definem a carreira dos protagonistas:
“o que nós dos noticiários não podemos nos esquecer é que valemos pelas histórias que contamos”. Warren
“Eu só estou aqui para contar uma história”. Sally, depois de violar um o script.
Redford tem excelente performance. Já aquela que "mesmo em face de maior encanto, dela se encante mais meu pensamento", nada a declarar. Michelle não precisa representar, basta aparecer na tela que o meu Oscar está garantido.
"Because You Loved Me" é uma linda música, composta por Diane Warren, especialmente para o filme e gravada por Céline Dion e que ganhou o Oscar de canção original.

O PAGAMENTO FINAL


"Carlito's Way" e "After hours", obras de Edwin Torres, serviram de inspiração para este filme, dirigido pelo grande, normalmente trágico e "Hitchcockiano" Brian de Palma.

O título em português poderia ser vários, mas ok para "O pagamento final", que é um romance criminal contado em flashback, em uma espécie de conformidade com o Juízo final. A extrema-unção ungida com sangue.
Tem algumas reflexões importantes, como até onde pode ir a lealdade entre pares, quando a vida está em risco, ou quando valores são trocados por preços. Ou imaginar o quanto e o que poderá caber no longa metragem que se passará no lapso miserável de tempo, depois da prorrogação, quando for cobrado o último pênalti.
Para o meu gosto, o filme é espetacular, com aulas de intepretação de Al Pacino e Sean Penn. Um mafioso arrependido, disposto a mudar de vida, mas perseguido pela estirpe, e um advogado de porta de cadeia, que vai se corrompendo a medida em que vê passar diante dele a riqueza, mesmo mal havida. E no meio de tudo isso, uma linda e sensível história de amor. Mas ao final, me lembrei do que falava vô Atahualpa, veterano de guerras civis: "não se deixa inimigo vivo".
E a trilha sonora, bacudo? Um passeio nos anos 70, entre o que havia de melhor por lá. Destaco a discotequeira "That's Way" (KC) e "You are so beautifull' (Preston).

ADVOGADO DO DIABO


 Antes de qualquer julgamento, é preciso dar-se conta de que "Advogado do diabo" é uma metáfora. Uma reflexão sobre se vale a pena vencer a qualquer custo; ou até onde se pode investir nos fins, a despeito dos meios; ou deixar que a "virtude" preferida do primo Lúcifer, a vaidade, segundo o próprio, seja a nossa bússola.

O obsceno anjo caído, muito bem representado por Al Pacino, traz várias mensagens, não só para os operadores do direito que atuam do lado de cá do balcão, foco da trama.
"Advogado do diabo" é um bom filme, mas atenção às sutilezas do enredo, afinal, "o diabo mora nos detalhes", a gente sabe disso mais por velho que por diabo.. Sem isso, poderá passar por um filmezinho de terror de quinta categoria, ou uma paródia jurídica de sexta. Prestando a devida atenção, todos os efeitos alegóricos passam a fazer sentido. Como a brilhatura especial da fala, quase um monólogo, magnífica no final, quando papai belzebu se declara ao filho, e à sutileza finíssima dos cabelos/penteado da meio irmã, na hora da sedução final e tentativa de preservação da espécie.. Pacino enche as medidas. E o que também enche as medidas, as minhas medidas são Connie Nielsen e Charlize Theron (ambas são de fazer um acordo o primo). Completa o time titular, o jovem Keanu Reeves, que tem a tarefa ingrata de dialogar entre os lençóis com as duas beldades. O pobre! .
Apesar de algumas cenas medianamente aterrorizantes, não é uma trama de terror. Tudo não passa de um lapso de tempo, onde o julgamento maior não está no martelo do juiz, mas na consciência.
A trilha sonora vai de Frank Sinatra a Rolling Stones, mas não é o melhor deles.

