Michelle é um poema náufrago à deriva buscando um tema; é verso abstrato em um horizonte gramatical de eventos que se consagra como ponto de não retorno, onde os adjetivos são tragados pela força das trevas, e se somem no buraco negro da insignificância. Rimas então nem pensar, uma vez que as corretas, perfeitas e mais ricas seriam as pobres, e isso ninguém ousaria. Além do quê, rimas perderam a importância.
Não leio Michelle nos versos de Neruda. Muito menos a percebo nos lascivos de Bukowski. Talvez se pudesse adaptar os ufanistas de Bilac personificando a Pátria como uma mulher loira e linda; Ou nos mais arregaçados e entregues, porém não tão machistas de Vinicius, eu pudesse encontrar seus passos, apenas para me perder neles. Quem sabe buscando só a dor de Augusto dos Anjos, porque se sabe que a beleza dói na razão direta de não podermos aprisioná-la, mas sem a morbidez de Augusto, eu pudesse ler em significados o que vejo na tela e que trago tatuado no cérebro. No hemisfério direito do cérebro. Não sei.
Ah, sim, sobre "Susie e os Beker Boys"... "Os irmãos Frank e Jack Baker se apresentam juntos em um pequeno porém bem-sucedido número de piano, mas a falta de ambição os prejudica. Eles começam a perder shows e acabam relegados a lugares de terceira categoria. Na tentativa de dar vida nova às apresentações, os irmãos recrutam a bela Susie Diamond. O novo grupo faz sucesso, mas uma crescente atração entre Susie e Jack ameaça a estabilidade do trio".
Assisti ao filme há exatos 30 anos, em VHS, bebendo vinho em Bento Gonçalves. E recorri à fonte da internet porque só me lembro até uma hora de projeção, e tendo empacado no mesmo lugar todas as vezes que revi. Ocorre que quando Susie serpenteia preguiçosamente, miando sobre um piano, atormentado Jack, quem foi para o ponto de não retorno fui eu. Desde lá, sempre que a vejo, caio de quatro e me vou uivar na lua cheia.
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