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sábado, 12 de outubro de 2024

PLATOON


Há alguns anos conheci em Assis Chateaubriand-PR um cidadão, ex-pracinha da II Guerra, lotado em Monte Castello. Trouxe com ele um diário, totalmente escrito em versos, do dia em que embarcaram no Porto de Santos ao dia da volta, em 1945.

São relatos fantásticos, com rimas enriquecidas pelos sentimentos múltiplos, controversos e apenas imagináveis do front, que moviam o lápis. É um material riquíssimo que deveria estar em um museu.
Pois sobre um desses matungos de São João Evangelista, justamente o que seria mais fácil de domar, a guerra, mas cujo queixo nós mesmos endurecemos, fui rever "Platoon". Uma narrativa cruel, bárbara, abusiva, desumana. Ou humana, uma vez que irracionais não conseguem ser tão bárbaros. Porém, um retrato real do que acontece na linha de frente para onde só vão os inocentes, e que por vezes, transtornados pelo meio, acabam tomados pelo caos, sendo protagonistas dele.
Para a fé pública, a história foi escrita, produzida e dirigida por quem sentiu na pele e na alma, por certo, essa que foi uma das maiores derrotas americanas nos campos de batalha. Oliver Stone esteve do Vietnam e voltou condecorado, e a narrativa do filme, feita pelo soldado Chris Taylor deve ser o álter de Oliver falando.
O erro estratégico americano foi de cabo-de-esquadra. Comparável como apanhar de bêbado. Foram lutar contra um inimigo teoricamente frágil, a maioria camponeses, porém, na selva deles, lugar que conheciam com a palma da mão. Um descuido trágico movido pela soberba de grande nação, que vitimou milhares de jovens despreparados, e deixou uma legião de outros tantos com traumas irreversíveis. Bastava ter lido Sun Tzu e sua "Arte da guerra".
Oliver Stone, que se tornou um inimigo íntimo de seu país, contestando abertamente os valores americanos e sua posição diante do mundo, e que teve severas patologias pós-traumáticas, fez o diabo na produção desse filme, submetendo os atores aos rigores da selva filipina, onde foi rodado, a fim de mostrar ao mundo uma pequena parte do que viveu nas selvas vietnamitas. Duas performances inesquecíveis: Tom Berenger (sgt Barnes) e Willian Dafoe (sgt Elias). A imagem da morte do sargento Elias, que ilustra o cartaz, é eterna.

A mensagem maniqueísta dos personagens talvez tenha sido para contrariar Sarte: o inferno somos nós. Saibam que resta muita tristeza ao final, como deve ser o sentimento de quem volta do front, vitorioso ou não.

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