𝗠𝗘𝗜𝗔 𝗡𝗢𝗜𝗧𝗘 𝗘𝗠 𝗣𝗔𝗥𝗜𝗦



 (A apreciação deste filme exige um pouco de viagem nas artes e na literatura, a fim de contextualizar-se)
Não foram poucas as vezes em que "viajei" no tempo pelas ruas de Porto Alegre, como "poeira ou folha levada", como antes. Especialmente pela Cidade Baixa, Cristóvão ou Protásio Alves, com pit stop no "Água na Boca" ou "Le Club". E com uma reconfortante sopinha na "Tia Dulce" no final de tudo. Saudosismo de quem já não cozinha em fogo brando.
Já não seria tão normal para um jovem de vida saudável, estabilizado e amando, como Gil Pender (Owen Wilson, sendo Woody Allen), escritor, roteirista e apaixonado por literatura d'antanho, viver com essas coisas na cabeça. O espaço para saudade em um jovem é pequeno.
Pois Gil vai a Paris, de férias com a noiva e o sogro, e lá pelas tantas resolve dar umas mariposeadas noturnas pela "Cidade Luz".
Às bordejadas tantas, o badalar da meia-noite não transforma seus sapatos em abóbora, muito antes pelo contrário. Vive um sonho que o transporta à "época de ouro" francesa, coabitando com figuras proeminentes da literatura dos anos 20. Até Hemingway andava por lá, talvez a passeio ou só para encontrar com Gil. E como também em Paris "há tanta esquina esquisita, tanta nuança de paredes"(*), Gil quase se perde no paradoxo temporal.
O filme é uma pérola, escrita e dirigida por Woody Allen, no gênero comédia científica/deprê, especialidade do Woody e romântica. Até a sensualíssima(²) Carla Bruni, ex primeira-dama francesa, faz uma pontinha. É um exercício maravilhoso; uma utopia que, se pudéssemos... Que atire a primeira garrafa quem nunca sonhou dar uma voltinha em tresontonte. Mas atire com cuidado. É para machucar, não para quebrar.
(*) Mario Quintana.

TRAFFIC



É um filme denso, longo e por vezes sonolento, porém, profundamente marcante. O enredo exige uma curva dramática dividida em histórias distintas, identificadas pela policromia, mas com um fim que se entrelaça. O filme é baseado na minissérie inglesa "Traffik", dos anos 80.

Trata do mundo, ou submundo do tráfico de drogas, desde a sua origem, ao democrático mercado de consumo. Democrático porque não discrimina classe, cor, credo e gênero, passando pela dura e cruel disputa por território, bem como suas ramificações nos poderes palacianos.
O filme em determinados momentos parece ser didático demais, porém está dentro do seu propósito que é fornecer um painel sobre o narcotráfico, praticamente sem juízo de valor. E aqui aparece o talento do roteirista Stephen Gaghan, que lutou um bom tempo contra a dependência química.
"Traffic" foi fartamente premiado pela crítica. O Oscar de melhor ator dessa edição foi Russell Crowe (Gladiador), mas bem que poderia ter sido Michel Douglas, que faz o papel do juiz. No entanto, acabou levando para casa uma estatueta muito melhor: Catherine Zeta-Jones, com quem é muito fácil contrair a compulsão que ele proclama ter.
O filme ainda deixa uma mensagem não sei se intrigante, visionária ou trágica, ou tudo isso: essa é uma batalha que a sociedade limpa já perdeu.
São duas horas e meia de duração, portanto, preâmbulo com Chardonnay e arremate com Sauvignon.

GHOST - DO OUTRO LADO DA VIDA



Conheci Demi Moore no filme juvenil "O primeiro ano do resto de nossas vidas", de 1985, cujo título sempre serve a outros títulos e frases de efeito, próprias em especial para o dia primeiro de janeiro de todos os anos.

Contracenou com Bob Lowe, com quem repetiu a divisão de tela no ano seguinte em "Sobre ontem à noite", outro título que me faz cócegas, sempre que começo a escrever, porque sugere uma manhã cheia de coisas para contar, em especial depois de uma noite não dormida.
Em "O primeiro ano...", Demi era uma garotinha fofinha, bem produto dos anos 80, fumada e bebida, com um rostinho invocado e olhos lindos. Depois desses, fui revê-la em 1990, no lacrimejante "Ghost", junto com o ótimo Patrick Swayze. Então mais linda que nunca. Já em "Proposta indecente", me pareceu "bombada" e turbinada demais.
"Ghost..." para alguns tem uma temática espírita, para outros é uma ficção, já que fala de uma relação que transcende a matéria e une duas dimensões. Até pode ter uma levada meio Piegas (abraço Claudinho), mas é um filme muito bem feito, com uma atuação monstruosa de Whoopy Goldberg, que faz a interface entre o térreo e a sobreloja, e uma trilha sonora fantástica, justamente oscarizada. É, na minha visão, um filme leve, romântico e sensível. E foi a maior bilheteria de 1990.
"Unchained Melody", no filme é com Righteous Brothers, mas sou fã de "The Platters" (quem nunca resmungou "Only you" no banheiro, antes de se perfumar para uma balada?). Os caras têm um repertório de atravessar uma madrugada de sexta-feira, acompanhado por um ou dois negrões chilenos de sobrenome francês, das famílias Sauvignon ou Malbec ou Pinot... ou todos. E se nessa mesma madrugada resolverem assistir "Ghost, do outro lado da vida", vai dar borracho chorão.

UM HOMEM, UMA MULHER


 "𝙪𝙢 𝙜𝙧𝙖𝙣𝙙𝙚 𝙖𝙢𝙤𝙧 𝙣ã𝙤 𝙧𝙚𝙣𝙖𝙨𝙘𝙚. 𝙊𝙪 𝙚𝙡𝙚 𝙣ã𝙤 𝙢𝙤𝙧𝙧𝙚, 𝙤𝙪 𝙣𝙪𝙣𝙘𝙖 𝙛𝙤𝙞 𝙜𝙧𝙖𝙣𝙙𝙚".jp

"Um homem, uma mulher" é um filme muito marcante, seja pela beleza, seja pelo sentimento que ultrapassa tela, e que se manteve pulsante para sempre. Tinha tudo para ser modelo de história de amor com final feliz.
Inicialmente carregada de traumas e dúvidas, a história foca duas almas machucadas; dois viúvos, que vão se encontrando aos poucos, consolando-se e lutando contra a força de duras lembranças de perdas recentes, e que parecem barreiras intransponíveis. O filme recebeu duas outras versões, a fim de, teoricamente, corrigir os erros do destino. Uma tentativa de sequência em 1986, vinte anos depois, ainda sob a regência da paixão, e que não deu certo. A outra versão é de 2019. Essa com o fogo brando da terceira idade, que traz o reencontro dos dois, 50 anos depois. Nesta, penso que apenas para realimentar a saudade e tentar saber porque não se deixaram tomar pelo amor que sentiam.
O último filme chama-se "Os melhores anos de uma vida", que ainda não vi, mas já lacrimejo, muito pelo paradoxo temporal frustrado. Era para ter sido, mas não foi; pôde ser corrigido, mas também não foi... Uma hora dessas a gente vai descobrir por quê, aqui ou no andar de cima. Como aqueles que não vivemos e sabemos muito bem quais são. Nem os produtores se conformam com o destino paralelo dos personagens.
Desempenho irretocável dos protagonistas Anne Gauthier, vivida pela linda Anouk Aimée e Jean-Louis Duroc, protagonista homônimo do ator Trintignant. Dois atores carismáticos, talentosos, e de uma química extraordinária.
Francis Lai assina a trilha sonora aliciadora, que embalava muitos momentos especiais nos anos 70, pra quem teve a felicidade de viver por lá. Lembro que os bailes da Arquitetura da URGS terminavam lá pelas 04:00. Às 03:45, um conjunto da época tocava essa música. Era a última cartada ou a saída seria a Redenção.
Perdão, para quem não sabe sobre o que estou falando.
Filme lindo! Vale a pena rever.


LAWRENCE DA ARABIA


Falar sobre Lawrence da Arábia não é para amadores, portanto, fico cá, depois de rever o filme pela ...ésima vez, pálido de espanto. Sir Peter O'Otoole encarna um personagem histórico do reino unido, de uma forma tão soberba e impressionante, que mal dá para perceber que no restante do elenco tem Antony Quinn, Alec Guiness e Omar Shariff, entre outros das categorias de base. O filme conta a vida, um trecho dela, de Thomas Edward Lawrence, um tenente britânico na I Guerra. Além de militar, foi arqueólogo, diplomata e escritor, tendo como obra de destaque "Os sete pilares da sabedoria".

Lawrence havia sido enviado à Arábia Saudita, a fim de negociar com o príncipe Faiçal, a parceria árabe/britânica na Revolta árabe contra os turcos otomanos. É contada em flashback, a partir do seu velório, ocorrido em um acidente vulgar de motocicleta, na Inglaterra.
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O filme foi rodado na Jordânia e no Marrocos, com temperaturas beirando os 50º e tem quase 4 horas de projeção. Mas não é pelo tempo de duração que é considerado um dos maiores clássicos de todos os tempos. Tem a batuta de David Lean, que além da capacidade diretiva, tem um bom gosto enorme para trilha sonora. Composta pelo talento do maestro Maurice Jarre, o mesmo de Tema de Lara, para dizer o mínimo, a música é daquelas que se gravam em memória randômica. Passa-se o resto do dia e o seguinte, resmungando, assoviando e bocejando a música.
A morte de Lawrence, aos 46 anos, sozinho na estrada, perdendo o guidão da motocicleta, depois de todos os horrores passados na guerra é uma bizarrice do destino. Mas ele não morreu em vão. A partir desse acidente, ocorrido em 1935, motociclistas começaram a usar capacetes, por sugestão do neurologista que atendeu Lawrence.
É imperdível!

A PONTE DO RIO KWAI


Durante a II Guerra, o Japão decidiu construir uma ferrovia no meio da floresta, para ligar a Birmânia a Tailândia. Um dos trechos mais acidentados era a região do rio Kwai que exigia uma ponte. Os cálculos da época estimavam perto de dez anos, mas não havia tempo para esperar. E havia muita mão de obra, fornecida pelo sem número de prisioneiros americanos, mais o seu próprio contingente militar. Assim, em três anos deram conta do primeiro serviço, que foi a construção, e cinco minutos para o segundo serviço, que foi a explosão.

A obra macabra consumiu a vida de mais de quinze mil soldados americanos, em função das condições insalubres, doenças e tratamento escravo. Sir Alex Guiness, monumental no papel do fleumático coronel britânico Nicholson, comandou a obra. Guiness recebeu o Oscar, mas por sua postura de seriedade, liderança, ética e convicção hierárquica virou referência para o mundo pós-guerra.
"A ponte do rio Kwai", filme baseado em fatos reais, recebeu sete Óscares e colocou a Tailândia e o Sri Lanka´, onde terminou de ser rodado, no radar turístico do mundo, face as espetaculares paisagens silvestres. A obra, depois da guerra, foi reconstruída mantendo parte da construção original.
Baita filme. Inesquecível trilha sonora e atuação do Guiness. Revê-lo me fez voltar a um antigo hábito: assoviar.

O GUARDA COSTAS



É  um filme controverso. Os críticos o levaram de indicação ao Oscar ao Framboesa de ouro, que é o troféu abacaxi com grife. O fato é que foi um dos filmes que mais agradou ao gosto popular nos anos 90, e um dos que mais faturou em bilheteria.

Apesar de algumas similaridades com a vida de Whitney Houston não é biográfico, uma vez que a destinação inicial da obra era uma produção sob encomenda para Diana Ross, nos anos 70.
Whitney Houston era uma linda mulher, que queria ter seguido a carreira de modelo na juventude, tendo desfilado e emprestado o rosto para grandes grifes. Seu enorme talento musical, entretanto foi mais forte, e ela se foi e nos levou junto aos céus cantando. Porém, emocional e psicologicamente desestruturada, sucumbiu aos demônios químicos, tendo morrido afogada em uma banheira aos 48 anos.
"O guarda-costas" é um drama romântico policialesco, com um bela atuação de Kevin Costner. Conta a história de uma grande atriz, perseguida por um stalker, que, contra sua vontade, contrata os serviços de um profissional. O tal profissional (Costner) era ex agente da inteligência, que havia atuado na proteção do presidente dos EUA (Reagan) e que se culpava por não ter impedido que este fosse baleado. Isso fez com que desenvolvesse excessos de cuidados, beirando a paranoia.
Com ranços e contrariedades iniciais mitigados, fornecedor e cliente acabam se apaixonando e tendo belos momentos, mas o cara havia decido ser profissional acima de tudo, e a proximidade de ambos tornavam a mocinha muito vulnerável.
Quanto a trilha sonora, trata-se de um caso à parte. É de derreter o mais rançoso dos críticos. "I Will Always Love You" tem um fato curioso. Nos anos 90, um americano foi processado por seus vizinhos por ter ficado 24 horas ouvindo essa música em altíssimos decibéis.
Está no Prime.

TAXI DRIVER



Scorsese e De Niro são uísque e barril de carvalho. Ou vinho da mesma pipa, e ambos, juntos, parecem brindar com sangue.

"Taxi driver", de 1965, é uma obra catalogada na galeria eterna dos grandes clássicos. Travis Bickle (De NIro) é mais uma "vítima sobrevivente" da Guerra do Vietnam. Um misantropo que não encontra conforto no mundo que o acolheu em seu retorno. Sua patologia social e complexos são alimentados diariamente, usando como veículos a insônia e um táxi, com o qual trabalha. Mais transita à toa de madrugada pela periferia de Nova Iorque do que trabalha.
( A fim de compor o personagem, De Niro trabalhou em um taxi por 15 horas seguidas, durante quase um mês, tendo sido reconhecido apenas uma vez.)
O que move Travis é sua luta contra o declínio moral do mundo. Entretanto, suas horas vagas são preenchidas assistindo filmes pornográficos. Não consegue estabelecer uma relação sólida com ninguém que viva fora de seu mundo e suas verdades.
Então, por acaso, percebe alguém. Uma mulher próxima do que idealizou e se interessa por ela. Trata-se de Betsy (Cybill Shepherd, a "gata"), vai ao assédio e ela é receptiva. Até convidá-la para ir ao cinema. Por óbvio que a leva a assistir um filme do seu gosto, e por mais óbvio ainda que leva um "pé".
O maníaco Travis ao final ganha status de herói, ao salvar Iris (Jodie Foster), uma prostituta adolescente de um cafetão. Jodie tinha 12 anos, à época e teve de ser representada por sua irmã mais velha, por questões legais. Mas ali foi o start de sua carreira.
“You talkin’ to me?” ("Você está falando comigo?"). Frase para a posteridade de Travis para o espelho, empunhando um colt 45.

VELUDO AZUL


Isabella Fiorella Elettra Giovanna Rossellini, nome que ficaria bem em uma casa real, conhecida por nós, mais íntimos, como Isabella Rosselli. Em princípio não queria seguir a carreira dos pais, os gigantes Ingrid Bergman e Roberto Rosselli. Foi ser repórter durante um tempo, mas sua beleza a levou à Lancôme, para a qual serviu de rosto durante muitos anos, até cair quase por acaso no meio cinematográfico. Contracenou com a mãe, em 1976, depois casou com Martin Scorcese, meteu umas guampinhas nele com David Linch e a carreira estava pronta. Não por isso, claro, porém, junto com o pedigree, a beleza e algum talento... É o caso, pra cima, todo networking ajuda.

"Veludo Azul", do David Linch (aquele...), a meu juízo, é o melhor trabalho dela. O filme, de 1986, é um drama policial, intimista, surreal, meio freudiano, com a marca forte do seu diretor, que sempre deixa um besouro atrás da orelha do espectador (prestem a atenção nisso: orelha e besouro, eles são importantes no filme). A atenção fica presa do início lúdico, com uma fotografia ensolarada e de cores saturadas, ao final lúdico de mesmas cores. Entretanto, o que se passa no meio disso, entre sombras e luzes negras e vermelhas, são maquinações dignas do anjo caído.
Isabella é Dorothy, uma cantora de cabaré, aliciada por um bandido sádico (Denis Hopper). De gaiato entra o jovem Jeffrey (Kyle MacLachlan) que após um achado estranho no jardim, mergulha em um mundo inesperado, sedutor, criminalizado e doentio.
A trilha sonora é adequada a ambientação. Além da intimistas "Blue Velvet", que empresta o título ao filme, há outras muito bonitas, como "In Dreams", do Roy Orbison e "Love letters", de todos nós, que as escrevemos um dia.

PATCH ADAMS - O AMOR É CONTAGIOSO


 Passei um bom tempo da vida profissional tentando demonstrar que em negócios não se produzem amigos; que o distanciamento crítico é importante e no mais das vezes, decisivo. Porém, se amizades acontecerem, melhor ainda.

Pois o profissional Hunter Doherty "Patch" Adams, um médico americano que certamente foi treinado (e não quis aprender) sobre a importância de manter a distância "saudável" em relação aos pacientes, acabou revolucionando os tratamentos, estreitando as relações, levando carinho, amor e bom humor aos leitos, alguns terminais. Sentimentos que são adjuvantes preciosos às praticas e tratamentos médicos, segundo entendimento dele.
"Patch Adams - O amor é contagioso" não chega a ser um filme biográfico, nem extraordinário como obra, do qual o próprio enfocado não gostou, pela superficialidade. No entanto, é um filme lindo, sensível, estimulante e necessário, justamente nesta época em que mais temos ido aos consultórios.
E é uma homenagem ao ser humano que é o Dr. Adams, vivo e com apenas 76 anos. Robin Willians está magnífico no papel.
Em um primeiro momento, o Dr. Adams dizia antipatizar com o ator por ter se prestado ao papel, ganhado milhões e não ter doado nenhum centavo às suas instituições. Porém, foi reconhecer logo depois que nenhum outro ator poderia representá-lo melhor e reconheceu também o maravilhoso trabalho social que Robin apoiava.
Robin Willians era dependente químico, sofria de depressão e de uma doença degenerativa, somente descoberta após o seu suicídio. Foi um grande ator e também filantropo.
"Você prefere terminar a vida, com alegria, coisas legais e humor, ou continuar a desgraça que é morrer, na tristeza, na ruindade?" P.A

PLATOON


Há alguns anos conheci em Assis Chateaubriand-PR um cidadão, ex-pracinha da II Guerra, lotado em Monte Castello. Trouxe com ele um diário, totalmente escrito em versos, do dia em que embarcaram no Porto de Santos ao dia da volta, em 1945.

São relatos fantásticos, com rimas enriquecidas pelos sentimentos múltiplos, controversos e apenas imagináveis do front, que moviam o lápis. É um material riquíssimo que deveria estar em um museu.
Pois sobre um desses matungos de São João Evangelista, justamente o que seria mais fácil de domar, a guerra, mas cujo queixo nós mesmos endurecemos, fui rever "Platoon". Cruel, bárbaro, abusivo e desumano, porém, creio que um retrato real do que acontece na linha de frente para onde só vão os inocentes, e que por vezes, transtornados pelo meio, acabam também inseridos na barbárie, sendo parte dela.
Uma história escrita, produzida e dirigida por quem viveu essa que foi uma das maiores derrotas americanas nos campos de batalha. No caso, na selva. Oliver Stone esteve do Vietnam e voltou condecorado, e não sei se a narrativa do filme, feita pelo soldado Chris Taylor não é o álter falando.
O erro estratégico americano foi de cabo-de-esquadra. Comparável como apanhar de bêbado. Foram lutar contra um inimigo teoricamente frágil, a maioria camponeses, porém, na selva deles, lugar que conheciam com a palma da mão. Um descuido trágico movido pela soberba de grande nação, que vitimou milhares de jovens despreparados, e deixou uma legião de outros tantos com traumas irreversíveis. Só bastava ter lido Sun Tzu.
Oliver Stone fez o diabo na produção desse filme, submetendo os atores aos rigores da selva filipina, onde foi rodado, com duas performances inesquecíveis: Tom Berenger (sgt Barnes) e Willian Dafoe (sgt Elias). A mensagem maniqueísta dos personagens talvez tenha sido para contrariar Sarte: o inferno somos nós.
A imagem da morte do sargento Elias, que ilustra o cartaz, é eterna. Saibam que resta muita tristeza ao final.

O OUTRO LADO DA MEIA NOITE


Li muito Sidney Sheldon. Tanto quanto li Fernando Sabino e Mario Prata, e menos que Carlos Zéfiro.

No final dos anos 70, quando voltava de uma viagem, comprei o livro "O outro Lado da Meia-Noite". Li num tapa, como se faz com qualquer obra do Sheldon. No final de semana seguinte fui surpreendido pelo filme, que passava no cinema Guarany ou Imperial, não me lembro bem, em Porto Alegre. Assisti ao filme e reli o livro. Nunca é a mesma coisa, porque no livro, a gente vai folheando o roteiro original, dirigindo e contracenando, e só repete as cenas não para corrigi-las, mas para degustá-las. Ninguém faz um roteiro adaptado melhor do que o nosso cérebro. O livro e o filme são ótimos. Uma pequena aula de sedução e manipulação, e do quanto sentimentos como mágoa e vingança doem mais em quem os alimenta.

O centro da narrativa é a vida de duas mulheres de atitudes e histórias de vida totalmente opostos. Noelle Page (Marie‑France Pisier) e Catherine Douglas (Suzan Sarandon), lincadas por uma paixão comum: o piloto americano Larry Douglas (John Beck), galã de aeroporto, que conhece Nicole, se apaixona protocolarmente, promete o de praxe, mete uma bola nas costas dela, e se casa com Catherine.

Nicole já fora doloridamente marcada pela traição do próprio pai, que a havia "vendido" ainda adolescente a um rico empresário, do qual conseguira escapar. O desejo de vingança contra o sexo frágil (que todos sabem qual é), portanto, estava realimentado. E a coisa se vai aos extremos quando Noelle provoca um aborto cruel, parte para uma escalada sem limites em busca dos seus objetivos, usando de seus maravilhosos atributos físicos e capacidade de sedução, e se torna amante de um rico e poderoso armador grego (não tem como não lembrar de Onassis), mais vingativo e cruel do que ela.

O filme é de 1977. Em 1993 fizeram uma sequência, tanto do livro quanto do filme, chamado "Memorias da meia-noite" traduzido em filme como "Lembranças da meia-noite", porém, ambos ruins. Sidney Sheldon deve ter se arrependido de não ter feito um ou dois capítulos a mais no primeiro livro, o que teria resolveria muito bem a questão. Acaba que as tais sequências, em 10 minutos esclareceram o que teria ficado subentendido.

Bueno. "O outro lado da meia-noite" vale muito a pena ler e assistir. É uma obra forte, dramática e marcante, desde o título. Quanto a sequência, lendo a sinopse já está de bom tamanho.

UMA LINDA MULHER




O filme lançou Julia Roberts na constelação hollywoodiana, em 1990. Já Richard Gere, que nos enchia o saco desde 1975, mas invadiu de vez a nossa pista em 1980, com "Gigolô americano", teve que ser convencido a contracenar com a desconhecida.

O filme é uma comédia romântica levíssima, apaixonante, com uma trilha sonora à altura. O empresário Edward Lewis (Gere), de Nova Iorque, vai a Los Angeles tratar de negócios. Convida a namorada para acompanhá-lo, mas ao invés de ir, ela lhe manda um pé na bunda.
Em Los Angeles após finda uma das reuniões programadas, sai com o carro do sócio para dar um bordejo e acaba na zona. Lá encontra Vivian (Roberts) , uma profissional do sexo que, vendo a dificuldade do moço em dirigir o carro, toma o volante do Lotus Espirit. (O curioso é que Julia, então com 21 anos, ainda não tinha carteira). Edward se encanta com a linda, carismática e desenvolta prostituta. Como tinha levado um "pé", propõe contratar os serviços de Vivian para o papel da namorada, naquele final de semana, condição que não foi aceita, mas que seria renegociada. Não foi preciso recorrer a Nostradamus ou à Mãe Diná, para descobrir que o negócio sucumbiria ao amor. E acabaria apaixonando o mundo pelo casal.
A leveza resultante da obra tem muito a ver com a incrível química entre os dois protagonistas. O que era para ser um drama, acabou em comédia e selou para sempre a amizade entre Gere e Roberts, muitas vezes confundida com paixão. Além da adequação no gênero, o título também foi trocado no roteiro adaptado. Deveria ter sido "Três mil dólares", que era o cachê da garota de programa, pelo final de semana.
Há cenas memoráveis, como o choro de Vivian assistindo a ópera "La traviata" (pela identificação); a declaração de amor dela cochichada, quando pensa que ele está dormindo, um dente realmente quebrado de Edward na troca de porrada com o sócio, e a cena final, quando o mocinho, que tinha medo de altura, sai do teto da limusine e sob o edifício pela escada de incêndio.
Por fim, Roy Orbison quebra tudo com a sua "Oh, Pretty Woman". Uma canção de 1964 e já premiadíssima à época do filme.